Em fevereiro, no último editorial de abertura da temporada 2021 (A Hipocrisia dos SUVs), eu falei dos sedãs concorrentes do Toyota Corolla em nosso país que não conseguiram tirá-lo da liderança de vendas no segmento e saíram de linha. Como muitas montadoras se justificaram que o motivo foi a preferência crescente do mercado pelos utilitários esportivos, comentei que alguns não foram substituídos por modelos equivalentes dentro de cada marca. Outros foram trocados por projetos oriundos da China e Tailândia.

E é da Tailândia que vem a maior ameaça ao próprio Corolla. Tem até o mesmo nome, claramente para trazer os fãs do sedã para o crossover, gênero que está abreviado no sobrenome para diferenciá-lo no mercado. O Corolla Cross foi projetado e estreou no país asiático, mas é fabricado aqui mesmo no Brasil, em Sorocaba (SP). Tudo para derrotar o Jeep Compass, que acaba de ganhar um face-lift interno. 


O Corolla Cross já está no mercado brasileiro em quatro versões definitivas, metade com motorização híbrida e a outra metade com motor 2.0, com preços variando entre R$ 139.990 (XR 2.0) e R$ 179.990 (XRX Hybrid). ´

E os motores são exatamente os mesmos do sedã. O das versões movidas apenas a combustão é o 2.0 Flex Dynamic Force, com ciclo Atkinson e injeção mista (direta e indireta), enquanto os híbridos usam o 1.8 Flex Atkinson combinado com dois motores elétricos. Nesta matéria analisarei os dois tipos de motorização, além de outros pontos do Corolla Cross. 


Estilo
êê

Corolla Cross Hybrid

Claramente inspirado no RAV4, que, até a geração passada, fazia o papel de SUV similar do Corolla e foi reposicionado para uma faixa mais luxuosa, o estilo do Corolla Cross, que usa a mesma plataforma GA-C do sedã, é reto e conservador demais. A frente tem uma grade exageradamente grande e em forma de ralador que ofusca os próprios faróis em bumerangue. As versões híbridas têm detalhes azuis no conjunto ótico e no emblema da Toyota. A traseira é o único ponto que agrada, com as suas lanternas horizontais e a tampa do porta-malas quase limpa (a não ser pelo enorme vinco no espaço da placa). A lateral tem colunas largas e uma discreta faixa preta ou cromada na altura do teto. 


Acabamento
êêêê


Painel do Corolla sedã


É praticamente igual ao sedã, com painel horizontal de tela multimídia destacada no alto e já sem o tubo atrás, que o sedã também retirou. Há faixa de couro da parte central até a área do carona do tablier e nas portas dianteiras e traseiras em quase todas as versões (exceto na básica), o que já é um grande avanço. A costura, no entanto, é imitação. Por isso e por falhas de acabamento no interior do porta-objetos no apoio de braço dianteiro, perdeu uma estrela na avaliação. A versão híbrida mais cara tem quadro de instrumentos eletrônico. As únicas mudanças em relação ao Corolla de três volumes são no console do Cross e a parte direita mais "gordinha" no sedã. A traseira tem saída do ar condicionado para os passageiros que vão lá, mas o encosto do banco não dá acesso ao porta-malas (bem forrado de carpete) pelo apoio de braço.  Bancos e painel são bege claro na versão XRX Hybrid e nas demais são cinza. 

 
Espaço interno
êêê


Visualmente, para uma pessoa baixinha como a jornalista Giu Brandão, que deixa os bancos dianteiros alinhados à coluna B, o Corolla Cross é bem espaçoso, tanto para as pernas quanto para a cabeça. Já os mais altos terão um pouco menos de espaço. O assoalho não é muito plano.

Mas na frieza dos números, o Corolla fica bem atrás do seu principal alvo, o Jeep Compass. Segundo a revista Quatro Rodas, o espaço para as pernas no banco traseiro é de 90,4 cm e para a cabeça é de 87 cm. O Compass tem as mesmas medidas com 97,3 e 93 cm. O Corolla Cross também é menor que o sedã de quem quer tomar público: tem 4,47m contra 4,63m de comprimento e 2,64m contra 2,70m de entre-eixos. Mas é mais largo (1,83m contra 1,78m) e mais alto (1,62m contra 1,46m). 


Porta-malas 
êêê


Tem 440 litros, é superior ao Compass, que tem 410 litros, mas fica atrás dos 470 litros do Corolla sedã e dos 520 litros do Peugeot 3008.


Motor e Câmbio
êêêê

Motor 2.0 Dynamic Force

Com motor 2.0, o Corolla Cross ganhou cinco estrelas por ser mais potente e ter um câmbio melhor que os seus dois principais concorrentes: o Peugeot 3008 e o Jeep Compass.

O Toyota 2.0 Dynamic Force Dual-VVTi Flex, de injeção direta e indireta, rende 169 cavalos com gasolina e 177 cv com álcool. O 3008 1.6 THP tem apenas 165 cv apenas com gasolina E o Compass tem 170 cv com o motor turbodiesel Multijet 2.0, que vai ganhar mais potência com o novo visual. 

Motor 1.8 ciclo Atkinson do Corolla Cross Hybrid

Já o Hybrid tem um 1.8 flex 16v de ciclo Atkinson, com 98 e 101 cavalos, além de dois motores elétricos que rendem juntos 72 cavalos. E nem a potência combinada ajuda, pois são apenas 123 cavalos. Por isso, fica bem distante dos dois concorrentes. Tirando uma média entre as duas versões de motores, o Corolla Cross fica com três estrelas. 

Câmbio do Corolla Cross Hybrid

O câmbio é CVT para o 2.0 e tem dez marchas definidas, uma a mais que o Compass diesel. O Peugeot 3008 tem apenas seis. E o Hybrid usa um Transaxial de apenas uma marcha. Eu daria cinco estrelas para o conjunto motor e câmbio do Corolla Cross. Mas a fraca potência do motor híbrido me fez tirar uma estrela na média. A suspensão não está em avaliação, mas é inferior ao Corolla três volumes, que tem multilink na traseira enquanto o Cross tem o simples eixo de torção.  


Desempenho
êêê

Corolla Cross 2.0

O Cross 2.0 acelera de 0 a 100 km/h, segundo a revista Quatro Rodas, em 10,5 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 6,9 segundos. A aceleração não empolga. Fica atrás do Peugeot 3008 1.6 THP (9,8 segundos), mas bem à frente do Compass 2.0 turbodiesel (11,4). Na retomada praticamente empata com o modelo francês (7 segundos), mas supera o ítalo-americano (8,8). 

Já a versão híbrida é bem mais lenta, com 13,4 segundos e a retomada com 9,7 segundos. Não precisaria nem dizer que fica bem atrás dos rivais, principalmente do Compass. 


Consumo
êêêêê


Ao ver pela primeira vez os números, o Corolla Cross 2.0 tem um bom consumo de combustível. Já ao compará-los com a concorrência, vemos que a diferença para o principal rival não é tão grande assim. Enquanto as médias do Toyota são de 12 km/litro na cidade e 15,4 km/l na estrada, segundo a Quatro Rodas, o Jeep Compass turbodiesel faz 11,7 e 15,1 km/l, respectivamente. O Peugeot 3008 faz 10,2 km/l e 13,8 km/l. 

Sem comparação são os consumos da versão Hybrid. E não é só por causa dos 18,3 km/l na cidade e 16,9 km/l na estrada. É que o Corolla Cross simplesmente não tem concorrentes híbridos no mercado na sua faixa de preço.  


Segurança e Frenagem
êêêêê


De equipamentos de segurança, o Corolla Cross tem sete airbags (dois frontais, dois laterais, dois de cortina e um de joelhos para o motorista), câmera de ré com projeção na central multimídia (mas a básica não tem as linhas-guia), controle eletrônico de estabilidade, controle de tração, assistente de partida em rampa, sinal de frenagem de emergência, alarme volumétrico e perimétrico, acendimento automático dos faróis, luzes diurnas de LED, sensor de estacionamento traseiro e ganchos ISOFIX para cadeirinhas infantis desde a versão básica XR 2.0. Mas alerta de ponto cego, sensor de estacionamento dianteiro, alerta de tráfego traseiro e o Toyota Safety Sense (TSS), com assistente de pré-colisão frontal, com alerta sonoro, visual e, se necessário, frenagem automática, piloto automático adaptativo, alerta de tráfego traseiro, assistente de alerta de saída e correção de faixa e faróis altos automáticos, só na versão XRV, a híbrida mais barata. É bem recheado, mas alguns equipamentos só em versões mais completas.
 
Na frenagem, os números da Quatro Rodas, tanto para o 2.0 quanto para o Hybrid, são excelentes. O primeiro para a 80 km/h em 26,6 metros e 61,7 metros a 120 km/h. E o híbrido se imobiliza em 25,8 metros e 58,9 metros, respectivamente. O Peugeot 3008 para em 27,5 e 62,2 metros e o Jeep Compass em 30 e 69 metros. 


Nível de ruído
êêê


Com 61,8 decibéis a 80 km/h e 68,9 dBA a 120 km/h para a versão 2.0 e 59,9 e 68,7 dBA para a Hybrid, segundo a Quatro Rodas, o Corolla Cross decepciona. Ele consegue ser mais silencioso que o Compass flex somente a 80 km/h (64,5 e 68,7 dBA). É preciso lembrar que o motor 2.0 do Jeep será trocado por um 1.3 turbo, mas não tenho os números da nova versão e do motor a diesel.

O Peugeot 3008 emite menos ruído que o Toyota 2.0. A 80 km/h é um empate técnico, pois faz 61,7 decibéis. A 120 km/h são 66,3 dBA. Só perde para a versão Hybrid a 80 km/h. Os números do francês, no entanto, são da extinta revista Carro, hoje apenas um site na internet que não faz mais testes completos.


Preço
êêêê


Como já foi dito lá em cima, o Corolla Cross já está à venda em quatro versões definitivas. A básica XR tem motor 2.0 e custa R$ 139.990 e R$ 144.990 no estado de São Paulo (porque lá o ICMS é mais caro). A XRE tem o mesmo motor puramente a combustão e custa R$ 149.990 e R$ 155.390. As híbridas são a XRV (R$ 172.990 / R$ 179.190 (SP)) e a XRX (R$ 179.990 / 186.490,00 (SP)). Há, ainda, a série especial XRX Hybrid Special Edition, por R$ 183.980 em todo o país.

Apesar do preço alto, o Corolla Cross é o segundo mais barato da categoria, só perdendo exatamente para o principal rival Jeep Compass, que custa de R$ 135.990 a 172.990 nas versões flex e ainda com o visual antigo. O turbodiesel custa R$ 231.990. O chinês Ford Territory custa de R$ 179.900 a 197.900. Já os demais concorrentes como Chevrolet Equinox, que sai por R$ 189.900 e é o único abaixo de 200 mil reais (o Peugeot 3008 custa R$ 212.190), são bem mais caros, principalmente os modelos das marcas premium, como Audi Q3 (R$ 204.990 a 435.990), BMW X1 (R$ 256.950 a 294.950) e Mercedes GLB (R$ 264.900 a 290.900). 


Equipamentos
êêêê


Com pacotes fechados, o Corolla Cross XR 2.0, além dos já citados itens de segurança traz sistema multimídia com tela de 8 polegadas, rádio AM/FM, função MP3, entrada USB, conexão para smartphones e tablets Android Auto e Apple Car Play, espelhos retrovisores com regulagem elétrica e rebatimento automático ao fechar o veículo, rodas de liga-leve de 17 polegadas, rack de teto longitudinal, acabamento interno com partes revestidas de tecido preto, acabamento do volante em couro, banco traseiro bipartido, reclinável e rebatível, cobertura retrátil do porta-malas, computador de bordo, tela TFT de 4,2 polegadas colorida, indicador de direção econômica no painel de instrumentos (ECO driving), chave com comandos integrados para abertura, travamento das portas e alarme, ar condicionado digital de uma zona com saída para o banco traseiro, banco do motorista com regulagem manual para seis ajustes (altura, distância e inclinação) e do passageiro para quatro ajustes (distância e inclinação).


O XRE adiciona rodas de 18 polegadas diamantadas, acabamento interno com partes revestidas de couro e material sintético preto, espelho retrovisor interno com anti-ofuscamento eletrocrômico, entrada sem chave e partida por botão e sensor de chuva.

O XRV, primeiro da linha com motor híbrido, tem retrovisores externos com tilt down (que abaixam quando se dá ré) e alerta de ponto cego, moldura superior das janelas com acabamento cromado, sensor de estacionamento dianteiro, o já citado Toyota Safety Sense (TSS), faróis e lanternas em LED.


O XRX Hybrid completa com teto solar elétrico, acabamento em couro bege, quadro de instrumentos eletrônico, ar condicionado de duas zonas, bancos dianteiros com ajustes elétricos, sendo oito para o motorista e quatro para o passageiro. 


A  XRX Hybrid Special Edition era uma série especial limitada a 1.200 unidades que já não consta nos preços do site da Toyota. Tem ou tinha soleira nas portas, estribo lateral e carregador de smartphone por indução. 


O Corolla Cross é bem equipado, com itens de segurança, condução semi-autônoma, conforto e entretenimento. O problema é que alguns destes itens estão restritos somente às versões mais caras. O ar condicionado dual zone, por exemplo, só na versão top. Mesmo assim, sai mais barato que o Jeep Compass, onde os equipamentos de auxílio a condução são opcionais. 




Conclusão
êêêê



Com avaliação máxima na segurança e no consumo, o Corolla Cross é um bom utilitário e nem parece que foi projetado para países de terceiro mundo, como é habitual nas montadoras que atuam aqui no Brasil. Acabamento, motor e câmbio são bons, mas espaço interno, porta-malas, nível de ruído e desempenho são medianos. O que poderia entregar o preconceito da Toyota com os países "emergentes" seria o estilo. Mas o Corolla Cross foi claramente inspirado no RAV4, que é tão feio como o novo modelo aqui avaliado e só não ocupa o posto de SUV similar ao sedã mais vendido do mundo porque agora usa a plataforma do Camry (a TNGA GA-K). 


Assim, mesmo criado na Tailândia o Corolla Cross é uma alternativa interessante no segmento de utilitários médios como o Jeep Compass, seu arquirrival que passou por um face-lift interno. Mas se os europeus e norte-americanos receberem um SUV mais bonito e moderno, este modelo do qual acabei de analisar vai sumir do Guscar. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS