Eleito o carro europeu do ano em 2024, o Renault Scénic nasceu como monovolume em 1996. Era um dos integrantes da linha média Mégane, lançada um ano antes e que tinha hatch, sedã, cupê e conversível (e perua depois do face-lift). Tanto que era chamado de Mégane Scénic e a assinatura da minivan aparecia somente na coluna lateral traseira.  

Seu conceito foi revelado em 1991 como um envidraçado monovolume de portas corrediças, cujo nome S.C.E.N.I.C. era uma sigla, que significava Safety Concept Embodied in a New Innovative Car e pode ser traduzida como conceito de segurança incorporado em um carro novo e inovador. 


Conceito Renault S. C. E. N. I. C.

A carroceria final, com caída do teto bem inclinada na frente e vertical na traseira, acabou ficando com estilo idêntico ao Mégane hatch, com o mesmo formato dos faróis, grade e lanternas. A área das janelas era ovalada. A proposta era oferecer um monovolume menor que o já consagrado Espace. 

O Scénic foi evoluindo junto com o Mégane. Teve novas gerações em 2003, 2009 e 2016, até que deixou de ser um monovolume, segmento engolido pelos utilitários esportivos. Parou de ser produzido, mas logo renasceu como um SUV de propulsão elétrica. Apesar de usar a mesma plataforma da atual geração do ex-hatch médio, também convertido em utilitário, não faz mais parte da linha. 


Primeira geração (1996-2002. No Brasil de 1996 a 2010)


A primeira geração media 4,17 metros de comprimento, 1,70 m de largura, 1,60 m de altura e 2.58 m de distância entre-eixos. 



Por dentro, o painel e acabamento das portas era o mesmo do Mégane, mas o volante era um pouco horizontal. Ele tinha três bancos traseiros individuais que avançavam e podiam ser removidos. Atrás dos dianteiros havia mesinhas retráteis. Os passageiros viajavam em posição elevada. O porta-malas tinha 410 litros de capacidade. 


Na Europa, a primeira Scénic tinha as versões RN, RT, RXE e Initiale. Os motores eram todos de oito válvulas, a gasolina 1.4 (de 70 e 75 cavalos), 1.6 (90 cv) e 2.0 (115 cv) e 1.9 turbodiesel (95 e 100 cv).

O Scénic fez tanto sucesso que ganhou concorrentes como a Opel Zafira, o Citroën Xsara Picasso, o feioso Fiat Multipla, o Ford C-Max e o Volkswagen Touran. Em 1997 ganhou o título de Carro do Ano da Europa.



Aqui no Brasil, o Scénic foi lançado em 1999 e inaugurou a fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Era vendido na versão única RXE com motor 2.0 de 115 cv. Meses depois chegou a versão RT, com motor 1.6 de 16 válvulas e 110 cv. 


Face-lift (1999)


No final de 1999, o Scénic europeu ganhou um face-lift que deu faróis com refletores mais transparentes e mais retangulares, além de maiores. A grade também cresceu. Atrás, mudaram apenas as lentes das lanternas e a assinatura Scénic, que foi para a tampa do porta-malas, dando mais independência ao monovolume. 



Por dentro, a principal novidade foi o porta-copos refrigerado. Mas ele também mudou o formato das saídas centrais de ar, que passaram a ser retangulares com cantos arredondados e ganhou nova padronagem dos bancos e novos grafismos nos instrumentos. 


Scénic RX4

O face-lift só chegou ao nosso país em 2000, no mesmo ano em que o Scénic europeu ganhou a versão aventureira RX4, com para-choques e para-lamas em plástico cinza escuro, estepe na tampa do porta-malas com proteção na cor da carroceria, suspensão elevada e tração 4x4.

Em 2001, o Scénic brasileiro ganhou como concorrentes o Chevrolet Zafira e o Citroën Xsara Picasso. Três anos depois, as versões passaram a se chamar Authentique, Expression e Privilége. Em 2005, ganhou motor 1.6 Flex de 115 cv. No ano seguinte, veio a aventureira Sportway. O Scénic foi fabricado e vendido aqui até 2010. 
 

Segunda geração (2003-2008. No Brasil de 2008 a 2009)


Seguindo o Mégane, o Scénic ganhou novo estilo, agora mais reto. O capô ficou mais evidente, mas a área envidraçada cresceu. Os faróis ficaram pontiagudos e posicionados nos cantos da dianteira, entre eles ficava a grade maior, dividida por um pilar com o emblema da Renault. A traseira tinha vidro recuado, com a parte de lataria saliente e lanternas verticais. 


Pela primeira vez, tinha duas carrocerias: a normal, com cinco lugares, que media 4,26 metros de comprimento e 2,69 m de entre-eixos e a Grand Scénic, com versões de cinco e sete lugares, com 4,48 m de comprimento e 2,74 m e só chegou em 2004. 


