TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTO: DIVULGAÇÃO


Ayrton Senna da Silva nasceu em São Paulo no dia 21 de março de 1960. Criado pelos pais Milton e Neyde no bairro paulistano de Santana, era o irmão do meio da primogênita Vivianne e do caçula Leonardo.

Um dia, seu Milton construiu um kart com motor de cortador de grama e deu para a filha. Mas a menina recusou e quem acabou ganhando o brinquedo foi o travesso Ayrton, que na época tinha três anos. Claro que o garoto adorou o presente e dirigia tão bem que a família ficou impressionada. 



Aos nove anos, disputou uma corrida de kart amistosa nas ruas de Campinas e foi pole-position por sorteio. Entretanto, somente em 1974 Ayrton começou a competir oficialmente. Venceu a 1ª corrida que disputou em Interlagos. Foi campeão paulista (título que repetiu em 75 e 76), campeão brasileiro em 1978 e 1980 e sul-americano em 1977 e 1979. Em seu último ano no kart, Senna foi vice-campeão mundial. O campeonato jamais conquistou.

Em 1981 mudou-se para a Europa, a convite da equipe Van Diemen, e foi disputar o campeonato inglês de Fórmula Ford 1600. Era para ter estreado no ano anterior, mas Senna preferiu continuar no Brasil para não contrariar o pai, que ainda achava cedo a oportunidade de correr, sem necessidade de patrocínio. Ganhando 12 das 20 corridas foi campeão inglês. Em 1982 mudou de equipe e de categoria dentro da Ford, passando a 2000. Mas manteve o chassi Van Diemen. Resultado: Campeão inglês e europeu.

Em 1983, correndo com patrocínio do Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro), disputou a Fórmula 3 pela equipe West Surrey, com o chassi Ralf/Toyota. Obteve o recorde de vitórias e foi campeão inglês. O desempenho atraiu convites de diversas equipes de Fórmula 1 como Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Testou esta última, mas acertou com a modesta Toleman para estrear na temporada 1984 de Fórmula 1, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Antes disso, ainda em 83, venceu o tradicional Grande Prêmio de Macau, então colônia portuguesa na China. Disputada em circuito de rua, a prova é para a Fórmula 3 o que o GP de Mônaco é para a Fórmula 1. Já em 1984 venceu uma corrida promocional da Mercedes-Benz entre vários pilotos veteranos como o francês Alain Prost e o austríaco Niki Lauda. Todos pilotaram o sedã 190E, que estava sendo lançado no mercado. E Senna ganhou o carro como prêmio.

De volta a Fórmula 1, em Mônaco, Senna chegou em segundo e só não ultrapassou o vencedor Alain Prost porque a corrida foi encerrada, supostamente, por causa da chuva torrencial. Encerrou a sua primeira temporada em nono lugar.

Em 1985 mudou-se para a Lotus e, logo na segunda prova, venceu sua primeira corrida, em Estoril, Portugal. Voltou a vencer na antepenúltima prova em Spa-Francochamps, Bélgica. Terminou o campeonato em quarto. Em 1986, ainda na Lotus, venceu os GPs da Espanha e dos EUA. Repetiu o quarto lugar. No ano seguinte, a sua equipe trocou a marca do patrocinador e a cor do carro de preta (John Player Special) para amarela (Camel), além do motor Renault pelo Honda. Ficou em terceiro lugar graças a vitórias em Mônaco (sua primeira no principado) e em Detroit, EUA (outro lugar onde Senna costumava ganhar).

Foi para a McLaren em 1988, correndo novamente com propulsor Honda e lá foi tricampeão de Fórmula 1 naquele ano, mais 1990 e 1991. Seu primeiro título foi uma disputa particular com Alain Prost, seu companheiro de equipe e já desafeto. A McLaren só não venceu em Monza, na Itália. Nesta corrida, Senna foi tirado da corrida por um piloto que mais tarde viria a se destacar no rali Paris-Dacar: Jean Louis Schleisser. Em Suzuka, no Japão, Senna venceu a prova após cair da pole para o 11o lugar na largada por causa de um problema na transmissão.

Em 1989 perdeu o campeonato no GP do Japão após levar uma fechada de Prost, numa curva do mesmo circuito de Suzuka. Prost abandonou a corrida, mas Senna cortou caminho por uma chicane e acabou desclassificado pelo então presidente da Fisa, Jean Marie Ballestre, conterrâneo de Prost. O clima era tão ruim que o francês mudou-se para a Ferrari e, no ano seguinte, de novo no Japão, levou o troco de Senna na largada. Os dois abandonaram a corrida, mas daquela vez, a vantagem de não marcar pontos era de Senna.

Em 1991, a disputa foi com o inglês Nigel Mansell, de quem havia vencido por milésimos o GP da Espanha de 1986. Mansell saiu da pista e deu o título para Senna, que, em agradecimento ao companheirismo do colega austríaco de equipe, Gerhard Berger, deu a vitória para ele.

Em 1992, Senna viveu o seu pior ano na McLaren. Já no ano anterior venceu, com dificuldade, um campeonato que parecia fácil. A Williams de Mansell e do italiano Ricardo Patrese desenvolveu uma suspensão ativa e um câmbio automático tão eficientes que Mansell dominou a segunda metade da temporada. Senna só foi campeão porque venceu as quatro primeiras corridas de 91, inclusive no Brasil, em Interlagos, SP, numa vitória que lhe provocou um esgotamento físico após a quebra de três das seis marchas manuais. No ano seguinte, não teve jeito. A Williams dominou a temporada e Mansell foi campeão. Patrese foi o vice. E em terceiro, uma então jovem promessa alemã chamada Michael Schumacher, que venceu a sua primeira corrida naquele ano, um depois de estrear no mesmo circuito de Spa Francorchamps, aquele em que Senna ganhou sua segunda corrida. Senna ficou em quarto e só venceu duas vezes: uma em Mônaco, após uma disputa inesquecível com Mansell, e outra em Monza. Com o mau resultado ameaçou abandonar a Fórmula 1. Chegou a testar até um carro de Fórmula Indy.

A Honda deixou a McLaren e a categoria. A equipe inglesa comprou o genérico e fraco motor Ford Cosworth. E não teve nem direito de pegar um conjunto novo, que era prioridade da Benetton de Schumacher. Ron Dennis tentou acertar com a Renault, mas a marca francesa preferiu a Williams que contratou o ídolo local Prost. Senna acabou acertando um contrato por corrida com a sua velha equipe. Queria correr na Williams, que demitiu Mansell. Mas foi rejeitado por Alain Prost.

Aliás, Prost, Mansell e Schumacher foram os maiores inimigos de Senna. E o brasileiro e igualmente tricampeão Nelson Piquet também. A briga com o francês foi apenas através de declarações indiretas e polêmicas. A discórdia era notada mais pela falta de cortesia e frieza do que por discussões violentas. Com Mansell e Schumacher, Senna se envolveu em briga físicas. E Piquet fez comentários maldosos sobre a opção sexual de Ayrton Senna.

Quanto a isso, não havia dúvidas. Ou havia? Senna nunca teve um amor fixo. Mas já foi casado com uma moça da sua vizinhança no início dos anos 80. Quando foi campeão, a mídia alardeou um romance com a apresentadora Xuxa Meneghel. E em 1993 estava namorando a então jovem e desconhecida modelo Adriane Galisteu.

Voltando à Fórmula 1, mesmo com a equipe fraca, Senna venceu com a McLaren em Interlagos, em Donington Park (Inglaterra - GP da Europa), em Mônaco, no Japão e na Austrália, que seria sua última vitória. Nesta época já tinha acertado com a tão sonhada equipe Williams para 1994.

Senna era um piloto vencedor, perfeccionista, obcecado por vitórias e com habilidade extraordinária para vencer na chuva. Mas em seus últimos três anos estava um pouco sem sorte. Quando conseguiu se transferir para uma equipe que achava grande, outra estava se destacando: a Benetton, de Michael Schumacher. O alemão venceu as duas primeiras corridas em Interlagos e em Aida, no Japão, enquanto Senna rodou na primeira e se envolveu em uma batida na largada do GP do Pacífico de 1994.

A terceira corrida, em Ímola, San Marino, parecia ser o início da sua recuperação. Só que não começou nada bem. Na sexta-feira, primeiro dia do treino de classificação do grid de largada, o jovem Rubens Barrichello saiu da pista com a sua Jordan e chocou-se violentamente com a barreira de pneus. Só sofreu algumas escoriações e quebrou o nariz, ficando impedido de disputar a corrida. No sábado, o austríaco Roland Ratzemberger, da iniciante equipe Symtec, perdeu o controle do carro na curva Tamburello e chocou-se violentamente na curva Villeneuve. Ratzemberger morreu horas depois no hospital de Bolonha, na Itália (San Marino fica no território italiano).

No domingo, apesar de ter obtido a pole na véspera, Senna não estava bem. Preocupado com o acidente fatal, lutou politicamente por mais segurança, ameaçou não correr, mas acabou cedendo e partiu pra corrida. Ficou em silêncio e cabisbaixo durante todo warm-up e no grid. A largada foi dada, mas a corrida logo foi intervinda com o safety-car por causa de um acidente entre o finlandês J.J. Lehto e o português Pedro Lamy. Sete voltas depois, a disputa foi reiniciada e Senna disparou na frente de Schumacher. Uma volta e meia depois, Senna saía da pista na curva Tamburello e batia violentamente no muro de concreto. O tricampeão foi levado inconsciente para o hospital Maggiore, em Bolonha, o mesmo onde morreu Ratzemberger na véspera. No início da tarde brasileira do dia 1º de maio de 1994, a morte de Ayrton Senna era anunciada.

O Brasil e o mundo inteiro se comoveram. Quem o achava antipático e fresco compreendeu sua personalidade. Senna virou um exemplo profissional para Prost, Mansell, Piquet e Schumacher.

Há oito anos não ocorria uma morte na Fórmula 1, desde que Elio de Angelis perdera a vida num teste particular em 1986. Até num único fim-de-semana morrerem dois, o primeiro durante a corrida desde 1982. E, injustamente, um deles era o nosso maior ídolo.

Se para a maior categoria do automobilismo mundial, a morte de Senna tornou os carros mais seguros, a ponto de ninguém mais falecer em uma corrida de Fórmula 1 desde 1994, para o Brasil, a morte de um dos seus tricampeões, jogou o nosso país no papel de coadjuvante da categoria, nos dando apenas pilotos escudeiros como Rubens Barrichello e Felipe Massa. Ficamos seis anos e meio sem ganhar uma única corrida e quinze anos sem ver um brasileiro disputando o título.

Agora estamos há mais seis anos sem ganhar na Fórmula 1, desde que Felipe Massa venceu o Grande Prêmio do Brasil de 2008, com uma Ferrari, mas perdeu o título após o inglês Lewis Hamilton ultrapassar Timo Glock e conseguir a posição necessária para ser campeão. 

Em 2009, Massa, que tinha tudo para acabar com o jejum do Brasil, foi atingido por uma mola da suspensão da Brown de (que ironia) Rubens Barrichello (que também foi "capacho" na Ferrari) no treino de classificação para o GP da Hungria, e se feriu gravemente, quase morrendo como Ayrton Senna. Ficou uma semana em coma, mas felizmente se recuperou. Afastou-se da Fórmula 1 pelo resto da temporada, que estava na metade, e nunca mais foi o piloto competitivo de antes. Parece que ficou com trauma. Só voltou em 2010, já como escudeiro do espanhol Fernando Alonso na equipe italiana. 

Em 2010, o sobrinho de Ayrton, filho de sua irmã Vivianne, Bruno Senna estreou na Fórmula 1 na fraca equipe Hispania. Depois mudou-se para a Lotus e a Williams, coincidentemente, as mesmas equipes que o tio dirigiu (aqui uma explicação: a hoje controlada por empresários da Malásia Lotus já cedia o seu nome para a Renault, que assumiu a Benetton, que por sua vez comprou a Toleman, primeira equipe de Ayrton). Nada fez na Fórmula 1 e hoje corre no mundial de Grã-Turismo. 

Rubens Barrichello se aposentou da Fórmula 1 em 2011, ao volante da já decadente Williams, após bater o recorde de participações em GP na Fórmula 1 com apenas dois vice-campeonatos. Já Felipe Massa precisou mendigar uma vaga na mesma equipe para o Brasil, que já foi o maior vencedor da Fórmula 1 e hoje está em terceiro lugar, não ficar sem nenhum piloto na categoria máxima do automobilismo após mais de 40 anos. E hoje só temos um. E já virando escudeiro de um jovem finlandês. 

Ah, Senna... como você deixou saudades para a Fórmula 1 do Brasil!