TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: TESLA


O General Motors EV1 (primeiro com marca da GM mesmo, depois com a extinta Saturn) foi o primeiro carro elétrico vendido em grande escala no mundo, embora no sistema de leasing (uma modalidade de aluguel). O japonês Toyota Prius popularizou os carros ecologicamente corretos, mas com a ajuda de um motor a gasolina. Com o orgulho americano nacionalista ferido após o fracasso do EV1, a GM retomou o segmento dos elétricos, com uma opção híbrida do sedã Malibu. Logo, a rival Ford lançou o Fusion Hybrid (vendido também no Brasil, mesmo na primeira geração). Mas a GM deu o troco com um híbrido de carroceria própria, o Chevrolet Volt, que ganhou uma versão europeia chamada Opel Ampera.


Seja o Prius, as versões híbridas do Malibu e do Fusion ou o Volt, os carros com motor elétrico reforçado por um convencional já estão consolidados no mercado mundial, especialmente o norte-americano. Mas a Tesla, uma marca que nasceu no Vale do Silício, na Califórnia, de propriedade do empresário sul-africano Elon Musk, dono de empresas de tecnologia como a SpaceX (primeira empresa espacial privada) e a PayPal (site de pagamento eletrônico), resolveu colocar mais pimenta no carinho ao meio ambiente.

Primeiro, produziu o esportivo Roadster, lançado em 2008, que tinha estilo baseado nos carros da Lotus e acelerava de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos. Saiu de linha em 2011. No ano passado, começou a investir no segmento de luxo com o sedã Model S.



Com 4,98m de comprimento, o Model S, lançado no ano passado, é 100% elétrico, como era o Roadster, e tem porte de um Porsche Panamera (5.01m). Seu desenho arredondado, desenhado por Franz von Holzhauzen, importado da Mazda, é parecido com um cupê e até com o esportivo alemão de quatro portas. Tem inclusive a quinta porta traseira. Lembra também, pela grade bem arredondada, os faróis finos e as lanternas horizontais em arco, o Jaguar XF, com quem também concorre nos Estados Unidos. Ou seja, o Tesla tem estilo convencional e não o exagero de modelos híbridos como o Volt e o Nissan Leaf.


O interior, acessado sem o uso da chave (as maçanetas se destacam quando o dono se aproxima) é digno do luxo que propõe. Tem acabamento em couro, alumínio e opção de detalhes entre fibra de carbono, madeira e black piano no painel, onde se destaca a "gigantesca" tela multimídia de 17 polegadas, montada na vertical, na verdade um tablet desenvolvido por ex-engenheiros da Apple, que concentra todas as funções do carro, como o ar condicionado de duas zonas, ajuste da suspensão pneumática, som, luzes, internet, câmera de ré e a abertura do teto panorâmico, entre outros. O quadro de instrumentos é totalmente eletrônico. A direção tem três modos de assistência (Normal, Comfort e Sport).


O banco de trás não tem a mordomia de modelos como o Mercedes Classe S e os concorrentes Porsche e Jaguar, mas o espaço atrás é um latifúndio e acomoda com conforto três adultos altos. O porta-malas tem 745 litros de capacidade e um diferencial incomum até em sedãs de luxo: dois bancos extras (para crianças, claro), mas de costas para os demais ocupantes. Para o insatisfeito que achou pouco tem mais 150 litros no capô, já que o motor elétrico vai no eixo traseiro, e ainda pode rebater o banco traseiro.


O Tesla S não foi projetado durante quatro anos só para oferecer luxo e conforto (o interior é silenciosíssimo). Foi também pensado para ser um carro potente e rápido, como  o Roadster, mesmo elétrico e pesando 2.100 kg.  O motor tem três opções de capacidade: 60 e 85 Kw, sendo que a terceira é a 85 Performance. Esta versão top tem potência equivalente a 416 cavalos, associada a um câmbio automático de apenas uma marcha. O conjunto leva o S a acelerar de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos com velocidade máxima de 212 km/h. O de 60 acelera em 6,2 segundos, chega aos 193 km/h e a potência é equivalente a 306 cv.


Outro ponto em que o Tesla S se destaca positivamente é a segurança. Por oferecer oito airbags e ter uma célula de sobrevivência bem rígida, ganhou 5,4 estrelas em todos os tipos de testes de colisão do NHTSA, instituto norte-americano de segurança nas estradas, equivalente ao europeu NCAP, feito atingido por apenas 1% dos carros testados. E a média geral ficou acima do padrão.


A autonomia é um ponto fraco do Tesla. Anda apenas 500 km na versão mais cara e ainda há poucos postos de recarga (a versão de 85 kw leva meia hora para ficar com metade da carga) e troca da bateria de ion-lítio nos Estados Unidos e na Europa, embora estejam prometidos mais no futuro com substituição em 90 segundos. A recarga completa em casa demora 8 horas. Em compensação, os freios da Brembo regeneram energia.


O Tesla S custa US$ 63.570 nos Estados Unidos, em versão básica, mas se aproxima dos 120 mil dólares quando completo porque luzes diurnas de LED, faróis de neblina, navegador, sensor de estacionamento, som de alta definição, memória dos ajustes dos bancos e espelhos, iluminação interna em LED, a entrada e partida sem chave, a suspensão a ar, os dois bancos extras e o teto panorâmico são cobrados à parte. Mesmo assim já abocanhou 8% do mercado de sedãs de luxo em apenas um ano. 

O Roadster já tinha mostrado que carro elétrico também pode ser rápido. Agora, o Model S leva a eletricidade para o reino dos grandes sedãs. Em breve será lançado nos Estados Unidos o crossover Model X. E os americanos já podem ficar orgulhosos com o primeiro carro de luxo originalmente e totalmente elétrico criado em seu país, mesmo que o dono da empresa seja um sul-africano.

FICHA TÉCNICA - TESLA S 

Motor: Elétrico, de corrente alternada, transversal no eixo traseiro, com baterias de ions de lítio
Potência: 306 cv na versão básica 60 kw. 367 cv na 85 kw e 416 cv na top 85 kw Performance
Câmbio: automático de 1 marcha
Tração: traseira
Aceleração de 0 a 100 km/h: 6,2 segundos (60 kw), 5.9 seg. (85 kw) e 4,6 seg. (85P)
Velocidade máxima: 193 (60 kw),  200 (85 kw) e 212 km/h (85P kw)
Consumo: não divulgado
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,98/1,96/1,44/2,96m
Porta-malas: 745 litros atrás (1.645 litros com o banco traseiro rebatido) + 150 litros no capô
Preço nos Estados Unidos:  US$ 63.570 (60 kw básico) / 73.570 (85 kw básico) / 83.570 (85 Performance básico) / 118.970 (85P completo)