TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS


Os carros chineses ficaram mundialmente conhecidos, na década passada, por plagiarem o estilo de vários modelos de qualquer marca do mundo. E também por serem nada zelosos com o acabamento. Por outro (bom) lado, graças à mão-de-obra barata local, ofereciam modelos mais equipados por menos preço.

Os anos se passaram e as marcas do país asiático foram amadurecendo, criando estilo próprio e refinando o acabamento. Atravessaram fronteiras e invadiram o mundo, inclusive o Brasil. Também compraram marcas tradicionais como a MG e a Volvo. Ao mesmo tempo, foram encarecendo a mão de obra e o preço final. Sem falar na redução da oferta de equipamentos, especialmente aqui, onde também passaram a produzir seus carros.

Só que o plágio estético, a baixa qualidade de acabamento e, no bom sentido, o baixo custo continuam. E o JAC T6, que acaba de desembarcar em nosso país, é um exemplo disso. E olha que a JAC também faz parte das marcas amadurecidas.


Começo pelo lado bom: o custo-benefício. O utilitário esportivo tem porte médio. Mede 4,47m de comprimento, 1,84m de largura, 1,67m de altura e 2,64m de distância entre-eixos. Tamanho próximo ao do Kia Sportage. Mas custa entre R$ 69.990 e R$ 75.670. Mais barato que as versões completas do Ford Ecosport, Chevrolet Tracker e os novos Honda HR-V, Peugeot 2008 e Jeep Renegade, que estão na faixa dos 80 e até passam dos 100 mil reais. Só que para enfrentar estes três últimos a JAC prepara o lançamento do T5, no final do ano. 


Agora o lado ruim: no estilo, o JAC T6 é praticamente um clone do Hyundai ix35, que é até um pouco menor que o chinês. A semelhança (proposital?) é por causa do ângulo da janela lateral traseira. A mania de plagiar ainda não abandonou os chineses, né? 


Mas há diferenças: na frente, a grade foi dividida em duas e não tem o H da marca sul-coreana. Os faróis são mais largos e angulosos. A traseira é mais parecida com o Audi Q5, com as lanternas (em LED) mais retas e a tampa do porta-malas recortada em relevo na altura da placa. O T6 seria atraente se o ix35 não estivesse prestes a ser substituído pelo novo Tucson.


O interior também é muito parecido com o do antigo Hyundai pelo formato do painel central, das saídas de ar, da posição da tela multimídia, dos comandos de climatização e do quadro de instrumentos. Só o volante é padrão da JAC. O acabamento não é sofrível como nos primeiros chineses, mas ainda está abaixo do esperado para a sua faixa de preço. É bem montado. Mas foi escurecido e ganhou detalhes em marrom brilhante no painel e nas portas para disfarçar o aspecto simples dos plásticos duros. O refinamento interno fica por conta do revestimento opcional em couro e o desenho trançado da costura dos bancos. Duas qualidades do interior são o espaço interno no banco de trás e a capacidade de 610 litros do porta-malas.


Na lista de equipamentos, a JAC aprendeu a malandragem brasileira de fazer economia e criar opcionais. Tem de série ar condicionado automático (mas não digital), trio elétrico, computador de bordo, piloto automático, chave canivete, pontos ISOFIX para cadeirinhas infantis, cintos de segurança de 3 pontos e apoio de cabeça para todos, faróis com regulagem de altura, faróis de neblina, rodas de liga leve aro 17 com pneus 225/60 R17, lanternas traseiras em LED, retrovisores com repetidores de direção, sistema de áudio com CD/MP3/USB/Bluetooth/auxiliar, 2 fontes 12V e direção elétrica, regulagens de altura do banco do motorista, da coluna de direção e dos cintos de segurança dianteiros, apoio de braço central com porta-copos e cinto central de três pontos, luzes de leitura no teto, para-sóis iluminados e porta-óculos, rede no porta-malas, airbag duplo, ABS com EDB, alarme e sensor de estacionamento.


Hyundai ix35

O T6 não é nada pelado. Mas são itens praticamente obrigatórios em um carro do seu porte e alguns até poderiam estar presentes em modelos menores. Os airbags frontais e os freios ABS são obrigatórios por lei. Mas e os laterais e os de cortina? E os controles de estabilidade e tração? O assistente de partida em rampa? Não vieram da China, onde o T6 é chamado de S5 e o nome adotado aqui batiza uma picape média.   

Já itens que deveriam ser de série como barras longitudinais no teto, retrovisores na cor da carroceria, frisos laterais e maçanetas cromadas e retrovisores com rebatimento elétrico são opcionais. O preço já pula para R$ 71.990. E o que dizer do sistema multimídia apenas com câmera de ré e reprodução (chamado de espelhamento) das funções do seu smartphone? Se este for iPhone não poderá manusear tocando a tela de 7 polegadas do carro. Esta função só no Android. E o sistema Windows Phone é incompatível. O sistema eleva o preço para R$ 75.680. A JAC não informa se os bancos em couro são acessórios ou estão incluídos em alguns desses dois pacotes. 



Também houve economia na mecânica. O câmbio é apenas manual de cinco marchas. O automático CVT está reservado só para o T5. Tração integral? Esqueça. O T6 é um modelo urbano. O motor 2.0 turbo de 177 cavalos, oferecido no mercado chinês e testado no Brasil foi trocado por um 2.0 aspirado flex de 155 e 160 cavalos com gasolina e álcool, respectivamente. Pelo menos dispensa o tanquinho de gasolina. 



É inferior aos 178 cavalos do "gêmeo" Hyundai ix35, mas mais potente que o do Ecosport e do Renault Duster. Pena que na pista ele decepciona. Acelera de 0 a 100 km/h em 12,8 segundos e recupera a velocidade em "eternos" 22,2 segundos, segundo a revista Quatro Rodas. O consumo de 9,3 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada também ficou abaixo dos concorrentes compactos. Idem para a frenagem de 31,6 metros a 80 km/h e 71,6 metros a 120 km/h. Só o nível de ruído de 62,7 decibéis a 80 km/h que ficou atrás apenas do Renegade a diesel e do 2008 THP. Dados da mesma revista. 


Com certeza, muitos devem ficar satisfeitos com os equipamentos do JAC T6. E é pelo custo-benefício que a marca chinesa, representada pelo grupo de Sérgio Habib, espera que o seu crossover fique famoso e faça sucesso no mercado. Não por ser o clone mais barato do Hyundai ix35. 


Pontos Fortes 

+ Espaço interno
+ Porta-malas
+ Preço


Pontos Fracos 

- Estilo copiado
- Desempenho
- Consumo
- Frenagem
- Falta de airbags laterais e controles de estabilidade e tração. 
- Oferta de opcionais


[FICHA TÉCNICA

Motor: Quatro cilindros em linha, transversal, flex, 1.997 cm³, 16 válvulas
Potência: 155 (gasolina) e 160 cv (álcool)
Torque: 20,4 (gasolina) e 20,6 kgfm a 4.000 rpm
Câmbio: manual de cinco marchas
Tração: dianteira
Aceleração de 0 a 100 km/h: 12,8 segundos (revista Quatro Rodas com gasolina)
Velocidade máxima: 186 km/h (fabricante)
Consumo: 9,3 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada (Quatro Rodas, com gasolina)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,47/1,84/1,67/2,64m
Porta-malas: 610 litros
Tanque: 60 litros
Preço: R$ 69.990 (básico) / R$ 71.990 (Pack 1) / R$ 75.670 (Pack 2 - Completo)