Estava bem resistente em colocar Honda City e Volkswagen Virtus em um comparativo. Primeiro porque a Honda resolveu transformar o City, um sedã compacto para mercados emergentes, em carro de luxo no Brasil, relegando o Civic a um caro automóvel de pouco volume. Só me rendi porque o Civic híbrido realmente veio para o Brasil e o modelo já tem história em nosso país. Mas continuo boicotando a versão hatch, da qual só falo se a nova geração do monovolume Fit vier.  

E quanto ao Volkswagen, por causa do lema que adotei: "marcas multinacionais, carros europeus ou norte-americanos". Aqui cabe explicar: É que eu passei a boicotar os modelos jabuticabas da nossa indústria (Hyundai HB20, Fiat Argo e Pulse, Chevrolet Onix, etc). Se não podemos ter uma marca genuinamente brasileira por causa das tradicionais sabotagens políticas das fabricantes multinacionais, por que devemos ter só modelos locais das mesmas multinacionais? Por que ficamos com modelos baratos de produzir e caros de vender enquanto europeus e até argentinos têm os melhores carros no mercado? 

Mas o Virtus é um sedã derivado do Polo (que no Brasil ganhou face-lift pela metade para economizar) e europeus não são muito fãs de sedãs. Então, superei por um tempo os meus boicotes e reuni Honda City e Volkswagen Virtus para um confronto. E não somente eles. Aproveitei que o Versa ganhou um face-lift e também chamei o Nissan para um comparativo de sedãs compactos, que ainda têm público diante do domínio dos SUVs. 

Assim, desafio o recém-renovado Nissan Versa, fabricado no México, contra os Honda City e Volkswagen Virtus, fabricados no Brasil. São três sedãs com motorização diferente. Os dois primeiros na versão mais completa, respectivamente Exclusive com motor 1.6 e Touring com motor 1.5 de injeção direta, e o Volkswagen na versão Highline 1.0 TSI (ou 200 TSI), pois a verdadeira top, também Exclusive, como no Nissan, tem motor 1.4 (250 TSI).  


Estilo 


Entre os três modelos, o mais ousado é o Versa, tanto na frente, agora com grade em V frisada, abandonando o V todo cromado, quanto na lateral, que sugere um dinamismo nas linhas (só o que estraga é o friso preto na base da coluna traseira). Só a traseira, que ganhou um discreto aerofólio, ainda parece muito comportada. 


Em segundo lugar vem o Virtus, com lateral mais atraente que as renovadas frente (agora com os mesmos faróis do Nivus) e traseira (passando a ter lanternas escurecidas, com novo arranjo de luzes e assinatura do modelo centralizada), que lembra muito o médio Jetta. 


O Honda City acabou ficando para trás por causa das linhas mais comedidas que a geração anterior e a primeira geração. Às vezes, de frente, eu confundo com a geração passada. 


Acabamento




O plástico duro domina o interior dos três sedãs, mas o Honda e o Nissan apresentam melhor acabamento, com forrações macias no painel e no meio das portas. Embora no City esse material suave seja um pouco menos (em uma barra pequena), o plástico aparenta melhor qualidade que no Versa. O Virtus tem uma faixa revestida e costurada no painel mas não é macia e as portas só têm tecido e o couro só foi aplicado no apoio. O nível de acabamento do Volkswagen é inferior ao dos concorrentes, mas não tanto. 


Espaço interno

Volkswagen Virtus

O Virtus tem a maior distância entre-eixos do comparativo. São 2,65 metros, contra 2,62 m do Versa e 2,60 m do City. O Volkswagen realmente venceu no quesito do espaço interno. Mas as medidas que deveriam dar a dimensão do espaço para as pernas falharam. Na medição real de espaço interno, feita pela revista Quatro Rodas, o maior para as pernas de quem vai atrás é o Honda City, com 1 metro. Em segundo lugar ficou com Virtus, com 91 cm e, em seguida, o Versa, com 90 cm. 

Honda City

Nissan Versa

O Volkswagen venceu porque tem mais espaço para a cabeça (97 cm, contra 90 cm do Nissan e 89 cm do Honda) e para os ombros (largura de 144 cm, contra 143,5 cm do Nissan e 143 cm do Honda), sempre considerando o banco de trás. Na soma dos pontos o City ficou em segundo por ter se destacado em uma medida e o Versa em terceiro. 


Porta-malas

O porta-malas do Virtus é o maior por apenas 2 litros sobre o City. São 521 contra 519 litros. Como a diferença equivale a uma garrafa de refrigerante que pode ir dentro do habitáculo, declarei empate técnico. Em terceiro lugar ficou o bagageiro do Versa, com 482 litros. 


Motor


O Virtus aproveita a vantagem de ter o único motor turbo do comparativo e é o mais potente. São 128 cavalos com álcool no 1.0 TSI, chamado de 200TSI, mas com gasolina são apenas 116 cv, ainda maior que os 113 cv do 1.6 do Versa, o mais fraco do três. O 1.5 do City, que tem injeção direta, tem 126 cv e fica em segundo lugar. 



Mesmo para quem prefere o torque para avaliar o motor, tem o Volkswagen como melhor opção. São 20,4 kgfm (ou 200 Newton-metro, como sugere o nome), contra 15,8 kgfm do City e 15,2 kgfm do Versa. 


Câmbio

O City vence por ter câmbio CVT (continuamente variável) que simula sete marchas. O Versa também tem um CVT, mas só simula seis. O Virtus fica para trás com o seu velho câmbio automático de seis marchas. 


Desempenho



Apesar da superioridade, a diferença da potência do Virtus para o City é pequena, sendo apenas de dois cavalos, sem falar que o Honda é bem mais potente com gasolina, pois os 126 cavalos também valem para a gasolina, enquanto o Virtus tem apenas 116 cv. 


Esse equilíbrio refletiu no desempenho e os dois empataram nas duas provas da revista Quatro Rodas. Enquanto o Honda foi ligeiramente mais rápido na aceleração de 0 a 100 km/h (10,5 contra 10,7 segundos), o Volkswagen foi apenas um décimo mais ligeiro na retomada de 80 a 120 km/h (7,6 contra 7,7 segundos). Já o Nissan Versa ficou atrás nas duas provas: 11,8 segundos na aceleração e 8,9 segundos na retomada. 


Consumo

City e Virtus também empataram tecnicamente no consumo, também da Quatro Rodas. Enquanto o Volkswagen se destacou na estrada, com 17,7 contra 17,4 km/litro, o Honda foi melhor na cidade, com 13 contra 12,5 km/l. Na soma dos percursos, o City venceu por duzentos metros: 30,4 contra 30,2 km/l. O Versa, mais uma vez, ficou para trás: 11,5 km/l na cidade e 16 km/l na estrada, total de 27,5 km/l. 


Segurança


Desde o comparativo passado, entre os três utilitários híbridos, adotei uma nova forma de avaliar os equipamentos. Fiz uma lista com todo tipo de recursos, incluindo os mais triviais e contei pontos para um modelo a cada equipamento que falta em um rival ou dois. Vale para os itens de segurança e os gerais. 


Entre os de segurança, os três sedãs compactos oferecem frenagem autônoma de emergência, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, lembrete do uso de cinto de segurança, ISOFIX e seis airbags. Mas o Versa tem destaque em mais itens e só ele tem câmera 360º, alerta de objetos no banco traseiro e alerta de tráfego cruzado. Ele também divide a exclusividade do alerta de atenção do motorista (ou alerta de fadiga) e ajuste de altura do cinto de segurança com o Virtus e alerta de ponto cego com o City, mas não tem piloto automático adaptativo e nem alerta de mudança de faixa, presentes nos rivais, e só tem sensor de estacionamento traseiro. Além destes itens já citados, o Volkswagen não oferece mais nenhum outro item exclusivo e o City, apesar de ser o único com assistente de mudança de faixa e dividir o piloto automático adaptativo e os sensores de estacionamento dianteiros com o Virtus e o alerta de ponto cego com o Versa, falhou nos itens em que só o Versa e o Virtus têm. No total foram seis itens de destaque para o Versa e quatro para City e Virtus.  


Na frenagem, por ser o único dos três com freios a disco nas quatro rodas (City e Versa têm tambor na traseira), o Virtus foi o melhor, segundo o teste da Quatro Rodas, tanto a 80 km/h (24,6 metros), quanto a 120 km/h (56,8 metros). Em segundo lugar ficou o Versa, que tem vantagem pequena para o City a 80 km/h (26,1 contra 26,7 metros), mas grande distância a 120 km (60,2 contra 61,6 metros). 

Assim, enquanto o Virtus se destacou na frenagem e o Versa nos equipamentos, os dois empatam em segurança, deixando o City em terceiro lugar. 


Conforto

O nível de ruído a 80 km/h da Quatro Rodas foi decisivo para dar a vitória ao Volkswagen Nivus no conforto, com 62,5 decibéis, seguido pelos 63,6 dBA do Versa e 64,1 dBA do City. Isso porque a 120 km/h os três ficaram na faixa dos 69 decibéis, com o Volkswagen mais uma vez levando vantagem nos décimos, com 69,3 dBA, o Versa com 69,6 dBA e o City com 69,7 dBA. 


Equipamentos


Considerando todos equipamentos, até mesmo alguns triviais como vidros elétricos de um toque, que chega a faltar em alguns concorrentes, o City é o mais equipado, pois na lista que eu organizei ele aproveitou 20 vezes a falha dos rivais, contra 16 do Virtus, o segundo colocado e 12 do Versa. 

Os equipamentos de segurança estão na contagem, mas alguns já os citei no respectivo quesito. Os três têm ar condicionado digital de uma zona, faróis em LED, sensor de faróis, entrada e partida sem chave e bancos em couro. 

Só o City tem sistema de manutenção em faixa, já citado na segurança, os próprios vidros elétricos de um toque para todos, enquanto o Virtus só tem nos dianteiros e o Versa só para o motorista, e aplicativo funcional para smartphone, chamado de My Honda Connect. Mas ele falha por não trazer carregador por indução e só tem rodas de 16 polegadas enquanto os outros têm de 17. 


O Virtus, segundo colocado, é o único com bloqueio eletrônico do diferencial e quadro de instrumentos totalmente eletrônico, enquanto nos concorrentes é parcial. Sua tela multimídia de 10,1 polegadas também é a maior delas. Mas não tem alerta de ponto cego, apoio de braço no banco traseiro, tomada de 12 volts e abertura interna do porta-malas, que os outros têm. 


Apesar de ser o único com câmera 360º, alerta de tráfego cruzado e alerta de objetos no banco traseiro, o Versa falha em muitos itens como a ausência de alerta de pressão dos pneus, lanternas traseiras em LED, rebatimento automático dos retrovisores externos, piloto automático adaptativo, saída de ar condicionado para os bancos traseiros, retrovisor interno fotocrômico e aletas no volante Além disso, ele só tem 4 alto-falantes enquanto o Virtus tem 6 e o City 8 e espelhamento de Android e Apple no multimídia com fio. 


Preço


A falta de equipamentos deixa o Nissan Versa mais barato frente aos concorrentes aqui analisados. Custa R$ 129.590 na versão Exclusive. Mas este preço só vale para as cores Branco Aspen e Preto Premium. Todas as demais (Prata Classic, Cinza Grafite, Vermelho Scarlet, Branco Diamond, Azul Cobalto e Cinza Lunar) custam 2 mil reais. Mesmo pagando a mais por uma pintura diferenciada, ele continua custando menos que os rivais. 


Isso porque o segundo colocado, o Volkswagen Virtus custa R$ 138.790 e somente na cor Preto Ninja, pois a Branco Cristal custa 900 reais. As metálicas Azul Biscay, Cinza Platinum e Prata Sirius custam R$ 1.650. Mais baratas que os 2 mil do Versa, mas com menos opções. 


Com uma das cores metálicas o preço ultrapassa o Honda City, que ficaria em segundo lugar com a cor básica Branco Tafetá, pois ele custava cerca de R$ 137 mil quando comecei a produzir o comparativo. Mas aumentou para R$ 139.100. As metálicas Prata Platinum, Cinza Basalto e Azul Cósmico e a perolizada Preto Cristal custam R$ 1.700. Já a perolizada Branco Topázio custa 2 mil reais. 

Se o preço aumentar antes de eu ilustrar o comparativo vou atualizar o texto. Caso o City recupere o segundo lugar depois de pronta a postagem, colocarei uma nota. Me cobrem nos comentários. 


Assistência

Como não tenho condições de apurar o custo de peças, continuo considerando o número de concessionárias para classificar a assistência. Assim, a maior rede continua sendo a da Volkswagen, com 500 postos, seguido pela Honda com 212 e a Nissan com 180. 



Conclusão 

3º Nissan Versa Exclusive 1.6 16v CVT - 23 pontos


O Nissan Versa só venceu quatro itens, sendo apenas dois sozinho (Preço e Estilo). No acabamento ele dividiu a vitória com o City e na segurança com o Virtus. Mas as piores colocações no espaço interno, porta-malas, motor, desempenho, consumo, equipamentos e assistência o deixaram em terceiro lugar. 


2º Honda City Touring 1.5 - 28 pontos


O City, que algumas vezes, acidentalmente, chamei de Civic durante a digitação desta matéria, ficou em segundo lugar. Ele empatou com o Versa em acabamento e com o Virtus no desempenho, consumo e porta-malas. Só venceu sozinho no câmbio e nos equipamentos. Ficou a quatro pontos do Volkswagen, por causa do segundo lugar no espaço interno e na assistência e ficando atrás dos dois rivais no estilo, na segurança, no conforto e sendo o mais caro. 


1º Volkswagen Virtus Highline 200 TSI - 32 pontos


O Virtus venceu a edição 2023 do comparativo dos sedãs compactos se destacando no espaço interno, nível de ruído, aproveitando as vantagens de ter o único motor com turbo do confronto e tendo a maior rede de concessionárias do país, além dos já citados empates nos parágrafos anteriores. Foram oito vitórias no total, metade delas sozinho. Pontos fracos só no câmbio e no acabamento. O vitorioso projeto brasileiro somou 32 pontos.


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO
FOTOS: DIVULGAÇÃO 
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS