A Citroën abandonou o segmento de hatches médios há dois anos. Seu último modelo na categoria foi a primeira geração do C4, que deixou de vir da Argentina em 2014. O hatch de geração equivalente ao sedã Lounge é um desconhecido para os brasileiros.
Seu antecessor, o Xsara até que fez bastante sucesso por aqui. Foi importado da França, do Uruguai e da Argentina nas carrocerias hatch de quatro e duas portas (pelo seu estilo era considerado um cupê) e perua Break. A primeira geração da minivan Picasso, que usava a sua plataforma, foi fabricada em Porto Real, aqui no estado do Rio de Janeiro.
Mas o primeiro hatch médio comercializado em nosso país foi o ZX. Seu estilo reto, de amplas janelas e cheio de quinas pode ser considerado velho nos dias de hoje, mas em 1991 estava na moda. Faróis e lanternas traseiras eram retangulares e a grade dianteira quase fechada. Apresentado no Salão de Genebra, na Suiça, há 25 anos, chegou oficialmente aqui em 1992, importado direto da França, apenas na versão Volcane, com carroceria de quatro portas e motor 1.9 de oito válvulas e 125 cavalos. Sua plataforma seria usada dois anos depois no Peugeot 306.
O interior do ZX era muito bem acabado. Tanto que isso é elogiado por alguns consumidores até hoje nos modelos usados, com mais de dez anos de uso. O painel seguia as linhas retas do exterior. Os bancos podiam ser revestidos de couro (opcionais). O banco traseiro corria para a frente, um recurso que só seria usado no Volkswagen Fox brasileiro em 2003 e aumentava a capacidade do porta-malas de 229 para 326 litros.
Ele vinha equipado com ar condicionado, direção hidráulica, rodas de liga-leve, trio elétrico (mas os vidros traseiros eram manuais) e faróis de neblina (então chamados de faróis de milha). O rádio toca-fitas, o teto solar elétrico, freios ABS e câmbio automático eram opcionais. O carro custava cerca de 40 mil dólares. Caro. Na época, seus concorrentes nacionais em porte eram o Chevrolet Kadett e o recém-renovado Ford Escort, ambos com duas portas.
A revista Quatro Rodas testou uma unidade pré-série em dezembro de 1991 e obteve 10,92 segundos de aceleração de 0 a 100 km/h, 20,62 segundos de retomada entre 40 a 100 km/h (metodologia da época), 9,19 km/l de consumo na cidade, 13,52 km/l a 100 km/h na estrada, frenagem a 80 km/h em 30 metros e 64,3 decibéis a 80 km/h de ruído.
Na Europa, a linha era mais ampla. Além da Volcane tinha as versões Reflex (1.4 de 75 cv), Avantage (1.4 ou 1.6 de 88 cv) e Aura (só 1.6). Nos anos posteriores, surgiram as versões cupê, que nada mais era um ZX de duas portas e perua, também chamada de Break, nunca importada para cá. Antes mesmo de chegar ao mercado europeu foi campeão do Rali Paris-Dacar, que ainda era disputado na África.
Somente em 1994 a linha ZX começou a crescer no Brasil com o lançamento do cupê, com motor 2.0 16v, que rendia 155 cavalos. Ainda chamado de Volcane, tinha duas portas, mas ganhou rádio toca-fitas, freios ABS e bancos de couro de série. Airbag só nos anos seguintes. Uma novidade peculiar da época era o código de acesso de três digitos exigido para dar a partida. O teclado para digitá-lo ficava na base do console.
Foto: François Calil (Revista Quatro Rodas) |
Por causa de diferenças climáticas nos testes da Quatro Rodas, mesmo com vinte cavalos a mais, a aceleração ficou um centésimo mais lenta (10,93) e o tempo de retomada subiu para 23,97 segundos. O consumo também aumentou, caindo a quilometragem para 8,10 km/l na cidade e 11,89 km/l na estrada. O ruído ficou um décimo mais elevado (64,4 decibéis). Só a frenagem que melhorou: 28,3 metros a 80 km/h. Detalhe que a Quatro Rodas já reclamava da idade do projeto, que na época tinha três anos.
Em 1994, o Volcane quatro portas passou a usar o motor 2.0 do cupê e ser montado no Uruguai em CKD (com peças importadas da França), mas 40% do lote ainda vinha da França. A concorrência já estava maior com os importados Volkswagen Golf GTI, Fiat Tipo, Chevrolet Astra e os conterrâneos Renault 19 e Peugeot 306. No ano seguinte chegou o Furio, que enfim o tornou mais barato e acessível (na faixa dos 26 mil dólares), com motor 1.8 8v de 103 cv, duas portas e um face-lift que deixou sua grade mais convencional e aberta. Em 1996 o Cupê passou a ser chamado de Dakar. Em 1997 foi lançada a Paris, com motor 1.8 e opção de duas ou quatro portas. Uma versão intermediária que se colocou entre o Furio e o Volcane.
Em 1998, o ZX deu lugar ao elegante Xsara, lançado na Europa no ano anterior. Segundo a FIPE, o ZX Volcane modelo 1993 está cotado em R$ 5.551. O ZX mais recente é cotado em R$ 9.256, um Cupê 16v 1998. Como o seu sucessor, o ZX ainda é elogiado pela suspensão macia, a estabilidade firme, o acabamento e o preço. Só a manutenção e o péssimo serviço das concessionárias Citroën são capazes de despertar traumas na saudade de seus antigos proprietários.
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