Confesso que incluí o Fiat Fastback a contragosto neste comparativo. Acho o modelo uma gambiarra do Pulse que, por sua vez, é gambiarra do Argo, que é outra gambiarra do Palio. Nosso país só tem excelência para desenhar carros, mas na hora de projetar do zero imperam a improvisação, o aproveitamento e o corte de custos. Aliás, este é o motivo que transformou o Fastback de um SUV-Cupê da picape Toro num derivado do compacto Pulse. 

Mas precisei engolir a minha raiva com o desprezo com que as montadoras multinacionais tratam o Brasil para incluir o Fiat Fastback no segundo comparativo de SUVs compactos com estilo cupê feito pelo Guscar. O primeiro eu fiz em 2020 e foi vencido pelo Volkswagen Nivus, que volta para a disputa com o mesmo visual e características técnicas, sendo o único nesta condição. O terceiro modelo, que fecha o confronto, é a nova geração do Honda HR-V, este sim, um projeto mundial de verdade. Opa! Está bem! O Nivus é um projeto brasileiro que ganhou a Europa, onde é chamado de Taigo, mas é mais completo em recursos que o nosso.

Em resumo, do comparativo do ano retrasado, o Nivus continua o mesmo, o HR-V foi substituído por uma nova geração e o Citroën C4 Cactus deu lugar ao Fiat Fastback, mas continua tudo em família, porque os dois são do grupo Stellantis. Por serem estreantes em menção do Guscar, vou falar do Fastback e do HR-V com mais informações. Vamos ver se a nossa jabuticaba vence os multinacionais. 


Estilo


O Fastback conseguiu ser o SUV cupê mais elegante e chamativo do comparativo, principalmente do perfil para a traseira. O problema é que os nossos designers não souberam ser tão originais. A própria traseira arrebitada com lanternas horizontais finas lembra demais o BMW X6. A frente também não é criativa. A inspiração parece ter vindo do rival no comparativo, o Honda HR-V, principalmente na grade plana e hexagonal, nos faróis horizontais e na disposição das luzes diurnas de LED. 


Em segundo lugar, apesar das linhas mais equilibradas, ficou o Nivus, que tem linhas mais retas, sem deixar de lado a elegância na traseira e na frente. A caída do seu teto também lembra outro modelo, mas do passado: o Ford Focus de segunda geração. 



O terceiro colocado em estilo também buscou inspiração, ainda que involuntária, em outro modelo. Se o Fiat Fastback imitou a dianteira do Honda HR-V, o modelo japonês deu o troco nos italianos  lembrando o velho Fiat 147 na caída do teto. A maçaneta da porta traseira continua na coluna. Atrás, as lanternas finas em LED se prolongam na parte superior e quase se unem iluminadas até o centro. Na frente, o HR-V aspirado tem grade com filetes horizontais e o turbinado em forma de colmeia, além de um friso cromado no para-choque que simula um batimento cardíaco. Mesmo com o criativo easter egg, o estilo do HR-V andou para trás. 


Acabamento


No HR-V houve retrocesso também no acabamento. O utilitário perdeu o imponente console elevado e flutuante e os revestimentos emborrachados do painel imitando couro nas versões aspiradas. Eles ficaram com plástico duro. Soft touch só nas versões turbo. O estilo ficou banalizado com a bancada horizontal e a tela multimídia (de 8 polegadas) destacada. O quadro de instrumentos inteiramente eletrônico é exclusivo das versões turbinadas. O EXL, top das aspiradas, ainda é analógico. Mesmo assim, o Honda tem o melhor acabamento, vencendo o Fastback por ter material macio na parte superior das portas dianteiras. Nas traseiras é duro também. 


O Fiat fica em segundo por ter um painel de plástico duro mais texturizado que o do Volkswagen Nivus. Ele também tem tela multimídia destacada e oferece o quadro de instrumentos eletrônico e tela multimídia de 10,1 polegadas, a partir da versão Impetus, a mais completa com o motor 1.0 turbo. O painel é o mesmo do hatch compacto Pulse. 


O Nivus também tem quadro de instrumentos virtual e multimídia de 10 polegadas na versão Highline, mas seu acabamento, sem nenhum material macio, é simples demais. 


Espaço interno

O mais espaçoso é o Honda HR-V, que, segundo a revista Quatro Rodas, tem 98 cm de espaço para as pernas no banco traseiro e 151 cm de largura, também no banco traseiro. A altura de 91 cm ficou em segundo lugar. 

E por falar em segundo lugar, no geral, essa posição ficou com o Fiat Fastback, com 89 cm para as pernas, 146,5 cm para os ombros e 91 cm para a cabeça de quem vai atrás. 

O Volkswagen Nivus é o que tem mais espaço para a cabeça, com 94 cm, mas ficou para trás na largura (144,5 cm) e no comprimento (88 cm), o que acabou deixando-o na terceira posição. 


Porta-malas


A Fiat divulga que a capacidade do porta-malas do Fastback é de 600 litros. Mas pela revista Quatro Rodas são 516. Mesmo assim, é o maior bagageiro do comparativo, pois o Nivus tem 415 e o HR-V apenas 354 litros. Mais um retrocesso do modelo da marca japonesa, que tinha 431 litros na anterior geração. 


Motor


Fastback e HR-V têm duas opções de motorização. O Nivus só tem uma: o 1.0 turbo de três cilindros, chamado de 200 TSI. O Fiat tem o 1.0 tricilíndrico e o 1.3 de quatro cilindros, ambos turbinados, este último preparado pela Abarth, que rende até 185 cavalos. Vou considerar o 1.0. E o Honda tem o 1.5 aspirado ou turbo (de 177 cavalos), escolhendo o primeiro para o comparativo. 

O Fastback 1.0 turbo (ou T200) é flex e rende 130 cavalos com álcool e 125 cv com gasolina. Em seguida vem o 1.0 do Nivus, também bicombustível, com 128 cv com álcool e 116 cv com gasolina. O 1.5 de quatro cilindros e injeção direta do HR-V rende no máximo 126 cavalos, independente do combustível usado. 


Câmbio 

Fiat e Honda levam vantagem por oferecer um CVT de sete marchas simuladas, enquanto o Volkswagen só tem seis no automático convencional. Todas as versões dos três modelos possuem a respectiva transmissão automática de série. 


Desempenho


Nas provas de desempenho, realizada pela revista Quatro Rodas, o 1.0 do Fastback falou mais alto e o fez acelerar de 0 a 100 km/h em 9,6 segundos. Mais distante ficou o Nivus, com 11,18 segundos e pouco atrás vem o HR-V 1.5, com 11,8 segundos. A classificação se repete na retomada entre 80 e 120 km/h, com 6,7 segundos para o Fiat, 7,57 segundos para o Volks e 8,6 segundos para o Honda. 


Consumo

Além de mais rápido, o Fastback é o que menos gasta combustível, também para a Quatro Rodas. Fez 12,3 km/l na cidade e 16,2 km/l na estrada, total de 28,5 km/l. Só que, desta vez, o segundo colocado é o HR-V, com consumo combinado de 27,1 km/l (12,7 km/l na cidade e 14,4 km/l na estrada). O Nivus acabou ficando para trás com soma de 26,7 km/l (11,5 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada). 


Segurança


Na segurança, uma das piores colocações do Fastback já começa na ausência dos airbags de cortina e do piloto automático adaptativo na lista de equipamentos. E continua com o pior desempenho na frenagem. Para a 80 km/h em 25,6 metros e a 120 km/h em 58 metros.

A melhor frenagem é do Nivus com 19,4 metros a 80 km/h e 50,7 metros a 120 km/h. Ele tem os seis airbags, piloto automático adaptativo, sistema de frenagem automática de emergência e detector de fadiga. Só não tem alerta de mudança de faixa. 

O HR-V, com seis airbags, detector de ponto cego e o pacote Honda Sensing (que faz parte da nomenclatura oficial da versão), que tem piloto automático adaptativo, frenagem de emergência e sistema de manutenção em faixa, tem a segunda melhor frenagem, com 23,8 metros a 80 km/h e 52,9 metros a 120 km/h. 

No conjunto da segurança, Honda (pelos equipamentos) e Volkswagen (pela frenagem) ficam empatados em primeiro lugar. 


Conforto 


Mesmo com um ruído acima de 60 decibéis a 80 km/h medido pela Quatro Rodas, o Honda HR-V é o mais silencioso, com 61 decibéis. A 120 km/h ficou em 68,6 decibéis. Em segundo lugar vem o Volkswagen Nivus, com 63,3 e 70,1 dBA. O Fastback mais uma vez ficou para trás, com 63,9 e 71,8 dBA. 


Equipamentos


O HR-V pode ter se destacado no conteúdo dos já citados itens de segurança através do Honda Sensing. Mas se estendermos a lista aos itens de conforto ele fica devendo. A versão EXL Honda Sensing, top com motor aspirado, não tem carregador por indução, teto solar e nem quadro de instrumentos eletrônico. Estes itens, presentes nos dois concorrentes do comparativo, só aparecem na versão Advance, a básica com motor turbo. Exceto o teto solar, que não tem em nenhuma versão do Honda e nem nos concorrentes. Ele até tem ar condicionado digital com saída para os bancos traseiros, mas é de uma zona só (dual zone só a partir da Advance Turbo). E o sistema multimídia, com Android e Apple, tem tela de apenas 8 polegadas. Em compensação tem botão de partida, revestimento em couro dos bancos, lembrete de esquecimento de objetos no banco traseiro e faróis com acendimento automático.


O HR-V empata com o Fastback em segundo lugar porque o Fiat só tem quatro airbags e não tem piloto automático adaptativo, além de cobrar a mais pelos bancos de couro. Senão o Fastback venceria até o quesito. Tirando os itens de segurança, o Fastback Impetus (versão top com o motor 1.0 turbo) é  bem equipado, com carregador por indução, quadro de instrumentos eletrônico, câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro, ar condicionado digital com saída para o banco traseiro, retrovisores externos com rebatimento elétrico (presentes também no HR-V e no Nivus), central multimídia de 10 polegadas, sensores de chuva e crepuscular, modo Sport acionado por botão no volante, borboletas no volante para mudança de marcha, partida remota pela chave canivete e entrada e partida sem chave. 


O Nivus fica com o posto de mais equipado entre estes três crossovers de estilo cupê. Na versão Highline, além dos seis airbags, do piloto automático adaptativo, alerta de fadiga, frenagem de emergência e sistema Start-Stop com reaproveitamento da energia da frenagem, tem a maioria dos itens já citados nos concorrentes, exceto o modo Sport, a partida remota e o alerta de esquecimento de objetos no banco traseiro, ausências que não comprometeram a sua vitória. 


Preço


Desconsiderando a pintura e os opcionais, o Nivus é o mais barato dos três na versão Highline. Custa R$ 143.690. O problema é que ele só tem uma única opção de pintura sem custo: a Preto Ninja. Quem quiser a Branco Cristal tem que pagar 750 reais. Escolhendo as metálicas Azul Biscay e Cinza Platinum e a perolizada Vermelho Sunset o preço aumenta em R$ 1.650. A perolizada Cinza Moonstone é um pouco mais barata: R$ 1.230. A coisa piora para quem escolher o teto preto, que faz o carro ser considerado como pintura bicolor e aumenta o preço em R$ 2.070, mais o custo da Branco Cristal, da Cinza Moonstone ou da Vermelho Sunset, únicas cores disponíveis para o teto preto. Escolhendo a Vermelho o preço vai para R$ 147.410 e ultrapassa o Fastback em quase dois mil reais, mas, ainda assim, o Nivus continua sendo o mais barato. 


Isso porque o Fastback Impetus básico custa R$ 145.490 e também só tem uma única opção de cor sem custo, a Preto Vulcano. As outras opções são todas pagas. Pelo menos, todas têm o teto preto e não fazem a cobrança abusiva da Volkswagen. A mais barata é a Branco Banchisa, por R$ 990. As mais caras são a Cinza Silverstone e a Prata Bari, por R$ 1.990. Ainda tem a Cinza Strato, por R$ 1.490. O Fastback tem dois opcionais, um deles mais relevante: os bancos em couro, que custam mais 1.290 reais. O outro são as rodas de liga-leve de desenho diferenciado, por 990 reais. Completo, o Fastback Impetus sai por R$ 149.760.

O Fastback também é vendido nas versões Audace, com motor 1.0, vendida por R$ 133.990, e Limited Edition, com motor 1.3 Turbo, por R$ 158.490. 


De longe, o mais caro é o Honda HR-V EXL Honda Sensing, um pleonasmo criado só para reforçar que o recurso de segurança semi-autônomo é de série em todas as versões, pois as versões turbinadas Advance e Touring não levam o redundante sobrenome. Enfim, o preço da versão EXL é de R$ 156.700. A opção de cor sem custo também é uma só, mas a diferença para os dois rivais é que a única opção é branca (Tafetá). Metálicas (Cinza Basalto, Prata Platinum e Azul Cósmico) e perolizadas (Preto Cristal, Cinza Grafeno e Vermelho Mercúrio) acrescentam mais 2 mil reais no custo final e a Branco Topázio, que também é perolizada, aumenta em mais R$ 2.300. O preço do HR-V, que não tem opcionais, chega a R$ 159 mil.  

Com o motor 1.5 aspirado, o HR-V também pode ser encontrado na versão EX Honda Sensing, por R$ 148.900. Com o motor turbo, as opções são a Advance (R$ 182.900) e a Touring, a mais completa de todos os HR-V, por R$ 190.900. 




Conclusão

3º Volkswagen Nivus Highline 200 TSI (1.0 Turbo)

Nivus e HR-V empataram em 25 pontos, mas o modelo da Volkswagen não só perdeu o título conquistado em 2020 como caiu para o terceiro lugar por ter vencido menos itens. Foram apenas três vitórias, uma delas empatada com o próprio Honda. 

O Nivus dividiu com o modelo japonês fabricado em Itirapina a melhor segurança, graças a boa frenagem, enquanto o rival foi melhor nos equipamentos do gênero. Isso porque o alemão fabricado em São Bernardo do Campo foi melhor nos equipamentos gerais. A terceira vitória do Nivus foi no preço. 

Acabamento, espaço interno, câmbio e consumo contribuíram para a derrocada do Nivus. 


 2º Honda HR-V EXL Honda Sensing 1.5 

Enquanto o Nivus venceu apenas três itens, o Honda HR-V foi melhor em cinco, um deles dividido com o próprio Volkswagen. No câmbio compartilhou a pontuação máxima com o Fiat Fastback. Os itens vencidos exclusivamente foram no acabamento, no espaço interno e no conforto (nível de ruído). 

Terceiros lugares no estilo, no porta-malas, no motor, desempenho, preço e assistência ajudaram a afastar o HR-V dos pontos do vencedor, o Fiat Fastback. Curiosamente, em três destes quesitos (motor, estilo e porta-malas) ele tinha vencido no comparativo de 2020. No desempenho tinha ficado em segundo.  É um reflexo do retrocesso que o HR-V sofreu em sua segunda geração. Trocou o motor 1.8 pelo fraco 1.5 aspirado (se tivesse turbo em todas as versões, a história seria diferente), ficou mais feio e encolheu o bagageiro. E ainda continua caro. 



 

1º Fiat Fastback Impetus Turbo 200 (1.0)

E a gambiarra venceu. E com sobras. O Fastback obteve seis pontos de vantagem sobre os rivais. A Fiat acertou ao montar o motor 1.0 turbo e o câmbio CVT no seu SUV-cupê. Além da maior potência e de um dos melhores câmbios (já que empatou com o Honda), o trem de força foi responsável pelo melhor desempenho e o menor consumo. O Fastback também tem o maior porta-malas, é o mais elegante e se beneficiou da rede de concessionárias maior da Fiat. 

A montadora italiana só errou ao não dotar o cupê fabricado em Betim (MG) de airbags de cortina, piloto automático adaptativo e de cobrar a mais pelo revestimento em couro dos bancos. Por isso, deixou de vencer na lista de equipamentos. Também não conseguiu ser o mais barato (mérito do Nivus) e perdeu no espaço interno para o HR-V. E por pouco ficou atrás do Honda no acabamento. 

Além do deslize na lista de equipamentos, o Fastback foi mal na frenagem e se mostrou muito ruidoso, seus únicos pontos fracos. Mesmo assim, a jabuticaba brasileira conseguiu derrotar com folga os cupês multinacionais. Calou a minha boca. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
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DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS