TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
A paz do Ford Ecosport e do Renault Duster pode ter acabado definitivamente com a chegada do Jeep Renegade, já à venda em três versões de acabamento: Sport, Longitude e Trailhawk. E ainda vêm por aí o Peugeot 2008, o Suzuki S-Cross e o JAC T5. O Honda HR-V também já está no mercado, mas até agora não vi anúncio nos Classificados nos jornais do Rio e nem o seu comercial na televisão. Deve ser a fila de espera.
O Renegade é produzido na nova e moderna unidade do grupo FCA (Fiat-Chrysler Automotive) em Goiana, interior de Pernambuco. É o primeiro modelo da divisão Jeep fabricado no Brasil. O velho Jeep Willys, que teve a sua produção cessada pela Ford em 1982, ainda não tinha a sua marca independente. Hoje, o grupo Chrysler pertence à Fiat.
Confesso que eu preferia o estilo arredondado do Fiat 500X, que usa a mesma plataforma. Mas tive que me convencer que a marca italiana não podia fabricar os dois e a intenção foi fazer crescer a marca Jeep no nosso país, com direito a ampliação da rede de concessionárias para 120 pontos em todo o país.
O Renegade tem o desenho mais rústico dos utilitários compactos. Mais até que o do Renault Duster. Isso se deve à carroceria reta, com janelas laterais planas, às lanternas quadradas com as lentes brancas em formato de X, às luzes de direção separadas do conjunto ótico, aos faróis redondos também com lentes em X e à tradicional grade com os sete gomos verticais da Jeep. Aliás, a grade é um pouco recuada em relação ao capô e ao para-choque e os faróis são recuados em relação à grade. Nos dois para-choques da versão Trailhawk, ganchos para reboque (dois na dianteira e um na traseira) que suportam o peso do carro mais 300 kg reforçam a vocação lameira do Renegade. Também na versão top o teto (em fibra de vidro) pode ser removido (opcional).
O porém é que o ângulo de entrada é de apenas 21,1º, menor até que o do Peugeot 2008 (22º). O ângulo de saída, no entanto, tem 30º. Parece que até o Renegade foi feito para andar no shopping.
No interior, o visual rústico só aparece na alça de apoio (apelidada de PQP) no lado do carona do painel e nos grafismos alusivos ao espírito Jeep, como a grade estilizada, o X, a silhueta do velho jipe, um alpinista subindo a montanha, desenhos de aranha e a inscrição Since 1941 (desde 1941), gravadas nos alto-falantes, nos vidros e acima da tela multimídia.
Já o acabamento é caprichado. O painel, de estilo moderno e arredondado, tem revestimento emborrachado e parte das portas têm forração de couro macio. Plástico duro só na parte superior das portas (na base do vidro) e na porção inferior do painel. As saídas de ar são destacadas e voltadas para cada passageiro da frente. O quadro de instrumentos das versões Longitude e Trailhawk tem cluster de sete polegadas e gráficos tridimensionais (na Sport tem 3.5 polegadas, na Longitude é opcional e na Trailhawk é de série). O conta-giros tem o vermelho das rotações mais altas estilizado como lama. O volante tem miolo redondo, três braços, comandos multifuncionais e forração em couro (opcionais, dependendo da versão). Na Trailhawk o alto-falante, saídas de ar dos cantos, console e alavanca do câmbio têm moldura vermelha.
O banco de trás tem apoios de cabeça e cintos de segurança de três pontos para todos. O passageiro acomoda melhor a cabeça (por causa da altura elevada da cabine) do que as pernas. Elas não vão apertadas, mas roçam no banco da frente. O porta-malas parece amplo, mas tem apenas 260 litros de capacidade (menor que os rivais e os 351 litros do modelo vendido no exterior). Em compensação tem pontos de luz, duas tomadas e traz uma bolsa para guardar o teto.
O Renegade nacional chega com duas opções de motor. O mais simples é o mesmo 1.8 E.TorQ Flex da Fiat, que rende 130 e 132 cavalos. Mas o destaque vai para o Turbodiesel 2.0 JTD ou Multijet, de 170 cavalos, também da marca italiana, mas inédito no Brasil. O Jeep é o primeiro utilitário esportivo compacto nacional a usar um motor a diesel no país. A Ford pensou em usar no Ecosport há uns dez anos atrás, mas desistiu diante das dificuldades de encaixá-lo na lei. O Ssangyong Korando, importado, é o outro modelo que tem motor a diesel.
Outra inovação do Renegade no segmento são as três opções de câmbio. Manual de cinco marchas, automático (de verdade, não automatizado) de seis e também de nove velocidades. A tração pode ser dianteira ou 4x4, que aciona a reduzida eletricamente por um simples botão e também tem as funções de bloqueio de diferencial, controle de descida e seleção de terreno entre neve, areia, lama, pedra e automático. Além do Renegade, só o Ecosport, o Duster e o S-Cross podem ter tração integral.
O Renegade a diesel tem desempenho e frenagem semelhantes aos dos seus concorrentes flex, só perdendo para o Peugeot 2008 e para o Honda HR-V. A versão com o câmbio de nove marchas acelera de 0 a 100 km/h em 11 segundos, recupera de 80 a 120 km/h em 7,7 segundos e alcança os 180 km/h de velocidade máxima. A frenagem é 28,6 metros a 80 km/h. O consumo de 11,9 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada é superior. Mesmo com o motor diesel, se destaca no nível de ruído de 60,5 decibéis a 80 km/h.
Já o 1.8 é uma decepção. Ficou atrás dos rivais em quase todas as provas. E atrás até do Volkswagen Up!, segundo o Car Blog. Em aceleração de 0 a 100 km/h foi feita em 15,3 segundos e a retomada em 11,6 segundos. O consumo urbano de 10,2 km/l está na média. mas o rodoviário é de apenas 12,5 km/l. Já a frenagem é de 30 metros a 80 km/h. Só o ruído é mais baixo que o Renegade a diesel: 59,2 a 80 km/h. Os números, com exceção da velocidade do 2.0, são da revista Quatro Rodas.
O Jeep Renegade mais barato é o Sport 1.8 com câmbio manual e tração dianteira, que custa R$ 69.900. Em junho chega uma versão ainda mais em conta, mas com menos equipamentos, por R$ 66.900.
Por enquanto, a versão básica tem de série ar-condicionado manual, direção elétrica, travas e vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos, sistema de áudio premium com seis alto-falantes, Bluetooth, USB e MP3, rodas de liga-leve aro 16″ com pneus 215/85, volante com ajustes de altura, profundidade e comandos dos sistemas de áudio e telefone, faróis de neblina, freio de estacionamento elétrico, maçanetas e retrovisores externos pretos, piloto automático com limitador de velocidade, sensor de estacionamento traseiro, apoio de braço frontal com porta-objetos, branco traseiro com encosto bipartido 60/40, airbags frontais, freios ABS, EBD, BAS, sistema anti-capotamento (ERM), controle eletrônico de estabilidade (ESC), auxílio de partida em rampas (HSA), ISOFIX, sistema de alerta de frenagem de emergência (RAB), chave telecomando com alarme, cinto traseiro central de três pontos e terceiro apoio de cabeça traseiro. Com câmbio automático de seis velocidades, o Sport 1.8 pula para R$ 75.900 e tem os mesmos equipamentos. O Renegade Sport 2.0 turbodiesel custa R$ 99.900 e só adiciona a tração 4x4 e o câmbio automático de nove marchas.
É um bom recheio. Mas itens mais tecnológicos são cobrados como opcionais. O problema é que o Renegade tem muitos, que o tornam bem mais caro do que é. O sistema multimídia com tela de 5,5 polegadas com GPS, câmera de ré, sistema de reconhecimento de voz e Bluetooh, além de entradas USB com o volante revestido em couro e com controles do áudio fazem parte do pacote Multimídia, que custa R$ 4.600. O pacote Segurança, com airbags laterais, de cortina e para os joelhos do motorista, além de sistema de monitoramento da pressão dos pneus adiciona mais R$ 3.500. O teto solar panorâmico de vidro custa R$ 6.700. E ainda tem o pacote Conforto, por R$ 1.250, com retrovisores externos dobráveis eletricamente, porta-objetos sob o banco do passageiro, que é dobrável, tomadas 12v no porta-malas e de 127v no painel. Todos estes estão vinculados ao pacote Multimídia. Acabou? Não. Ainda tem os parafusos anti-furto de 170 reais.
Renegade Sport |
A versão intermediária Longitude só é vendida com câmbio automático, sendo de seis velocidades para o 1.8 Flex com tração 4x2 (R$ 80.900) e nove velocidades para o 2.0 diesel 4x4 (R$ 109.900). De equipamentos adiciona ar-condicionado digital automático de duas zonas, sistema multimídia com tela colorida sensível ao toque de cinco polegadas, GPS, Bluetooth, USB, comandos por voz, volante revestido de couro com comandos do som, telefone e aletas para troca de marchas, câmera traseira, barras longitudinais no teto, encosto dobrável banco passageiro dianteiro, maçanetas e retrovisores externos na cor da carroceria, porta-objetos no banco do passageiro dianteiro, tapetes de borracha e tomada de 12 volts no porta-malas, além de rodas de liga aro 17″ com pneus 215/60.
De opcionais a Longitude tem bancos em couro e rodas de 18 polegadas com pneus 225/55 por R$ 3.500, o pacote Tecnologia 1, por R$ 8.000, com detector de pontos cegos, sistema Park Assist, que estaciona sozinho em vagas perpendiculares e paralelas, sistema de abertura e partida sem chave, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, espelho retrovisor interno eletrocrômico, tomada de 127 volts, lanterna removível e espelhos retrovisores externos com rebatimento automático. O pacote Tecnologia 2 tem o sistema multimídia com tela de 6.5 polegadas, áudio premium Beats com 8 alto-falantes e subwoofer, o cluster de 7 polegadas no quadro de instrumentos, banco do motorista com regulagens elétricas de altura. encosto e lombar e faróis de xenon. Preço da brincadeira: R$ 14.500. O pacote de Segurança e o teto panorâmico também são oferecidos para o Longitude pelo mesmo preço. Ah! E todos estão vinculados aos bancos em couro e as rodas de 18 polegadas.
Renegade Longitude |
O top Trailhawk, só com motor diesel, tração 4x4 e câmbio de 9 marchas custa R$ 116.900. Acrescenta ganchos para reboque em vermelho (dois frontais, um traseiro), retrovisores externos em cinza, adesivos no capô, detalhe lateral próximo ao teto em preto, lanterna removível, sensor crepuscular, sensor de chuva, interior exclusivo Trailhawk com detalhes em vermelho rubi e retrovisor interno eletrocrômico. O assalto nos opcionais continua.
Renegade Trailhawk |
Os bancos em couro agora são vendidos separados por 2 mil reais. O pacote de segurança caiu para quatro mil reais. Já o teto panorâmico aumentou para R$ 7.650. E ainda tem o teto removível por R$ 8.500. O pacote de tecnologia 1, que no Trailhawk se chama 3, caiu de preço para R$ 6 mil. Isto porque alguns itens passaram a ser de série na versão top. Só continuaram na lista de opcionais o Park Assist, o detector de pontos cegos, o sistema de entrada e partida sem chave, a tomada de 127 volts e o rebatimento elétrico dos retrovisores. O pacote Tecnologia 2 continua com o mesmo preço de R$ 14.500. E só no Trailhawk é possível comprar os faróis de xenon separados por 3 mil reais. Acredite: no fim das contas o Jeep Renegade Trailhawk completo e com pintura metálica (apenas prata) chega a custar R$ 153.350. Um verdadeiro abuso econômico.
O Jeep Renegade, compreendido o seu estilo quadradão, tem qualidades no acabamento, no motor a diesel, tração 4x4, desempenho, consumo, nível de ruído e segurança. Mas se continuar com essa política abusiva de muitos opcionais por esse preço exorbitante, fará jus ao seu nome se tiver o seu custo-benefício comparado aos seus concorrentes.
Pontos Fortes
+ Acabamento
+ Motor a diesel
+ Tração 4x4
+ Câmbio de 9 marchas
+ Desempenho com motor a diesel
+ Consumo a diesel
+ Nível de ruído
+ Rede de concessionárias em crescimento
Pontos Fracos
- Estilo
- Porta-malas
- Muitos opcionais
- Preço com opcionais
- Desempenho com 1.8
- Consumo 1.8
- Frenagem 1.8
- Desempenho com 1.8
- Consumo 1.8
- Frenagem 1.8
FICHA TÉCNICA
Motores: Flex, quatro cilindros em linha, transversal,1.747 cm³, 16 válvulas
Diesel, turbo, quatro cilindros em linha, transversal, 1.956 cm³, 16 válvulas
Potência Flex: 130 (gasolina) e 132 cv (álcool)
Potência Diesel: 170 cavalos
Torque Flex: 18,6 kgfm (gasolina) e 19,1 kgfm (álcool) a 3.750 rpm
Torque: 35,7 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: manual de cinco marchas e automático de seis ou nove marchas
Tração: dianteira ou 4x4
Aceleração de 0 a 100 km/h: 15,3 segundos (flex, com gasolina) e 11 segundos (diesel)*
Velocidade máxima: 180 km/h (diesel - fabricante)
Consumo Flex: 10,2 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada*
Consumo Diesel: 11,9 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada*
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,23/1,80/1,69/2,57m
Porta-malas: 260 litros
Tanque: 60 litros
Preços básicos: R$ 69.900 (Sport 1.8 Flex manual 4x2) / R$ 75.900 (Sport 1.8 Flex AT6 4x2) / R$ 99.900 (Sport 2.0 Turbodiesel AT9 4x4)
R$ 80.900 (Longitude 1.8 Flex AT6 4x2) / R$ 109.900 (Longitude 2.0 Turbodiesel AT9 4x4)
R$ 116.900 (Trailhawk 2.0 Turbodiesel AT9 4x4)
1 Comentários
a kia vendia a sportage na década de 90 e inicio dos anos 2000, só parou de vender por pressão da ford que lançou um carro bosta (ecosport), sem opção a diesel.