TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO


Changan (ex-Chana), Chery, Effa Motors, Lifan, JAC... na invasão de marcas chinesas estavam faltando duas para chegar. Uma já veio. E a mais importante delas. A Geely, atual dona da "suequíssima" Volvo, já vende o sedã médio EC7 no país desde abril. Agora em novembro abriu uma concessionária aqui na cidade do Rio de Janeiro: a Pole 111, no bairro de Campo Grande.

Como toda marca chinesa, a Geely - representada pelo empresário paulista José Luiz Gandini, o mesmo importador da sul-coreana Kia - tem muitos planos para o Brasil, inclusive construir uma fábrica por aqui, em Salto, interior de São Paulo, ou Imbituba, em Santa Catarina.

Entre os modelos oferecidos, além do EC7, do qual vou falar nas próximas linhas, e do compacto GC2, aquele com a famosa frente de urso panda e também já está à venda, estão previstos o utilitário esportivo EX7, o hatch do EC7 e a versão com cara de aventureira do GC2, o GX2. 


GC2


EC7 Hatch



Estilo

Primeiro a chegar, o EC7 é maior que o Toyota Corolla (4,63 contra 4,62m) e seu estilo é um apanhado de antigas gerações de modelos asiáticos e um europeu. O perfil lembra o próprio Corolla de 2002. A frente tem faróis parecidos com o Hyundai Elantra de 1998 e a grade lembra o Honda Accord de 2008. Só a traseira que bebeu na fonte de um modelo europeu: nada mais que a anterior carroceria do Mercedes Classe S.


O emblema na grade (uma imitação tosca do logo da americana Cadillac) é da divisão de luxo Emgrand, existente na China e na Rússia. Mas o grupo Gandini o escolheu como identidade visual da Geely no Brasil. O logo original é circular, azul e com um triangulo dentado e uma elipse branca.


O logo original da Geely


Acabamento 

O acabamento interno é no padrão chinês esforçado. Houve melhora na qualidade de montagem e há alguns detalhes em plástico brilhante no console central, mas ainda aparenta simplicidade, com muitos plásticos duros. O EC7 montado no Uruguai e trazido para cá tem acabamento em tecido nas portas. O revestimento dos bancos é de couro sintético perfurado.


Já o estilo não ajuda. Lembra o de um Kia da década passada. Pra piorar ainda veio sem tela multimídia. O quadro de instrumentos tem uma máscara cromada que tenta dar um aspecto de Ford Focus (da geração passada). Os marcadores digitais de combustível e óleo ficam num display azul oval, bem destoante, bem anos 90. A tela do computador de bordo também é azul e cafona, mas retangular. O blue também ilumina os clusters do relógio no alto do painel, do som e do ar condicionado digital.



Espaço interno e Porta-malas

O espaço é bom para as pernas no banco de trás. O EC7 tem 2,65m de distância entre-eixos. Mas também não é tão impressionante. Os passageiros de 1,90m vão raspar a cabeça. Quando o banco dianteiro é recuado, o espaço se torna mediano. E o assoalho não é plano. O terceiro ocupante dispõe de cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça. Mas vai ter que se virar para acomodar os pés fora do túnel de transmissão e também as costas no apoio de braço central, que é bem frágil. Também faltaram saídas de ar para o banco traseiro e tomada de 12V. Só o porta-malas de 670 litros que impressiona. Muito sedã grande não chega aos 500 litros.


Motor e Prestações 

O motor G-Power 1.8 16v com comando variável das válvulas tem a boa potência de 130 cavalos, embora seja menor que a do Corolla GLi (139/144 cv) e do Fiat Linea (130/132 cv), que usam esta cilindrada. Mas supera com folga, o Cobalt 1.8 (106/108 cv), o Honda City 1.5 (115/116 cv), o Kia Cerato 1.6 16v (122/128 cv) e o JAC J5 1.5 (125 cv). O problema mercadológico é que o propulsor do Geely não é flex.  Mas ele tem a companhia do conterrâneo J5 nesta falha. O motor bicombustível só chega no ano que vem.


A vantagem de ter um motor só a gasolina é o consumo menor de combustível. Segundo a Quatro Rodas, o EC7 fez 10,4 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada. Só perde para o Honda City. 

Os representantes de marcas chinesas têm grande dificuldade em trazer seus carros com câmbio automático. Tanto que somente há pouco tempo o Chery Tiggo ganhou esta transmissão. E o JAC J5 também não tem. O Geely tem um câmbio tradicional de cinco marchas, que prejudicou muito a sua retomada de 80 a 120 km/h. Ficou apenas nos 19,9 segundos. A aceleração de 0 a 100 km/h em 11,7 segundos também é bem mediana. Mesmo caso da frenagem em 27,1 metros a 80 km/h. Ruim mesmo é o ruído de 68,4 decibéis aos mesmos 80 km/h, Os números também são da Quatro Rodas.




Custo-benefício e Assistência

O Geely EC7  é vendido em versão única no Brasil, chamada GS, sem opcionais, como a maioria dos carros chineses. Custa R$ 49.900. Ele só é mais caro que o Nissan Versa completo (preço promocional de R$ 45.900). 

A lista de equipamentos dos carros chineses, entretanto, vem deixando de ser tão atraente como antes quando a Chery desembarcou no Brasil em 2009. E a situação piora quando o carro cresce de segmento.

Tudo bem que o EC7 vem com duplo air bag, ar-condicionado digital (de uma zona apenas), direção hidráulica, bancos revestidos em couro (sintético), banco do motorista com ajustes de altura, distância e lombar, chave tipo canivete para travamento e abertura das portas e porta-malas a distância, computador de bordo, rádio CD MP3, entrada auxiliar e USB, acendimento automático dos faróis, luz diurna de navegação, lanternas traseiras com LED, rodas de Liga leve 16”, estepe com roda de liga leve, sensor de aproximação traseiro (também conhecido como sensor de estacionamento) e engate ISOFIX para cadeirinhas infantis.

Mas modelos nacionais e hatches pequenos já oferecem isso e muito mais. Além dos airbags e dos freios ABS já serem obrigatórios, cadê as bolsas de ar laterais e de cortina, os controles de estabilidade e tração, sistema multimídia, câmera de ré, piloto automático, botões no volante, retrovisores rebatíveis eletricamente e teto solar? Eles existem na China, mas não chegaram para nós.




Conclusão

O Geely EC7 tem qualidades razoáveis e é barato. Mas deve um bom desempenho, um acabamento mais caprichado, mais silêncio na cabine e equipamentos mais interessantes. De olho em sedãs compactos médios e até na versão básica do líder Corolla, sua briga deve ser mais forte com o conterrâneo JAC J5, que está chegando com face-lift e é apenas 90 reais mais caro. Agora só falta a BYD para completar a invasão chinesa. 


Pontos Fortes 

+ Porta-malas
+ Espaço interno
+ Consumo 
+ Motor
+ Preço


Pontos Fracos

- Estilo
- Acabamento
- Nível de ruído
- Equipamentos 


FICHA TÉCNICA 

Motor: Quatro cilindros, transversal, gasolina, 1.798 cm³, 16 válvulas
Potência: 130 cavalos
Torque: 17,2 kgfm a 4.400 rpm
Câmbio: Manual de 5 marchas
Tração: dianteira
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,7 segundos (Revista Quatro Rodas)
Velocidade máxima: 185 km/h (fabricante)
Consumo: 10,4 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada (Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,63/1,80/1,47/2,65 m
Porta-malas: 670 litros
Tanque: 50 litros
Preço: R$ 49.900