Mesmo com as montadoras priorizando os utilitários esportivos, o Honda CR-V anda meio marginalizado em nosso mercado. O face-lift da geração passada demorou para chegar e a atual geração (a sexta) levou quase dois anos para vir. Ainda assim, o Brasil continua recebendo todas as gerações do CR-V desde a primeira, de 1995, que para cá demorou quatro anos para vir.  

Foi-se o tempo em que ele vinha do México para ter preço competitivo e alto volume de vendas. A nova geração agora vem da Tailândia, junto com o Civic. E como o sedã que lhe empresta a plataforma, chega apenas na versão híbrida, sem carregamento na tomada. 

Também seguindo o "irmão" de três volumes, ele chega muito caro, custando mais de 350 mil reais e vai concorrer diretamente com o arquirrival Toyota RAV4, que também combina motores elétricos e a combustão e agora tem opção de versão plug-in, além do Jeep Compass 4xe, que é só plug-in. 

Não é um comparativo oficial, daqueles que tem um vencedor entre quem pontua mais. O foco desta matéria é o CR-V. E vou compará-lo com os seus dois principais concorrentes para analisar ponto a ponto suas características. 


Estilo 
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As linhas arredondadas que marcaram as três últimas gerações deram lugar a um estilo reto e convencional, onde os únicos detalhes modernos e agressivos estão nos faróis finos horizontais, nas luzes diurnas de LED como um feixe, na grade hexagonal vertical com filetes colmeiados e nas lanternas traseiras horizontais que se estendem até o redor do vidro, mantendo a identidade do modelo desde a primeira geração.


Acabamento
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O painel segue o padrão dos recentes modelos da Honda, como Accord, Civic e ZR-V: tela multimídia destacada no alto do painel e saídas de ar mescladas com o aplique perfurado da faixa central até a área do carona. Também há faixas em preto brilhante e em imitação de madeira. 

Apesar do revestimento emborrachado na parte superior do painel e das portas dianteiras, a aparência é muito simples, o que me fez tirar uma estrela. Inclusive, o acabamento das portas traseiras é em plástico duro. Não tirei mais ponto, mas outro defeito de acabamento é a falta de ajuste do apoio de braço entre os bancos dianteiros. 

O utilitário ainda tem quadro de instrumentos eletrônico com boa definição de imagem. O sistema multimídia de 9 polegadas só é pareável sem cabo com o sistema da Apple. Para espelhar o Android é preciso de cabo. 

Atrás, o vidro não desce todo. Em compensação, tem ajuste de altura para o cinto de segurança dos passageiros dos cantos e saídas de ar.  


Espaço interno 
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Pelos vídeos que eu vi do Comprecar TV e do bem-humorado Lucas Torres, do Carro Chefe, os avaliadores ficaram bem folgados no banco de trás do CR-V, sobrando mais de um palmo de distância para o banco da frente. E o Lucas é um homem alto.

Eu tenho também os números de espaço interno da revista Quatro Rodas. O espaço no banco traseiro é de 1 metro e a altura de 96 cm. A largura é de 157,5 cm. Só tenho como comparar com o Jeep Compass, que tem 94,5 cm, 90 cm e 149 cm, respectivamente. Não tenho medições do RAV4. 

Mas o CR-V tem a maior distância entre-eixos, com 2,70m. O RAV4 tem 2,69 m e o Compass 4xe, apenas 2,64 m. Não confio em distância entre-eixos para avaliar espaço interno, mas para o Honda a medição também combinou com os vídeos. Realmente, o CR-V merece as cinco estrelas no espaço interno e tem nele um dos seus maiores destaques. 


Porta-malas
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Com 581 litros de capacidade, o porta-malas do Honda CR-V só é um litro maior que o do Toyota RAV4, que tem 580 litros. O Compass 4xe tem apenas 420 litros. Gostaria que tivesse 600 litros, mas por ser praticamente igual ao da concorrência já merece as cinco estrelas, mesmo não tendo estepe, pois a bateria tira o espaço e colocá-lo, aí sim, perderia ainda mais capacidade. No lugar, há um kit de vedação e enchimento. O acionamento é elétrico pela chave ou por botão na tampa e há memória de posição. Nas laterais, há iluminação e tomada 12 volts no lado esquerdo. 


Motor e Câmbio
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O CR-V tem três motores: um a gasolina, que é 2.0 de quatro cilindros e injeção direta, de ciclo Atkinson, de 147 cavalos, e dois elétricos, sendo que um carrega a bateria e outro, de 184 cv, que move o carro em velocidades baixas e ajuda nas retomadas. O motor a combustão assume a função em velocidades médias, altas e estabilizadas. A potência combinada é de 207 cavalos. 

A bateria de alta capacidade, apesar de fornecer energia para o motor tracionador e ser carregada pelo gerador, tem apenas 1,06 kWh. Ela também é carregada pela regeneração de energia da frenagem e a intensidade pode ser controlada pelas borboletas atrás do volante, já que o câmbio tem apenas duas marchas (pelo menos tem uma a mais que o RAV4). A tração é integral. 

Embora seja superior aos 200 cavalos, a potência combinada é inferior aos dos dois principais concorrentes: Compass (240 cv) e RAV4 (222 cv). 


Desempenho 
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O CR-V acelera de 0 a 100 km/h em 8,8 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 6,9 segundos, de acordo com a revista Quatro Rodas. O Toyota RAV4 acelera em um décimo a menos (8,7 seg.) e faz a retomada em 6,2 segundos. Mais rápido ainda é o Compass 4xe, com 7,2 segundos e 4,5 segundos  

Apesar de ter ficado atrás dos concorrentes (um empate técnico com o Toyota, mas anda menos, e mais lento que o Jeep), dou três estrelas para o CR-V, porque acelerar em menos de nove segundos e retomar em menos de sete segundos é um bom tempo para um carro de 1.819 kg. 


Consumo
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Ainda segundo a Quatro Rodas, a média de 14,8 km/litro na cidade é até boa. Mas não para um híbrido. O Civic fez 22 km/l no mesmo trecho. Na estrada, o consumo de 13,1 km/l é ainda pior. O Civic fez 17 km/l. O uso mais intenso do motor a gasolina em velocidades mais altas, influenciou no consumo rodoviário, enquanto na cidade se faz mais o uso do motor elétrico. Por isso, que em trechos urbanos ele gasta menos.

Além disso, os dois principais concorrentes são mais econômicos. O RAV4 faz 17,3 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada, enquanto o Compass faz 19,9 km/l no ciclo urbano e 14,4 km/l no rodoviário. 


Segurança
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O CR-V também ficou mais tecnológico com novos recursos de segurança como o Honda Sensing, que inclui o piloto automático adaptativo, com acompanhamento em baixa velocidade, sistema de frenagem automática para evitar colisão, sistema de permanência em faixa, que também evita a saída de pista e ajuste automático dos faróis. Ele também tem dez airbags, incluindo frontais, laterais, cortina e joelhos, além de monitor de atenção do motorista.

Na frenagem, medida pela Quatro Rodas, ele para a 80 km/h em 24,5 metros e a 120 km/h em 56,6 metros. Ele praticamente empata com o Jeep Compass, que fez essas marcas em 24,6 m e 56,3 m, respectivamente. O RAV4 leva mais distância para parar, em 25,2 m e 58,9 m. 


Conforto
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O Honda CR-V é silencioso a 80 km/h, uma velocidade urbana. A Quatro Rodas obteve 58,4 decibéis, enquanto o Compass 4xe teve 61,2 dBA da mesma publicação e o RAV4, testado pela Carro, 59,3 dBA. Mas ele se torna o mais ruidoso perto dos concorrentes a 120 km/h, uma velocidade de estrada, onde o motor a gasolina é acionado, indo a 72,5 dBA, contra 67,5 dBA do Jeep e 65,8 dBA do Toyota. Tinha tudo para ficar com cinco estrelas, mas ficou com três.


Equipamentos
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Além dos já citados itens de segurança e sistema multimídia, o CR-V também é equipado com ar condicionado digital dual zone, bancos dianteiros com ajuste elétrico, com memória para o do motorista, cancelador ativo de ruídos, sistema de som BOSE, ajuste de encosto e distância dos bancos traseiros, bancos com estabilizador corporal, seleção de modo de direção (Econ, Normal e Sport), aplicativo funcional, carregador por indução, head-up display, bancos em couro, acendimento automático dos faróis, lembrete de esquecimento de objetos no banco traseiro e botão de partida do motor.

O CR-V é bem equipado, mas tem algumas ausências, como o espelhamento sem fio no multimídia para Android, câmera 360º, acionamento automático dos limpadores de para-brisa, além de estacionamento semi-autônomo e aquecimento dos bancos, os dois últimos presentes nos rivais Compass 4xe e RAV4. Embora compensa com alguns itens como os dez airbags e o cancelador de ruídos, a falta desses equipamentos custou uma estrela. 


Preço 
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A partir da terceira geração, o CR-V trocou de origem com o Accord. Vinha do Japão, mas passou para o México, enquanto o sedã top seguiu o caminho contrário. Só para ter preço competitivo. Hoje, esta preocupação não existe mais. O novo CR-V vem da Tailândia, em baixo volume, custando R$ 352.900, sem acréscimo de preço por pintura, que pode ser as metálicas Azul Astral, Cinza Basalto e Prata Platinum e as perolizadas Preto Cristal e Branco Topázio. 

Além de alto, é mais caro que dois dos seus principais concorrentes. O Jeep Compass 4xe é vendido por R$ 347.300, enquanto o Toyota RAV4 Hybrid comum, chamado SX Connect, sai por R$ 349.290. Comum porque agora o RAV4 tem a versão plug-in, chamada XSE, que custa R$ 402.420. Assim, o CR-V não é o SUV híbrido mais caro da sua categoria e conseguiu, pelo menos, ganhar mais uma estrela. 

 Assistência
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A rede de concessionárias da Honda tem 212 postos. Não é tão grande, mas só perde para as 216 da Toyota e supera as 202 da Jeep.  


Conclusão
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O CR-V tem no espaço interno, porta-malas e segurança as suas maiores qualidades. Acabamento e equipamentos são bons, mas sem ser uma referência. Estilo, desempenho, conforto e a assistência são medianos. No entanto, o conjunto motor e câmbio fraco perante aos concorrentes, além do consumo e, principalmente, do preço altos são defeitos que pesaram na média que tornou o Honda CR-V um bom SUV híbrido de luxo, mas sem empolgar. 



TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS