Recentemente, foi apresentada a quarta geração do compacto Citroën C3 na Europa, que abandonou o elegante estilo hatch de linha de cintura alta em favor de um estilo SUV, curiosamente antecipado em parte na Índia e depois no Brasil. Nas duas primeiras gerações, lançadas na Europa em 2001 e 2009, o C3 tinha linhas bem arredondadas, ficando mais quadrado na terceira geração, de 2016. 

Embora o C3 brasileiro esteja completando 20 anos de produção, optei por não atualizar a história do modelo nacional, que eu escrevi em 2013, numa série na qual também contei a trajetória dos extintos Ford Ecosport e Volkswagen Fox e do Honda Fit, abandonado no Brasil, inicialmente batizada de Eles são 10!, posteriormente atualizada em 2018, chamando de Clube dos Quinze. Nas duas ocasiões me referi à idade que completavam nas respectivas épocas. 

Confesso que não gostei quando foi lançado o atual C3 brasileiro e boicotei o seu lançamento no Guscar. Achei um retrocesso o estilo do modelo se afastar do europeu que parece merecer carros de melhor qualidade enquanto nós, brasileiros, subdesenvolvidos, temos que ficar com carros de qualidade duvidosa.  

Mas, ao estilo do famoso bordão do Chaves (sem querer querendo), o C3 indo-brasileiro, que ainda é de terceira geração, acabou antecipando o estilo do quarto europeu, no qual vou focar a história neste texto, com algumas citações do modelo no Brasil. 


Primeira geração (2001-2009)


O C3 nasceu para ser um compacto premium, inclusive para os padrões europeus, pois a Citroën teria, posteriormente, o C1 e o C2. Tanto que nunca teve uma carroceria de duas portas. Mesmo assim, o antigo Saxo, derivado do Peugeot 106, saiu de linha com o seu lançamento. 

O estilo, arredondado do para-brisa à tampa do porta-malas, passando pelo teto, foi inspirado no conceito C3 Lumère, mostrado no Salão de Paris de 1998, que, por sua vez, evocava o clássico 2 CV. A versão definitiva foi apresentada no Salão de Frankfurt de 2001, mas só começou a ser vendida em janeiro do ano seguinte. Apesar do conceito ter lançado a denominação alfa-numérica, o C3 definitivo foi o segundo a usá-la no mercado, depois do C5, em 2000. Antes eram usados nomes com a letra X (Saxo, Xsara, Xantia...) e, mais anteriormente, siglas com a letra X (AX, BX, ZX, CX, XM). 


C3 Lumière

O interior também seguia linhas arredondadas no painel bicolor e tinha instrumentos digitais. Apesar da proposta premium, o acabamento era simples, repleto de plásticos e com alguma faixa de tecido. O habitáculo pretendia ser espaçoso, principalmente para a cabeça, por causa do teto alto, mas não era tanto para as pernas. Foram colocadas mesinhas do tipo avião atrás dos bancos dianteiros, para ser usada pelos passageiros de trás, para trazer a versatilidade das minivans, então na moda, para um hatch compacto. Mas o espaço não permitia uma mesa tão grande e só dava para apoiar um saco de amendoim e um copo meio vazio, desde que fosse segurado, para não derramar. O porta-malas tinha capacidade para 305 litros, o maior da categoria por alguns anos. 


Media 3,85 metros de comprimento por 1,67 m de largura e 1,52 m de altura, com distância entre-eixos de 2,46 m. A plataforma do C3 seria usada depois nos Peugeot 207 e 1007. Até alguns componentes, como o comando dos vidros elétricos, eram os mesmos do 206. 

Na Europa, o C3 tinha motores a gasolina 1.1 de oito válvulas de 60 cavalos, 1.4 8v de 73 cv e 1.6 16v de 110 cv, além de um turbodiesel 1.4 HDi, um com oito válvulas e 68 cv e outro de 16v e 90 cv. O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de quatro. Posteriormente foi lançado o câmbio Sensodrive, com cinco marchas. 


As versões de equipamento eram chamadas inicialmente, a partir da mais barata, de X, SX, SX Plus e Exclusive. Nos anos seguintes foi ganhando nomes como Vivace, Furio, Magic e Satisfaction, mas manteve a Exclusive.

Dependendo da versão, era equipado com seis airbags, acendimento automático de luzes de emergência em freada forte, ar condicionado digital, apoio de braço nos bancos dianteiros e teto solar panorâmico de cristal, em uma época em que estes itens eram raros no segmento. 


No Brasil, o C3 chegou em 2003, fabricado em Porto Real, aqui no estado do Rio, inicialmente somente com motor a gasolina 1.6 16v de 110 cv, nas versões GLX e Exclusive. Dois meses depois chegou o motor 1.4 de 75 cv, também a gasolina, mas importado da França, somente para a versão GLX. 

Enquanto o C3 chegava ao nosso país, os europeus ganhavam uma versão conversível chamada C3 Pluriel. Tinha colunas removíveis e teto de vidro, mas com apenas duas portas. Rebatendo os bancos traseiros e tirando as colunas e o vidro traseiro, quase se transformava numa picape, pois a tampa do porta-malas abria para baixo. Era fabricado na Espanha com motor 1.4 ou 1.6 a gasolina e um 1.4 diesel. O 1.6 tinha câmbio automático de série. Foi produzido até 2010. 



Uma série especial vendida aqui em 2004 foi a Ocimar Versolato, uma homenagem ao famoso estilista da sociedade paulista, falecido em 2017. Tinha motor 1.6, interior todo em preto, bancos em couro, freios ABS (na época em que não era obrigatório e oferecia-se como "cortesia"), sensor de estacionamento e uma bolsa criada pelo estilista. A "homenagem" feita pelo então representante da Citroën no Brasil, Sérgio Habib, acabou em briga judicial entre ele, sua esposa e o estilista. 


C3 Ocimar Versolatto

Em 2005, o motor 1.4 do C3 brasileiro passou a ser flex, poucos meses depois de ser nacionalizado, ainda movido somente a gasolina. A potência subiu para 80 cv com gasolina e 83 cv com álcool. No ano seguinte foi a vez do 1.6, com 110 e 113 cv. 


O C3 XTR era uma versão de aparência aventureira, com para-choques e grade escurecidos, suspensão elevada e barras no teto. Foi lançado na Europa em 2004 e aqui em 2006. 



Face-lift (2005)

No mesmo ano em que o C3 se tornou bicombustível por aqui, ele ganhou um face-lift na Europa. Os faróis continuaram praticamente os mesmos e a grade continuou na cor da carroceria, mas perdeu uma aleta, as demais ficaram mais grossas e as duas inferiores alinhadas com o double chevron cromado, que cresceram de tamanho. O para-choque dianteiro também foi renovado. 


No interior, o painel ficou monocromático, todo preto, e as saídas de ar e área central, onde ficam o rádio e o controle do ar condicionado, ganharam moldura cromada. O display no alto do painel ficou com a capela mais reta. Na mecânica, a principal novidade foi o motor 1.6 turbodiesel HDi de 110 cavalos.  Entre os equipamentos, ele ganhou piloto automático. 


O nosso só foi ganhar o seu face-lift em 2008 e diferente do europeu: as aletas da grade também foram alinhadas com o emblema, mas eram escuras, enquanto a área da grade ganhou moldura cromada. O XTR ficou quase igual às demais versões, só se diferenciando pelos para-choques mais robustos e a suspensão elevada. 



Face-lift do C3 XTR no Brasil

O painel não ganhou molduras cromadas e a capela do display central continuou de cantos superiores arredondados. Apenas as tampas das saídas de ar passaram a ser cinza claro, quase branco. Na verdade, foi aproveitado da série especial Ocimar Versolato. Aqui, as principais novidades no equipamento foram o ar condicionado digital (presente desde o lançamento na Europa) e o câmbio automático de quatro marchas. 


Segunda geração (2009-2016)


A segunda geração, apresentada em 2009, continuou arredondada e o para-brisa ficou mais panorâmico, se estendendo até quase a metade do teto. O capô ganhou novos faróis, com desenho em formato de bumerangue e perdeu a grade, que ficou concentrada no para-choque. Atrás, as lanternas finas e pontudas ficaram mais largas e ganharam prolongamento na tampa do porta-malas, formando um conjunto em L invertido.  


O comprimento aumentou para 3,94 metros e a largura para 1,73 m. Altura em 1,52 m e distância entre-eixos em 2,46 m foram mantidos. Isso refletiu na manutenção do espaço apertado para as pernas no banco de trás, mas no bom espaço para a cabeça. E a capacidade do porta-malas ainda caiu para 300 litros. 

No interior, o painel ficou menos arredondado e mais horizontal, como as saídas de ar centrais, além de uma faixa central na cor da carroceria externa. Os instrumentos passaram a ser analógicos, exceto no mostrador do computador de bordo, à direita. Entre os equipamentos, novidades como sensor de chuva, indicador de mudança de marchas, sistema multimídia, conexões USB, auxiliares e Bluetooth. As versões de equipamento passaram a se chamar LX, SX e Exclusive, sempre acompanhadas do prenome Airdream, que meses depois foi eliminado. 

