Com estilo muito parecido com o do utilitário esportivo Q3, o Audi A3 Sportback, apresentado há duas semanas em fotos e informações (porque o Salão de Genebra foi cancelado por causa do coronavírus), é a quarta geração de um modelo lançado em 1996, apenas na carroceria hatch de duas portas, para marcar a volta da marca alemã ao segmento de compactos, ausente desde o fim de produção do 50, um Volkswagen Polo de primeira geração com os quatro anéis na grade, em 1978.

Desde então, o A3 foi ganhando carroceria de quatro portas, motores turbo com injeção direta, as versões esportivas S3 e RS3, novos equipamentos de conforto (como sistema multimídia) e segurança (como controlador de distância à frente e frenagem automática), uma carroceria conversível (sem capota) e outra sedã (três volumes), face-lifts e três novas gerações (2003, 2012 e agora em 2020). Foi fabricado no Brasil na primeira geração e na terceira, apenas como sedã.


Primeira geração (8L - 1996-2003)



A primeira geração, construída sobre a plataforma PQ34, a mesma do sedã A4 e da quarta geração do Volkswagen Golf, começou apenas com a carroceria hatch de duas portas. Chegou importado ao Brasil no início de 1997, somente com o motor transversal de quatro cilindros 1.8 de 20 válvulas (cinco por cilindro) e 125 cavalos. No segundo semestre veio o 1.8 turbo de 150 cv. Na Europa, também tinha motor 1.9 turbodiesel de quatro cilindros, 8 válvulas e 90 ou 108 cavalos. O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de quatro. A tração era exclusivamente dianteira. Já vinha equipado com ar condicionado digital e airbags frontais, mas ainda usava toca-fitas. Com o motor turbo vieram os airbags laterais e o sensor de estacionamento traseiro.



Foi fabricado no Brasil (em São José dos Pinhais, PR) a partir de 1999, junto com o Golf, ganhando uma versão mais simples com motor 1.6 de 101 cavalos. No ano seguinte ganhou uma carroceria de quatro portas. Foi o Carro do Ano de 2000 pela revista Autoesporte, quebrando uma sequência de 22 anos de títulos para uma panelinha de quatro marcas (Chevrolet, Fiat, Ford e Volkswagen). Para a linha 2001 vieram um face-lift - que só deixou os faróis com fundo escuro e os canhões de luz mais transparentes - e o aumento da potência do motor 1.8T para 180 cavalos.



Na Europa, o A3 ganhou a versão esportiva S3, ainda em 1999, com motor 1.8T de 210 cavalos (potência que aumentou para 225 cv em 2001) e tração integral Quattro (opcional em outras versões por lá).  O motor 1.9 turbodiesel passou a 130 cv e o 1.6 ganhou mais um cavalo de potência (102 cv). No ano seguinte ganhou câmbio manual de seis marchas e controles eletrônicos de estabilidade e tração. Em 2001 veio o câmbio Tiptronic, de acionamento por botões no volante. O A3 de primeira geração deixou de ser fabricado no Brasil apenas em 2006, quando a segunda começou a ser, enfim, importada, três anos depois de lançada na Europa.




Segunda geração (8P - 2003-2012)

Com a nova plataforma PQ35, usada no quinto Golf (inexistente por aqui) e no primeiro Jetta vendido no Brasil (a partir de 2006), o segundo A3 foi lançado no Salão de Genebra de 2003, mais uma vez, apenas na carroceria hatch de duas portas. Tinha linhas mais arredondadas, criadas por Walter De Silva, mas ainda inspiradas na primeira geração. A grade ficou maior, embora continuasse concentrada entre os faróis, que mantiveram o formato retangular, mas ficaram mais inclinados, com os canhões de luz transparentes (máscara escura), só que agora integrados ao desenho do capô. As lanternas traseiras ficaram mais baixas.



Como novidade mecânica, os motores passaram a ter turbo e injeção direta (TFSI) nas cilindradas 1.2 (104 cv), 1.4, 1.8 (158 cv) e 2.0 e apenas injeção direta, sem turbo, nos motores 1.6 e 2.0. O 2.0  TFSI tinha 200 cavalos. Também ganhou um V6 3.2 litros de 250 cavalos (VR6). Entre os turbodiesel, havia o 1.6, 1.9 e 2.0 (138 ou 168 cv). Além da tração integral Quattro, ganhou a opção de câmbio automatizado de dupla embreagem S-Tronic de seis ou sete marchas. Havia também câmbio automático de seis marchas e manual de cinco ou seis velocidades.



Em 2004 foi lançado o A3 Sportback, o hatch de quatro portas que era mais longo (4,29m de comprimento contra 4,22m do duas portas). A grade passou a invadir o para-choque, embora separada por uma barra fosca onde ficava a placa de licença. Na traseira, as lanternas tinham prolongamento mais fino na tampa do porta-malas, que era maior (370 litros).



O S3 ressurgia em 2006, nas versões de três e cinco portas, com motor 2.0 TFSI de 265 cavalos e tração integral. Naquele ano, a segunda geração do A3 chegava ao Brasil, agora importado, apenas na carroceria de cinco portas (a de duas só chegaria em 2010, chamada de Sport). A frente de grade estreita até o para-choque era estendida ao duas portas. 






Em 2008, além do discretíssimo face-lift (os faróis ganharam novo arranjo de refletores e luzes diurnas de LED), o A3 ganhava uma carroceria Cabriolet, que não chegou a vir para o nosso país nesta segunda geração (só na terceira).









Em 2011, o RS3 marcava a despedida da segunda geração, com um motor 2.5 de cinco cilindros TFSI de 340 cavalos, eleito o Motor do Ano acima de 2.0 pela revista Autoesporte. O esportivo tinha rodas de 19 polegadas, grade em forma de colmeia, para-choque dianteiro com grande aberturas laterais, retrovisores externos com acabamento em alumínio, bancos concha com muito apoio lateral, encosto integrado e costuras vermelhas, volante com base achatada, som BOSE e controle de estabilidade com modo Sport. Apenas 20 unidades foram vendidas no Brasil.






Terceira geração (8V - 2012-2020)

Agora usando a plataforma modular MQB (do sétimo Golf, que voltou ao Brasil, após duas gerações ausente), a terceira geração do Audi A3, apresentada no Salão de Genebra de 2012, pela terceira vez, começou com a versão hatch de duas portas. A grade continuou extensiva até o para-choque, mas ficou menos arredondada nos cantos superiores. Já os faróis adotaram um desenho trapezoidal, com luzes diurnas de LED de aparência zangada. As lanternas traseiras ficaram mais finas e alinhadas com o prolongamento na tampa do porta-malas (que formava um relevo sobre o suporte da placa), assumindo de vez um formato horizontal. 




O interior manteve o painel de saídas de ar redondas usadas desde a segunda geração, mas a tela multimídia (MMI), antes integrada ao console, passou a ser retrátil (só na versão mais completa) e destacada no alto do tablier. No console, havia um touch pad que permitia escrever números com os dedos, mas havia comando de voz. O display do ar condicionado ficou mais fino.

As novidades tecnológicas foram o controle de velocidade adaptativo, o alerta de colisão (que avisa e chega a frear o carro) e o Drive Select, sistema com cinco modos de condução. Também era equipado com câmeras 360º, teto solar panorâmico elétrico de cristal (só na Europa), freio de mão elétrico e faróis de xenônio. Os primeiros motores eram o 1.4 de 122 cv e o 1.8 de 180 cv, ambos TFSI. Uma nova tecnologia era o desligamento parcial dos cilindros. A diesel tinha o 2.0 TDI de 150 cv. O câmbio passou a ser automatizado de dupla embreagem e sete marchas (S-Tronic).



A versão de quatro portas Sportback foi apresentada ainda em 2012, no Salão de Paris. Como na geração anterior, era mais longa (4,31m contra 4,24m) e também tinha mais distância entre os eixos (2,64m contra 2,60m). O porta-malas também era maior, com com 380 litros (o duas portas tinha 365 litros). Aqui no Brasil, as duas carrocerias do A3 de terceira geração chegaram em 2013. O duas portas era chamado de Sport, mas em 2014 parou de ser importado. 





Naquele mesmo ano, vieram duas novas carrocerias do A3 para o Brasil. Uma inédita para nós, que era a conversível Cabriolet, com motor 1.8 TFSI de 180 cavalos. A outra inédita para todo o mundo: o Sedan, que é (pois ainda existe) mais longo, mede 4,46m de comprimento e tem porta-malas de 425 litros.




Primeiro, importamos, a partir de janeiro de 2014, o três volumes da Hungria, com o mesmo motor 1.8 TFSI e câmbio automatizado de sete marchas. A versão única Ambition vinha equipada com ar condicionado digital de duas zonas com saída para o banco traseiro, retrovisor interno anti-ofuscante, bancos em couro (sintético), banco do motorista com ajustes elétricos, teto solar panorâmico, faróis de xenônio, airbags frontais, laterais e de joelhos, controles de tração e estabilidade, sistema start-stop (que desliga e religa o motor nas paradas breves, presentes também no Sport e no Sportback), partida sem chave e por botão e som com tela retrátil de 7 polegadas, que trazia navegador e Google Street View. Meses depois (em maio) chegaram duas versões com motor 1.4 TFSI.(básica e Attraction) e a esportiva S3 (em agosto), com motor 2.0 TFSI de injeção dupla direta, rendendo 280 cv e tração integral Quattro, eleito Carro Premium do Ano 2015 pela Autoesporte.








Em 2015, o Sedan passou a ser fabricado em São José dos Pinhais, mais uma vez dividindo a linha de produção com o Golf (de sétima geração) e depois, também, com o utilitário esportivo Q3. Se, por um lado, o motor 1.4 TFSI passou a ser flex e render 150 cavalos, por outro, o negativo, o câmbio automatizado de sete velocidades foi trocado por um automático de seis e a suspensão traseira, antes independente e multibraço, passou a ser de eixo de torção. Veio em duas versões: Attraction e Ambiente, que trazia como novidades câmera de ré e assistente de estacionamento. O ar condicionado digital no modelo nacional só foi adotado na versão Ambition, com motor 2.0 TFSI de 220 cv e a volta do câmbio automatizado, mas com seis marchas.





No ano seguinte, o RS3 Sportback voltava ao mercado, agora na terceira geração, com motor de cinco cilindros 2.5 TFSI de 367 cavalos e câmbio de sete marchas. Um face-lift deixou os faróis com desenho mais rasgado e o quadro de instrumentos virtual para toda a linha em 2017. Em 2018 chegou o RS3 Sedan, com o mesmo 2.5 TFSI, agora com 400 cavalos (!), encerrando o ciclo evolutivo da terceira geração do Audi A3.









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Quarta geração (2020)

A quarta geração, ainda baseada na plataforma modular MQB, também reaproveitada no oitavo Golf, é apresentada na carroceria de quatro portas pela primeira vez na história do modelo. É que a Audi decidiu não produzir mais a carroceria hatch de duas portas, que iniciou as três gerações anteriores. O sedã e o conversível ainda não têm previsão de lançamento. 


O novo modelo seria apresentado ao público no Salão de Genebra de 2020, mas o evento foi cancelado por causa da disseminação do coronavírus (que ainda não tinha recebido a classificação de pandemia) e, portanto, a apresentação foi por fotos e informações. 

Embora mantenha as linhas do anterior, a impressão é que ele ficou mais musculoso e alto, lembrando o crossover Q3, representante de um gênero que, se  não acaba com outros como sedãs, peruas e cupês, influencia no estilo. Os faróis ficaram ainda mais zangados e a grade mais hexagonal e parruda, sem estar integrada ao capô, como na primeira geração. As luzes de LED marcam o desenho dos faróis (onde há a tecnologia Matrix) e lanternas. 



Por dentro, após duas gerações, as saídas de ar do painel deixaram de ser redondas e passaram a ter distribuição assimétrica. Duas, de formato hexagonal, envolvem o quadro de instrumentos eletrônico (já presente no face-lift da geração anterior). E agora há uma horizontal por toda a área do carona, acima do porta-luvas. Antes destacada, retrátil e de 6 ou 7 polegadas, a tela multimídia agora tem 10 polegadas, está no centro do painel, em um suporte flutuante, um pouco abaixo do quadro de instrumentos e voltada ligeiramente para o motorista. O sistema multimídia em si tem internet WiFi e comunicação com sinais de trânsito e aparelhos celulares, que podem ser a chave do carro. De recursos tecnológicos, a maior novidade é o sistema que ajuda o carro a desviar automaticamente de obstáculos, mas ele ainda tem piloto automático ativo, frenagem automática de emergência (estes dois de série), estacionamento automático e alerta de tráfego cruzado (que são opcionais). 



A quarta geração só decepcionou por não oferecer logo no lançamento motorizações híbridas (motor a combustão mais motor elétrico recarregável), presentes nas novas gerações dos irmãos de plataforma Volkswagen Golf e Seat Ibiza e até na geração anterior (como o A3 Sportback E-Tron). Os motores continuam sendo a gasolina, agora 1.5 TSI de 150 cavalos, e turbodiesel 2.0 de 115 e 150 cv, assim como o câmbio automático permanece o S-Tronic automatizado de sete marchas. 

Como as duas outras carrocerias, as versões híbridas, elétricas e as esportivas S3 e RS3, além da tração integral Quattro, chegarão futuramente. O Brasil talvez só tenha a versão sedã e as esportivas.

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO