Há vinte anos a Mercedes já tinha o Classe G como utilitário esportivo. Mas a marca alemã queria um SUV de linhas mais modernas e luxuosas para enfrentar o britânico Range Rover, da Land Rover, que havia sido reestilizado três anos antes. Assim, lançou o Classe ML, que instigou as concorrentes conterrâneas a lançarem o BMW X5, Porsche Cayenne e Audi Q7, além de modelos menores e até com a aparência de cupês como o BMW X6.

Mercedes ML 1998

Em 2005, o Classe ML ganhou a sua segunda geração e a terceira foi apresentada em 2011. Acontece que, em 2015 a Mercedes mudou a nomenclatura de todos os seus veículos e o ML passou a se chamar GLE num face-lift da geração corrente, pois o utilitário usa a plataforma do sedã Classe E. Um inédito SUV de traseira baixa e inclinada, chamado Coupé até aproveitou a sigla GLE.

Com o novo GLE que a Mercedes vai apresentar ao público no Salão de Paris, em outubro, surgiu uma grande confusão sobre a contagem de gerações. É o primeiro GLE convencional desenhado exclusivamente para a nova geração, mas já é a segunda da sigla e a quinta edição se contarmos as duas anteriores do antigo Classe ML.



A única certeza que temos é que o GLE ficou mais moderno sem perder a identidade do modelo lançado em 1998, como o vidro traseiro alinhado às terceiras janelas laterais, separados apenas pela coluna D e a parte vertical do aerofólio pintadas de preto, criando a impressão de que é um vidro envolvente. Ainda na traseira, as lanternas horizontais são triangulares na tampa do porta-malas (onde cercam o baixo relevo da placa e acima da régua fica a estrela de três pontas) e trapezoidais nas laterais, formando um conjunto retangular em itálico.


A grade é grande e levemente hexagonal, com dois tipos, dependendo da versão: um com a tela colmeiada no fundo e duas barras horizontais vazadas em destaque que também contornam a estrela de três pontas e outra com pontilhados cromados e apenas um friso. Os faróis de LED são trapezoidais com cantos arredondados e delineados por duas luzes diurnas em formato de bumerangue. O para-choque também varia: o rasgo também tem formato de colmeia em ambas as versões, mas o da grade colmeiada há um único friso horizontal cromado em cada lado e o da pontilhada tem dois na cor escura.


O interior se rende ao conceito de "duplo tablet deitado", lançado no Classe S e visto de forma minimalista no Classe A. Só que no GLE o painel é mais caprichado e tem um desenho próprio que envolve a tela multimídia (MBUX, já lançado no Classe A, que reconhece gestos, mas também pode ser operado na própria tela, através do volante ou por voz) e o quadro de instrumentos eletrônico, ambos de 12,3 polegadas, com saídas de ar trapezoidais, lembrando até o Volkswagen Touareg. Há outros quatro pequenos difusores quadrados num nível abaixo. O interior também tem filetes em LED no painel, no console e nas portas que variam a cor de iluminação do ambiente. Junto com a massagem dos bancos, o som e a climatização, podem ser configurados de acordo com o estado de ânimo do motorista através do sistema Energizing. E ainda tem a projeção de informações no para-brisa, mais nítido que na geração anterior.


O espaço atrás foi ampliado com o aumento da distância entre-eixos de 2,91 para 2,99. O encosto dos bancos da segunda fileira podem ser tripartidos e têm ajustes de inclinação, além de poderem correr para aumentar o espaço interno para os dois passageiros da inédita terceira fila, que será opcional. O porta-malas terá capacidade para 825 litros. 

A plataforma agora é a Modular High Architecture (MHA) e a carroceria mede 4,94m de comprimento, um ganho de 14 centímetros comparado à geração anterior. A largura é de 2,16m (mais 24 cm) e a altura subiu de 1,79 para 1,80m.  


Na lista de equipamentos, entre série e opcionais, estão vários itens de segurança e autonomia como o programador de velocidade ativo (que agora reconhece engarrafamentos através do sistema LiveTraffic, obtendo informações da internet), assistente ativo de direção e de distância para o carro da frente, frenagem de emergência, detector de veículos em ângulo morto (alertando inclusive na hora de descer do carro, assistente de estacionamento com trailer (a visualização é feita na tela multimídia) e faróis de LED que iluminam até uma distância de 650 metros.

O novo GLE chegará ao mercado europeu apenas no ano que vem, já como linha 2020, inicialmente na versão GLE450 4Matic, com motor turbo de seis cilindros em linha 3.0 de 367 cavalos e um gerador elétrico de 21 cavalos, chamado EQ Boost, que ajuda na aceleração e recarga da bateria, podendo dispensar o motor a gasolina por uma curta distância.


Pouco tempo depois chegará a GLE350 com motor 2.0 turbo de quatro cilindros com 255 cv, com ou sem a tração integral 4Matic, um sistema mais avançado que distribui a força nas rodas de maneira contínua, conforme a demanda, além de ter redutora. No entanto, o GLE 350 sem 4Matic não quer dizer que a tração não é integral. Todos terão força motriz nas quatro rodas, mas na versão mais simples a distribuição de torque será igual. Serão lançados ainda motores a diesel e uma versão verdadeiramente híbrida.

O câmbio é automático de nove marchas para todas as versões e haverá três tipos de suspensão. A de série, mais simples, com molas helicoidais e amortecedores fixos, uma opcional pneumática e amortecedores eletrônicos e a mais sofisticada, a chamada E-Active Body Control, também opcional e também pneumática e com amortecedores eletrônicos, mas associados a uma rede elétrica de 48 volts, que controla de maneira independente as molas de cada roda de acordo com a informação que recebe de uma câmera situada no para-brisas (Road Surface Scan). O diâmetro das rodas varia entre 18 e 22 polegadas.

O GLE precisou ser renovado porque nos Estados Unidos, seu principal mercado, suas vendas caíram 11% este ano, enquanto o segmento cresceu 2,5%. Com todas essas virtudes do novo utilitário, agora serão BMW X5, Audi Q7 e Porsche Cayenne que terão de correr atrás de novas tecnologias. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO