O ciclo de vida médio de uma geração de um modelo europeu é de seis anos, com um face-lift em três anos. Na Ásia, mais especificamente nas montadoras japonesas e sul-coreanas, a duração é ainda menor e mal chega aos cinco anos. Nos Estados Unidos o prazo é incerto, podendo seguir o ciclo europeu ou asiático, dependendo do sucesso do modelo.
Já no Brasil, país mal investido pelas matrizes europeias e norte-americanas, uma geração pode chegar a 63 anos de duração. É o caso da Volkswagen Kombi, que teve apenas três face-lifts ao longo de todos esses anos. Já outros modelos com mais de vinte anos de carroceria básica tiveram inúmeras mudanças leves, como Opala e Fusca.
O último exemplo é o da Fiat Strada. Lançada em 1998, com base na primeira geração do Palio, a picape teve quatro face-lifts (2002, 2004, 2008 e 2013). Agora, em 2020, já está nas concessionárias a segunda geração, após 22 anos (!).
A plataforma da nova geração é do Argo (80% nova, segundo a Fiat, mas com traços do primeiro Palio, como na suspensão traseira). Portas dianteiras e para-brisas são do Mobi. O hatch subcompacto também inspirou o estilo dos faróis e da grade, que na picape estreia a assinatura FIAT sem o círculo na dianteira. De perfil e traseira, a nova Strada cabine dupla é praticamente uma versão em miniatura da Toro. Ela mede 4,48m de comprimento, 1,73m de largura, 1,60m de altura e 2,74m de entre-eixos. A Toro tem 4,94, 1,84, 1,68m e 2,99m, respectivamente.
A cabine passa a contar com quatro portas de abertura convencional e cinco lugares, se tornando a primeira picape compacta do mercado com esta configuração. A anterior tinha apenas três (a terceira porta era apenas uma porta de abertura para trás no lado do passageiro) e acomodava apenas dois passageiros no banco traseiro. Mesmo assim, ela já era uma pioneira. A cabine dupla só foi imitada pela Saveiro com duas portas.
A Strada também foi reestilizada na versão de cabine simples, agora chamada de Plus, que tem um espaço traseiro ligeiramente superior à antiga versão. Com o vidro vigia, a exemplo da Montana e da Saveiro 1997, a cabine estendida foi aposentada. Ela tem um centímetro a menos em comprimento, mas é um centímetro mais alta que a cabine dupla.
Além dos dois tipos de cabine, a Strada 2021 tem duas opções de motor (1.4 e 1.3 FireFly) e três de acabamento (Endurance, Freedom e Volcano). A seguir farei a habitual avaliação ponto a ponto, detalhando melhor o estilo, o motor, as versões e os preços.
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Como eu já disse, a nova Strada tem faróis e grade semelhantes ao Mobi. Mas é só uma inspiração. O conjunto ótico da picape é um pouco mais fino e tem LED na versão mais cara Volcano. Já a grade tem forma de canoa, aletas horizontais com a tela interna colmeiada e estreia a assinatura FIAT sem o círculo, uma identidade visual que debutou na traseira do Mobi em 2016. Ela ainda tem no canto inferior direito (do ponto de vista de quem olha) as antigas quatro barrinhas diagonais (que eram usadas no centro dos modelos da marca italiana até 2001), agora nas cores da Itália e em tamanho menor.
A frente da Strada ficou mais harmônica que a do hatch subcompacto e também em comparação com o conjunto ótico de dois níveis da Toro. As lanternas traseiras com prolongamento na lateral são muito parecidas com a da picape média, mas não são as mesmas. Vista integralmente, a nova picape tem um visual atraente e levemente arredondado, mas que pode ficar defasado em pouco tempo, por isso eu tirei uma estrela na avaliação.
Acabamento
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É o primeiro defeito da Strada. O acabamento tem muito plástico duro. O que salvam são as texturas diferenciadas, mas, ainda assim, muito discretas, principalmente na versão mais luxuosa Volcano, que merecia uma parte em material macio ou um revestimento em tecido nas portas. Para as versões voltadas ao trabalho, como na cabine simples, é até aceitável, mas nem tanto. O pior foi ter usado o quadro de instrumentos do Mobi e do Uno. Deveria ter usado o do Argo. Mas aí vem aquela contra-argumentação de que encareceria o projeto e blá, blá, blá...
Espaço interno
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Pela primeira vez, a picape Strada passa a ter uma cabine dupla de verdade, com capacidade para três passageiros no banco traseiro, portas traseiras com abertura convencional e espaço de verdade para as pernas. Para quem tem 1,60m a sensação de espaço é ótima. Mas de 1,70m para cima, a folga diminui e se torna apenas boa.
Caçamba
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A caçamba da nova Strada cabine dupla tem proteção de plástico, tampa única que desce levemente, iluminação interna, estribo-degrau para apoiar os pés e capacidade para 844 litros. Sua única concorrente é a Volkswagen Saveiro, um projeto de 2009, ainda com cabine dupla de apenas duas portas, lançada em 2014, que tem 580 litros. A superioridade da Fiat não chega ao dobro, mas é excelente. O mesmo vale para a versão de cabine simples, que tem 1.354 litros contra 924 litros da Volkswagen e 1.100 litros da Chevrolet Montana, a outra concorrente, derivada do antigo Agile, que ainda é vendida.
Motor e Câmbio
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Para não bater de frente com a Toro (e também reduzir custos), a Fiat optou por equipar as duas versões mais caras (Freedom e Volcano) da nova Strada com o mesmo motor 1.3 8v FireFly usado no Argo e no Cronos. Ficou muito fraco. Rende apenas 109 cavalos com álcool e 101 cv com gasolina. O 1.6 16v da Saveiro tem 110 cv com gasolina e 120 cv com álcool. A Chevrolet cometeu o mesmo erro em 2010 com o motor 1.4 da Montana. Deveria ter usado o 1.8 16v do modelo antigo (enquanto não vem o Firefly Turbo 1.3 ou 1.0), inclusive para a versão básica Endurance, deixando o 1.3 como uma opção mais barata e econômica. Esta versão ficou com o velho 1.4 8v de 85/88 cv. Pelas mesmas razões orçamentárias e estratégicas foi adotado o câmbio manual de cinco marchas, não havendo opção de automático nem para a topo de linha. Pelo menos, na transmissão, a Fiat planeja lançar um CVT no ano que vem. Mas o manual poderia ter seis marchas.
Desempenho
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A má escolha refletiu no desempenho e a Strada 1.3 acelera de 0 a 100 km/h em 13,1 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 21,5 segundos. Pelo menos, a retomada é melhor que a da Saveiro Cross 1.6, que fez em 24,4 segundos, mas a picape da Volkswagen acelerava em 12,4 segundos em um teste da revista Quatro Rodas (dona dos números da Strada também) de 2016. Na ocasião, ficou um décimo atrás da antiga Strada de cabine dupla, com motor 1.8, que retomou a velocidade em 22,9 segundos.
O desempenho da Endurance 1.4 é ainda pior: 14,4 segundos de aceleração e 25,6 segundos de retomada. A concorrente Montana 1.4 acelerava em 12,8 segundos.
Consumo
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Se não ajudou no desempenho, o motor 1.3 é econômico. Ainda pela Quatro Rodas, faz 12,9 km/l na cidade e 17 km/l na estrada. A Saveiro fez 9,9 e 15,5 km/l respectivamente.
A Strada 1.4 fez 11,4 km/l na cidade e 15 km/l. Aqui não deu para comparar com a Montana porque, em 2010, a Quatro Rodas testava seus carros com álcool, quando fez 6,8 km/l na cidade e 10 km/l na estrada, e agora com gasolina.
Frenagem (Segurança)
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A Strada é bem segura e traz de série, desde a versão Endurance de cabine simples, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, bloqueio eletrônico do diferencial e luzes diurnas de LED. Os airbags laterais só são oferecidos na cabine dupla. Na frenagem, segundo a Quatro Rodas, freia a 80 km/h em 24,1 metros, com 56,4 metros a 120 km/h. A Saveiro cumpriu essas provas em 26,2 e 59,7 metros, respectivamente. A Strada cabine simples para em 25,3 metros a 80 km/h e 58,1 metros a 120 km/h.
Nível de ruído
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Já no nível de ruído prevaleceu a baixa qualidade dos plásticos e o esforço do motor, ficando, na versão 1.3 cabine dupla, em 69,5 decibéis a 80 km/h e 75 decibéis a 120 km/h. Curiosamente, na versão 1.4 cabine simples, a média foi um pouco menor: 69,4 DBA e 73,5 dBA, respectivamente. A Saveiro cabine dupla fez 65,4 dBA e 73,4 dBA. A antiga Strada tinha 63,4 e 70,6 decibéis.
Preço êêê
Equipamentos de série êêê
Como já foi dito, a nova Strada chegou ao mercado com duas opções de carroceria, duas de motor e três de acabamento. Agora chegou a vez de detalhar versões, equipamentos de série e opcionais e preços.
A básica é a Endurance, com motor 1.4, que custa R$ 63.590 com cabine simples (ou Plus, segundo a Fiat) e R$ 74.990 com a dupla. Ambas vêm de série com controles de estabilidade e tração, assistente de saída em rampas, direção com assistência hidráulica, ar-condicionado, volante ajustável em altura, computador de bordo, luz de rodagem diurna halógena, protetor de caçamba e rodas de aço (pneus 195/65R15), grade de proteção do vidro traseiro, porta-escada e computador de bordo. Na Endurance cabine dupla, são acrescidos airbags laterais (de tórax e cabeça) e ganchos Isofix na traseira.
De opcionais ela tem o Pack Worker, com alarme e vidros e travas elétricas (R$ 2.500); o Pack Áudio, com rádio USB e comandos no volante (R$ 1.500), que não combina com o Pack Tech, com multimídia de 7”, sensores de estacionamento, câmera de ré, comandos no volante e tela TFT no painel (R$ 3.490). Se escolher um, tem que abrir mão do outro. Também são opcionais o protetor do cárter (R$ 200), a capota marítima (R$ 800) e as calotas (R$ 150).
Strada Endurance |
A intermediária Freedom usa o motor 1.3, custa R$ 69.490 com cabine Plus e R$ 77.990 com cabine dupla e adiciona assistência elétrica da direção, rádio com entrada USB, comandos de som no volante, alarme, capota marítima, chave canivete, tela TFT no quadro instrumentos, banco do motorista com ajuste de altura, travas, vidros e retrovisores elétricos, tela de 3,5 polegadas no quadro de instrumentos, monitoramento da pressão dos pneus, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, para-choque dianteiro, maçanetas e retrovisores na cor da carroceria. Na Freedom cabine dupla, são acrescidos airbags laterais (de tórax e cabeça) e ganchos Isofix na traseira. De opcionais tem apenas o pacote Tech, com a central multimídia, sensores de estacionamento e câmera de ré (R$ 2.990) e o protetor do cárter por 200 reais (de série na cabine dupla).
Strada Freedom |
Por fim, a Volcano 1.3, de R$ 79.990, só tem cabine dupla e adiciona vidros elétricos traseiros, central multimídia, segunda entrada USB, bancos com acabamento que mescla couro e tecido, pneus de uso misto, câmera de ré, sensor de estacionamento, volante em couro, faróis full LED, rack de teto longitudinal, barra de proteção na caçamba (santantônio) e pneus de uso misto (205/60R15). De opcional só as rodas de liga-leve de 16 polegadas com pneus 205/55R16, por R$ 2.500.
Em relação as cores, a única oferecida sem custo é a Preto Vulcano. A Branco Banchisa e a Vermelho Monte Carlo são sólidas, mas custam R$ 900. Prata Bari e Cinza Silverstone são metálicas que custam R$ 2.300. A Branco Alaska é a única perolizada, por R$ 2.500, que só está disponível para a Freedom de cabine dupla e a Volcano.
Em relação as cores, a única oferecida sem custo é a Preto Vulcano. A Branco Banchisa e a Vermelho Monte Carlo são sólidas, mas custam R$ 900. Prata Bari e Cinza Silverstone são metálicas que custam R$ 2.300. A Branco Alaska é a única perolizada, por R$ 2.500, que só está disponível para a Freedom de cabine dupla e a Volcano.
Strada Volcano |
A única rival com preço disponível, a Saveiro Robust cabine simples custa R$ 57.390 básica, mas para ter o ar condicionado e a direção hidráulica, que são de série na Strada, a Volks precisa ter um pacote de opcionais que custa R$ 8.040 e aí o preço já pula para R$ 65.430. Mas neste preço já estão incluídos vidros e travas elétricos, que são opcionais na Fiat e aí esta precisa do pacote Worker e das calotas, fazendo o preço passar para R$ 66.240. Já comparando com a Saveiro Robust cabine dupla, a Strada passa a ficar mais barata, porque a picape da Volkswagen com opcionais sobe para R$ 79.280 e a Strada, agora com capota marítima e o pacote Worker sai por R$ 78.440 e ainda oferece airbags laterais.
Na versão top, a Strada é ainda mais barata. Como o único opcional são as rodas de 16 polegadas, ela custa R$ 82.490, mas com a pintura perolizada Branco Alaska (R$ 2.500), ela vai a R$ 84.990. A Saveiro Cross 1.6 Cabine Dupla custa R$ 94.300, já com a cor metálica Azul Biscay incluída.
Já a lista de equipamentos da Strada não empolga tanto. Só tem de destaque os airbags laterais (e ainda disponíveis só para a cabine dupla), os controles eletrônicos de estabilidade e tração, o assistente de saída em rampa, a câmera de ré e o novo sistema multimídia com Android e Apple de conexão sem fio. Não tem sequer um ar condicionado digital e um piloto automático. Se não fossem os itens de segurança, só iria levar duas estrelas.
Conclusão
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Com destaque para a segurança, boa avaliação para estilo, caçamba e consumo, a Strada tem como defeitos o acabamento, o motor fraco, o desempenho e o ruído. Espaço interno, preço e lista de equipamentos ficaram com avaliação mediana. Ficou com três estrelas na média, o que a classifica como uma boa picape compacta, ainda com pouca concorrência (apenas da Saveiro).
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