A Europa se prepara para eliminar todos os veículos a combustão até 2030. E, por isso, muitos fabricantes estão lançando veículos já totalmente elétricos. E os lançamentos já estão refletindo nas premiações de Carro do Ano. Na mais tradicional do continente, realizada desde 1964, um elétrico foi o vencedor, mas de uma marca asiática: o sul-coreano Kia EV6, um dos seis finalistas movidos pela energia alternativa. Apenas um ainda usa motor a combustão. 

Construído sobre a plataforma especialmente projetada para veículos elétricos Electric-Global Modular Platform (E-GMP), também usada pelo Hyundai Ionic 5 e o Genesis GV60, o EV6 mede 4,68 metros de comprimento por 1,88 m de largura e tem estilo crossover-cupê (tem 1,55 m de altura) com teto flutuante (devido ao efeito visual dos espaços em preto na coluna traseira), lanternas traseiras em C (com a régua luminosa central formando um arco na parte superior) e faróis pontiagudos que cercam a pequena grade, que quebra o paradigma de não ter os dentes de tigre da Kia. De perfil traseiro, ele lembra até a primeira geração do Nissan Leaf, que foi o primeiro carro totalmente elétrico a ser eleito Carro do Ano na Europa. Foi o EV6 que inaugurou mundialmente o novo logotipo da Kia, representando uma nova fase da marca sul-coreana. 


O interior tem aparência confortável, com painel de duplo tablet horizontal sobre bancada, onde o da esquerda é o quadro de instrumentos eletrônico e o da direita a tela multimídia, ambos de 12,3 polegadas horizontais e com suporte traseiro de plástico, mais fino que os primeiros Corolla da atual geração que chegaram ao Brasil em 2019. As saídas de ar são horizontais. As centrais, assim como a tela multimídia, são voltadas para o motorista, que controla o carro por um volante com miolo horizontal, lembrando as Brasílias dos anos 1970. O console é largo e a transmissão e modos de condução são operados por botão giratório. O espaço interno é amplo pelas fotos, comprovando a eficácia dos 2,90 metros de distância entre-eixos. O porta-malas tradicional, na traseira, tem 520 litros de capacidade. Há um compartimento de 52 litros no capô dianteiro na versão com tração traseira e 20 litros com tração integral. 


Entre os itens de conforto, o EV6 tem carregador de celular por indução, aquecimento e ventilação dos bancos (que também têm ajustes elétricos), projeção de informações no para-brisas com realidade aumentada (opcional na versão básica e de série nas duas outras), sistema multimídia com Android e Apple sem fio atualizáveis pela internet.

Em relação aos itens de segurança e autonomia tem detector de ponto cego anticolisão, assistente de farol alto, controlador de distância para o veículo da frente, piloto automático na estrada, assistente de manutenção em faixa, frenagem de emergência, sistema anticolisão no estacionamento vindo de trás e estacionamento automático remoto. Mas alguns destes itens, como o assistente estacionamento e de ponto cego, só estão disponíveis a partir da versão intermediária e a segunda geração do piloto automático só na versão top. 


Aliás, o Kia EV6 está sendo vendido em Portugal em três versões, cada uma com uma potência diferente: Air, GT-Line e e-GT. A primeira custa 43.950 euros e tem apenas um motor montado na traseira e rende 170 cavalos de potência e cerca de 35 kgfm de torque. A intermediária, por 49.950 €, também tem motor único, mas de 229 cv e o mesmo torque. A e-GT, vendida por 64.950 €, é a mais potente e com dois motores, logo com tração integral: 585 cavalos e cerca de 74 kgfm de torque. Em outros mercados europeus, como a Espanha, por exemplo, há uma versão de tração integral mais leve, com 325 cv e 605 Nm de torque. 

Só a versão mais simples tem bateria de 58 kWh, o que rende uma autonomia média de 400 km. A de melhor autonomia é a intermediária GT-Line, que pode andar mais de 510 km com uma única carga. A e-GT tem os mesmos 400 km da básica. Por outro lado, é a mais rápida, acelerando de 0 a 100 km/h em 3,5 segundos e chegando aos 260 km/h. A Air acelera em 8,5 segundos e vai até aos 185 km/h. 


Em relação ao tempo total de recarga, o EV6 leva 26 horas com a bateria de 58 kWh e 32 horas na de 77,4 kWh se ligado em rede doméstica de 220 volts. Com cabo de 11 kW, a recarga varia entre 5 e 7 horas. Já em postos de carregamento rápido, leva 18 minutos para chegar a 80 %.  E em 4 minutos é possível obter 100 km de autonomia nestes mesmos postos públicos. A tomada do EV6 está escondida na área em que ficaria a lanterna traseira direita. 

Um dos principais concorrentes do Kia EV6 foi o vice-campeão do Carro do Ano: o Renault Mégane E-Tech, também contado em detalhes no Guscar na primeira matéria do ano, que é mais barato na versão básica, vendida em Portugal (35.200 €). Também são alternativas o Hyundai Ionic 5 (42.410 a 57.810 € na Espanha), Skoda Enyaq (38.776 a 56.733 €), Cupra Born (38.865 €), Citroën e-C4 (36.617 a 40.417 €) e o Volkswagen ID.3 (39.824 a 46.277 €). 

O Kia EV6 está sendo homologado para ser lançado no Brasil até o fim deste ano. 



A premiação 

O Kia EV6 somou 279 pontos dos 59 jurados de 22 países europeus. Recarga mais rápida e acabamento refinado foram elogiados pelos votantes que elegeram o modelo sul-coreano, que se tornou o sexto asiático (segundo consecutivo, pois no ano passado o vencedor foi o Toyota Yaris) e primeiro do seu país eleito em quase 60 anos de premiação. 

Claro que também foi o primeiro título da Kia, que se tornou a vigésima-primeira marca e terceira asiática (Nissan e Toyota foram as outras) a conquistar a premiação. 

Carro do Ano 2022: Kia EV6  - 279 pontos

Em segundo lugar ficou um dos seus principais concorrentes, o Mégane E-Tech, com 265 pontos, que ganhou três notas 10 dos jurados (coisa que o EV6 não conseguiu), mas levou uma nota 0 e dois 1. A Renault desempataria da Peugeot e se tornaria a segunda maior vencedora, com sete títulos, caso tivesse vencido, o que não acontece desde 2006, quando o Clio se tornou o primeiro modelo a vencer duas vezes. 

Vice-campeão: Renault Mégane E-Tech - 265 pontos

O primo do EV6, que usa a mesma plataforma E-GMP, o Hyundai Ionic 5 completa o pódio, com 261 pontos. Ele também ganhou uma nota 10. Tomaria a mesma honraria da marca irmã se tivesse vencido. 

Terceiro colocado: Hyundai Ionic 5 - 261 pontos

O intruso movido a gasolina ou diesel entre os finalistas elétricos ficou em quarto lugar. A terceira geração do Peugeot 308, que ainda tem duas versões híbridas, somou 191 pontos. Assim como a conterrânea Renault, a marca francesa do grupo Stellantis, vencedora em 2020 com o compacto 208, que também tem uma versão elétrica, vendida inclusive no Brasil, perdeu a chance de se isolar como a segunda maior vencedora da premiação. 

Quarto colocado: Peugeot 308 - 191 pontos

Voltando aos modelos elétricos para falar do quinto colocado: o SUV Skoda Enyaq, com seus 185 pontos. A marca tcheca do grupo Volkswagen apareceu entre os finalistas pelo segundo ano consecutivo (no ano passado esteve com o sedã Octavia, que ficou na mesma colocação), mas nunca venceu a premiação. 

Quinto colocado: Skoda Enyaq - 185 pontos


Em sexto ficou o Ford Mustang Mach-E, com 150 pontos. Um elétrico de segmento superior ao EV6 e outros concorrentes. A Ford, se vencesse, empataria com as francesas Peugeot e Renault com seis conquistas. Não ganha desde 2007, com o monovolume S-Max. 

Sexto colocado: Ford Mustang Mach-E - 150 pontos

Primo do Volkswagen ID.3, o Cupra Born foi o lanterninha dos finalistas com 144 pontos. Submarca esportiva da espanhola Seat, também integrante do grupo Volkswagen, a Cupra também chega à final do Carro do Ano Europeu pelo segundo ano consecutivo. No ano passado, ficou entre os três primeiros com o SUV Formentor. Assim como a Skoda, o sonho do primeiro título da Cupra foi adiado para o ano que vem. 

Sétimo colocado: Cupra Born - 144 pontos

Sem ganhar desde 2008 com o 500, tendo batido na trave no ano passado com o vice conquistado pela nova geração totalmente eletrificada do mesmo subcompacto, a Fiat ainda é a maior vencedora do European Car of The Year com nove títulos. A não ser que Peugeot ou Renault engate um tetracampeonato nos próximos anos ou a Ford chegue ao penta, a marca italiana vai continuar soberana por mais meia década. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
FOTOS: DIVULGAÇÃO


Todos os campeões:


1964 - Rover 2000 / 1965 - Austin 1800 / 1966 - Renault 16 / 1967 - Fiat 124 (deu origem ao Lada Laika, um dos primeiros importados populares no Brasil) / 1968 - NSU Ro 80 (primeiro carro com motor rotativo Wankel) / 1969 - Peugeot 504 (sua versão picape fez sucesso por aqui nos anos 90) / 1970 - Fiat 128 / 1971 - Citroën GS / 1972 - Fiat 127 (o nosso 147 - BR) / 1973 - Audi 80 (deu origem ao primeiro Passat) / 1974 - Mercedes 450S (I) / 1975 - Citroën CX / 1976 - Simca 1307-1308 / 1977 - Rover 3500 / 1978 - Porsche 928 (primeiro cupê esportivo a levar o título) / 1979 - Simca Horizon / 1980 - Lancia Delta / 1981 - Ford Escort (BR) /1982 - Renault 9 / 1983 - Audi 100 (sua versão reestilizada foi o primeiro Audi importado por Ayrton Senna dez anos depois) / 1984 - Fiat Uno (BR) / 1985 - Opel Kadett (BR) / 1986 - Ford Scorpio (um sedã luxuoso do porte do Fusion) / 1987 - Opel Omega (BR) / 1988 - Peugeot 405 (I e Me) / 1989 - Fiat Tipo (I e BR) / 1990 - Citroën XM (I) / 1991 - Renault Clio 1 (Me) / 1992 - VW Golf III (Mx e I) / 1993 - Nissan Micra (duas gerações antes do nosso March) / 1994 - Ford Mondeo 1 (I) / 1995 - Fiat Punto 1 (o nosso foi a terceira geração) / 1996 - Fiat Bravo/Brava (BR - O Bravo era a versão duas portas do Brava, que foi fabricado aqui. Ambos antecederam o Stilo e o último Bravo) / 1997 - Renault Scénic (BR) / 1998 - Alfa Romeo 156 (I) / 1999 - Ford Focus 1 (Me) / 2000 - Toyota Yaris 1 (primeira geração europeia. O nosso é derivado da segunda geração tailandesa) / 2001 - Alfa Romeo 147 (I) / 2002 - Peugeot 307 (I e Me) / 2003 - Renault Mégane 2 (BR na versão sedã) / 2004 - Fiat Panda (inspirou o novo Uno brasileiro) / 2005 - Toyota Prius (que chegou aqui somente a partir da terceira geração) / 2006 - Renault Clio 3 / 2007 - Ford S-Max / 2008 - Fiat 500 (I e Mx) / 2009 - Opel Insignia / 2010 - VW Polo (uma geração entre o nosso antigo e o atual) / 2011 - Nissan Leaf 1 (usado no Rio como táxi de forma experimental e depois importado na segunda geração) / 2012 - Opel Ampera/Chevrolet Volt / 2013 - Volkswagen Golf (I e BR) / 2014 - Peugeot 308 / 2015 - Volkswagen Passat (I) / 2016 - Opel Astra / 2017 - Peugeot 3008 (I) / 2018 - Volvo XC40 (I) / 2019 - Jaguar I-Pace (I) / 2020 - Peugeot 208 (Me e I) / 2021 - Toyota Yaris / 2022 - Kia EV6 (I)


BR - Fabricado no Brasil
I - Importado da Europa ou Ásia
Me - Importado do Mercosul
Mx - Importado do México