Não basta ser uma das últimas a entrar na moda, tem que se recusar a assumir. É o que faz a Ferrari, no alto da sua arrogância habitual, com o Purosangue, o seu primeiro utilitário esportivo. Mas não diga que é um SUV. A marca italiana do cavalo empinado prefere classificá-lo como o "carro esportivo que não compromete o design e a engenharia".


De fato, o Purosangue mais parece um cupê típico da Ferrari, só que com quatro portas, sendo o primeiro oficial e de série com este tipo de carroceria na história da empresa Mas ele é mais alto, inclusive na linha de cintura. A carroceria é esculpida com vincos e protuberâncias laterais para favorecer a aerodinâmica, mesmo motivo pelo qual os faróis e lanternas são disfarçados por entradas e luzes de LED, como nos modelos mais recentes da Ferrari, como a 296 GTB e a Roma. As rodas dianteiras são de 22 polegadas e os pneus 255/35 ZR22 e as traseiras são de 23 polegadas, com pneus 315/30 ZR23, feitos especialmente para ele. A carroceria é feita de alumínio e aço de alta resistência, enquanto que o teto é em fibra de carbono para baixar o centro de gravidade e reduzir o peso, que é elevado: 2.033 toneladas. 


O primeiro SUV-cupê da Ferrari tem 4,97 metros de comprimento, 2,03 m de largura e 1,59 m de altura. Mesmo sendo menor que o Lamborghini Urus (que acabou de ganhar um face-lift e mede 5,11 m, 2,02 m e 1,64m), a Ferrari faz a sua estreia no segmento da moda logo no andar de cima, posicionando-se abaixo apenas da top SF90. 


A altura em relação ao solo de 18,5 cm, a posição de dirigir levemente mais alta e a tração integral, no entanto, entregam a vocação SUV do Purosangue. Para completar, as inéditas portas traseiras se abrem no sentido oposto das dianteiras. Pena que ficou a coluna central, o que poderia abrir um amplo acesso aos dois bancos traseiros, de estilo anatômico, com encosto alto, que são iguais aos da frente. Todos têm regulagem elétrica e aquecimento. 


O painel, com o conceito duplo cockpit, é formado por dois "morros" revestidos de Alcantara: um do lado do motorista, em forma de "canoa", que concentra o volante e o quadro virtual de instrumentos, no qual uma das configurações é um vistoso conta-giros de fundo amarelo. O outro, menor e mais retangular, no lado do carona, que abriga a tela multimídia de 10 polegadas, compatível com Android e Apple. Entre eles, há um enorme console com parte do revestimento na cor dos bancos. Não sobrou espaço para uma tela multimídia no centro. O porta-malas tem 473 litros. 


O Purosangue também é equipado com 10 airbags, controles de descida e assistente de rampa, teto panorâmico com vidro eletrocrômico (opcional, substitui o teto em fibra de carbono), sistema de som surround Burmester 3D com subwoofer, frenagem autônoma e alerta de tráfego traseiro. 


Por enquanto, o Purosangue vai na contramão dos novos tempos e não é eletrificado. Pelo contrário. Ostenta um motor V12 6.5 de 725 cavalos de potência e 72,7 kgfm de torque. O que poderia não fugir completamente do futuro, o motor elétrico de 48 volts em cada roda serve apenas para acionar os amortecedores da suspensão adaptativa e permitir o modo "vela".  As quatro rodas são direcionais. 

O câmbio é automatizado de dupla embreagem e oito velocidades, que vai montada de forma transversal atrás do eixo traseiro. Nas quatro primeiras, funciona a tração integral e nas últimas quatro marchas, a tração dianteira se desliga e fica só na traseira. O que permite a tração nas quatro rodas é uma segunda caixa de câmbio de apenas duas velocidades. O Purosangue alcança os 310 km/h e acelera de 0 a 100 km/h em 3,3 segundos e 0 a 200 km/h em 10,6 segundos. 


A Ferrari quer que o seu primeiro SUV... digo, seu primeiro cupê de quatro portas seja exclusivo e, por isso, vai limitar a sua produção em 3 mil unidades por ano. O esportivo será entregue para os compradores europeus apenas no segundo trimestre do ano que vem. Os norte-americanos terão que esperar mais três meses e o resto do mundo, incluindo o Brasil, só o terá no final do ano. 


E o Purosangue será um modelo caro. Como já foi dito, vai se posicionar apenas abaixo da top SF90, que custa 440 mil euros. O cupê de quatro portas vai custar 390.000 €, que, convertido para o Real, chega 2 milhões e 700. Com os custos de importação, deve vir por cerca de 4 milhões de reais. 

Sobre a recusa em assumir que entrou na moda dos SUVs com o Purosangue, a Ferrari defende que não quis contrariar os puristas. Será que a McLaren, próxima da lista, terá a mesma opinião quando entrar na moda dos crossovers?


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO