Esta seção, normalmente, é frequentada por modelos da Renault e da Opel, mas agora é a vez da Fiat fazer a sua terceira participação com o ressuscitado Tipo (já falei do "novo" Doblò em 2011 e do 500X em 2014). Uma parte da culpa pela sua presença no Baba, Brasil! é a incerteza político-econômica do Brasil. A outra é a arrogância da marca italiana com fábricas em Betim (MG) e Goiana (PE).
No ano passado, a Fiat turca lançou o Aegea, um moderno sedã - construído sobre a plataforma do Renegade, da picape Toro e do 500x - que pretende substituir o Linea, derivado do Punto, que também nasceu lá. A matriz italiana gostou tanto do projeto, apesar da traseira muito curta e da caída um pouco brusca do teto, que decidiu vendê-lo em todo o continente europeu, mantendo a fabricação na Turquia. Mas para isso era preciso um nome mais apelativo e novas carrocerias.
Assim, ela decidiu resgatar o Tipo, que batizou o hatch médio da Fiat entre as décadas de 80 e 90 (mais precisamente 1988-1995), agora também num sedã. Curiosamente, a montadora já tinha feito isso com o antecessor do Novo Tipo, o Bravo, que por sua vez resgatou a versão de três portas do sucessor do velho Tipo. Deu pra entender? Só falta batizar o sucessor do novo Tipo de Stilo.
Fiat Tipo, vendido na Europa entre 1988 e 1995 e no Brasil entre 1993 e 1996 |
A segunda encarnação do Tipo, como já disse, não vai ficar só no três volumes, que, aliás, já está no mercado europeu e já vendeu 35 mil unidades desde o final do ano passado. Este ano foram apresentados, no Salão de Genebra, o genuíno hatch e a perua (SW), com desenho bem mais elegante que o sedã. O Tipo rompe com o estilo do 500 que parecia guiar todos os novos modelos da Fiat. A grade tracejada é ampla, com base em U, é invadida pelos faróis elípticos e delimitada pelo capô. As lanternas do hatch e da Station Wagon são horizontais na tampa do porta-malas em relevo, mas com um formato levemente de bumerangue. Já as do sedã se concentram na lateral e tem um formato de P.
O Tipo tem 4,37m de comprimento na versão hatch, 4,53m no sedã e 4,57m na perua. A altura dos dois primeiros é de 1,49m, mas na SW é de 1,51m porque o rack do teto é ajustável. Já a largura e distância entre-eixos é comum entre os três: respectivamente 1,79m e 2,64m, sendo que o sedã é dois milímetros menor.
O interior volta a ter diferenças entre as carrocerias. O desenho do acabamento das portas e da estrutura do painel, com saídas de ar centrais horizontais ovaladas e trapezoidais nos cantos e o quadro de instrumentos em TFT é até igual, mas o sedã tem uma cobertura que se estende dos instrumentos até o centro, lembrando o estilo do antigo Mercedes Classe C. Tudo para embutir uma minúscula tela multimídia de 5 polegadas, No hatch e na perua essa parte superior central é "ao ar livre", dando destaque para a tela de 7 polegadas. Já o quadro de instrumentos destes tem moldura cromada, deixando-o mais em evidência. Percebe-se que foi uma correção estética e prática após fortes críticas ao tamanho do visor de rádio e navegação. Provavelmente, o sedã, futuramente, deve ganhar esta mudança. O acabamento é emborrachado na parte superior.
Painel do sedã |
Hatch e SW |
O espaço interno no sedã é ligeiramente maior, apesar do entre-eixos milimetricamente menor. Contra os concorrentes europeus, segundo o site espanhol Km77, o Tipo tem bom espaço para as pernas, razoável para os ombros, mas é considerado muito baixo para a cabeça. A capacidade do porta-malas é de 440 litros para o hatch (o maior do segmento), 520 litros para o sedã e 550 litros para a SW.
O Tipo está sendo vendido com motores 1.3 (95 cv) e 1.6 Multijet a diesel e 1.4 aspirado (95 cavalos) e T-Jet (120 cv) a gasolina. Este último somente com gás natural GLP e não tem no sedã (pelo menos no mercado espanhol). O câmbio pode ser manual de cinco (para o 1.3 a diesel) e seis marchas ou automático de seis velocidades (só para o 1.6 do hatch e perua).
As versões são a Easy (usada também no Mobi brasileiro) e Lounge. A mais básica tem rodas de 16 polegadas de aço, ar-condicionado manual, espelhos retrovisores elétricos aquecíveis, vidros e travas elétricas, sistema multimídia Uconnect com tela de 5 polegadas, rádio, leitor de MP3, entradas USB e auxiliar, seis airbags (frontais, laterais e cortina), freios ABS, controle eletrônico de estabilidade (ESP) e assistente de partida em rampa. A Lounge adiciona rodas de 17 polegadas, programador de velocidade (piloto automático convencional), ar condicionado digital, sensores de chuva e tela sensível ao toque de 7 polegadas com Bluetooth e espelhamento com o Android Auto e o Apple Car Play (por enquanto, exceto para o sedã). O sedã também ainda não tem faróis em LED e os opcionais piloto automático ativo e sistema pre-Safe, que freia o carro em caso de perigo iminente de colisão, mas pode câmera de ré, também opcional.
Moral da história: o hatch e a perua SW foram projetados para os países europeus mais importantes (Itália, Alemanha, Espanha, França e Portugal) e foram aprimorados, enquanto o sedã foi pensado para os países emergentes (Turquia, Grécia e Leste Europeu). Apesar de se encaixar nesta segunda categoria (para não ser chamado de pobre), o Brasil não deve ter o Tipo. Nem mesmo o sedã.
Especula-se uma importação da Argentina, mas tanta demora entre confirmar as especulações e chegar ao mercado acaba desatualizando o carro e vai repetir o que aconteceu com o Viaggio, um sedã médio baseado no Chrysler 200 e no Dodge Dart, que foi dado como certo (cheguei a falar no Em Breve no Brasil) e acabou não vingando. Também há rumores de que a Fiat estaria priorizando o sucessor do Grand Siena pra cá. E aí dá aquele sentimento de revolta por nosso país só merecer carros pequenos e de baixa qualidade, estando em crise ou não. Numa época em que estamos revivendo o impeachment (ainda bem) e a inflação, a Fiat parece querer retornar aos tempos em que só vendia carros pequenos por aqui.
Eu errei ao classificar o Viaggio como Em Breve no Brasil e a perua Golf Variant como Baba, Brasil!. Tomara que eu erre de novo com o Fiat Tipo.
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