Interior do Citroën C3 europeu

Na motorização, foram mantidos os motores a gasolina 1.1 de 60 cavalos e 1.4 de 73 cv, mas ele ganhou um motor 1.4 16v VTi de 95 cv e outro 1.6 VTi de 120 cv, ambos de 16 válvulas. Entre os movidos a diesel, continuaram o 1.4 8v HDi de 68 cv, 1.4 16v HDi de 90 cv e o 1.6 16v HDi de 110 cv. A novidade foi um motor 1.6 turbodiesel de oito válvulas e 92 cavalos, voltado para o baixo consumo. A opção de câmbio também não mudou, mantendo o manual de cinco marchas e o automático de quatro. 

Em 2011, o motor 1.6 turbodiesel de baixo consumo ganhou sistema Start-Stop, que o desliga automaticamente nas paradas e religa na aceleração. Outra novidade foi o câmbio automatizado de cinco marchas, chamado CMP. O câmbio manual ganhou uma opção de seis marchas. O sistema Start-Stop chegou a outras versões com motor a diesel. No ano seguinte, o câmbio CMP passou a ter opção de seis marchas e os motores 1.1 e 1.4 8v foram substituídos, respectivamente, por um 1.0 de 68 cv e um 1.2 de 82 cv, ambos tricilíndricos, com quatro válvulas em cada cilindro. 






Ainda em 2012. finalmente chegava aqui a segunda geração do nosso C3. Demorou porque a Citroën do Brasil priorizou o lançamento dos utilitários C3 Aircross, em 2010, e C3 Picasso, em 2011, construídos sobre a mesma plataforma.

Também com a mesma base foi lançado, em 2009, o DS3, um hatch compacto da DS, uma então estreante marca de luxo do grupo PSA, que era independente na época e hoje é integrante da Stellantis, da qual também fazem parte a Fiat e a Jeep. Tinha a frente semelhante ao do C3 europeu, mas com entrada de ar e o double chevron abaixo da linha dos faróis. Já o resto da carroceria tinha estilo diferenciado, só que o interior era o mesmo do hatch compacto vendido na Europa. 




O visual do C3 brasileiro foi um misto de decepção e orgulho, tal como aconteceu com a atual geração. Decepção por ser diferente do europeu. Mas foi por pouco tempo, pois o estilo com grade entre os faróis, adotado aqui, foi o face-lift do europeu em 2013, embora com leves diferenças. A decepção continuou no interior do nosso, mais simples, com mais plásticos duros e escuros. além de três vistosas saídas circulares de ar no centro. 


O brasileiro também teve o para-brisa panorâmico chamado Zenith, que tinha um par de para-sóis corrediços extra para cobrir o vidro. As versões passaram a se chamar Origine, Tendance e Exclusive. O Zenith era de série a partir da Tendance. 


Computador de bordo, piloto automático, porta-luvas refrigerado, airbags laterais, navegador por GPS e borboleta de mudança do câmbio atrás do volante eram os equipamentos oferecidos aqui, de série ou opcionais, dependendo da versão. 


Os motores adotados aqui foram o 1.5 (um arredondamento comercial dos 1.449 cm³ ampliados a partir do mesmo 1.4) 8v flex de 89 e 93 cv, e 1.6 16v, também flex, de 115/122 cv, com sistema automático de partida a frio. 

Face-lift (2013)

Na Europa, o face-lift foi lançado com os mesmos motores, mas em 2014, ganhou novos. Com gasolina foi o Puretech de três cilindros 1.2 turbo e de injeção direta de 110 cavalos, que substituiu o 1.6 VTi. A diesel, a novidade foi o BlueHDi 1.6 8v de 75 cv e 99 cv. As versões passaram a se chamar Live, Live Edition e Feel Edition, mantendo só a Exclusive. 


Voltando ao Brasil, para a linha 2015, a versão Origine deu lugar à Attraction, com motor 1.5 e Exclusive e Tendance trocaram de posição, com a segunda passando a ser a top, com o motor 1.6 e a primeira com o 1.5.


O motor 1.5 daqui foi substituído em 2016 pelo Puretech 1.2 aspirado flex, de apenas 84/90 cavalos. Era uma adaptação do mesmo motor lançado na Europa cinco anos antes. Ele também foi adotado no Peugeot 208, então fabricado na mesma planta de Porto Real. A versão com turbo jamais veio para cá, primeiro por má vontade e depois porque a dupla Peugeot-Citroën passou a pertencer ao grupo Stellantis e recebeu o motor Firefly da Fiat. O novo motor 1.2 Puretech aspirado foi a última novidade do C3 brasileiro em sintonia com o europeu, que ganharia uma nova geração, nunca vendida aqui, naquele mesmo ano. 


Terceira geração (2016-2023)


 Arredondado nas duas primeiras gerações, a terceira geração, de 2016, adotou linhas mais quadradas, mas com cantos suaves. A frente adotou o conceito da iluminação em dois níveis, com os faróis no para-choque e luzes diurnas de LED no capô, nas extremidades da grade, com o símbolo da marca ao meio, usado nos últimos Citroën antes da recente reformulação visual, como o C4 Cactus, o C4, C3 Aircross europeu, C5 Aircross e os indo-brasileiros C3 e C3 Aircross. A lateral ganhou linha de cintura alta, com destaque para a proteção emborrachada na parte inferior, chamada airbump. Já a a traseira trocou as lanternas em L invertido por um par retangular de cantos arredondados. 


O comprimento aumentou para 4 metros, a largura para 1,75 m e a distância entre-eixos para 2,54 m. A plataforma PF1 era a mesma da segunda geração. Apesar de aparentar ser mais alto, a altura baixou para 1,47. O espaço interno, mais uma vez, não mudou muito, apesar da maior distância entre-eixos. Assim como a capacidade do porta-malas, mantida em 300 litros. 

O interior ficou com desenho mais conservador e sofisticado, com o painel mais plano, decorado com um aplique emborrachado marrom claro da parte central ao lado do passageiro. As saídas de ar centrais continuaram horizontais, mas foram colocados dois pares de molduras quadradas com cantos redondos. A tela multimídia, embora esteja localizada na parte inferior do painel, era flutuante. Os instrumentos, embora ainda redondos, ganharam capela trapezoidal, com velocímetro e conta-giros cercando a tela digital e mais acima os marcadores de combustível e temperatura. O volante tinha base achatada e miolo quadrado. 


As versões de equipamentos se chamavam Live, Feel e Shine. Todas elas tinham de série alerta de mudança involuntária de faixa, programador de velocidade e sistema de reconhecimento de sinais de trânsito. Alerta de ponto cego e detector de fadiga estavam presentes em versões mais caras. O sistema multimídia, que também controlava o ar condicionado digital, tinha conexão com Android e Apple. Outra novidade foi a câmera de alta definição no retrovisor interno que registra imagens do para-brisa, inclusive automaticamente em caso de acidentes, gravando os 30 segundos antes e os 60 segundos depois. 

Os motores não mudaram. Com gasolina, continuou sendo o Puretech 1.2, de três cilindros sem turbo, de 68 e 82 cavalos e o turbinado, com 110 cv. Com diesel, havia o BlueHDi em duas versões, ambos de quatro cilindros: o 1.6, com 75 e o 1.5 de 100 cv. O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou o automático de seis. 

C3 Aircross

A terceira geração também teve o seu utilitário Aircross. Era bem diferente do modelo vendido no Brasil, com visual mais urbano, linhas mais retas e maior área envidraçada, embora o terceiro vidro lateral da versão antes do face-lift tivesse uma pintura imitando uma persiana em algumas versões. Media 4,15 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,60 m de altura e 2,60 m de entre-eixos. O porta-malas tinha capacidade para 410 litros. 


Já o painel interno tinha a mesma disposição das saídas de ar e a tela multimídia flutuante na parte inferior, mas as quinas eram arredondadas. Os motores eram praticamente os mesmos do hatch, exceto pela versão do motor 1.2 turbo com 130 cavalos e o 1.5 turbodiesel de 120 cv. 


Face-lift (2019)

Em 2019, o C3 ganhou um face-lift bem ligeiro, que inclinou mais as luzes diurnas e prolongou o friso cromado inferior da grade em direção ao para-choque, próximo aos faróis (que também mudaram e passaram a ser inteiramente em LED), com a intenção de formar um X no conjunto frontal, como em outros modelos da marca. O para-choque ganhou novas molduras. No interior ele só ganhou novas opções de cores do aplique no painel, um deles imitando madeira. Os bancos anteciparam o Advanced Comfort da quarta geração, com espuma mais reforçada. Na lista de equipamentos e motorização não houve novidades. No ano seguinte, o face-lift chegou ao Aircross. 




Para o Brasil, a Citroën preferiu o modelo projetado para a Índia, ainda mais reto que o europeu e com aparência de SUV, lançado em 2022. Este ano chegou o C3 Aircross, também diferente dos europeus. Só que, sem querer (ou não), o hatch acabou antecipando a quarta geração do modelo vendido na Europa. 



Quarta geração (2023)


Pois é. A quarta geração do C3 europeu adotou praticamente o mesmo estilo do que é fabricado e vendido aqui. Só não é igual por um detalhe marcante: a frente dele inaugurou a nova identidade visual da Citroën em seus carros, deixando o "nosso" ainda mais defasado. 

No lugar da moldura da grade acompanhando o duplo chevron e dos faróis no para-choque e as luzes diurnas junto a grade, característica da terceira geração e dos últimos modelos com a antiga logomarca, o C3 agora tem uma frente mais plana, com o conjunto ótico em posição tradicional e as luzes diurnas em formato de C. Entre eles, um friso em preto brilhante que faz o papel da grade e o novo emblema: o duplo acento circunflexo dentro de uma moldura oval vertical, como o que era usado nos anos 1920 (!).  As lanternas traseiras também são quadradas como o modelo daqui, só que com elementos mais tridimensionais e com luzes em C. Interligando-as um friso escuro de textura semelhante à "grade" frontal e também com o novo emblema oval no meio.


Ele agora mede 4,02 metros de comprimento, 1,81 m de largura e 1,58 m de altura. A distância entre-eixos ainda não foi divulgada, mas o novo C3 tem a mesma plataforma CMP (homônima da antiga transmissão) do indiano comercializado no Brasil, que tem 2,54 m, a mesma da geração anterior do europeu. 

O interior é de acabamento simples, com plástico duro nas portas, mas é mais moderno e caprichado que o daqui. O quadro de instrumentos é literalmente digital, posicionado acima do volante. A continuidade da área onde está localizado faz o painel lembrar o antigo Tempra fabricado na Europa (que foi vendido aqui na versão perua SW). No centro está a tela multimídia flutuante. Nesta, a versão mais simples tem uma conexão com um sistema próprio da Citroën, mas as mais caras têm conectividade com Android e Apple. Há um acabamento de tecido no painel. Os bancos da versão mais completa têm o sistema de conforto avançado já estreado no face-lift da geração europeia anterior. O novo C3 tem espaço para cinco pessoas. O porta-malas tem capacidade para 310 litros (cinco a menos que o indiano).


Painel do Fiat Tempra europeu

A nova geração do C3 foi apresentada primeiro na versão elétrica, chamada ë-C3, com bateria de 44 kWh de capacidade e 113 cavalos de potência. Por isso eu disse "faz o papel da grade", já que o tal espaço entre os faróis é selado. Com corrente contínua de até 100 kW demora 26 minutos para ser carregado de 20 a 80% e com a alternada de 11 kw, o tempo sobe para 2 horas e 50 minutos. A autonomia é de 320 quilômetros. Ele acelera de 0 a 100 km/h em 11 segundos e tem velocidade máxima de 135 km/h.


No mercado espanhol, por exemplo, ele estará disponível nas versões You e Max. Mas na França ele ainda tem as versões Lioness e Éclair. A You é a básica e vem equipada ar condicionado manual, retrovisores elétricos, sensores de estacionamento traseiros, programador de velocidade com leitura de sinais de trânsito, alerta de mudança involuntária de faixa, faróis de LED e rodas de 16 polegadas. Nesta versão, o sistema multimídia se pareia com o smartphone por NFC, através de uma plataforma desenvolvida pela Citroën, chamada My Citroën Play With Smartphone Station. Já a Max tem a tela multimídia de 10,25 polegadas com Android Auto e Apple Car Play, além de carregador por indução, ar condicionado digital, vidros traseiros elétricos, câmera de ré, banco do motorista com regulagem de altura, teto pintado em cor diferente da carroceria e rodas de 17 polegadas.

Achou simples a lista de equipamentos (e o acabamento também)? É que o ë-C3 foi projetado para ser um carro barato na Europa, para custar na faixa dos 20 mil euros (105 mil reais). O You, por exemplo, vai custar na Espanha a partir de 23.800 € (R$ 126.000). Em breve será lançada uma versão ainda mais barata, abaixo dos 20 mil €, com bateria menor e autonomia de 200 km. E também versões com motor a combustão. O objetivo é conter a invasão dos carros chineses também por lá. O ë-C3 será fabricado em Trnava, na Eslováquia.

Um carro que nasceu para ser um compacto premium, ao longo de pouco mais de vinte anos, acabou se tornando um compacto elétrico barato (para os europeus). Você acabou de ler a incrível história de um automóvel que retrocedeu em estilo, tanto aqui no Brasil (principalmente) quanto, pasmem, na Europa. 
 

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
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