Desafiando a tendência dos SUVs no mercado, a Nissan continua apostando nos sedãs. Aliás, ela tem mais sedãs em sua linha que utilitários (só tem o Kicks) no Brasil. Já de três volumes, o novo Sentra é o segundo da linha, depois do Versa. Na verdade, a linha Nissan em nosso país só tem cinco modelos: Kicks, Versa, a picape Frontier, o hatch médio elétrico Leaf e agora o Sentra, que em nosso país chegou agora em sua sexta geração. 


Face-lift do Sentra
Estilo 
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O novo Sentra demorou bastante para vir. Foi lançado no exterior em 2019! Tanto que lá fora já ganhou até um ligeiro face-lift. O que acaba de chegar, importado do México (mesmo não sendo mais vendido por lá) ainda tem a moldura da grade em V cromado e em preto brilhante praticamente idêntico ao Versa, lançado aqui em 2020 (só é mais largo). Os faróis também são espichados como o sedã compacto, o que faz do Sentra quase um clone maior do Versa. Só não é por completo por causa de um detalhe: a caída do teto mais cupê do modelo maior. Aliás, o Sentra tem pintura em dois tons nas cores branco e grafite, pois o teto é preto nestas opções. Pena que não é tão original e já tem alguns anos, embora ainda dê uma aparência futurista ao estilo "tiozão". 



Acabamento
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Já o interior em nada lembra o irmão mais compacto. Se o Versa tem painel baseado no Kicks, o do Sentra é arredondado, tem faixa em material macio imitando couro, tela multimídia destacada e três saídas de ar centrais circulares. As das extremidades são horizontais, exatamente o inverso do Versa. Um deslize é a falta de instrumentação eletrônica completa ou mesmo parcial, como no Versa e no Kicks. A tecnologia fica apenas entre os instrumentos físicos. O revestimento creme do painel e dos bancos é oferecido somente na versão Exclusive Premium. 


O acabamento só não é perfeito porque tem plástico duro no alto do painel (próximo ao para-brisa), na parte inferior e no topo das portas traseiras. Nas portas dianteiras tem revestimento macio. Também faltam iluminação no porta-luvas, um carregador sem fio de smartphone e saídas de ar para o banco traseiro. Voltando para o lado bom, a novidade é que os bancos de trás também passam a ter o sistema de gravidade zero da Nissan. 



Espaço interno
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O espaço interno do Sentra é muito bom, as pernas vão folgadas até para quem é mais alto, mas este vai raspar a cabeça no teto por causa da caída mais cupê. O túnel central também não é tão alto. A largura também é boa, acomodando três pessoas com conforto. O espaço interno seria o maior atrativo do Nissan. 

Seria, porque indo para a rigidez dos números da revista Quatro Rodas, o Sentra fica atrás do Toyota Corolla, do Chevrolet Cruze, que está para sair de linha, e até do Honda Civic, que está num patamar de preço mais alto, mas ainda tem o mesmo porte. O espaço para as pernas é de apenas 92 cm, enquanto os rivais têm 105,2 cm, 95,4 cm e 97 cm, respectivamente. Para a cabeça, o espaço é de 89 cm. O Corolla tem 94 cm, o Cruze, 91 cm e o Civic 90 cm. Na largura, com 148 cm, o Sentra só fica atrás do Civic, com 153 cm. O Toyota tem 139,7 cm do Toyota e o Chevrolet mede135,1. Mesmo atrás dos concorrentes, só tirei uma estrela do Sentra porque não confiei muito nessas medições.  



Porta-malas
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Com 466 litros, o porta-malas do Sentra se coloca entre os 470 litros do Corolla e os 440 do Cruze, mas fica bem atrás dos 495 litros do Civic. 



Motor
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A Nissan está tentando reconquistar os compradores de sedãs sem um motor turbo ou híbrido. Escolheu o fraco motor a gasolina 2.0 que, mesmo com injeção direta, só rende 151 cavalos de potência. O Corolla, com o mesmo tipo de motor (que tem injeção mista), rende 169 cavalos com gasolina e 177 cv com álcool. O 1.4 turbo do Cruze rende um pouco menos com gasolina (150 cv), mas com álcool chega aos 153 cv. O 2.0 do Civic rende ainda menos: só 143 cv, mas o Honda tem um motor elétrico de 184 cv, pois é híbrido. 



Câmbio 
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O câmbio automático, pelo menos, é CVT e tem oito marchas simuladas. Só perde para as dez do Corolla. 



Desempenho
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A escolha por um motor sem muita potência obviamente refletiu no desempenho. Segundo a revista Quatro Rodas, o Sentra acelera de 0 a 100 km/h em 10,7 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 7,5 segundos. O Corolla faz essas mesmas marcas em 9,7 e 6,4 segundos, respectivamente. Já o Cruze acelera em 8,6 segundos e 5,9 segundos. Não preciso nem citar os números do Civic. 



Consumo
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O consumo medido pela Quatro Rodas também ficou atrás dos concorrentes: 10,4 km/litro na cidade e 15 km/l na estrada. O Corolla faz em 11,9 km/l e 15,5 km/l e o Cruze percorre 11,7 km/l e 16,5 km/l. Mais uma vez, é desnecessário citar o consumo do Civic porque este é híbrido e é bem mais econômico. 



Segurança
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O Nissan Sentra chega ao Brasil em duas versões: Advance e Exclusive. A básica, em relação aos itens de segurança, traz seis airbags, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de atenção do motorista e alerta de objetos no banco traseiro. A Exclusive já adiciona piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa, monitoramento de pontos cegos e alerta de tráfego cruzado traseiro. Fica devendo um airbag em relação ao Corolla, mas tem alerta de esquecimento no banco traseiro e monitor de ponto cego, que o Toyota não tem. Na versão de topo, o nível de equipamentos equivale ao Civic, só que sem os oito airbags. 

A frenagem de 24,7 metros a 80 km/h, segundo a Quatro Rodas, é boa, mas o Corolla conseguiu uma frenagem melhor, de 23,7 metros. Pelo menos supera o Cruze (25,1 m) e o Civic (24,9 m). Mas a 120 km/h (56,5 metros) fica atrás dos três concorrentes. 



Conforto
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Com 63,8 decibéis a 80 km/h medidos pela Quatro Rodas, o ruído do Sentra é dois décimos mais alto que o do Corolla, mas é muito mais ruidoso que o Cruze (62,2 dBA) e do Civic (62,1 dBA). A coisa piora a 120 km/h, com 71,6 dBA, bem acima dos três rivais analisados. 



Preço
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Na prática são duas versões: Advance, que custa R$ 149.990, e Exclusive, por R$ 173.290. Mas o pacote Premium, que troca o revestimento interno preto pelo bege e adiciona mais R$ 1.700 ao preço, é considerada uma terceira versão no site da Nissan. 

A única opção de cor sem custo é a preta. A prata acrescenta mais 2 mil reais ao preço e ainda tem a grafite e o branco com teto preto, que custam R$ 3 mil.  

O Sentra é mais caro que o Corolla se comparando a versão mais barata deste, a GLi, por R$ 148.290. Já na versão mais cara, levando em consideração a pintura, o Nissan consegue ser mais barato: R$ 177.990 contra R$ 180.010, da Altis Premium do Toyota.  



Equipamentos
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Além dos já citados itens de segurança, a versão básica Advance traz de série ar-condicionado digital automático de duas zonas, faróis em led, central multimídia de 8 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay via cabo, paddle shifts para troca de marcha manual, bancos dianteiros aquecidos, sistema de som com 6 alto-falantes, rodas de 17 polegadas diamantadas, faróis de neblina, banco do motorista com regulagem elétrica e chave presencial. 

A Exclusive acrescenta faróis automáticos (com facho alto automático), câmeras 360°, retrovisor interno eletrocrômico, retrovisores externos rebatíveis eletricamente, partida remota do motor, teto solar elétrico e sistema de som Bose com 8 alto-falantes. 


É muito bem equipado e comparado ao Corolla básico leva vantagem por ter ar condicionado digital e banco do motorista com regulagem elétrica, mas a versão mais completa peca por não ter um carregador por indução, regulagem elétrica só para o banco do motorista e um freio de estacionamento elétrico (o que tem é acionado pelo pedal, como no Toyota Corolla Cross e nos utilitários dos anos 90). 
 


Conclusão
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O novo Sentra tem qualidades no estilo, no acabamento, espaço interno, segurança, equipamentos e até no preço, mas em nenhum deles é o máximo. O porta-malas tem boa capacidade. Porém, o sedã japonês fabricado no México patina no desempenho, consumo e nível de ruído. Culpa do fraco motor 2.0 que a Nissan escalou para enfrentar o Toyota Corolla e o Chevrolet Cruze em fim de carreira. Só o câmbio CVT se salva. Assim fica difícil tirar o público dos SUVs e devolvê-lo para os sedãs.   


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS