Depois de dois anos, volto a realizar um comparativo de utilitários esportivos compactos. Desta vez, reuni apenas três modelos, contra dez do último comparativo feito em 2019.
Entre os participantes daquele ano, estavam o Jeep Renegade, o Nissan Kicks e o Volkswagen T-Cross, único que continua exatamente o mesmo em termos de estilo e mecânica. O Renegade ganhou um face-lift e trocou os motores 1.8 E.TorQ e 2.0 turbodiesel por um 1.3 turbo flex, enquanto o Kicks também foi levemente reestilizado, mas manteve o fraco motor 1.6.
E serão esses três que vão participar da edição 2022 do comparativo de utilitários esportivos. O Kicks na versão Exclusive Pack Tech com o seu único motor 1.6, o Renegade na Longitude, o mais caro com tração dianteira (acima desta só com tração 4x4), e o seu novo motor 1.3 turbo (T270) e o T-Cross Highline 250TSI (1.4 turbo).
Os Renault Captur e Duster também ganharam motor 1.3 turbo, mas o Captur já tem nova geração na Europa e o Duster é um Renault fake, pois é um modelo da Dacia e carroça não participa dos comparativos do Guscar, assim como o Peugeot 2008, que é o mesmo modelo de 2015, com face-lift de 2019 e que ganhou outra renovação meia-boca, agora na traseira, com tampa preta e apenas a assinatura Peugeot no centro. E nada da nova geração baseada no 208. Os brasileiros não merecem.
Estilo e Acabamento
Mesmo sendo o mais novo, o T-Cross fica em segundo lugar no estilo por ser muito reto. O mais atraente é o Nissan Kicks, embora ele seja um projeto de 2016, já com um face-lift na frente (os faróis ficaram mais finos, parecendo luzes diurnas de LED, e a grade mais larga e mais imponente). É que suas linhas são mais arrojadas que os dois concorrentes. O Renegade, que também ganhou uma reformulação dianteira na qual, pelo contrário, a grade ficou mais apertada na altura, é caixote demais e nunca me empolgou.
Se não agrada pelo estilo, o Renegade é o mais caprichado no interior. com revestimentos macios em todo o painel. Pena que perdeu os bons materiais nas portas, que agora têm a parte superior em plástico duro. Logo atrás vem o Nissan Kicks, que tem muito plástico no interior, mas traz uma faixa de material macio (na versão básica Sense este acabamento é em plástico duro). A grande decepção é do Volkswagen T-Cross, que praticamente não tem material macio no interior (só um acolchoado no braço das portas).
Espaço interno e Porta-malas
Usando as medições da revista Quatro Rodas, o Jeep Renegade tem a maior distância para os joelhos no banco de trás (26 cm). Em segundo vem o Volkswagen T-Cross, com 24 cm. O Kicks fica para trás com 22 cm. Essa classificação se repete na largura do banco traseiro, com, respectivamente, 1,54m, 1,52m e 1,45m. O Kicks continua apertadinho na altura (93 cm), mas, neste caso, é o T-Cross quem leva vantagem (95 contra 94 cm do Renegade).
Acredito que a Quatro Rodas não favoreça ninguém e que o tamanho do assento do banco e a densidade da espuma também influem no resultado. Isso prova que usar a distância entre-eixos como referência induz o consumidor (e o avaliador) ao erro, pois o Jeep só tem 2,57 m, enquanto o Nissan tem 2,62m. Pelo menos, o Volkswagen, que ficou em segundo lugar nas medições da publicação da Editora Abril, ficaria com o melhor espaço interno: 2,65 m. Por isso que eu faço questão de medidas mais precisas feitas pela imprensa especializada, o que está se tornando raro. Obrigado, Quatro Rodas.
No porta-malas, no entanto, a Quatro Rodas, que tinha a sua medição própria, abandonou a prática e, há já muitos anos, considera o volume oficial das montadoras. Assim, o vencedor é o Nissan Kicks, com 432 litros, seguido pelos 373 litros do Volkswagen T-Cross.
Nesta renovação do Renegade, a Jeep fez a mesma malandragem que já havia feito com o Compass: mudou a forma de medição do bagageiro de seus carros, trocando os blocos de isopor por água e aumentar a capacidade para 385 litros. Com a medição atual, o Renegade ficaria em segundo, mas aqui no blog a malandragem não pega e ele fica em terceiro no porta-malas com o volume original de 320 litros.
Motor e Câmbio
Nos dois últimos anos, a maior novidade do Renegade foi o motor T270. O nome comercial é muito parecido com o da Volkswagen (250 TSI), ambos baseados no torque em Newton-Metro, para denominar o propulsor de quatro cilindros 1.3 turbo e injeção direta, projetado pela Fiat, originalmente dona da Chrysler, mas que acabou se tornando uma das marcas do grupo Stellantis, criado após a fusão com o grupo Peugeot-Citroën.
São 185 cavalos de potência e 27,5 kgfm de torque e não perde para ninguém neste comparativo. Em segundo lugar, com 150 cv, vem o 1.4 turbo TSI (ou 250 TSI) do T-Cross, que tem 25,5 kgfm de torque. O 1.6 16 válvulas aspirado do Kicks acaba ficando arcaico perto dos dois rivais e até da carroça Duster, que também tem um 1.3 turbo. E olha que a Nissan pertence à Renault, que também é parceira da Mercedes, que usa o mesmo motor no Classe A. Sem a força do turbo, o motor do Kicks tem apenas 114 cavalos.
Em compensação, o modelo da marca japonesa tem o câmbio CVT, mais moderno, mas de manutenção cara e complexa, o que o mecânico sujo de graxa não gosta. Renegade e T-Cross usam um automático de seis marchas convencional.
Desempenho e Consumo
Com o motor mais potente, o Renegade sobrou na prova de desempenho da Quatro Rodas. Acelera de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 5,7 segundos. Em segundo lugar vem o T-Cross, com 9.7 segundos de aceleração e 6,7 segundos de retomada. Comendo poeira com o seu velho 1.6, vem o Kicks, com 12,7 segundos e 10,4 segundos.
No consumo, porém, o T270 do Jeep não ajudou, mesmo evoluindo em relação ao antigo 1.8 E.TorQ, que fazia 9,6 km/litro na cidade e 12 km/l na estrada. Pelo contrário. É o que gasta mais combustível, no caso, gasolina. Na cidade faz 11 km/litro e na estrada percorre 14,2 km/l. Na soma são 25,2 km/l, a menor dos três. O arcaico 1.6 do Kicks se mostrou mais eficiente e faz 12,1 km/l e 14,8 km/l na estrada (26,9 km/l na soma). O downsizing turbinado continua vitorioso, mas com o 1.4 do T-Cross, que tem percurso somado de 27.3 km/litro (12,3 km/l na cidade e 15 km/l na estrada).
Segurança e Conforto
Os três SUVs deste comparativo são bem equipados com itens de segurança. Todos têm seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e frenagem autônoma de emergência. O Kicks tem alerta de tráfego cruzado e alerta de mudança de faixa, o Renegade leitor de placas de trânsito e o T-Cross detector de fadiga, que o Jeep também tem.
Mas a principal avaliação da segurança é na frenagem e, nesta prova, feita pela Quatro Rodas, o vencedor é o T-Cross, que tem a menor distância nas três velocidades medidas. A 60 km/h, ele para em 13,7 metros, a 80 km/h em 24,6 e a 120 km/h em 54,3 metros (nesta última empatado tecnicamente com o Renegade). O Jeep, aliás, por causa deste empate técnico, ficou em segundo lugar pela larga vantagem sobre o Nissan na frenagem a 120 km/h (54,4 a 58,3 metros). Ele e o Kicks empataram tecnicamente a 80 (26,5 contra 26,3) e 60 km/h (15 a 14,7 metros), sempre com pequena diferença a favor do Nissan.
O T-Cross se destacou na maioria das medições de ruído da revista Quatro Rodas (ponto morto, 80 e 120 km/h). Respectivamente, obteve 39,6, 61,3 e 66,7 decibéis. Ele só perdeu na rotação máxima para o Renegade (63,3 contra 69,7 decibéis). O Jeep, por sua vez, ficou em segundo lugar no conforto/ruído ao ficar na mesma posição em três das quatro medições (42 dBA no ponto morto, 62,4 dBA a 80 km/h e 69,9 dBA a 120 km/h). Uma delas ele venceu. Já o Nissan Kicks sentiu a aspereza do velho motor 1.6 e foi o mais ruidoso dos três em todas as velocidades e posições do câmbio. Fez 47,7 dBA no ponto morto, 74,2 dBA na rotação máxima, 65,1 dBA a 80 km/h e 70,2 dBA a 120 km/h. É preciso esclarecer que estes dados do modelo nipo-fluminense é da mesma edição que forneceu os dados do T-Cross, portanto, ainda de 2019 e do modelo antigo.
Preço
Aqui no Guscar eu sempre comparo os veículos em suas versões mais completas, a não ser quando a característica técnica se difere muito dos rivais, como é o caso do Jeep Renegade, que na sua versão mais cara (Trailhawk) só tem tração integral, ausente no Kicks e T-Cross.
Assim, no modelo fabricado em Pernambuco, eu considero a versão intermediária Longitude, que custa R$ 142.590 (até o fechamento deste texto), na pintura sólida Preto Carbon, única vendida sem custo. As metálicas Prata Billet, Azul Jazz e Granite Crystal custam R$ 1.565. A Branco Polar aumenta o preço em R$ 2.220.
O Kicks Exclusive com pacote Tech sai por R$ 143.990 e também só tem o preto como única cor sem custo. As demais cores únicas como branco, cinza, prata, azul e vermelho aumentam o preço em R$ 1.700. O Nissan também tem três opções de cores com teto preto (branco, azul e vermelho), que elevam o custo em R$ 2.850.
Já o T-Cross está muito acima da faixa de preço dos dois concorrentes. Custa R$ 159.930 na versão Highline 250TSI, também apenas na cor preta para não pagar nada. A versão Comfortline, por R$ 149.670, tem o preço mais próximo, ainda que muito caro. Só que o motor é 1.0 turbo (200 TSI) e, aí sim, fica longe dos rivais nas características técnicas.
O Volkswagen tem outras opções de cores dos mais variados preços. A mais barata é a sólida Branco Puro, por R$ 595. As metálicas são vendidas por 1.410 reais e estão disponíveis nas cores Azul Norway, Cinza Platinum e Prata Sargas. As perolizadas são chamadas de especiais, custam R$ 1.910 e são oferecidas a Bronze Namibia e Vermelho Sunset. As pinturas em dois tons praticamente só têm o teto preto combinado com quase todas as cores do catálogo. Só a Azul Norway não tem versão bicolor. E a Preto Ninja tem o teto em Cinza Platinum.
Mesmo com a pintura mais cara, o Renegade é o mais barato dos três, desde que o Kicks também esteja na mesma situação.
Equipamentos
O Nissan Kicks leva boa vantagem na lista de equipamentos por ter mais itens semi-autônomos e de segurança como alerta inteligente de mudança de faixa, alerta de tráfego traseiro, câmera 360º e detector de objetos em movimento. Também tem seis airbags, o que os dois rivais também têm.
Mas, se somarmos os recursos de conforto e conveniência, ele se nivela com os concorrentes. Embora tenha banco de gravidade zero e sistema de som premium da Bose, ausente no Jeep e no VW, mesmo que seja de outra marca, o Kicks tem ar condicionado digital de uma zona só (o do Renegade é dual zone), não tem carregador sem fio e nem detector de fadiga do motorista e seu quadro de instrumentos eletrônico é parcial. O sistema multimídia também não tem espelhamento sem fio (tem, mas precisa de cabo).
Jeep Renegade |
Em compensação, tem bancos em couro, retrovisores elétricos rebatíveis automaticamente, chave presencial e partida por botão (que o Renegade Longitude não tem, pois é uma versão intermediária) e piloto automático com comandos no volante (inclusive do som).
O Renegade só leva vantagem por ter reconhecimento de placas de trânsito, mas não tem sensor crepuscular que T-Cross e Kicks têm. Já o Volkswagen também tem sensor de estacionamento dianteiro. A principal novidade do T-Cross desde o último comparativo de 2019 (época do seu lançamento) foi a central multimídia VW Play, com tela de 10,1 polegadas, importada do Nivus. O carregador por indução foi uma novidade da linha 2022.
Eu deveria dar empate no quesito dos equipamentos, mas pelos recursos de segurança do Kicks, o Nissan fica com a vitória e Renegade e T-Cross dividem o segundo lugar. E quem quiser que me conteste.
Assistência
Mesmo caindo de 700 para 500 concessionárias, a Volkswagen é a que tem o maior número de concessionárias em todo o Brasil. A Jeep tem 202 e a Nissan, 180.
Conclusão
3º Nissan Kicks Exclusive Tech 1.6
Apesar de ser o mais atraente, mais equipado, ter o maior porta-malas e o câmbio mais moderno, além dos bons resultados no preço, consumo e acabamento, o Kicks acabou ficando em terceiro e último lugar. Perdeu pontos na potência do antigo motor 1.6, o que ocasionou o fraco desempenho e o alto ruído. Também ficou para trás na frenagem, por culpa também do ser o único a ter freio a tambor na traseira (o segundo lugar no quesito segurança foi salvo pelos equipamentos). Também é o mais apertado e tem a menor rede de concessionárias do trio.
2º Volkswagen T-Cross Highline 250 TSI
Vencedor do comparativo de 2019, aquele com dez concorrentes, o Volkswagen T-Cross perdeu a invencibilidade logo em seu segundo confronto, justamente pelo mesmo critério de desempate que o ajudou a derrotar o chinês Chery Tiggo 5X em 2019: o número de vitórias. Foram quatro contra cinco do Renegade.
Também foi uma derrota mais pelos acertos do vencedor do que pelos seus defeitos. Neste ponto, o mais gritante é o acabamento repleto de plásticos, principalmente duro. Dizer que o soft touch está fora de moda é desculpa para fazer o comprador de trouxa enquanto a marca economiza dinheiro para ter mais lucro com a venda, pois o preço é o mais caro. Aliás, é o segundo dos itens em que o T-Cross ganhou a pontuação mínima.
Mesmo sendo o mais econômico de combustível, o mais silencioso, com a menor distância de frenagem e fabricado pela montadora com maior rede de concessionários, o Volkswagen T-Cross ficou com o vice por causa, como já foi dito, das vitórias a mais do Jeep Renegade, que ganhou pela primeira vez um comparativo do Guscar.
1º Jeep Renegade Longitude T270
Desde o seu lançamento, em 2015, o Jeep Renegade participou de quatro comparativos do blog Sempre com o extinto motor 1.8 (até porque que o também extinto 2.0 turbodiesel não tinha concorrentes), não venceu nenhuma. Pelo contrário. Ficou em penúltimo nos dois primeiros, vencendo somente modelos da chinesa JAC Motors, e em último nos dois mais recentes, sendo derrotado até por modelos chineses. Também disputou com muitos concorrentes. No primeiro tinha sete, no segundo cinco, nove no terceiro e dez no último.
Com o novo motor 1.3 Turbo, que substituiu o velho 1.8 de origem Fiat, o Renegade foi para o seu quinto comparativo, contra apenas dois modelos, e... VENCEU! Se eu fizesse um vídeo deste comparativo, colocava aquele canto gregoriano de ALELUIA! ALELUIA!
Porém, se dependesse do consumo, teria mais uma decepção. Apesar de ter melhorado em relação ao antigo 1.8, os números são piores que os dois adversários. Mas a potência (185 cavalos) e o desempenho, aliados ao melhor acabamento, preço e espaço interno ajudaram-no a superar o Kicks e o T-Cross (este no número de vitórias porque os dois empataram em 28 pontos) e vencer um comparativo do Guscar pela primeira vez.
Tudo bem que eu ainda o coloquei em último lugar no estilo, pois não consigo me simpatizar com suas linhas. Durante a revisão do texto e da classificação, ele também perdeu pontos no porta-malas por causa da mesma malandragem de mudar o método de medição que a Jeep fez com o Compass. Se eu tivesse caído na onda da Jeep, ele ficaria em segundo lugar no porta-malas e venceria com dois pontos de diferença, mas venceu no desempate por vitórias. No entanto, o segundo lugar no câmbio, segurança, ruído, equipamentos e assistência deram a regularidade necessária para esta vitória inédita nos meus comparativos.
TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS
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