Difícil imaginar, mas o Ford Ka atualmente vendido no mercado brasileiro como um hatch e sedã compacto, em sua terceira geração, nasceu como um microcarro há 21 anos, chegando à sua maioridade.
Tudo começou na Europa, com o conceito Ka:, um simpático carrinho bem arredondado, quase igual a um Fusca, que a Ford apresentou no Salão de Genebra de 1994. O protótipo tinha faróis redondos e lanternas e grade do radiador ovais, seguindo o conceito estético da marca na época. Queria ser também um sucessor simbólico do Volks, que também renascia naquele salão através do conceito Concept 1 (o embrião do New Beetle).
O conceito vermelho chamou muita atenção dos visitantes, correspondendo às expectativas da montadora de origem norte-americana, que já tinha planos de lançar um veículo urbano, econômico e barato para concorrer com o fenômeno Renault Twingo, lançado dois anos antes.
Apesar do sucesso, a Ford retrabalhou no projeto do Ka:. Trocou os faróis redondos por um conjunto triangular que envolve a lateral, esticou e afinou a grade na frente, tornou as janelas laterais mais pontudas, enquanto que atrás achatou a tampa do porta-malas e colocou lanternas em formato de olho. Por fim, dividiu os dois pára-choques em três partes, para facilitar a reposição. Manteve a plataforma do Fiesta (geração 1995-2001), mas quebrou a modernidade equipando-o com o velho motor Endura 1.3 (derivado do usado no Escort 1968) na posição transversal e finalmente colocou no mercado o KA.
Antiguidade do motor à parte, a Ford aproveitou para inaugurar o seu novo conceito estético o qual rebatizou de New Edge, que continuaria com a primeira geração do Focus, a segunda do Mondeo e o Fiesta 2002.
A versão definitiva do primeiro Ka acabou ficando com um estilo de pirâmide, combinando com a origem egípcia do seu nome, que significa "Alma" ou "Espírito" (do Fusca, de preferência). Chegou ao mercado europeu em setembro de 1996.
Seis meses depois, em março de 1997, o pequeno KArro já estava no Brasil, fabricado em São Bernardo do Campo. Eram bons tempos aqueles em que as montadoras daqui se preocupavam em lançar rapidamente modelos atualizados como o Vectra, o próprio Fiesta, Golf e o Astra.
O Ka brasileiro, felizmente, surgiu idêntico ao europeu. Tinha os mesmos 3,62m de comprimento, 1,64m de largura, 1,41m de altura, o mesmo desenho das calotas e o mesmo interior de painel arredondado, com o seu inovador porta-luvas removível e acabamento simples, com lataria aparente na parte interna da porta. Mas se era simpático na Europa, aqui ganhou o apelido de três Luizas: Luiza Brunet de frente (bela), Luiza Thomé de perfil (elegante) e Luiza Erundina de traseira (feia).
O Ka brasileiro, felizmente, surgiu idêntico ao europeu. Tinha os mesmos 3,62m de comprimento, 1,64m de largura, 1,41m de altura, o mesmo desenho das calotas e o mesmo interior de painel arredondado, com o seu inovador porta-luvas removível e acabamento simples, com lataria aparente na parte interna da porta. Mas se era simpático na Europa, aqui ganhou o apelido de três Luizas: Luiza Brunet de frente (bela), Luiza Thomé de perfil (elegante) e Luiza Erundina de traseira (feia).
Apesar do seu tamanho diminuto, o espaço para as pernas atrás era satisfatório para o seu porte. Isso foi possível porque as rodas foram projetadas para ficarem nos extremos da carroceria, proporcionando uma distância entre-eixos de 2,45m, um centímetro maior que o Fiesta. Um passageiro no meio até viajava, mas ia apertado e apertava os demais. Por isso, era recomendado para apenas dois passageiros no banco traseiro. O defeito era o porta-malas exíguo de 182 litros. Aí já seria querer demais.
As únicas diferenças para o europeu foram a denominação de acabamento CLX que recebeu apenas no Brasil e a lente das lanternas de acordo com a nossa legislação. O motor foi o mesmo de lá: o velho Endura 1.3 de 60 cv, que aqui equipava o Fiesta. Só perdeu um pouco de torque por causa da nossa "bendita" gasolina: 10,4 contra 10,7 kgfm, além de precisar de mais rotações. Cumpria a promessa de ser um carro econômico ao fazer a média de consumo de cerca de 13 km/l. A campanha publicitária de lançamento do Ka também era ousada como o seu estilo. Na televisão, quando que ele passava, o cenário voltava ao início do século XX.
As únicas diferenças para o europeu foram a denominação de acabamento CLX que recebeu apenas no Brasil e a lente das lanternas de acordo com a nossa legislação. O motor foi o mesmo de lá: o velho Endura 1.3 de 60 cv, que aqui equipava o Fiesta. Só perdeu um pouco de torque por causa da nossa "bendita" gasolina: 10,4 contra 10,7 kgfm, além de precisar de mais rotações. Cumpria a promessa de ser um carro econômico ao fazer a média de consumo de cerca de 13 km/l. A campanha publicitária de lançamento do Ka também era ousada como o seu estilo. Na televisão, quando que ele passava, o cenário voltava ao início do século XX.
Um mês depois, chegava ao mercado o Ka com motor 1.0, que era o mesmo Endura 1.3 com a cilindrada reduzida. Sua potência ainda era de 53,5 cv. Também era mais econômico que o seu irmão. Andava cerca de 14 km/litro. Números da revista Quatro Rodas. Seu acabamento era mais simples e não vinha com o relógio oval no alto do painel, substituído por uma plaqueta de plástico com o logotipo do carro em relevo. No final do ano foi eleito o Carro do Ano da revista Autoesporte, quebrando um jejum de 14 anos para a Ford, que não vencia desde 1984 com o Escort.
O Ka 1.0 deu início a separação de caminhos entre o modelo brasileiro e o europeu. Dois anos depois de conviverem juntos, o Endura 1.3 nacional foi extinto enquanto o 1.0 foi substituído pelo então moderno propulsor Zetec Rocam, com comando roletado, que aumentou a potência para 65 cv. Na aparência ganhou, além da sigla GL, a versão de acabamento Image, com para-choques na cor da carroceria nas versões mais completas. E ainda herdou o relógio analógico do finado irmão mais forte. Em 2000, ganhou a série especial Tecno, com para-choques cinza escuro e a carroceria prata.
Ka Image 1999 |
Ka Tecno |
Em 2001, depois de ser adotado no Fiesta e no Escort, a versão 1.6 do motor Rocam chegou ao Ka. Especialmente para isto, ele vestiu uma roupa mais esportiva, ganhando entrada de ar no pára-choque, aerofólio no vidro de trás e saias laterais que tinham um prolongamento até o pára-lama traseiro, onde estava gravado o nome do traje: XR.
Por dentro, painel preto com máscara prateada e instrumentos de fundo branco. Havia também apliques "cromados" no pomo da alavanca de câmbio. A potência fazia jus à proposta do carro, dentro do seu porte: 95 cavalos.
Ainda em 2001, ganhou uma série especial, também limitada, mais completa tanto com motor 1.0 quanto 1.6. Era uma versão única que oferecia bancos de couro, ar condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos e apenas uma cor, o Preto Ebony. Por isso, foi chamado de Ka Black. Curiosamente, podia ser blindado. Mas apenas com motor 1.6.
O Black foi a despedida da aparência original do Ka. Saiu de cena para o compacto ser reestilizado pela primeira vez como modelo 2002. Mas só atrás, onde ele ganhou novas lanternas que ficaram mais altas e também estreitas. A placa subiu para a tampa do porta-malas. Por dentro, as novidades foram o porta-objetos no teto e a tomada de 12 volts no painel. A versão esportiva XR foi promovida à produção normal e continuou sendo a única com motor 1.6.
Somente o Ka brasileiro ganhou esta traseira modificada. Em compensação, o modelo europeu ganhou a versão SportKa, com motor 1.6 de 70 cavalos e faróis mais retangulares, ainda que na mesma posição, e o roadster StreetKa, com a mesma frente do cupê esportivo, mas com lanternas totalmente novas. O representante conversível em nosso país foi feito pela independente Sulam, que criou o KAbriolet, com bancos em couro e quatro lugares. Quase ganhou uma versão perua de quatro portas.
SportKa europeu |
StreetKa europeu |
Sulam Kabriolet |
O Ka brasileiro estagnou-se visualmente. Ganhou nova frente apenas em 2004. A grade aumentou com a retirada da moldura oval, ganhou forma de colmeia e os para-choques também foram renovados. Vieram mais séries especiais como a Action 1.6 e a MP3, a mais completa, que trazia ar condicionado, direção hidráulica, travas e vidros elétricos e CD-Player que reproduzia MP3.
A segunda geração
No final de 2007 a vida do Ford Ka no Brasil se separou de vez do seu original europeu. Enquanto lá a segunda geração, com plataforma do Fiat 500 (uma parceria breve), manteve o estilo micro-city car, mais arredondado e atraente, com interior luxuoso que ainda remetia à primeira geração, por aqui ele manteve a mesma base e as portas do modelo original. Ele quase se chamou Fly, mas o nome Ka foi mantido para dar mais impacto.
No final de 2007 a vida do Ford Ka no Brasil se separou de vez do seu original europeu. Enquanto lá a segunda geração, com plataforma do Fiat 500 (uma parceria breve), manteve o estilo micro-city car, mais arredondado e atraente, com interior luxuoso que ainda remetia à primeira geração, por aqui ele manteve a mesma base e as portas do modelo original. Ele quase se chamou Fly, mas o nome Ka foi mantido para dar mais impacto.
O segundo Ford Ka brasileiro (quanta diferença!) |
Ainda somente com duas portas, o estilo da carroceria ficou uma coisa estranha. Na frente, faróis em formato de gota e grade com filetes horizontais e em H no para-choque. Na lateral, janelas posteriores longas e a coluna C larga davam um aspecto de mini-perua ao segundo Ka brasileiro (fazia lembrar a velha Brasília). O vidro traseiro ficou maior e elevado e as lanternas passaram a ser horizontais, mas sem invadir a tampa do porta-malas.
O interior ficou mais simples do que antes, com o painel assumindo formas retangulares e muito plástico. Parecia painel de carro em miniatura. Nas portas, a lataria ainda era aparente. O único destaque positivo do segundo Ka foi o aumento do espaço interno para cinco pessoas e do porta-malas de 182 para 263 litros. A mudança foi fruto da rejeição dos brasileiros aos microcarros, já que o comprimento aumentou para 3,83m (20 cm a mais) e a altura para 1,42m (+ 1 cm). A largura e a distância entre-eixos foram mantidos em 1,64m e 2,45m.
O segundo Ka brasileiro foi apresentado no final de 2007, mas só começou a ser vendido em fevereiro de 2008, já como linha 2009. Manteve os motores 1.0 e 1.6 Rocam, que enfim se tornaram bicombustíveis. O 1.0 já tinha 69 e 73 cavalos. O 1.6 variava entre 102 e 110 cv. Um atrativo do novo Ka foi a oferta de trava elétrica e alarme de série. As duas motorizações tinham versão única, sem nome, com pacotes de opcionais chamados Pulse e Class. Em 2009 foi relançada a série especial Tecno, usada na primeira geração, mas agora com CD Player com conexão Bluetooth e iPod.
O Ka 2 ganhou um face-lift em 2011, fechando a grade entre os faróis e abrindo no para-choque dianteiro. As lanternas traseiras ganharam lentes transparentes, com estrutura cinza. O motor 1.6 passou a ser exclusivo da versão Sport, com chamativas faixas na lateral da carroceria, no capô e no teto, além de rodas escurecidas. Chamativas demais para quem queria apenas um carro com motor 1.6 para trabalhar. Para ser discreto, só sofrendo com o motor 1.0, que em um ano passou a ser o único da linha.
Mesmo crescido, o Ka ainda não correspondeu às expectativas. Faltava alguma coisa. Como uma carroceria quatro portas e uma versão sedã. E o desejo dos consumidores foi atendido.
O terceiro Ka
O Ka cresceu novamente (agora com 3,88m de comprimento e 2,49m de distância entre-eixos) e está com design mais próximo de concorrentes como Volkswagen Gol e Chevrolet Onix, sem deixar a agressividade da enorme grade hexagonal padrão Ford. A sua plataforma agora vem do atual Fiesta (ainda chamado de New na época do seu lançamento). Ganhou acabamento caprichado e equipamentos como sistema multimídia SYNC, além de ar, direção, vidros e travas elétricos de série. Trocou a fábrica de São Bernardo do Campo, onde era produzido desde 1997 pela de Camaçari, na Bahia.
O Ka cresceu novamente (agora com 3,88m de comprimento e 2,49m de distância entre-eixos) e está com design mais próximo de concorrentes como Volkswagen Gol e Chevrolet Onix, sem deixar a agressividade da enorme grade hexagonal padrão Ford. A sua plataforma agora vem do atual Fiesta (ainda chamado de New na época do seu lançamento). Ganhou acabamento caprichado e equipamentos como sistema multimídia SYNC, além de ar, direção, vidros e travas elétricos de série. Trocou a fábrica de São Bernardo do Campo, onde era produzido desde 1997 pela de Camaçari, na Bahia.
Enfim com quatro portas e versão três volumes, chamada Ka +, além de um novo motor 1.0 de três cilindros e outro 1.5 e versões SE, SE Plus e SEL, a terceira geração do Ka chegou ao mercado em setembro de 2014, para substituir o Fiesta Rocam (da geração anterior ao modelo que emprestou a sua base) e brigar pela liderança do mercado nacional. Em 2016, foi lançado na Europa com o mesmo nome do sedã brasileiro, e o Ka voltou a ser um modelo global.
Nos últimos três anos, o Ford Ka continua com o mesmo estilo, tendo apenas modificações pontuais. Ganhou encaixe ISOFIX para cadeirinhas infantis e retrovisores elétricos em 2015, cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça para os três passageiros de trás, além do rebatimento bipartido do mesmo banco em 2016 e as versões Trail (aventureira) em abril e S e SE Tecno 1.0 em outubro do ano passado. O Ka três volumes passou a se chamar Ka Sedan. A Ford promete um face-lift para este ano, porque ele ficou ofuscado pelo Chevrolet Onix e Hyundai HB20, os dois carros mais vendidos do país, e também o Fiat Argo e o Volkswagen Polo.
Curiosamente, ele já foi renovado na Europa. Por aqui, só foi apresentada em fotos a versão aventureira Freestyle, que lá se chamará Activ.
O Ford Ka já está custando a partir de R$ 44.780 na versão S 1.0. E pensar que há vinte e um anos era vendido por R$ 11 mil e já era caro na época. Ele é a prova viva de que brasileiro não gosta de carro pequeno e com estilo ousado demais.
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