Por Gustavo do Carmo
Publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2021
Em janeiro de 2021, o portal UOL publicou uma matéria, assinada por Alessandro Reis, que listava cinco sedãs médios que não acompanharam o líder de mercado Toyota Corolla e saíram de linha. Ou seja, cinco sedãs que não conseguiram vender mais ou o equivalente ao modelo japonês.
Renault Kadjar. Na foto de capa, o Koleos |
O primeiro exemplo citado na matéria é o Renault Fluence, derivado do Mégane da geração anterior, que foi vendido no Brasil entre 2011 e 2017. Seu modelo similar é o Kadjar, lançado originalmente em 2015, que nunca veio. A marca do losango chegou a especular, para variar, um projeto mais simples e mais barato, Mas até agora nenhuma notícia dele. O antecessor do Kadjar, o Koleos, que cresceu de segmento, chegou a ser anunciado no país. Mas a sua importação foi cancelada. A desculpa foi a alta do dólar (usada desde a primeira forte desvalorização do Real em 1999). Os dois foram falados no Guscar.
Outro argumento usado por montadoras para não trazer bons modelos médios e grandes são os altos impostos. Engraçado é que elas querem alíquotas baixas (e o Governo não pode ficar baixando agora por causa da pandemia, pois prejudica a arrecadação), mas não repassam o desconto nem quando começam a fabricar o carro no Brasil. Este aí foi um dos motivos, ou melhor, uma das desculpas, para o fechamento das fábricas da Ford, assunto que falei mais detalhadamente em outro editorial.
Ford Escape ou Kuga |
A mesma Ford, no caso o Focus, é mais um exemplo do que eu vou chamar de "Hipocrisia dos SUVs". Seu similar seria o Escape, que uma hora falam que vem, outra falam que não vem. Quem virá, com certeza e com a mesma plataforma, será o Bronco Sport, que tem um estilo rústico. Mas, por enquanto, só temos o Territory, daquele país que criou o coronavírus em laboratório. E o sucessor do Fusion, teoricamente o Edge, restrito à versão esportiva ST e muito mais caro, pode ser outro xing-ling. E ainda tem o Explorer, vendido no Brasil em gerações passadas nos anos 90 e hoje disponível na Europa em versão atual. No Brasil? Vai sonhando!
Ainda fora da lista da matéria do UOL, a Ford desistiu até do Ecosport, ao encerrar a sua produção com o fechamento da fábrica de Camaçari (BA). O projeto para a terceira geração do utilitário seria em projeto com a indiana Tata, mas foi cancelado. Virou uma incógnita.
Outro compacto, o Peugeot 2008, também não deve vir. Seria fabricado na Argentina, como o hatch 208, mas parece que a Peugeot desistiu.
Peugeot 2008 |
Conterrânea e sócia da Peugeot, a Citroën também prometeu o C5 Aircross e a nova geração do C3 Aircross, mas até agora nada.
Nova integrante do grupo PSA, a Fiat deixou de trazer o 500L porque estava preparando o 500 X, com mais cara de crossover. Mas este não veio para não bater de frente com o Jeep Renegade, que usa a mesma plataforma e agora integra o novo conglomerado Stellantis.
Citroën C5 Aircross |
A General Motors até que tem o Chevrolet Equinox, mas ainda não chegou a sua versão com face-lift. O Tracker foi projetado na China. Já outros modelos como Blazer, Trailblazer compacta, Traverse, Tahoe e Suburban, nem pensar...
Chevrolet Traverse |
Mitsubishi Lancer (Outlander), Peugeot 408 (3008) e Hyundai Elantra (Tucson) são exemplos que até me fariam calar a boca. A Mitsubishi, aliás, foca toda a sua linha nos utilitários. Só que estes três modelos citados entre parêntesis já foram reestilizados (o Peugeot 3008 passou apenas por um face-lift) e precisam ser atualizados logo no Brasil.
O Volkswagen Jetta ainda não morreu (pode ser um dos próximos), mas terá o chinês fabricado na Argentina Taos como equivalente. Ele também substitui o Golf, que na Europa tem o T-Roc como alternativa. E este ainda tem uma versão conversível. O Tiguan também pode ser classificado como similar do Jetta, mas agora está mais próximo do Passat, que também morreu. Só que aguarda o face-lift no Brasil. O Touareg, que hoje está mais próximo do extinto Phaeton, também não veio.
O Kia Cerato também pode ser mais uma "vítima" do Toyota Corolla, mas, pelo menos tem o Sportage, que está próximo de receber uma nova geração este ano (no exterior). No Brasil, ainda não está confirmado.
Em breve, o Honda Civic será apenas importado na próxima geração. Provavelmente, custará mais caro e também é possível que saia da briga contra o eterno rival. Seu similar é o CR-V, que anda esquecido no mercado e não se sabe se continuará à venda por aqui.
Nissan X-Terra |
O penúltimo caso é o da Nissan, que costuma anunciar que vai dar prioridade aos utilitários e picapes, mas continua trazendo sedãs. Nada de Qashqai, X-Trail ou X-Terra. O único SUV da sua linha vendido no Brasil é o pequeno Kicks. Em breve, terá o Magnite, ainda menor, um projeto barato, herdado da Datsun, que vai substituir o March. Já a linha de sedãs, além do Versa, terá o novo Sentra.
E fechamos com o protagonista da matéria do UOL: o próprio Toyota Corolla, que é líder de mercado entre os sedãs, mas pode morrer no futuro se confirmar a tendência dos SUVs. Seu similar verdadeiro é o RAV4, que é vendido no país somente em versão híbrida e é muito caro, na faixa dos R$ 240 e 260 mil. Mesmo assim, ainda não dá para considerá-lo como similar ao Camry. Este papel é do Land Cruiser, uma evolução do velho Bandeirante, que não é vendido oficialmente no Brasil desde 2009, com a versão Prado.
Toyota Corolla Cross |
Para fazer frente ao Jeep Compass e poder dizer até no nome que é o similar do Corolla, a Toyota vai fabricar em Sorocaba, o Corolla Cross, cujo projeto vem da Tailândia, mais um de um país asiático emergente. Poderia vir o C-HR, que apesar do estilo estranho e ser compacto, é europeu. O Yaris Cross, já apresentado no Guscar, está previsto apenas para 2024.
Segundo as montadoras, sedãs, hatches e peruas estão em extinção porque o consumidor está migrando em massa para os utilitários. Mas a oferta de modelos da categoria da moda no Brasil, seja de compactos, médios ou principalente grandes, é muito limitada. Será mesmo que os consumidores estão preferindo os SUVs ou falta boa vontade para trazê-los ao nosso discriminado mercado? Enfim, a hipocrisia!
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