Na matéria anterior, eu apresentei o Kia PV5, novo furgão elétrico que pretende concorrer, na Europa, com a Volkswagen ID.Buzz, conhecida por ser a releitura moderna da Kombi. Mas a PV5 também tem uma referência para chamar de sua: a Besta.
Aqui no Brasil, a Besta chegou importada em 1993 e liderou o mercado de importados de 1997 a 2001.
A Besta oferecia o que a Volkswagen Kombi não tinha: estilo moderno, embora reto, conforto, acabamento superior e amplo espaço interno para passageiros (acomodava 12) e carga.
Era mais cara, custava quase o dobro da Kombi, mas conseguiu ser popular e invadir as ruas como carro de frota, ambulância, transportes de turismo e introduziu as pragas das vans de lotação, antes ilegais, mas depois legalizadas pela prefeituras, especialmente aqui no Rio de Janeiro.
Chegou a ser comprada pelo governo do Estado do Rio para ser camburão de polícia e foi apresentada "fardada" até no Salão do Automóvel de São Paulo. Mas a manutenção cara deixou muitas sucateadas nas garagens dos batalhões.
Primeira geração (1989-1995. No Brasil de 1993 a 1997)
O primeiro nome da Besta na Coreia do Sul era Kiamaster Bongo 9. Isso porque usava o chassi da caminhonete Bongo, vendida até hoje aqui no Brasil, montada em CKD no Uruguai. Foi lançada lá em 1989. Quando trouxe o modelo para o Brasil, a Kiamaster já se chamava Best-A, mas aqui o brasileiro usou a pronúncia parecida com o apelido pejorativo de Besta e assim ela fez sucesso.
Media 4,69 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,92 m de altura e 2,40 m de distância entre-eixos. A frente era inclinada, com faróis trapezoidais. A lateral, como já foi dita, era reta, com janelas longas e portas traseiras corrediças apenas no lado direito da carroceria. A traseira era vertical, com lanternas em L, mas com a faixa acima da placa que carregava o nome do carro completando o desenho.
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Foto da internet |
O interior tinha painel com desenho agradável, mas simples. Os instrumentos ficavam em uma capela retangular destacada. Ao lado, o gabinete central com as saídas de ar quadradas e embaixo o suporte do rádio e mais para o lado do passageiro, o porta-luvas. A coluna de direção ficava completamente à mostra e o volante era praticamente na horizontal. As portas tinham revestimento de plástico e tecido. Embaixo do banco do passageiro ficava o motor 2.2 a diesel, sem turbo, de 72 cavalos. O câmbio era manual de cinco marchas. O encosto do banco dianteiro central podia ser rebatido formando um grande console e também apoio de braço. Os bancos que acomodavam 12 passageiros em quatro fileiras podiam ser completamente rebatidos, formando uma cama. A versão furgão tinha 5.200 litros de capacidade.
A Besta era vendida no Brasil nas versões ST e EST, a mais luxuosa, que trazia ar condicionado com saída e comandos independentes para a traseira, vidros e travas elétricos, painel completo, com diversos indicadores luminosos, volante regulável de dupla posição, úteis espelhos auxiliares externos traseiro e dianteiro, para manobras de estacionamento (que dão visão do que está imediatamente à frente ou atrás do veículo) e alarme para cintos de segurança desatados, travamento de portas e luzes externas deixadas acesas.
Com um motor tão fraco e uma carroceria tão pesada (1.700 kg), a Besta de primeira geração acelerava de 0 a 100 km/h em 31,9 segundos e seu consumo era de 10,7 km/litro na cidade 12,4 km/l na estrada. A frenagem a 80 km/h parava depois de 39,1 metros (números da revista Autoesporte em teste de 1993).
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Asia Motors Topic |
Além da Kombi, a Besta concorria com a irmã Topic, oferecida por outra marca do grupo Kia, a Asia Motors, que também importava a compacta Towner. Por causa de uma dívida bilionária deixada pela Asia com o governo federal, a Kia foi impedida de construir uma fábrica no Brasil.
Em 1994, junto com uma nova frente, em que foi introduzida uma pequena falsa grade entre os faróis, que ganharam recortes arredondados e um novo logotipo da Kia, oval, já anterior ao atual, foi adotado um novo motor, agora 2.7, mas ainda diesel aspirado. A potência subiu para 80 cavalos.
Segunda geração (1995-2006. No Brasil a partir de 1997)
Na Coreia do Sul, a Best-A ganhou nova geração e passou a se chamar Pregio. Ficou mais arredondada, com faróis maiores, trapezoidais com novo recorte e novamente retos na frente, mas alinhados com luzes de direção nas laterais de caída suave. Entre eles uma falsa grade dividida pelo emblema Kia. As lanternas traseiras ficaram verticais, em formato de gota, com prolongamento na tampa traseira e um friso prateado acima da placa.
O interior ganhou painel arredondado e envolvente, integrando gabinete central e quadro de instrumentos. A coluna de direção ficou menos à mostra, mas o volante continuou quase horizontal. A alavanca do câmbio também ganhou novo revestimento emborrachado.
O nome Pregio era adotado apenas no exterior. Aqui no Brasil foi mantido o nome Besta, mais forte comercialmente, pois foi bem aceito pelos brasileiros, mas ganhou a sigla GS, para se diferenciar da versão antiga, que continuou sendo importada por algum tempo e a nova geração posicionou-se acima dela, como uma versão mais luxuosa. Chegou em 1997 com o mesmo motor 2.7 diesel, ainda sob o banco do passageiro, mas agora com 83 cavalos. Trazia ar condicionado com saída e controle manual para os demais nove passageiros, direção hidráulica, vidros e travas elétricos e toca-fitas. O câmbio continuou sendo manual de cinco marchas, mas por um breve período houve uma opção automática de quatro velocidades.
A nova Besta cresceu em todas as dimensões, passando a medir 4,82 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,97 m de altura e 2,58 m de distância entre-eixos.
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Kia Besta GS Grand |
Com a falência da Asia Motors e o fim da importação da Topic em 1999, o grupo Kia ficou sem uma van com capacidade para mais passageiros no Brasil. Por isso, a marca sul-coreana resolveu trazer a Besta GS Grand, com 16 lugares. Tinha 5,47 m de comprimento, 2,06 m de altura e 2,98m de distância entre-eixos. A largura era a mesma da versão curta. O motor a diesel passou a ser 3.0, mas a potência só subiu dois cavalos, sendo míseros 85 cv para um furgão tão grande e pesado. Não era à toa que andava pouco e gastava muito combustível.
A Besta deixou de ser produzida na Coreia do Sul em 2006, mesmo ano em que também parou de ser importada pelo Brasil. Já havia recebido um face-lift em 2004, que deixou os faróis mais altos e curtos, que integravam as luzes de direção.
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Kia PV5 |
A nova van elétrica PV5 traz de volta (para os europeus e asiáticos) o espírito da antiga Besta (ou Kiamaster ou Best-A ou Pregio) e a esperança de que esta reencarnação venha para o nosso discriminado país, o que deve ser bem difícil, pois só recebemos carros modernos de vez em quando.
TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
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