A moda de hoje na indústria automobilística são as luzes diurnas de LED. Marcas como a Volkswagen e BMW usam frisos iluminados na grade. Outras iluminam o chão e até projetam imagens no mesmo. Na virada dos anos 1980 para os 90, a mania era decorar os para-choques e para-lamas com luzes de neon, que deixavam os carros com aparência de letreiro de motel, alegoria de carnaval, árvore de natal ou de trenzinho da alegria (aquelas jardineiras com música infantil alta nas quais viajam o Pica-pau, o Pernalonga e até o Fofão). 

A tendência era tanta que Neon se tornou uma palavra forte, a ponto de batizar um veículo. E assim fez o grupo Chrysler, então independente, antes da parceria com a Mercedes, ao apresentar, em 1991, um conceito com este nome. Tinha teto arredondado, faróis redondos bem nos cantos do capô sem grade e quatro portas corrediças, com a da frente deslizando para um lado e a traseira para outro. Não chamaria tanta atenção se não fosse um sedã compacto (para os padrões norte-americanos). 


Neon Concept 1991


No Salão de Detroit de 1994, o Neon definitivo foi apresentado. Manteve os faróis redondos e o teto em arco. Mas ganhou uma discreta grade com as luzes de direção nas extremidades, que lhe davam um coeficiente aerodinâmico de 0,32x. Por outro lado, perdeu as portas corrediças, que foram trocadas por quatro de abertura convencional. A ousadia destas, para compensar, estava no recorte ascendente do vidro lateral traseiro, algo que a geração passada do Toyota Corolla também tinha, mas no Neon essa ascendência estava no formato da porta traseira. Aliás, nenhuma das portas tinha moldura. E por falar na parte de trás, o terceiro volume era reto e baixo, mas contrastava com o desenho semi-oval das lanternas, que também ficavam nas pontas, substituindo as ovais horizontais do conceito. O Neon de primeira geração media 4,36m de comprimento e 2,64m de distância entre-eixos.

No interior, de uma época em que não havia instrumentos eletrônicos, nem tela multimídia, o desenho do painel era mais criativo e não se limitava a dois tablets sobre uma bancada. Era um conjunto com quinas arredondadas e quadro de instrumentos integrado ao estilo. O painel das portas também era bem sofisticado e desnivelado. 

Apesar das críticas, o espaço interno no banco de trás era bom para os joelhos até de pessoas mais altas, mas só acomodava dois com conforto. Já o porta-malas tinha apenas 330 litros de capacidade (a Quatro Rodas ainda dava apenas 268 litros). Apenas o miolo do encosto do banco traseiro era rebatível. 


Hoje, das marcas de origem Chrysler, a Stellantis só vende no Brasil a Jeep e a RAM, de picapes (Chrysler e Dodge estão sem modelos por aqui). Nos Estados Unidos, naquela época, o grupo norte-americano tinha a Chrysler, a Dodge e a Plymouth entre as marcas de passeio (a RAM ainda não existia, sendo apenas o nome da picape grande da Dodge). E as três chamavam o sedã compacto de Neon, que chegou ao nosso país ainda em 1994, com importação independente. 

Somente em 1996, o Neon veio importado oficialmente, na carroceria de quatro portas, sob a marca Chrysler (usada para o mercado internacional) e, inicialmente, na única versão chamada LE, equipada com motor 2.0 de 16 válvulas, de 133 cavalos. O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de apenas três (o que era uma desvantagem, pois já existiam concorrentes com quatro). Logo depois chegou a opção com motor 1.8 de 115 cavalos, usado na Europa, apenas com câmbio manual. 


A revista Quatro Rodas testou esta versão e obteve 12,76 segundos de 0 a 100 km/h, 33,52 segundos de retomada de 40 a 100 km/h, 8,16 km/litro na cidade e 11,76 km/l na estrada de consumo e 31,5 metros de frenagem a 80 km/h. 

Também vieram as versões básica e Sport, esta última com rodas de alumínio, faróis de neblina e aerofólio. A versão básica 1.8 já vinha equipada com airbags frontais, ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, desembaçador traseiro e toca-fitas. Custava, naquela época, módicos R$ 31.337. 

Neon ACR

Em 1999 foi lançada a versão Highline, de acabamento mais luxuoso e mais equipamentos, como tocador de CD no porta-malas, que também tinha abertura remota. O motor 2.0 também era mais potente: com 147 cavalos, graças ao duplo comando das válvulas. 

Nos Estados Unidos, o Neon também teve uma carroceria cupê, de apenas duas portas, e as versões R/T (de Road and Track), com rodas cromadas ou brancas, faixas no capô e no teto (brancas ou azuis, dependendo da cor da carroceria para contrastar), aerofólio e defletor traseiros, além de som de maior qualidade, e a ACR (de American Club Racer), com rodas brancas, suspensão mais firme e o câmbio mais curto. 

Neon R/T


Segunda geração (1999)

A segunda geração, lançada em 1999, como modelo 2000, manteve o conceito estético do teto arqueado e o capô de único par de faróis redondos. A novidade é que toda a carroceria ficou mais arredondada, do capô a traseira, o teto ficou mais alto, os faróis se tornaram mais ovalados, a grade entre eles se alargou um pouco e os para-choques ficaram mais robustos. No entanto, o coeficiente aerodinâmico subiu para 0,34 Cx. Na traseira, as lanternas ficaram mais inclinadas e concentradas nos cantos. As portas passaram a ter molduras. O terceiro volume ficou mais curto e alto. O comprimento aumentou para 4,43 metros e a distância entre-eixos para 2,67 m. Não houve mais versão cupê. 


Por dentro, o painel ficou mais vertical, mas ainda com traços arredondados. O quadro de instrumentos cresceu. O acabamento das portas ficou mais liso. Espaço interno e porta-malas melhoraram um pouco, com o bagageiro subindo para 370 litros de capacidade.

Na mecânica, as duas versões do motor 2.0 continuaram as mesmas: com comando simples de válvulas de 133 cv e as de comando variável, de 150 cv (lá fora era mais potente). Já o 1.8, destinado ao mercado europeu, foi trocado pelo 1.6 16v Tritec, fabricado no Paraná, de 116 cv e que equipava a primeira geração da releitura do Mini, no início do século. O câmbio automático de três marchas também foi mantido, mas em 2002 foi, enfim, substituído pelo de quatro velocidades.


Para o Brasil, no entanto, só veio uma versão, a LE, em 2000, com motor 2.0 de 133 cv e o câmbio automático de três marchas. A revista Quatro Rodas de março daquele ano testou o Neon e obteve apenas 12,88 segundos de 0 a 100 km/h e retomada de 40 a 100 km/h em 9,38 segundos com ar condicionado ligado. O consumo era de 6,7 km/litro na cidade e 11,2 km/l na estrada, também com ar. A frenagem a 80 km/h era feita 28,7 metros e o ruído a mesma velocidade era de 64,5 decibéis com ar. Na lista de equipamentos, a novidade era o controle de tração.

Infelizmente, a segunda geração do Chrysler Neon no Brasil durou muito pouco. Apenas um ano depois do lançamento, o sedã médio deixou de ser importado, derrotado pelo preço elevado provocado pela alta do dólar. As mais de mil unidades vendidas em 1998 caíram para apenas 149 no ano seguinte. De 1996 a 2001 foram importadas 6 mil unidades.

Dodge Neon R/T
Neon ACR

Nos Estados Unidos, o Neon continuou a sua carreira, ganhando de volta as versões R/T, com motor 2.0 de 150 cavalos, rodas de 16 pol, defletor traseiro e suspensão esportiva, e ACR, esta até 2002. No ano seguinte, surgiu uma versão ainda mais apimentada: a SRT-4, com motor 2.4 turbo de 215 cavalos e 33,9 kgfm de torque, tomada de ar funcional no capô, aerofólio traseiro alto, rodas de 17 polegadas, bancos especiais, freios bem maiores e suspensão mais firme. Acelerava de 0 a 100 km /h em menos de 6 segundos e alcançava os 238 km/h.


Neon SRT-4


Naquele mesmo ano, um face-lift na versão Dodge deixou a grade maior, com os filetes cruzados, característica da marca, mais evidente. A marca Plymouth foi extinta. O Neon deixou de ser produzido nos Estados Unidos em 2005, sendo substituído  pelo crossover Dodge Caliber (desde aquela época os SUVs já ameaçavam os sedãs). Em 2016, o nome Neon voltou para batizar, no México e no Oriente Médio, o atual Fiat Tipo (ou Aegea), fabricado na Turquia.


Dodge Caliber

Voltando ao Brasil, no mercado de usados, segundo a tabela da FIPE, o Neon é cotado a partir de R$ 5.144, no modelo 1994, ainda de importação independente. O modelo com motor 1.8 em seu primeiro ano de importação oficial (1998) é avaliado em R$ 8.126. O último ano da segunda geração vendida aqui é cotado em R$ 14.939. O Neon é um carro confortável e gostoso de dirigir, mas é caro de se manter.  

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO




Dodge Neon mexicano, baseado no Fiat Tipo