No interior, o painel tinha instrumentos digitais e centralizados, bem ao lado do navegador, opcional. O volante passou a ser mais vertical e a alavanca de câmbio estava em um console integrado ao painel. A capacidade do porta-malas subiu para entre 430 e 480 litros. Os bancos da segunda fila e do carona podiam se transformar em mesas. Havia a opção de um compartimento refrigerado de 17 litros, entre o painel e a segunda fila de bancos, bem maior que o adotado no face-lift da primeira geração. 

As versões de acabamento passaram a se chamar, a partir da mais barata, Authentique, Expression, Dynamique e Privilège (a mesma nomenclatura adotada aqui no Brasil, com exceção da Dynamique). 



Os motores a gasolina eram um 1.4 16v de 98 cavalos, um 1.6 16v de 113 cv e um 2.0 de 134 cv. Depois foi lançado um 2.0 turbo de 163 cv. Movido a diesel as opções eram um 1.5 dCi de 82 ou 102 cv e um 1.9 de 120 cv. Posteriormente, foi lançado um 1.9 dCi de 140 cv. As opções de câmbio eram manual de cinco ou seis marchas ou automático de quatro. 

O Scénic podia ser equipado com ar condicionado digital, navegador GPS, faróis de duplo xenônio (uma atração na época antes dos full-LED), freios de estacionamento automático, seis airbags, controle de estabilidade e teto solar panorâmico de cristal. 


Face-lift (2007)

Renault Scénic Conquest

Na Europa, o Scénic ganhou um face-lift em 2007, que suavizou as linhas frontais e mesclou o suporte do emblema com o capô. Ele também ganhou um câmbio automático de seis marchas, um motor 2.0 dCi de 150 cv e a aventureira versão Conquest, com suspensão elevada e motores 1.6 e 2.0 a gasolina e 1.5 e 1.9 turbodiesel.  


A segunda geração do Renault Scénic foi vendida no Brasil somente a partir de 2008, já com o face-lift, na única versão com carroceria longa, de sete lugares, com motor 2.0 de 138 cv e câmbio automático de quatro marchas. Vinha bem equipada, com ar condicionado automático com dutos de ar específicos para os bancos traseiros, regulador e limitador de velocidade, acendimento automático das luzes, retrovisores exteriores automaticamente rebatíveis com comando elétrico, cartão eletrônico Renault com controle por radiofrequência de abertura das portas e do porta-malas, rádio CD-Player com comando satélite na coluna de direção, leitor de MP3 e seis airbags, entre outros equipamentos. Importada diretamente da França, chegou muito cara, Acabou vendendo pouco em nosso mercado e parou de ser importado no ano seguinte.


Terceira geração (2009-2016)


Na terceira geração, de 2009, o comprimento passou para 4,34 m e a distância entre-eixos para 2,70 m na versão comum e 4,56 m e 2.77 m na versão Grand, que continuou com opções de cinco e sete lugares. 

Renault Scénic


Renault Grand Scénic

O estilo se manteve reto, mas a dianteira e a traseira foram profundamente modificados. Na frente, faróis maiores e elípticos com grade fechada e emblema Renault direto no capô. Atrás, lanternas em posições diferenciadas em cada versão: a curta tem a parte horizontal na tampa do porta-malas e a vertical na coluna, enquanto a longa Grand tem a parte horizontal nas extremidades da traseira, invadindo a lateral. 



O interior continuou com painel de instrumentos centralizados, agora com display colorido, ao lado da tela do navegador. O gabinete de funções foi dividido entre os três níveis do painel: saídas de ar na parte superior, teclas de comando no meio e comandos do ar condicionado na base, próxima ao console com a alavanca de câmbio. 

As versões se chamavam Authentique, Emotion, Dynamique e duas séries especiais: Family Edition e Bose Edition. 

Tinha como equipamentos ar condicionado digital de duas zonas, seis airbags, controle de estabilidade, piloto automático, assistente de estacionamento, Bluetooth, portas USB, conexão para os então modernos iPod e câmera de ré. 

Na motorização a novidade foi o 1.4 TCe turbo com injeção direta a gasolina, de 130 cv e o 1.6 diesel dCi de 131 cv. Permaneceram os motores 1.6 16v de 110 cv, o 2.0 16v de 140 cv, o 1.5 dCi diesel, agora com 110 cv, e o 2.0 dCi de 150 cv. 


Face-lift (2013)


Em 2013, a linha Scénic, tanto a versão curta quanto a longa Grand, ganhou um face-lift que voltou a ter grade aberta entre os faróis, numa moldura ondulada com frisos cromados e o losango da Renault no centro. Era um recurso estético semelhante ao adotado no Fluence e até no velho Clio de segunda geração vendidos aqui no Brasil. O para-choque dianteiro também foi renovado. 


Renault Scénic XMOD

Como na segunda geração, o face-lift da terceira trouxe a versão aventureira, agora chamada XMOD, exclusiva da carroceria curta, com suspensão elevada, rack no teto e apetrechos nos para-choques. Tinha motores 1.2 TCe de 116 e 131 a gasolina e os turbodiesel 1.5 dCi de 110 cv e 1.6 dCi de 131 cv. O câmbio podia ser manual de seis marchas ou automatizado de dupla embreagem, também de seis velocidades.  


Quarta geração (2016-2022)


Embora construído sobre a nova plataforma modular CMF-C do Mégane, o Scénic ficou mais independente da linha média da qual fazia parte e adotou um estilo mais arredondado e envidraçado, mais próximo de um crossover do que um monovolume, com teto solar panorâmico e coluna lateral traseira aparentando ser flutuante, dando um toque futurista. 



Continuou oferecido em duas versões de carroceria. A curta passou a medir 4,41 metros de comprimento, 1,87 m de largura, 1,65 m de altura e 2,73 m de distância entre-eixos. A Grand, com linhas um pouco mais retas, passou a 4,63 m de comprimento e a distância entre-eixos para 2,80 m. A versão longa passou a ter exclusivamente sete lugares e não mais a opção de cinco. 


Grand Scénic

A frente seguia a mesma identidade visual da Renault já vista discretamente no face-lift da geração anterior, só que agora com a grade maior em V, recortada pelo emblema da marca, faróis em LED amendoados com luzes diurnas em formato de C. As lanternas traseiras eram horizontais com cantos arredondados na lateral e afunilamento na tampa do porta-malas. Na versão longa Grand eram mais trapezoidais. 



O interior tinha painel com quadro de instrumentos ainda analógicos, mas com tela digital no miolo. O gabinete central era flutuante e vertical, que se apoiava no centro do tablier, separando as saídas de ar centrais. A tela multimídia do novo sistema R-Link 2, de 8,7 polegadas acompanhava o formato do gabinete, também incorporava a alavanca de câmbio e também era vertical. Através dela era possível rebater o encosto do banco traseiro, que não era mais individual. A capacidade do porta-malas da versão curta subiu para 496 litros na versão curta e 533 litros na versão Grand. 

As versões de equipamento mudaram de nome e passaram a se chamar Life Energy, Intens Energy e Zen Energy. 



Uma novidade na lista de equipamentos foi o seletor de modos de condução MultiSense, que configura, entre cinco programas (Neutro, Sport, Confort, Personalizado e Eco) a resposta do acelerador, o funcionamento do câmbio automático (caso seja equipado), a firmeza da direção elétrica, a cor da iluminação do ambiente e o tipo de massagem dos bancos dianteiros. Outros destaques são o 4Control, que esterça também as rodas traseiras, e o assistente de manutenção na faixa de rolamento, que move o volante para evitar a saída do carro em retas ou curvas abertas.



O Scénic de quarta geração também podia ser equipado com sistema de frenagem automática de emergência, com detector de pedestres, alerta de mudança involuntária de faixa (através da vibração do volante), alerta de veículos em ângulo morto nos retrovisores, programador de velocidade ativo e faróis de LED com mudança automática de farol baixo para alto. Alguns desses itens eram opcionais.



A motorização inicial era basicamente a mesma da terceira geração: composta por unidades a gasolina (TCe) e a diesel (dCi). No primeiro combustível eram apenas duas versões do 1.2 de quatro cilindros com turbo e injeção direta, com 115 e 130 cavalos. Posteriormente, em 2018, entraram o 1.3 de 140 cv e 160 cv. Os movidos a diesel eram um 1.5 de quatro cilindros com 95 e 110 cv e um 1.6 de 130 e 160 cv. Em 2018, entraram um 1.8 dCi de 120 cv e outro de 150 cv. Toda a linha tinha a opção de câmbio manual ou automatizado de dupla embreagem de seis marchas. No dCi 110 eram sete.

O dCi 110, curiosamente, foi o escolhido para receber o sistema Hybrid Assist, que tinha um motor elétrico que ajudava na aceleração, mas recupera a energia na frenagem, armazenando-a numa bateria de 48 volts. Entretanto, esta versão híbrida só era equipada com câmbio manual.


Face-lift (2020)


O face-lift de 2020 consistia apenas em traços cromados nas aletas da grade. Nem o para-choque mudou tanto. As versões passaram a se chamar Zen, SL Limited, Business, Intens e Black Edition. O motor 1.2 TCe de 115 cv passou a ser o de entrada da linha e foram mantidos apenas o 1.3 de 140 e 160 cv e os diesel 1.8 dCi de 120 e 150 cv. O câmbio automatizado de sete marchas passou a equipar a versão a gasolina. 

Em 2022, a linha Scénic deixou de ser produzida, mas retornou no início deste ano, dando nome a um SUV elétrico e com o nome grafado sem acento. 


Quinta geração (desde 2024)


Foi-se a moda das minivans, ficou a dos SUV e a Renault tratou de adaptar a Scenic aos novos tempos, incluindo a nova fonte de mobilidade. Desde o início deste ano, o Scenic é um utilitário esportivo com motor 100% elétrico. Os planos iniciais, no entanto, eram mover o novo utilitário a hidrogênio, como o conceito apresentado em 2022. 



O novo Scenic tem a mesma plataforma do novo Megane E-Tech elétrico, que tem estilo cupê. Suas linhas SUV são mais típicas da categoria, com caída do teto reta e linhas futuristas. Tem grade selada, protegida por uma tela em forma de favo e um friso transparente entre os finos faróis. A inclinação da queda da coluna lateral forma uma ponta com a ascendência da base das janelas. As lanternas traseiras são em formato de pistola. 

Apesar da mesma plataforma, o Scenic é maior que o Mégane. Agora com apenas uma versão de carroceria, mede 4,47 metros de comprimento (contra 4,21 m), 1,86 m de largura (1,77 m), 1,57 m de altura (1,50 m) e 2,79 m de distância entre-eixos (2,70 m).


O estilo do interior é o mesmo visto no Megane, Austral, Espace e Rafale: quadro de instrumentos eletrônico de 12,3 polegadas na horizontal e a opcional tela multimídia de 12 polegadas e curvada na vertical, que unidos formam um L invertido no painel. Uma das saídas de ar centrais fica entre as duas telas e a outra é contínua, até o lado do carona. Vale lembrar que o Megane E-Tech veio para o Brasil com a tela multimídia menor, de 9 polegadas, na horizontal. O Scenic agora só oferece cinco lugares e o porta-malas tem capacidade para 545 litros.

O novo Scenic E-Tech tem um único motor dianteiro com duas versões de potência: 170 e 220 cavalos. Também há duas opções de capacidade de bateria: 60 e 87 kWh. A autonomia é de, respectivamente, 430 e 623 km. O som externo de alerta de aproximação foi composto pelo famoso instrumentista francês Jean-Michel Jarre.



As versões são chamadas de evolution, techno, esprit Alpine e iconic, grafadas assim mesmo, com letra minúscula. As duas primeiras têm as duas opções de potência, enquanto as demais, só a mais potente.

A versão mais barata já é equipada com rodas de 19 polegadas, purificador de ar no habitáculo, piloto automático adaptativo, alerta de saída de faixa, assistente de frenagem de emergência, sete airbags (frontais, laterais, cortina e central dianteiro) e ar condicionado digital de 2 zonas, mas tem sistema multimídia de 9 polegadas horizontal.

Já a versão mais cara tem tela multimídia de 12 polegadas vertical com o sistema operacional Android Automotive e sistema de reconhecimento de voz avançado, sistema de som premium Harman Kardon com 12 alto-falantes, rodas de 20 polegadas, alerta de ponto cego e prevenção de saída de faixa em ultrapassagem, alerta de aproximação de veículos ao abrir a porta, alerta de obstáculos traseiros, frenagem regenerativa e cinco modos de condução (chamado Multi-Sense, influencia na dureza da direção e na resposta do motor e do acelerador): Normal, Confort, Sport, Eco e Personal. Também tem assistente de saída de faixa, aquecimento dos bancos dianteiros e volante e banco do motorista com ajuste elétrico e massagem.



Sistema de estacionamento automático, retrovisor interno inteligente, câmera 3D com visão 360º e teto solar panorâmico de cristal, com transparência ajustável eletronicamente no sistema multimídia são opcionais.

Como a primeira geração do então monovolume, em 1997, a primeira geração do Scenic SUV elétrico foi eleito o Carro do Ano na Europa este ano, quebrando um jejum de 18 anos para a Renault, que não vencia desde 2006 com o Clio de terceira geração, mas se isolou como segunda maior vencedora da premiação, encostando nos nove títulos da Fiat, que não vence desde 2008, com a primeira geração do 500 moderno. 

Com 28 anos de história e quatro gerações como monovolume, o Renault Scenic não é o único (tem também o Peugeot 3008 e o próprio Mégane), mas é mais um exemplo de carro que mudou de gênero para dançar conforme a música ditada pelo mercado e os novos tempos de lacração. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO