TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO


Pergunte a um brasileiro que não seja especialista em carros se ele conhece a Sociedad Española de Automóviles de Turismo. Com certeza, vai responder que não. Agora, abrevie o nome da marca para SEAT. Ele pode até conhecer, mas será capaz de nem querer lembrar que eles já foram vendidos no Brasil da metade dos anos noventa até o início da década passada.


A SEAT desembarcou no Brasil em 1995, através da sua dona Volkswagen (que a comprou da Fiat em 1990), importando diretamente da Espanha (mais precisamente de Martorell) o sedã Cordoba e, alguns meses depois, o hatch Ibiza, ambos compactos e derivados da geração do Volkswagen Polo da época. A comercialização era feita na rede de concessionárias da montadora alemã.


O Cordoba media 4,16m de comprimento por 1,64m de largura, com distância entre-eixos de 2,44m e chegou aqui apenas com quatro portas (com as quais o brasileiro começava a se acostumar e preferir). A frente era simples, com faróis retangulares e proteção da grade convencional, com moldura na cor do carro. Ainda não existia o diferente conceito estético espanhol. A lateral tinha janelas amplas, com um vidro vigia grande e triangular na coluna traseira. O terceiro volume era curto e alto, com lanternas nas extremidades, mas reforçadas por um refletor em pórtico em quase toda a tampa do porta-malas, que tinha 455 litros de capacidade, o maior da sua categoria.

O interior era semelhante ao do então recém-reestilizado Gol brasileiro, com o painel no formato console unido ao quadro de instrumentos, só que mais requintado nos revestimentos dos bancos e das portas. O espaço interno atrás era razoável, acomodando melhor duas pessoas.


O motor era o 1.8 de oito válvulas e 90 cavalos, o mesmo do Golf GL alemão, que também estava chegando na época. A versão única, chamada GLX., acelerava de 0 a 100 km/h em 14,14 segundos e retomava de 40 a 100 km/h (um antigo padrão da revista Quatro Rodas) em 22,92 segundos. O consumo era de 10,06 km/l na cidade e 13,35 km/l na estrada.

O Ibiza,  na verdade o modelo original, era mais reto e alto, com 3,87m de comprimento. Ao contrário do Cordoba, chegava nas versões de duas e quatro portas. O sedã Cordoba também tinha uma versão duas portas na Europa. O vidro vigia era maior e mais retangular. Fora o formato hatch da carroceria, os outros detalhes eram idênticos ao do Cordoba. Até o motor era o mesmo. O hatch tinha design exclusivo, mas o sedã foi reproduzido com a marca e detalhes da Volkswagen e assumiu o nome de Polo Classic, tendo sido importado da Argentina entre 1996 e 2002 para substituir o Voyage.


Mesmo compactos, o Cordoba e o Ibiza já estavam destinados a competir com os médios Chevrolet Astra (ainda da primeira geração e importado da Bélgica), Fiat Tipo, Ford Escort e até o Volkswagen Golf, com quem compartilhavam o motor. O Cordoba custava inicialmente cerca de US$ 23 mil (mesmo já existindo o Real na época) e chegou a vender 1.139 unidades em seu primeiro mês de vendas, mas o aumento de imposto de importação para 70% naquele mesmo ano tornou a vida dos espanhóis muito difícil.

O custo de manutenção também era alto e somente algumas peças do motor podiam ser aproveitadas. Muitos proprietários também reclamam da rede autorizada, pois nem todas as concessionárias da Volks trabalhavam com os Seat, que chegou a abrir algumas revendas exclusivas, mas sem sucesso.

Outro ponto fraco dos Seat era a oferta de equipamentos como ar condicionado, trio elétrico, freios ABS, airbag para o motorista e até apoios de cabeça do banco traseiro como opcionais. O problema foi resolvido na linha 1998, quando a versão GLX mudou de nome para SXE e passou a trazer o ar condicionado e o trio elétrico de série.

Apesar das dificuldades, a Volkswagen deu uma segunda chance aos pequenos Seat. E que chance...  Em 1999 a linha foi ampliada com o furgão Inca, uma versão do gênero da Fiat Fiorino, que tinha um clone com o emblema da Volkswagen, chamada de Caddy na Europa e simplesmente Van aqui no país. Ambos vinham da Argentina com motor AP1600 de 90 cavalos.


No ano seguinte, Cordoba e Ibiza chegaram com a frente reestilizada, onde o renovado S da marca ficou destacado dentro de um espaço próprio no centro da grade e os faróis ficaram com contornos arredondados e piscas maiores, embora ainda com o formato retangular. A traseira perdeu o exagerado aplique refletor das lanternas. Ficou apenas um pequeno prolongamento e o S no centro, dando um visual mais limpo. O painel interno também foi renovado, inspirando o do Gol 1999.


Junto com o sedã e o hatch, a linha cresceu com a inédita (para nós, brasileiros) perua Vario, que tinha uma traseira bem vertical, porta-malas de apenas 390 litros e ainda usava as lanternas antigas, mas a frente e o interior novos. O motor de toda a linha de passeio passou a ser o 1.6 SR, usado nos primeiros Golfs da geração atual. Tinha 101 cavalos.


O Ibiza também ganhou o mesmo motor 1.0 de 16 válvulas do Gol, que rendia 76 cavalos e passou a ser trazido da Argentina. O trio também ganhou opção de câmbio automático de quatro marchas a partir de 2001.


Segundo a FIPE, o Seat Cordoba está cotado entre R$ 8.177 (o GLX 1.8 1995) e R$ 13.778 (1.6 2002), o Ibiza entre R$ 6.345 (GLX 1.8 1995) e R$ 14.463 (1.6 2002), o Ibiza 1.0 16v entre R$ 10.502 (2001) e R$ 12.036 (2003), a perua Vario entre R$ 11.547 (2000) e R$ 14.235 (2002) e, finalmente, o furgão Inca entre R$ 10.545 (1999) e R$ 17.656 (2002).


Os Seat até tinham os seus pontos fortes: estilo, acabamento, porta-malas do sedã, estabilidade e suspensão confortável. Mas o já citado alto custo da manutenção, junto com o seguro caro, marcaram a imagem da marca espanhola, que nunca mais voltou, apesar das tentativas em 2002, quando foram expostos os médios Leon Cupra e Toledo, 2006 (um monovolume Altea ficou escondido no estande da Volkswagen) e 2008 (quando cogitou trazer o atual Ibiza). 

Hoje, o Cordoba e o Inca não existem mais, o Ibiza está duas gerações à frente da que foi comercializada aqui (mais precisamente a quarta) e a perua se chama ST. 

O Ibiza atual