TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
Estávamos em 1994. Nos áureos tempos da importação no Brasil, aproveitando o sucesso do Plano Real, a sul-coreana Daewoo chegava com tudo ao nosso país. Além dos seus modernos aparelhos de som, ela trazia também os seus veículos.
Começou com o Espero, um sedã médio de 4,55m de comprimento, linhas retas, com vidro da lateral até a traseira (sempre separado por colunas), capô baixo, grade no para-choque, faróis trapezoidais longos e finos e tampa do porta-malas com lanternas unidas por uma faixa de acrílico com o nome do modelo. O estilo era chamado de italiano porque a carroceria foi desenhada pela Bertone. Mas a inspiração provavelmente veio do francês Citroën XM, que foi assinado pelo mesmo estúdio em 1989. O Espero foi lançado na Coreia do Sul no ano seguinte.
Não parecia, mas o Espero era construído sobre a plataforma do primeiro Vectra, lançado na Europa em 1988 e cinco anos depois no Brasil. Havia quem dissesse que ele foi o pivô do rompimento da parceria entre a Opel e a Daewoo. Mas a marca sul-coreana também produziu os sedãs grandes Prince e Super Salon, derivados do Senator, que também vieram para cá. Anos depois a General Motors acabaria adquirindo a Daewoo e aos poucos a está substituindo pela marca Chevrolet.
O motor 2.0 de oito válvulas era o mesmo do Vectra. Mas era fraco. Tinha apenas 110 cavalos e 17 kgfm de torque. Pelo menos já tinha injeção eletrônica multipoint. Só acelerava de 0 a 100 km/h em 14,76 segundos, de acordo com a revista Quatro Rodas. Ficava atrás do "primo" Vectra, do Chevrolet Omega, do Renault 21 e também do Volkswagen Santana.
Os seus freios (mesmo sendo ABS), além de irem longe (só paravam 70,3 metros após serem acionados aos 120 km/h), também perdiam sensibilidade e ficavam borrachudos. O ruído também era alto. A média da Quatro Rodas era de 66,95 decibéis.
Apesar de todos os defeitos, o Espero tinha as suas virtudes, como os bons consumo (8,15 km/l na cidade e 14,11 km/l na estrada), estabilidade e acabamento. Os bancos eram envolventes. Espaço interno (entre-eixos de 2,62m) e porta-malas de 560 litros eram amplos. A lista de equipamentos de série também agradava: ar condicionado (manual porque o digital ainda era restrito aos Audis, BMW e Mercedes), direção hidráulica (elétrica não existia), vidros e travas elétricas, rodas de liga-leve, rádio toca-fitas com antena elétrica (que era um charme nos anos 80 e 90), teto solar manual e volante com regulagem de altura. O CD Player, o teto solar elétrico, os freios ABS e o câmbio automático de quatro marchas eram opcionais. Ou melhor, exclusivos (com exceção do câmbio) da versão top DLX. No seu fim de vida a nomenclatura mudou para CD e o emblema Espero foi substituído pelo da Daewoo. Os airbags dianteiros já eram oferecidos em vários importados naquela época, mas não no Espero.
Há vinte anos, o sedã médio custava entre 24.580 e 30.060 dólares. Na época, a moeda americana valia até um pouco menos que o recém-nascido real, mas se fosse hoje estaria custando R$ 66.432 na versão top. Mesmo assim, já era caro, custando mais que o Renault 21 e até o Omega GLS, embora mais barato que o Santana GLSi com câmbio automático. No mercado de usados o Espero DLX (depois CD) está cotado entre R$ 6.509 e R$ 8.569, segundo a FIPE.
Tamanha desvalorização foi por culpa dos vários problemas que o sul-coreano (que tinha qualidade semelhante aos dos chineses de hoje) enfrentou como o regulador de voltagem do motor que queimava o alternador com frequência, a bateria que descarregava com facilidade, a folga na direção, o vazamento do fluído hidráulico, na embreagem que ficava dura, o acabamento que queimava com o sol e a extinção da rede de assistência da Daewoo, que saiu do Brasil em 2001.
Seus proprietários sofriam (e ainda sofrem) para encontrar peças originais, mas resolviam parte do problema usando componentes do motor, câmbio, direção e suspensão do Vectra, como a importadora DM Motors planejava. Mas algumas peças eram exclusivas do Espero, como as pastilhas do freio e, claro, as partes da carroceria e do interior.
O Espero foi substituído, em 1997, pelo Nubira, que também teve uma versão perua. Depois do Espero, do Prince e do Super Salon a Daewoo também vendeu no Brasil o luxuoso Leganza, o compacto Lanos nas versões hatch e sedã e muito pouco o pequeno Tico. Na Coreia do Sul, o Nubira foi substituído pelo Lacetti que teve duas gerações. A segunda delas é o nosso conhecido Chevrolet Cruze, que pode ser considerado o bisneto do Espero.
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