LANÇAMENTO - NISSAN KICKS


O Nissan Kicks foi apresentado em 2016, tendo sido bastante divulgado nos Jogos Olímpicos daquele ano, disputados aqui no Rio de Janeiro. Era um projeto brasileiro voltado para a América Latina. Uma jabuticaba latina de baixo custo. Chegou ao nosso mercado importado do México, mas, no ano seguinte, começou a ser fabricado em Resende, estado do Rio. 

Passados nove anos, o Kicks ganhou nova geração. Evoluiu tanto por fora quanto por dentro, inclusive na mecânica e na segurança. Deixou de ter a América Latina como foco e passou a ser vendido nos Estados Unidos e lá foi apresentada a reestilização, embora produzida no México para aqueles mercados. Ele ficou com linhas ousadas (até demais) e futuristas, com a nova plataforma CMF-B substituindo a V do anterior. Por isso, resolvi apresentar uma análise do novo Kicks, ainda fabricado em Resende para o nosso mercado, que trocou o velho motor 1.6 por um 1.0 turbo e tem quatro versões, da mais barata para a mais cara: Sense, Advance, Exclusive e Platinum. Não tem estilo europeu, mas está em sintonia com o mercado norte-americano, regra para ser apresentado no Guscar. 

Estilo 
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A grande mudança do novo Kicks é a frente, que abandona a grade em V para adotar um visual em lâminas, com acabamento em preto brilhante que aparenta não ter carenagem. De longe, parece que a grade interna fica à mostra e só tem luzes diurnas de LED nos cantos em quatro andares (uma em cima da outra em três linhas e a quarta no farol bem fino e horizontal, com um friso preto entre eles. Ficou estranho (para não dizer feio), mas deu personalidade ao novo modelo. 

A lateral é a parte mais atraente, com janelas maiores, linha de cintura ondulada próxima à traseira. A terceira janela é de verdade, ao contrário do modelo anterior, que tem um aplique fosco preto e continua à venda, agora chamado de Kicks Play. Voltando ao modelo novo, a moldura cromada superior das janelas termina em um friso horizontal na coluna, aparentemente apertando a terceira janela. 


Atrás, as lanternas são verticais e com elementos internos cinza. Elas se unem ao friso na tampa do porta-malas e a régua acima da placa, criando a ilusão de que as lanternas são em arco. A iluminação no friso é apenas nas extremidades, pois a régua é fosca. Em resumo, o Kicks de segunda geração, com uma frente estranha e uma traseira sem graça, ganhou uma boa avaliação graças ao perfil atraente. 

O novo SUV compacto da Nissan cresceu em todas as dimensões. O comprimento passou de 4,30 para 4,37 metros, a largura aumentou de 1,76 m para 1,80 m, a altura foi de 1,59 para 1,62 m e a distância entre-eixos de 2,62 para 2,66 m. 

Acabamento 
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Se o Kicks adotou um visual diferentão por fora, o mesmo não se pode dizer por dentro. Isso porque, no painel, a Nissan recorreu ao já banalizado conceito minimalista das duas telas horizontais sobre bancada, que são o sistema multimídia e os instrumentos eletrônicos. O estilo foi adotado por diversas marcas, como Mercedes, BMW, Audi, Renault, Hyundai, entre outras. 

Mas como este capítulo analisa o acabamento interno, a avaliação é excelente, com revestimento macio no painel, acima e na frente e com um cobertura em tecido tipo jeans na base horizontal. Só na parte inferior e na área mais próxima ao para-brisa é que tem plástico duro. As portas também têm revestimento suave ao toque, combinando couro e jeans, exceto na versão Sense, que tem plástico duro. Atrás, em todas as versões são de plástico. 


O console, com revestimento de couro nas laterais, não tem alavanca de câmbio, que agora é de dupla embreagem. Apenas botões para a marcha ré, ponto morto, neutro e drive ou manual (mudanças feitas pelas borboletas atrás do volante). O freio de estacionamento também é eletrônico. Há um porta-copos com fundo emborrachado e um porta-objetos fechado pelo apoio de braço com revestimento em carpete. Nas juntas do painel e das portas há uma luz ambiente em LED, apenas a partir da versão Exclusive. Só a top Platinum tem os comandos do ar condicionado inteiramente por toque com a temperatura na tela multimídia. Nas demais, mesmo sendo digital (de apenas uma zona), o comando é por botão com a temperatura no próprio display do equipamento. 

A instrumentação eletrônica é panorâmica (12,3 polegadas) nas duas versões mais caras e dividida em dois quadros (total de 7 polegadas) nas duas versões mais baratas. 

Eu dei a avaliação máxima desconsiderando alguns deslizes como o plástico duro nas portas traseiras, a tampa do capô com manta acústica apenas parcial e vareta em vez de amortecedores e as ausências de iluminação no porta-luvas e de uma cobertura de plástico no motor.

Espaço interno 
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Visualmente, o espaço no banco de trás é bom. Os joelhos não ralam no banco da frente e a cabeça também não bate no teto. Aliás, há até um recuo no forro do mesmo para garantir mais folga. Indo para a frieza dos números da revista Quatro Rodas, o Kicks fica atrás de alguns concorrentes. Na largura, de 148 centímetros, ele perde para o Jeep Renegade (153) e o Honda HR-V (151) e empata com o Volkswagen T-Cross. Na altura de 92 cm, ele só é melhor que o Fiat Fastback e o HR-V (ambos com 91) . Já o comprimento (95 cm) volta a ser muito bom, sendo mais apertado apenas que o Honda (98) e do Hyundai Creta (97).

Na média, acabou perdendo duas estrelas por causa da altura apertada metricamente. Fora a avaliação, não há saída de ar para o banco traseiro, o vidro traseiro não desce inteiramente e o apoio de braço não está presente na básica Sense.  

Porta-malas 
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Com 470 litros, o porta-malas do novo Kicks só fica atrás dos 516 litros do Fastback. Os que chegam mais perto são o do Creta, com 422 litros e o do T-Cross, com máxima de 420 litros. Descartando o volume excepcional do Fiat, o Nissan merece cinco estrelas no porta-malas, que também é bem acabado e tem uma prateleira ajustável e removível, além de luzes nas laterais, ambas opcionais.

Motor 
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Finalmente, a Nissan abriu mão do velho motor 1.6 aspirado de quatro cilindros em favor da tendência do 1.0 tricilíndrico turbo de injeção direta. O do novo Kicks rende 120 cavalos com gasolina e 125 cv com álcool. Comparando a potência com os principais concorrentes com o mesmo tipo de motor, pode ser considerado razoável. Ele só é mais potente que o Creta (115/120 cv) e com gasolina que o Volkswagen T-Cross, que entrega 116 cv, mas a potência com álcool do modelo da marca alemã é de 128 cv. Ele ainda é mais fraco que o 1.0 da Stellantis, compartilhado pelo Fiat Fastback e o Peugeot 2008, com 125/130 cv. Outro modelo do grupo euro-americano, o Jeep Compass, usa o 1.3 turbo, que rende 180/185 cv. Quem também tem um propulsor maior é o Honda HR-V, que desenvolve 126 cv no seu 1.5 aspirado, independente do combustível usado. 

Mas a avaliação melhora bastante se analisarmos o torque de 20,4 kgfm com gasolina e 22,5 kgfm com álcool, daí a identificação 220T. Entre os concorrentes com motor 1.0 turbo e também contra o 1.5 do Honda HR-V, ninguém supera o Kicks, principalmente com álcool. Mas com gasolina ele empata com o T-Cross e os modelos da Stellantis: o Peugeot 2008 e o Fiat Fastback. Só o 1.3 turbo do Jeep Renegade é superior, com 27,5 kgfm. 

Câmbio 
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O câmbio também é novo. O CVT de seis marchas deu lugar a um automatizado de dupla embreagem e seis marchas. Um retrocesso, já que o Fastback, o 2008 e o HR-V usam um CVT de sete marchas. Já o Compass, o T-Cross e o Creta têm um automático de verdade, com seis marchas. Era melhor ter ficado com o CVT. 

Desempenho
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Mesmo com o novo motor 1.0 turbo, se rendendo à tendência do mercado, o desempenho do Kicks, segundo a revista Quatro Rodas, é sofrível. Nem o torque superior a quase todos os concorrentes fez milagre. Acelerando de 0 a 100 km/h em 12,7 segundos, retomando entre 80 e 120 km/h em 8,8 segundos e alcançando apenas 185 km/h, ele só consegue ser mais rápido que o Hyundai Creta, que tem o mesmo tipo de propulsor. Os demais similares Fiat Fastback, Volkswagen T-Cross e Peugeot 2008 são mais rápidos que ele. E ainda tem o Jeep Renegade e o Honda HR-V, que têm motores maiores. 

Consumo
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Além de lento, o novo Kicks também gasta mais combustível que os concorrentes. De acordo com a Quatro Rodas, ele faz 11,7 km/litro na cidade e 13,4 km/l na estrada. O consumo urbano é até razoável e a média de 12,55 km/l está na mesma faixa que dois deles (Renegade e Creta), mas nos décimos fica para trás. E também fica atrás dos outros quatro. Na lanterna mesmo. 

Segurança
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Em relação aos equipamentos, o Kicks oferece seis airbags, piloto automático adaptativo, alerta de colisão, frenagem de emergência e assistente de manutenção em faixa desde a versão básica Sense. Mas o alerta de tráfego cruzado, assistente de centralização em faixa, piloto automático adaptativo de nível 2 (Pro Pilot) e monitor de pontos cegos são exclusivos da versão top Platinum. Pena que o alarme seja vendido como acessório e custa no mínimo 475,26 reais. A relação de equipamentos seria excelente se não fosse esse deslize. 

Porém, na frenagem ele perde pontos a 120 km/h, com longos 74,2 metros, enquanto os concorrentes ficaram abaixo dos 60 metros. Até o Creta para mais rápido na velocidade alta, com 61,6 metros. A 80 km/h, com 25,2 metros, o Kicks ficou na mesma faixa, exceto o Peugeot 2008, que fez em 24,7 m e o Hyundai, que fez em 27 m. Os números são da Quatro Rodas. 

Conforto 
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Com 64,1 decibéis a 80 km/h, segundo a Quatro Rodas, o ruído do Kicks é bem mais alto que os concorrentes, alguns abaixo de 60 decibéis. Só o Fiat Fastback, com 63,9 dB, fica mais próximo, mas ainda assim é menor. Nem o sofisticado acabamento, revestido de material macio foi o suficiente para evitar que o Kicks seja o mais barulhento SUV do mercado.

Equipamentos 
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O Kicks tem uma ótima relação de equipamentos de série. Desde a versão básica ele traz faróis full-led sem projetores, lanternas de led, antena shark, rodas aro 17 diamantadas, tapetes de borracha, chave presencial, acendimento automático dos faróis, ar-condicionado digital de uma zona, bancos de tecido com traseiro bibartido 60/40, apoio de braço, direção elétrica, iluminação no porta-malas, porta-revistas só no banco do passageiro, 4 portas USB-C, modos de condução (Normal, Sport e Eco), vidros elétricos, direção com ajuste de altura e profundidade, seis airbags, alarme, alerta de colisão, frenagem de emergência, assistente de permanência em faixa, piloto automático adaptativo, câmera de ré, freios a disco nas quatro rodas, sensor de estacionamento traseiro, 4 alto falantes, central multimídia de 12,3 polegadas e quadro de instrumentos digital de 7 polegadas.

A primeira intermediária, Advance, adiciona maçanetas internas prateadas, rack longitudinal no teto, tapetes de carpete, apoio de braço no banco traseiro, bancos de vinil, acabamento macio nos painéis de porta, carregador de celular por indução, prateleira no porta-malas, partida remota do motor, porta-revistas no banco do motorista e câmeras de visão 360°. 


A Exclusive soma faróis full-led com projetores e barras de leds diurnos, rodas aro 19 aerodinâmicas, retrovisor interno eletrocrômico, iluminação ambiente, sensor de chuva, parassóis com iluminação,  porta-óculos, volante revestido de vinil, sensor de estacionamento dianteiro, seis alto-falantes e quadro de instrumentos digital de 12,3 polegadas. 

Por fim, a Platinum é a mais completa acrescentando teto solar panorâmico, ar-condicionado automático e digital de uma zona com comandos touch, alerta de tráfego cruzado, assistente de centralização em faixa, piloto automático adaptativo ProPilot (SAR Level 2), monitor de pontos cegos e sistema de som premium Bose com 10 alto-falantes. É a única versão que pode ter teto preto. 

Teria a avaliação máxima se a Nissan não relegasse os ajustes automáticos dos retrovisores externos e os alarmes à lista de acessórios opcionais, cobrando mais de 400 reais por cada um ou até 959 reais pelo alarme com Bluetooth. Acabou perdendo uma estrela.

Preço
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A relação de equipamentos do novo Kicks é muito boa, mas ao ver o preço, dá pra perceber que não existe almoço grátis. Se o utilitário é recheado de equipamentos de conforto e segurança desde a versão básica é porque ele é (muito) mais caro que todos os seus concorrentes. 

A versão básica Sense custa R$ 164.990, mas somente na cor Preto Premium. As demais (Branco Diamond, Prata Classic, Cinza Grafite e Vermelho Malbec) adicionam 2.150 reais ao preço do veículo. 

A Advance sai por R$ 175.990, a Exclusive por R$ 182.490, que tem a opção da cor Azul Oceânico no lugar da Vermelho Malbec, e a top Platinum por R$ 199 mil. Esta última ultrapassa os 200 mil reais quando se adiciona outra cor além do preto. Além disso, ela não tem a Prata Classic, mas tem a Vermelho Malbec somente com teto preto, que custa R$ 3.150. A Cinza Grafite e a Branco Diamond também só têm teto preto. Só a azul é inteiramente na cor escolhida e custa R$ 2.150. 


Com uma das cores com teto preto, retrovisores elétricos, iluminação do porta-malas (R$ 4.085), rack de teto (R$ 1.507,19) e um alarme simples, o preço ultrapassa os R$ 205 mil. 

Todos os concorrentes citados aqui na análise são mais baratos que o Kicks. O que chega mais perto na versão básica é o Honda HR-V EX 1.5 aspirado, que custa R$ 163.200. Na versão mais completa é o Jeep Renegade Willys T270, já com pintura cobrada, que sai por R$ 185.490. 

O Renegade Sport também é o mais barato em versão básica, por R$ 118.290, só na cor preta. O concorrente completo mais barato é o Honda HR-V EXL 1.5 aspirado, que custa R$ 173.400.   

Assistência 
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A Nissan tem 180 concessionárias. Apesar do número centenário, a rede é pequena, só superando as 118 da Peugeot. Jeep, Honda e Hyundai estão na faixa dos 200 postos. A Fiat é a que tem mais: 537, seguida pela Volkswagen, com 472. 


Conclusão
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O estilo é ousado demais, sendo mais agradável de perfil, mas pelos excepcionais acabamento e o porta-malas, a impressão era de que o novo Nissan Kicks iria obter uma média muito boa de estrelas. Só que vieram as notas baixas no câmbio, desempenho, consumo, conforto, preço e assistência para a média geral cair. O motor é mediano porque ele tem baixa potência e alto torque, que salvaram a média de ser desastrosa. A segurança teve uma avaliação muito boa graças aos equipamentos porque a frenagem foi um fiasco. E se não se fosse o deslize de oferecer alarme e retrovisores elétricos como opcionais, a nota na lista geral de equipamentos seria perfeita. Com três estrelas de média, o Kicks ainda saiu no lucro. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS

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