Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação
Dados de teste: Revista Quatro Rodas e Fabricantes

Os hatches médios sempre caíram no gosto do consumidor brasileiro. Desde os anos 1970 tivemos Passat, Monza, Corcel II, Escort, Kadett, Tipo, Golf, Astra, Brava, Stilo e até o Audi A3 fabricados aqui no país.

Claro que eles também tiveram momentos de altos e baixos. No início da atual década, eles estavam abandonados. O Golf parou na quarta geração. O Bravo foi substituído pelo Stilo, mas este permanece com a mesma carroceria de 2002. O Astra continua, porém perdeu versões mais caras, que evoluíram para o Vectra GT. O Audi A3 passou a ser importado. O Escort foi substituído pelo Focus, sempre trazido da Argentina. E o Renault Mégane hatch nunca mais foi vendido aqui.
Hoje o momento é de alta. Chevrolet e Volkswagen mudaram a frente de Vectra GT e Golf. A Fiat mudou alguns detalheszinhos no Stilo. Já a maioria passou a ser importada. A Ford começou a trazer o novo Focus da Argentina. Do mesmo país Peugeot e Citroën importam 307 e C4. E a Nissan trouxe do México o Tiida, que tem feito sucesso. Esse bom momento atraiu mais duas montadoras: a sul-coreana Hyundai, que acabou de lançar o i30, e a chinesa Chery, que vai chegar ao Brasil com um modelo originalmente chamado de A3, mas que aqui terá um novo nome, a ser escolhido em concurso. Só a Honda e a Toyota estão fora deste segmento em nosso país.

Por isso, reuni neste comparativo quatro dos hatches médios de desenho mais moderno do mercado: os argentinos Citroën C4 cinco portas e Ford Focus Ghia, o recém-lançado Hyundai i30, único fabricado fora do Mercosul, e o Chevrolet Vectra GT, único nacional, representado pela sua versão esportiva GT-X, que de invocada só tem a aparência.


ESTILO, ACABAMENTO, ESPAÇO INTERNO E PORTA-MALAS


O coreano ganhou por pouco pelo desenho mais ousado, com lanternas pontiagudas invadindo a coluna traseira, janelas laterais também pontudas na traseira, linha de cintura alta, faróis amendoados e grade pequena. O segundo desenho mais moderno é o do C4, que é totalmente distinto na traseira dos irmãos: o coupé VTR e o sedã Pallas. O Vectra GT-X seria o mais bonito se não estivesse para ser substituído na Europa por uma nova geração do Astra no final do ano (só aqui na América do Sul que ele virou Vectra GT). O Focus também é charmoso, mas seu estilo é de 2004, mesma época do Citroën, e até o ano que vem deve ser reestilizado no Velho Continente, tendendo a ficar muito desatualizado.


O melhor acabamento, também numa vitória apertada, é o do C4. Não pelo painel digital no centro, mas pelos materiais do seu revestimento. Logo atrás, empatados, vêm o Focus - com a montagem 'tridimensional' do console - e o i30, que surpreende pela qualidade de sua forração. Por último vem o modesto Vectra GT-X, apesar da renovação do painel das portas.

O mais espaçoso é o i30, seguido pelo Vectra, o Focus e, surpreendentemente, o C4. A mesma classificação quase se repete no porta-malas. Quase porque o Vectra vence o i30 por 345 a 340 litros. Na sequência aparecem o Focus (330) e o C4 (320).



MOTOR, DESEMPENHO E CONSUMO

Todos os hatches médios que participam deste comparativo são equipados com motor 2.0 de capacidade cúbica. Mas o Vectra é o único que tem apenas oito válvulas, contra as dezesseis (quatro por cilindro) dos concorrentes. Em compensação, ele é bicombustível, junto com o Citroën. O Hyundai e o Focus (por enquanto) são movidos apenas a gasolina.

A disputa pela potência cria um paradoxo. Com álcool, que só o C4 e o Vectra podem ser abastecidos, o Citroën é o mais potente, com 151 cavalos. Mas, para equilibrar a comparação, com petróleo (143cv) ele fica atrás do Focus e do i30, empatados com 145 cv. A mudança do motor da época do Monza, que ampliou a potência do Vectra para 140 cv com álcool, não foi suficiente para tirar o modelo da GM da última posição, pois com gasolina, ele ainda tem 133 cv. Menos mal, porque antes ele rendia no máximo 128 cavalos.


Na pista, já que a revista Quatro Rodas, fonte do teste deste comparativo, abasteceu os modelos flex com álcool, prevaleceram os 151 cv campeões do C4. Ele foi o melhor na retomada e na velocidade máxima. Na aceleração de 0-100 km/h também, mas foi apenas dois décimos mais rápido do que o surpreendente Vectra, segundo colocado em desempenho, com a segunda maior velocidade, mas o menos ágil por ser o único dos quatro com câmbio manual. O i30 foi o terceiro mais rápido, com a segunda melhor retomada, mas ficou sem velocidade por falta de divulgação. O Focus foi o mais lento acelerando. Na retomada e velocidade ficou em terceiro lugar.


Já no consumo os favorecidos foram os modelos com gasolina: Hyundai em primeiro com média de 9,6 km/litro na cidade e 12,8 km/l na estrada. Atrás o Focus com respectivos 9 e 12,5 km/l. O flex melhor colocado foi o Vectra com 6,8 e 9,9 km/l. O potente Citroën C4 ficou na lanterna com apenas 6 e 9 km/litro.



CONFORTO E SEGURANÇA

O acabamento praticamente influiu no ruído interno, critério para analisar o conforto. Só que o C4, vencedor do primeiro quesito, empatou com o Focus e o i30 na faixa dos 58 decibéis andando a 80 km/h. Como na análise do capricho do painel e revestimentos, o Vectra mais uma vez ficou na lanterna, com um barulho na faixa de 60 dB(A).


Eu sei que os equipamentos de segurança são muito importantes. Freios ABS com distribuição eletrônica e airbags frontais todos têm. Assistência de frenagem e airbags laterais só o C4 e o i30 possuem. O Hyundai é ainda o único que vem com controle de estabilidade de série e airbags de cabeça opcional. No C4 o primeiro é opcional e o segundo nem vem. Nos demais é inexistente. O controle de tração é exclusivo do Citroën, mas só como opcional. Se os carros vêm recheados de recursos tecnológicos, nos itens mais simples, o mais completo é o Focus, que traz encosto de cabeça e cinto de segurança de 3 pontos para o passageiro traseiro do meio, alarme e imobilizador. Tudo de série. Mas os outros três concorrentes cometem algumas falhas. A Citroën cobra a mais pelo alarme, que é de série nos demais. C4 e i30 não oferecem cinto de segurança de três pontos para o quinto passageiro, que tem no Vectra, que por sua vez não tem o encosto de cabeça para o mesmo ocupante. Pelo menos, todos oferecem o imobilizador.


Mas o que decide o quesito da segurança é a frenagem. E nela o vencedor é o C4, que freia vindo a 80 km/h num espaço de pouco mais de 25 metros. Em segundo vem o Vectra com 26 metros cravados. O Focus ficou em terceiro com 26,6m. Apesar de recheado de equipamentos, o i30 ficou em último na frenagem com 27,2m.



PREÇO, EQUIPAMENTOS E ASSISTÊNCIA


Embora os potenciais compradores desses carros tenham recursos suficientes para não se preocuparem com um diferença de preço de 200 reais, não vamos incentivar o desperdício de dinheiro. Portanto, o mais barato é o Citroën C4 Exclusive que custa R$ 67.700, mas traz mais itens de série do que o Vectra GT-X que tem exatamente esta diferença: R$ 67.910, com câmbio automático (apesar de eu ter considerado o teste do modelo manual). O terceiro colocado é o Hyundai i30 completo (R$ 69.900). O mais caro é o Ford Focus Ghia, que sai por R$ 70.425.


Todos os quatro hatches do comparativo são muitíssimo bem equipados, por isso o preço acima de 60 mil reais. Básicos, custam cerca de dez mil a menos. Além dos itens de segurança citados lá em cima, todos vêm de série, em suas versões mais caras, com ar condicionado eletrônico, CD Player com MP3, comandos do som ou piloto automático no volante, computador de bordo e vidros, travas e retrovisores elétricos. C4 e Focus têm algumas bossas como perfumador de ambiente e volante com miolo fixo no Citroën e botão de partida e comando do som e ar condicionado por voz no Focus. O Vectra vinha com a sua bossa: o navegador GPS, que passou a ser opcional como os bancos elétricos e faróis de xenônio direcionais do C4. As bossas do i30 ficaram nos itens de segurança já analisados como o airbag de cabeça opcional e o controle de estabilidade. O coreano é o único que não tem som com bluetooth e o seu ar condicionado é apenas de uma zona igual ao do Chevrolet. Em relação aos sensores, o Citroën tem todos os principais de série como o de faróis, chuvas e estacionamento traseiro. Só ele tem o dianteiro como opcional. O Vectra tem de chuva. O Focus e o i30 de estacionamento. Para quem quiser mais sol ou vento no interior do carro, o Focus é o único que vem de série com teto solar. No i30 e n0 C4 é opcional e o Vectra não tem. Considerando todos os equipamentos de série, tanto de conforto quanto de segurança, o vencedor foi o C4, seguido empatado pelo i30 e o Focus. O Vectra ficou em último.

Como prêmio de consolação o comprador do Chevrolet terá a maior rede de concessionárias (559) para fazer revisões e eventuais consertos. Depois, vem a Ford com 491 estabelecimentos. Ainda são duas tradicionais montadoras. Do lado das emergentes, a Hyundai já superou a Citroën por cinco pontos (123 a 118).



Conclusão


Recém refrescado, o Vectra GT-X precisa evoluir para alcançar resultados melhores. Como a GM vendeu a Opel, o parentesco com os modelos alemães deve ficar mais distante e a tendência é que dê lugar ao futuro Cruze hatch. Mas fique tranquilo que ele ainda tem mais uns dois anos de vida. O projeto atual só tem o melhor porta-malas e, mesmo assim, por apenas cinco litros. Foi bem no espaço interno, no preço, no desempenho, na segurança e seu desenho ainda agrada apesar de já ter cinco anos (na Europa). Seu fabricante também possui a maior rede de concessionárias. No entanto, as falhas no acabamento, o motor velho e barulhento, além dos concorrentes mais equipados, empurraram o único nacional do comparativo para o último lugar com 24 pontos.


Um ponto acima o argentino Focus ficou com o terceiro lugar. Se destacou no motor e no conforto. É bem equipado, tem bom acabamento e foi bem no consumo. Mas anda pouco, tem desenho muito conservador e é o mais caro de todos.


O Citroën C4 marcou 33 pontos. O franco-argentino venceu no acabamento, desempenho, frenagem, conforto e custo-benefício (preço e equipamentos). Só que pecou no consumo, porta-malas e espaço interno.


Por um ponto, o grande campeão é o Hyundai i30, o que não é nenhuma surpresa, pois ele é muito elogiado na Europa. O sul-coreano tem o desenho mais moderno, o motor mais potente com gasolina junto com o Focus, é mais espaçoso e gasta menos gasolina. O i30 só fracassou na frenagem. O carro que chegou para tentar consolidar a marca Hyundai no Brasil não vai ter muitas dificuldades para repetir aqui o sucesso no Velho Continente se depender do seu resultado no comparativo. As quatro grandes montadoras e importadoras do mercado brasileiro que se cuidem.