Ao invocar o Deus do Tempo para batizar o seu novo sedã, derivado do Argo, a Fiat quer que o Cronos seja o Deus do segmento de sedãs compactos, ajudando a marca italiana a recuperar a liderança do mercado e proteger seu novo modelo do ataque do forte Volkswagen Virtus.

Assim como o rival com o Polo, o Cronos pretende se distanciar do Argo. Visualmente, é o que mais apresenta diferenças na frente: o capô tem mais vincos e é mais avançado, a grade tem um friso horizontal cromado e colmeia mais discreta. Por fim, o para-choque apresenta uma distribuição distinta da carenagem. Mas os faróis, com luzes diurnas de LED, são os mesmos.



No entanto, a lateral é tão conservadora quanto o hatch. O teto ficou mais alto e a caída para o terceiro volume é mais íngreme porque o Cronos tem a mesma distância entre-eixos do Argo: 2,52m. Fazer uma caída de "cupê" como a do Virtus traria uma perda de espaço interno para a cabeça e exigiria mais lataria e comprimento que os seus 4,36m (o Argo tem quatro metros exatos), menor que o Virtus.


A traseira também tem lanternas horizontais, com assinatura em LED e prolongamento na tampa do porta-malas, como o irmão e o rival, mas são maiores que este, e, com o desnível sobre a placa, acabou ficando igual ao Volkswagen, lembrando também o Audi A3. Ficaria mais original se fosse parecida com o Tipo europeu. No entanto, esteticamente, o Cronos ficou mais atraente que o Argo.


Fiat Tipo

O interior é praticamente o mesmo do hatch, com o painel de saídas de ar circulares e as dos cantos ovais e direcionadas para o passageiro, a tela multimídia destacada, e a tela TFT de sete polegadas (opcional) no quadro de instrumentos. Claro que há umas sutis diferenças, como a faixa central do painel em vinho (cinza no Argo Precision e no próprio Cronos Drive e vernelha na versão HGT). A Fiat não foi capaz de oferecer um revestimento mais macio ou emborrachado. O Cronos poderia ter mais este diferencial. Mas tem texturas no plástico duro e a montagem é boa.


O banco traseiro também é diferente do Argo, sendo mais alto, permitindo mais espaço para as pernas, que é bom, mas está atrás do Virtus. No porta-malas, entretanto, o Cronos superou o rival por apenas quatro litros: tem 525 litros de capacidade, mas boa parte é perdida por causa das hastes "pescoço de ganso". Pelo menos tem revestimento na parte interna da tampa.




Por enquanto, o Cronos não terá motor 1.0. Muito menos uma versão esportiva, como a HGT do Argo. Já está à venda, importado da Argentina, com o 1.3 FireFly de 101 e 109 cavalos nas versões básica e Drive, além do 1.8 E.TorQ de 135/139 cv da versão Precision. O sistema Start-stop, que desliga o motor nas paradas de trânsito é de série no 1.8, mas opcional no 1.3.  A Drive tem opção do câmbio automatizado GSR (antes chamado de Dualogic), com apenas uma embreagem, cinco marchas e botões no console em vez da tradicional alavanca. A Precision tem um automático de verdade com seis marchas. A caixa manual continua com cinco marchas em ambas as versões.

A revista Quatro Rodas, testou o Drive 1.3 com câmbio manual em um comparativo contra o Virtus na sua edição de março. A aceleração de 0 a 100 km/h em 12,9 segundos é praticamente a mesma do rival, mas a retomada entre 80 e 120 km/h em 20,5 seg. ficou cerca de 2 segundos atrás. No consumo, registrou média de 13,6 km/l na cidade e 15,6 km/l na estrada, com gasolina. Foi mais econômico no ciclo urbano, mas gasta mais combustível no rodoviário. No saldo, acabou perdendo também na soma dos percursos. A frenagem em 28,9 metros a 80 km/h também é igual a do Virtus.


O Precision 1.8 automático foi testado pela revista Carro em um comparativo no mesmo mês. Com 11,6 segundos, a aceleração está no mesmo patamar do Honda City 1.5 e do Chevrolet Cobalt 1.8. Só o Virtus 1.0 turbo que se sobressaiu. Mas a retomada em 8,5 segundos só foi mais rápida que o modelo da GM. A mesma situação se repetiu no consumo de 7 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada com álcool. A frenagem a 80 km/h em 26 metros é apenas trinta centímetros mais rápida que o City e ambos ficaram para trás do Virtus e do Cobalt. O ruído de 59,9 decibéis também empatou com o Honda, mas, neste caso, foram melhores.


O Cronos custa a partir de R$ 53.990 em uma versão básica, que atende apenas pelo nome do modelo, apresentada depois do lançamento para a imprensa. Tem de série ar condicionado, direção elétrica, tela multifuncional de 3,5 polegadas no quadro de instrumentos, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, alertas de limite de velocidade e manutenção programada, apoio para o pé do motorista, que também tem seu banco com regulagem em altura, chave canivete com controle remoto das portas, vidros e porta-malas, cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça para o banco traseiro, computador de bordo, sinalizador de frenagem de emergência, follow me home, gancho ISOFIX para cadeirinhas, iluminação do porta-malas, sistema de monitoramento da pressão dos pneus, tomada 12V e rádio AM/FM com Bluetooth, USB e comandos no volante regulável em altura. As rodas são de aço com calotas e têm 15 polegadas.


A versão Drive custa 2 mil reais mais (R$ 55.990) e adiciona entradas USB atrás e o sistema multimídia UConnect, com tela de sete polegadas, reconhecimento de voz e conexão com Android e Apple.


Esta versão tem opcionais, como o Kit Stile (rodas de liga-leve de 16 polegadas, faróis de neblina e banco traseiro bipartido) por R$ 2.990, Kit Parking (sensor de estacionamento traseiro e câmera de ré) por R$ 1.600, Kit Convenience (retrovisores elétricos com luzes indicadoras e tilt down e vidros traseiros elétricos com um toque e anti-esmagamento) por R$ 1.990 e alarme antifurto por R$ 650.

Com o câmbio automatizado GSR, a versão Drive custa R$ 60.990 e adiciona borboleta atrás do volante, Hill Holder (controle eletrônico do freio em subidas), sistema start-stop, piloto automático e controles de estabilidade e tração. Os opcionais são os mesmos, com exceção do pacote Convenience, que passa a ser de série.


A Precision 1.8 custa R$ 62.990 e passa a contar com regulagem de alcance do volante, faróis com luzes diurnas em LED, rodas de liga leve aro 16 polegadas, faróis de neblina e sensor de estacionamento. O kit Stile passa a custar R$ 3.500 e muda seus itens para cromados nas maçanetas e frisos da porta, revestimento em couro sintético dos bancos e rodas de 17 polegadas. Outros opcionais são os airbags laterais (R$ 2.600), somente a câmera de ré (R$ 650) e o kit Tech, por R$ 3.990, que tem entrada sem chave e partida por botão, retrovisores com rebatimento elétrico e iluminação, ar condicionado digital, tela de 7 polegadas no quadro de instrumentos, sensores de chuva e faróis e retrovisor interno eletrocrômico.

A Precision 1.8 automática (também conhecida como AT) acrescenta detalhes externos cromados, luzes ambientes, maçanetas cromadas, volante em couro, piloto automático (ausente no manual), apoio de braço para motorista e câmbio automático com seis marchas e mudanças manuais no volante (paddle shifts) ou alavanca. Os R$ 69.990 não são o preço final porque os airbags laterais, a câmera de ré e os Kits Tech e Stile continuam opcionais, sendo que este último baixa para R$ 3.100 com a oferta de série dos cromados.


Com a versão top completa, o Fiat Cronos chega aos R$ 77.730, mas ainda tem a escolha da pintura metálica ou perolizada. No Precision há três opções de sólidas: Preto Vulcano, Vermelho Alpine e Branco Banchisa. Cinza Scandium, Preto Vesúvio e Prata Bari são as metálicas, que custam R$ 1.700. Com a perolizada Vermelho Marsala ou Branco Alaska, que custam R$ 2 mil, o Cronos quase chega a 80 mil reais (R$ 79.730).

O problema é que da Precision manual para baixo, o vermelho e o branco custam R$ 500. Uma praga que se instalou em montadoras e importadoras de cobrar pela pintura sólida. O Procon deveria ficar de olho e intervir nisso. Garantia estendida além dos três anos (quatro planos a partir de R$ 822), revisão personalizada (diversos planos a partir de R$ 810) e assistência 24 horas (também em diversos planos a partir de R$ 289) também são cobrados. 

Mesmo com esse abuso, o Cronos ainda custa mais barato que o Virtus Highline 1.0 TSI completo (R$ 87.040) e o Honda City EXL (R$ 83.400), mas é mais caro que o Chevrolet Cobalt 1.8 LTZ (R$ 73.890).



O Cronos também concorre com o Chevrolet Prisma 1.4 LTZ (de R$ 57.190 a R$ 70.740), o Ford Ka Sedan SE 1.5 (R$ 53.750 a R$ 62.550) e o Hyundai HB20S (de R$ 56.630 (1.0 turbo) a R$ 72.230 (1.6)), mas estes modelos batem mais de frente com o Drive 1.3, que custa até R$ 68.230 com o câmbio automatizado, que também pode concorrer com o Virtus 1.6 (R$ 59.990 a R$ 64.390) e o City DX (R$ 60.990).  Outro concorrente chegará no final do ano: o Toyota Yaris.



Se, por enquanto, o Cronos não é o Deus do mercado de sedãs, futuramente será o único sedã da Fiat, se esta tirar subitamente o Grand Siena, que ainda continua com a versão Attractive 1.0 e 1.4, como fez com o Palio, e não tomar vergonha na cara e lançar o novo Tipo no Brasil.


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTAS QUATRO RODAS E CARRO