O milagre aconteceu. A Renault, finalmente, lançou no Brasil um modelo que também está sendo vendido atualmente na Europa com a sua marca. É o crossover compacto Captur, que eu cheguei a apresentar na seção Baba, Brasil na época do seu lançamento na Europa em 2013, mas cinco meses depois mudei para a Em Breve no Brasil e quase voltei para a primeira seção por causa da demora provocada pela crise econômica.

Além do Captur, o furgão Master é o único modelo vendido atualmente na Europa com a mesma aparência daqui, mas em relação a veículos de passeio o último foi a perua GrandTour, que saiu de linha por lá em 2009, junto com a geração retrasada do Mégane. O sedã Fluence só foi vendido na Turquia e em mercados secundários europeus. Nos principais, como Espanha, França, Itália, Alemanha, Reino Unido e Portugal, só na versão elétrica, nunca vendida aqui. A maioria dos últimos modelos da Renault fabricados no país é da romena Dacia, como Logan, Sandero, Duster e o futuro Kwid.



Mas como o milagre é muito e até o santo desconfia, o Captur fabricado no Brasil é construído sobre a plataforma do Duster, que vai ser reposicionado no mercado para concorrer com o Citroën Aircross, o Honda WR-V e o Ford Ecosport. O Captur original francês usa a plataforma da QUARTA geração do Clio (o nosso parou na segunda). No entanto, a adaptação sobre o Duster foi criada na Rússia, onde é chamada de Kaptur (com K, porque c em russo tem som de s).


Captur francesa 2013
Captur francesa 2018

O estilo arredondado, com frente alta e curta, emblema da marca no centro do prolongamento preto e grade "sorridentes", faróis espichados, vincos acentuados, linha de cintura alta e ascendente em direção à coluna e lanternas amendoadas, saiu praticamente fiel ao francês, com a vantagem do nosso (e o russo) ter inspirado o face-lift da versão original (que passa a usar as luzes diurnas em C) e também ser maior: são 4,32m de comprimento, 1,81m de largura, 1,62m de altura e 2,67m de distância entre-eixos contra respectivos 4,12m, 1,78m, 1,57m e 2,60m do francês, que têm bancos traseiros mais elevados em relação aos dianteiros, com deslizamento que varia a capacidade do porta-malas entre 377 e 455 litros. No Captur fabricado em São José dos Pinhais (PR), os bancos são na mesma altura, os traseiros são fixos e o porta-malas sem rebatimento do encosto fica nos 437 litros.


Captur francesa 2013

O desenho do painel e, inclusive, o acabamento interno de plástico rígido são exatamente os mesmos da versão francesa. A posição de dirigir da nossa é mais elevada, mas há falhas na ergonomia, como os instrumentos pequenos demais e a má localização dos botões ECO e de acionamento do piloto automático, escondidos pelo freio de mão quando abaixado (ou seja, com o carro em movimento). E num carro com proposta familiar há poucos porta-copos. Completando a análise do interior, mesmo com a distância entre-eixos elevada, o espaço no banco traseiro é reduzido e o encosto fica muito vertical. O ajuste longitudinal faz falta. 



O Captur chegou no mercado brasileiro em duas versões: Zen, com motor 1.6 16v SCe e câmbio manual de cinco marchas e Intense, com 2.0 16v e transmissão automática de quatro velocidades. O automático CVT só chega em julho para o motor 1.6 (mais uma da lei do "papai pão-duro" que impera em nossas montadoras: dá um brinquedo de presente, mas a pilha só dá depois). Para não canibalizar o Duster, a Renault preferiu não oferecer tração integral no momento.

Os dois motores flex já são conhecidos da linha Renault no Brasil. O 1.6 é novo, tem 118 cavalos com gasolina e 120 cv com álcool e foi estreado recentemente no Logan, no Sandero e no próprio Duster. Já o 2.0 tem 143 e 148 cv e, com as devidas evoluções de potências, vem desde o tempo do Mégane. O 1.2 TCe ficou para uma próxima, quem sabe nunca. 


Segundo a revista Quatro Rodas, o Captur 2.0 acelera de 0 a 100 km/h em 13,3 segundos, com retomada entre 80 e 120 km/h em 9,5 segundos. O consumo na cidade é de 9,2 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada. A frenagem a 120 km/h é cumprida em 66,6 metros e o ruído, este segundo a revista Carro e a 80 km/h é de 59,8 decibéis. 

Juntando o Renault no comparativo publicado na edição de fevereiro da Quatro Rodas, o desempenho é fraquíssimo. A Captur só anda mais que o Jeep Renegade. O consumo, a frenagem e o ruído são medianos. A suspensão do Duster deixou o Captur bem duro. 


O Captur Zen 1.6 custa R$ 78.900 e vem de série com airbags dianteiros e laterais, controle eletrônico de estabilidade (ESP), controle eletrônico de tração (ASR), assistente de partida em rampas (HSA), freios com ABS, ISOFIX, direção eletro-hidráulica, volante com regulagem da altura, ar-condicionado manual, rodas aro 17 polegadas de liga leve, vidros elétricos, alarme perimétrico, chave-cartão hands free, comando de áudio e celular na coluna de direção (comando satélite), assento do condutor com regulagem de altura, sistema CAR (travamento automático das portas a 6 km/h), Luzes diurnas em LED, retrovisores rebatíveis, piloto automático com indicador e limitador de velocidade. Navegador, câmera de ré e pintura em dois tons são opcionais. 

Já o Intense 2.0 sai por R$ 88.490 e acrescenta rodas aro 17 polegadas de liga leve diamantadas, apoio de braço, Media Nav 7” touchscreen, câmera de ré, ar-condicionado automático, sensor de chuva, farol de neblina com função Cornering Light, sensor crepuscular. A pintura em dois tons ainda é opcional e agora os bancos em couro entram na lista de itens pagos. O configurador ainda não aparece no site.


O custo-benefício é muito bom. Ao lado do estilo atraente são os dois únicos atributos de um utilitário cheio de defeitos para buscar um lugar de destaque em um segmento tão concorrido. Mas em poucos anos um novo Captur deve surgir na Europa. Culpa do nosso atraso.



TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS