O Peugeot 208 de segunda geração chegou ao mercado brasileiro por volta de outubro de 2020. Para a imprensa privilegiada foram apresentadas as versões com motor flex 1.6 de 16 válvulas, importadas da Argentina, após anos de produção em Porto Real, aqui no estado do Rio de Janeiro, e a elétrica, de foco esportivo, e-208 GT, que viria direto da França alguns meses depois. 

Aconteceu que a espera pela versão ligada na tomada se tornou longa demais. Demorou um ano para, enfim, os brasileiros poderem comprar o 208 elétrico. O motivo pode ter sido a transferência de produção para a Eslováquia e a necessidade de fazer volume para exportação. Aguardado ansiosamente pelo mercado e por mim, posso, enfim, fazer a avaliação ponto a ponto para o Guscar da versão mais esportiva do novo Peugeot 208. 


Estilo
êêêêê

Totalmente diferentes da geração anterior. as linhas do novo 208 são mais inspiradas no 205 (que o Brasil só conheceu no final de vida no início dos anos 90, apenas na versão GTi de duas portas) do que no igualmente clássico 206. As colunas laterais traseiras são largas e, com a inclinação do vidro traseiro forma-se um triângulo. Ainda tem os vincos na lateral da carroceria. A grade frontal é bem agressiva, ampla, mas baixa, com filetes pontilhados (na cor do carro na versão elétrica) e se sobrepõe à entrada de ar no para-choque. Os faróis são largos, de fundo preto e marcados por um pequeno refletor redondo e três feixes verticais, simulando as garras do leão. O das extremidades continua também verticalmente até o para-choque, imitando as presas do felino. E é tudo em LED. Na ponta do capô está a assinatura 208. A traseira tem lanternas horizontais escurecidas, também com três refletores em LED, mas vermelhos, ligadas por um friso preto. O estilo do 208 não é mais tão arredondado como o anterior, mas ainda é moderno. 



Acabamento
êêêêê

Para um carro compacto o acabamento do e-208 é perfeito. Tem material emborrachado tanto na parte superior quanto na central do painel, além de muitos apliques em preto brilhante, costuras aparentes e frisos iluminados por LED. A tela multimídia é de 10 polegadas e o quadro de instrumentos, ainda com conceito i-Cockpit, acima do volante, tem mostradores holográficos (ou em 3D). Pena que esses recursos (exceto o painel 3D, presente na top Griffe 1.6) e essa qualidade de acabamento sejam exclusivos da versão elétrica. 



Espaço interno
êê

É um pouco apertado no banco de trás. Até os passageiros baixinhos sentem. Imagine os mais altos. Na medição da revista Quatro Rodas, tem 84 cm de comprimento. Comparado a Renault Zoe, Mini Cooper e Fiat 500e, só é maior que o modelo italiano. Embora seja maior na largura que os concorrentes citados, apenas dois passageiros vão no banco de trás com mais conforto. A altura de 91 cm é a mesma de Mini e Zoe. No conjunto, o espaço interno é razoável. 



Porta-malas
êê

Com 265 litros, o porta-malas do 208 fica atrás dos 338 do Renault Zoe e dos 300 de Fiat Argo, Volkswagen Polo e Hyundai HB20. Logo, pode ser considerado razoável. 



Motor
êêê

Com 136 cavalos de potência e 26,5 kgfm de torque, só perde para os 184 cv e 27,5 kgfm do Mini Cooper SE. Já entre os modelos de combustão, o e-208 fica atrás dos 150 cavalos de Renault Sandero RS 2.0 16v e Volkswagen Polo GTS 1.4 TSI, dois modelos que têm perfil esportivo como o compacto elétrico da Peugeot, mas supera os dois em torque (20,9 e 25,5 kgfm, respectivamente). 



Desempenho 
êêê

O e-208 GT corresponde à proposta esportiva, mas tem desempenho no mesmo patamar dos seus principais rivais, tanto elétricos quanto a combustão. Fazendo o percurso de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos e de 80 a 120 km/h em seis segundos, segundo a revista Quatro Rodas, e comparado aos elétricos, ele só supera nas duas provas o Renault Zoe (9,1 segundos e 6,3 segundos, respectivamente). A retomada é a mesma do Fiat 500e, que tem aceleração dois décimos mais lenta (8,7 segundos). Só perde para o Mini Cooper SE (7,4 segundos e 4,8 segundos). A velocidade, porém, foi programada para se limitar a 150 km/h.

Mesmo menos potente (e bem mais pesado) que Polo GTS e Sandero RS, o e-208 é bem mais rápido que o Renault (10,1 segundos), mas tem praticamente a mesma retomada do Volkswagen, que é um décimo mais rápido e acelera em 8,9 segundos. O e-208 GT pesa 1.530 kg, enquanto o Sandero pesa 1.181 kg e o Polo 1.230 kg. Se não fosse tão pesado (por causa das baterias), o Peugeot seria muito mais rápido e teria uma avaliação bem melhor no desempenho, mas fez milagre ao ser mais rápido do que carros a gasolina pesando tanto. 



Consumo 
êêêê

A mídia vende os carros elétricos como uma promessa de economia, mas eles gastam bastante eletricidade. A baixa autonomia é a prova (340 km no Peugeot). Não vou nem compará-lo com o Polo GTS, que faz 11 km/litro na cidade. 

Ainda assim, o e-208 é econômico. Comparado aos seus concorrentes elétricos. Na cidade, a revista Quatro Rodas registrou um consumo de 7,8 km/kwh na cidade e 6,2 km/kwh na estrada. Supera o Mini Cooper SE em apenas 100 metros, mas perde para ele por 300 metros. O 500e se iguala ao Peugeot na estrada, mas fica bem atrás na cidade (6,4 km/kWh). 

O consumo urbano do e-208 quase alcança os 8,8 km/l do Renault Sandero RS, mas o rodoviário (12,8 km/l) é um pouco menos da metade. Ou melhor, do dobro. 



Segurança (Frenagem)
êêêê

Com uma boa dose de equipamentos de segurança e condução autônoma como seis airbags, alerta de colisão, frenagem automática de emergência, alerta e correção de permanência em faixa, reconhecimento de sinais de trânsito e piloto automático adaptativo, o e-208 GT merecia cinco estrelas. 

Mas a frenagem a 80 km/h em 25,7 metros, embora praticamente igual ao dos concorrentes elétricos, fica atrás dos esportivos a combustão Polo GTS (24 metros) e Sandero RS (23,1 metros), o que lhe custou uma estrela. Todos os números são da Quatro Rodas. 



Conforto (Nível de ruído)
êêêê

Além do consumo, eu tinha outra ilusão sobre os carros elétricos que se desfez nesta avaliação. Pensava que os carros movidos a eletricidade fossem bem mais silenciosos em movimento.

Com 60,1 decibéis a 80 km/h segundo a Quatro Rodas, o Peugeot e-208 GT até supera com folga Chevrolet Onix e Hyundai HB20, que emitem ruído na faixa de 62 decibéis, e o Volkswagen Polo (61,7 dBA), todos com motor 1.0 turbo. Não tenho o ruído do Polo GTS. O Sandero RS faz na faixa de 68 decibéis. E também os elétricos Fiat 500e (61,5), Renault Zoe (62) e Mini Cooper SE (67).  

Mas a minha decepção também vale para os seus concorrentes, pois eu esperava que um carro elétrico emitisse um ruído na faixa dos 50 decibéis ou menos que isso. Culpa do atrito, mas tem que carro a gasolina que faz em menos de 60 decibéis.


Preço
ê

Uma coisa é certa: o Peugeot e-208 é um carro caro. E não é só por ser elétrico. Comparando com os três concorrentes do gênero aqui mencionados, o preço do franco-eslovaco é o mais alto. Custa R$ 271.880, já incluída a pintura metálica. O preço de tabela é de R$ 269.990, mas ele só tem uma única opção de cor sem custo: a Preta Perla Nera. O Renault Zoe. que tem um porte semelhante, inclusive o único com quatro portas como o Peugeot, custa R$ 229.990. E o Mini Cooper S E, que é de uma marca premium consegue ser mais barato que o Peugeot: R$ 249.990. 

Apesar da inflação no setor automotivo, o 208 elétrico ainda está inacessível. O 208 Griffe 1.6, que é o mais caro, sai por R$ 116.880, uma diferença de mais de 150 mil reais. O Polo GTS custa R$ 141.975. O Sandero RS, que está saindo de linha, custa R$ 100.790, com pintura metálica incluída. É o principal ponto negativo do e-208 GT. 



Equipamentos
êêêê

Além dos itens de segurança já citados no respectivo tópico, o e-208 GT é equipado com assistência de farol alto, alerta de atenção e fadiga ao motorista, sistema ativo de monitoramento de ponto cego, retrovisor externo com desembaçador, freio de mão elétrico, cabo para carregamento domiciliar, acendimento automático dos faróis e acionamento automático dos limpadores de para-brisas, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, câmeras de ré e visão 180º, chave presencial, carregamento de smartphone por indução, plugue de carregamento rápido, câmbio tipo joystick, seletor de modos de condução (Eco, Normal e Sport), navegador GPS nativo no sistema multimídia de 10 polegadas compatível com Android e Apple e no quadro de instrumentos 3D, ar condicionado digital com função automático, teto solar panorâmico, trio elétrico, sistema de partida em rampa, bancos dianteiros com aquecimento e 6 alto-falantes. 

Com itens de conforto e auxílio à condução que até concorrentes elétricos não têm, o e-208 GT é quase completo. Só faltaram o estacionamento automático e o ajuste elétricos dos bancos dianteiros. Ou pelo menos o do motorista. 


Assistência

Aqui eu não vou avaliar a assistência e nem o número de concessionárias, como faço habitualmente nos comparativos. Apenas para informar sobre o prazo de garantia da Peugeot, que é de 3 anos, sem limite de quilometragem. Para as baterias é de 8 anos ou 160 mil km (o que ocorrer primeiro). Ambos os prazos são contados a partir da entrega do veículo. 


Conclusão
êêê

O Peugeot e-208 GT se destaca no estilo e no acabamento (principalmente), onde obteve classificação máxima. Também tem consumo, segurança (mais pelos equipamentos), ruído e lista de equipamentos muito bons. Motor e desempenho são satisfatórios. Seus pontos fracos são o espaço interno, porta-malas e o preço, que é o seu maior obstáculo e não apenas por ser elétrico. Com três estrelas de média (3,3 para ser mais preciso), o 208 elétrico é um bom carro. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS