A Alfa Romeo abandonou o Brasil, pela primeira vez, em 1986, quando foi encerrada a fabricação do sedã grande 2300 Ti em Betim, unidade da Fiat, que já controlava a filial brasileira da conterrânea italiana desde 1978. Ela a trouxe de volta em 1993, importando o sedã também grande 164.

Em 1995, a Fiat ampliou a linha Alfa Romeo por aqui e passou a importar, também, o sedã médio-esportivo 155 (famoso nas corridas de turismo inglês (BTCC) e alemão (DTM)) e o 145. Este último era um hatch compacto de estilo ousado e reto, de cantos arredondados e linha de cintura alta, desenhado por Chris Bangle, americano que provocaria polêmica na BMW no início dos anos 2000. Tinha ampla janela lateral (a dianteira tinha uma descida na base e a traseira era dividida por um vidro basculante), capô terminando no cuore característico da marca italiana, dividindo a grade interna em duas, vidro traseiro com base em V e lanternas horizontais com prolongamento na tampa do porta-malas. 



O Alfa 145 foi lançado na Itália em 1994 e, no mercado europeu, tinha versões com motores boxer 1.4, 1.6, 1.7 e 2.0 transversal Twin Spark, com duas velas por cilindro e 16 válvulas (4 por cilindro). A plataforma era a mesma do Fiat Tipo, considerado um hatch médio, mas, para os padrões da Alfa Romeo, o 145 era um hatch compacto. Media 4.09m de comprimento, 1,71m de largura, 1,44m de altura e 2,54m de distância entre-eixos. 

No ano seguinte foi lançado um notchback (sedã de terceiro volume curto) de quatro portas sobre a mesma base e o mesmo estilo frontal, chamado 146, só que desenhado por Walter De Silva, que se tornaria famoso na Volkswagen e na SEAT. 




Para o Brasil, entretanto, o 146 nunca veio, chegando apenas o 145, com o motor 2.0 Twin Spark, de 150 cavalos, câmbio manual e tração dianteira na versão Elegant, no final de 1995. No ano seguinte veio a versão esportiva Quadrifoglio, com o mesmo motor, diferenciando-se pelas saias laterais e o logotipo do trevo de quatro folhas (daí o nome em italiano). 



O interior tinha portas revestidas com veludo, apesar do plástico duro na parte superior e no painel, que tinha o gabinete central vertical e mais próximo ao motorista, com saídas de ar centrais inicialmente retangulares, prolongando-se no topo, semelhante ao Fiat Grand Siena. Os difusores das extremidades ficavam nas portas. Havia também um duto para o banco traseiro, hoje presente em alguns modelos compactos, mas ausente em muitos modelos de luxo. O quadro de instrumentos era espaçado e tinha hodômetro digital. Volante (de três braços) e alavanca do câmbio eram revestidos em couro. Havia também bolsas para objetos nos bancos dianteiros.


O Alfa Romeo 145 Quadrifoglio vinha equipado com direção hidráulica, volante e banco do motorista com regulagem de altura, vidros, travas e retrovisores elétricos, vidros verdes, abertura interna do porta-malas, banco traseiro bipartido, bloqueio eletrônico do motor, check-control, faróis de neblina, limpador e lavador do vidro traseiro, rádio com toca-fitas, retrovisores externos aquecidos, rodas de liga leve de 15 polegadas e freios ABS, ainda uma novidade na época. Aliás, todos os equipamentos eram luxos naquela época, principalmente o ar condicionado, os dois airbags frontais, alarme antifurto, dois apoios de cabeça no encosto do banco traseiro, revestimento em couro dos bancos e teto solar elétrico, que eram opcionais. Custava 36.400 dólares o básico e US$ 44.770 com os extras.

O 145 tinha um bom desempenho, com aceleração de 0 a 100 km/h em 9,73 segundos e alcançava 203,4 km/h, segundo o teste da revista Quatro Rodas. A frenagem a 80 km/h era feita em 27,9 metros e o nível de ruído a mesma velocidade de 61,8 decibéis. Também bom era o consumo de 10,40 km/l na cidade e 12,96 km/l na estrada, vazio. 



Outros pontos fortes eram a estabilidade, a dirigibilidade e os engates precisos do cambio. Já os pontos cegos, apesar da ampla área envidraçada, o espaço interno apertado e o porta-malas de apenas 210 litros eram vistos como defeitos deste esportivo, que ganhou saídas de ar internas redondas e teve, na versão Elegant, uma redução de cilindrada e potência do motor TwinSpark para 1.8 de 138 cavalos em 1998 e passou por um face-lift com novos para-choques em 1999, ano em que deixou de ser importado, por conta da primeira alta do dólar. 



Um Alfa 145 Elegant 1996 hoje está cotado em cerca de 8,1 mil reais no mercado de usados, segundo a FIPE. A versão Quadrifoglio é avaliada em R$ 11.122. O modelo 1999 da mesma versão vale R$ 14.031. Se o preço em dólar do modelo completo zero quilômetro fosse convertido hoje, o 145 estaria custando quase R$ 197 mil. 

A Alfa Romeo deixou o mercado brasileiro em 2006 e, desde então, a sua volta é especulada, mas nunca concretizada, com modelos como os hatchs MiTo (compacto feito sobre a base do Punto italiano) e Giulietta (médio), o sedã médio Giulia, o cupê esportivo 4C e o utilitário esportivo Stelvio, o que deixa a marca italiana de Milão na eterna lembrança nacional e o 145 na condição de ícone dos anos 1990. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO