Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação / Wikipedia / Fabrício Samahá / Reginaldo Manente

Como o tempo passa! Um dia, estava atravessando a esquina da minha casa, em Cabo Frio, quando tive que parar para dar passagem a um Mondeo sujo, enferrujado e com cano de descarga sambando na carroceria em movimento.

Há quinze anos atrás, eu até já imaginava a cena no futuro, mas o tempo chegou rápido demais e acabei me surpreendendo com o destino de um modelo que foi anunciado como o primeiro carro mundial da Ford e que carregava a responsabilidade de recuperar e modernizar a imagem da filial brasileira da marca norte-americana, maltratada por quase oito anos de um casamento com a Volkswagen chamado Autolatina.

O Mondeo chegou ao Brasil em 1995, ano em que acabou a parceria. Sedã médio-grande de desenho arredondado e em sintonia com o mercado europeu, foi importado da Bélgica para substituir o Versailles (também conhecido como clone do Santana).

Na Europa, o Mondeo foi lançado em 1993 para suceder o Sierra. A intenção era mesmo ser um carro mundial. Além de fabricado na nova fábrica belga de Genk, foi vendido nos Estados Unidos com o nome de Contour e também com a marca Mercury Mystique.

Voltando ao Brasil, chegou nas opções de carroceria sedã de quatro portas, liftback de cinco portas e perua (Station Wagon), também de cinco portas (na verdade, a quinta porta é a tampa do porta-malas que dava acesso ao interior do carro), todas nas versões de acabamento CLX e GLX, ambas com motor Zetec de 16 válvulas, respectivamente 1.8 de 115 cavalos e 2.0 136cv.
Foto da SW: Wikipedia


Com ar condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, direção hidráulica escamoteável, vidros, travas e espelhos elétricos, desembaçador do vidro traseiro e retrovisores externos, air bag do motorista e cintos com pré-tensionadores desde a versão básica, além de bancos do motorista com ajuste elétrico e opcionais como câmbio automático, teto solar e rodas de alumínio na versão GLX, o Mondeo tinha um bom custo-benefício e preço compatível com os seus concorrentes nacionais na época, como o Chevrolet Vectra, o Fiat Tempra e até o Volkswagen Santana e gêmeo Ford Versailles, antecessor do Mondeo, que acabou não resistindo muito no mercado. Concorria também em vantagem com os importados Volkswagen Passat, Renault Laguna, Peugeot 405 e Citroën Xantia.

Além do estilo e do custo-benefício, o Mondeo também tinha ótimos acabamento, espaço interno e dirigibilidade. Desempenho (chegava aos 202 km/h, segundo a revista Quatro Rodas) e consumo (média de 10,92 km/l) eram satisfatórios. Seus pontos fracos eram o porta-malas de 369 litros (471l na perua) e a carroceria muito baixa. Como consequência disso o para-choque dianteiro sempre raspava em quebra-molas e rampas, chegando até a trincar ou mesmo se quebrar. A peça não era muito barata. Houve quem improvisasse um para-choque de outro carro, inclusive do Palio, como eu já vi no Mondeo de um ex-professor da faculdade.

Em 1997, o Mondeo chegou com profunda reestilização frontal e traseira. A estrutura da carroceria era a mesma. A grade passou a ser bem oval com contornos cromados. Era um modismo exagerado da Ford na época de querer remeter a identidade visual de todos os seus carros às formas do seu logotipo. Os faróis passaram a ser grandes e bem envolventes, assim como as lanternas traseiras do sedã. A tampa do porta-malas deste ficou mais arredondada. Por dentro o desenho básico do painel também foi mantido, mas os comandos e instrumentos foram atualizados. A perua, no entanto, só ganhou uma régua cromada na traseira como o irmão de três volumes. Já o hatch, que ganhou lanternas parecidas com a do sedã, deixou de vir para o Brasil.

Foto da traseira: Wikipedia
Foto do painel: Fabrício Samahá (Bestcars Website)
O custo-benefício se manteve, mas o motor da versão CLX aumentou de cilindrada, passando a 2.0. Porém, a potência do Zetec, também usado no GLX, caiu de 136 para 130 cavalos. Bom para o primeiro, ruim para o mais caro. Em 1999 chegou a versão Ghia, com motor V6 2.5 de 170 cavalos, esperado desde o lançamento quatro anos antes.
Em 2002 o Mondeo perdeu a competitividade que tinha no mercado ao ser totalmente reestilizado. Saía o conceito oval e entrava o New Edge. Tornou-se um carro maior, mais luxuoso e bem mais caro. Seu antigo segmento no mercado foi ocupado pelo Focus Sedan argentino. Veio apenas o sedã com motor Duratec 2.0 de 147 cavalos na versão Ghia. A SW ficou de fora desta vez.

Fotos:
Reginaldo Manente (Ford)

O Mondeo voltou a ser levemente reestilizado em 2005. Entretanto, no ano seguinte, a Ford viu que o Fusion, maior e fabricado no México, saía mais rentável porque o Brasil tem acordo comercial com o país latino-americano, que o isenta de imposto de importação. De lá, já viera, entre 2001 e 2004, o Fiesta Sedan. Resultado: o belga e caro Mondeo saiu de cena definitivamente no Brasil. Em vez da moderna terceira geração, com estilo Kinetic, a Ford do Brasil preferiu o conservador e quadrado Fusion.