Houve um tempo na nossa indústria automobilística em que os lançamentos eram raros. Por exemplo, a chegada do Chevrolet Kadett, em 1989, quebrou um jejum de cinco anos sem um carro realmente novo no país. O Fiat Uno tinha sido o último.

Há trinta anos, o Kadett chegava às concessionárias brasileiras, fabricado em São José dos Campos, somente na carroceria hatch de duas portas (ou três, como preferem os europeus) e em três versões de acabamento: a básica SL, a luxuosa SL/E e a esportiva GS.



Seu estilo de cantos arredondados chamava atenção frente aos retilíneos Gol e Escort. Era o carro mais aerodinâmico da época, com coeficiente de 0,30 para a versão GS e Cx 0,32 nas demais versões. Tinha frente em cunha, um grande aplique plástico escuro triangular ao lado do vidro lateral traseiro e lanternas verticais. A versão GS tinha a área entre elas pintada de preto, acompanhada do aerofólio e uma única lanterna de neblina no lado esquerdo do para-choque traseiro. Os vidros eram colados e, portanto, dispensava calhas de chuva, uma novidade entre os carros nacionais na época.


O Kadett que chegou ao Brasil era da quinta geração. Conviveu durante quatro anos com o Chevette, que era uma reestilização da terceira geração. Mas com o lançamento do novo médio, o Chevette Hatch deixou de ser produzido. A Marajó também deu lugar à Ipanema, a perua do Kadett, lançada no final de 1989.

As versões SL e SL/E usavam um motor 1.8 de 95 cavalos de potência à gasolina ou álcool. O GS, que também tinha saias laterais, para-choques na cor da carroceria, grade vazada, emblema Chevrolet adesivado no capô e rodas de alumínio de 14 polegadas, usava um 2.0 a álcool de 110 cavalos. E ambos eram instalados na transversal e ainda não tinham injeção eletrônica.



O interior tinha veludo nas portas, mas havia falhas de montagem que provocava rangidos. O GS tinha bancos anatômicos da Recaro. O desenho do painel era simples, com um gabinete elevado para o quadro de instrumentos e o console central em nível mais baixo, onde ficavam as saídas de ar e o computador de bordo. O Kadett foi o primeiro carro nacional a oferecer regulagem de altura do volante e dos bancos dianteiros como opcional.


A perua Ipanema tinha apenas duas portas e chamava atenção pela tampa do porta-malas 100% vertical, com o para-choque traseiro rebaixado no centro. Com exceção da GS, que não existia, as versões eram as mesmas do hatch, ou seja, SL e SL/E 1.8.


Em 1990, foi lançada a primeira série especial do Kadett, a Turim, que fazia alusão à Copa do Mundo naquele ano, realizada na Itália. Vendido apenas na cor prata, tinha as rodas do SL/E, só que diamantadas. Mas também trazia aerofólio e, no interior, revestimento aveludado preto e bancos RECARO. Vários exemplares foram sorteados pelo apresentador Fausto Silva nos intervalos de transmissão dos jogos. Era para ser uma série limitada, mas acabou virando versão definitiva. O GS ganhava opção de motor a gasolina, com o 2.0 passando a render 99 cavalos. O esportivo e o SL/E também ganhavam teto-solar como opcional.


No ano de 1991, todas as versões do Kadett ganhavam injeção eletrônica. O motor 1.8 passava a contar com o módulo de um bico injetor para os quatro cilindros (monoponto EFI) e a render 99 cv com álcool e 98 cv com gasolina (separados, claro). No interior, a novidade foram os encostos de cabeça vazados no banco dianteiro. No final do ano, foi a vez do esportivo GS aposentar o carburador, mas seu motor 2.0 ganhou injeção multipoint, um bico injetor para cada um dos quatro cilindros (MPFI), passando a render 121 cv. O mesmo do Monza.


O nome da versão também mudou para GSi e ganhou novidades como o fim da pintura preta entre as lanternas, novas rodas, luzes dianteiras incolores e, por dentro, encosto de cabeça vazado nos bancos e, como opcional, quadro de instrumentos com velocímetro digital e conta-giros e marcadores representados por gráficos, também vindo do Monza Classic.


Outra novidade era a versão conversível, para brigar com o modernizado Ford Escort. Assoalho e parte dianteira eram montados no Brasil e seguiam para a fábrica da Bertone, na Itália, onde recebia o resto da carroceria para depois voltarem para cá e receber a motorização. O processo demorava seis meses. A capota ainda era manual, ao contrário do concorrente, que já usava o comando elétrico.


Em 1992, a Ipanema ganhava a série especial Wave, na cor prata, com barras longitudinais no teto, adesivos na carroceria, frisos e saias laterais do GS e rodas do SL/E diamantadas. Para a linha 1993, o emblema Chevrolet saiu da grade para o capô, dentro de um pequeno círculo preto, como ocorria no Omega e no Monza. No mesmo ano, a perua ganhava carroceria quatro portas, como na Europa, que logo se tornaram de série, a versão SL/E ganha motor 2.0 EFI (injeção monoponto) de 110 cv e novas rodas trançadas. O conversível passava a contar com capota elétrica. O Kadett começava a ficar desatualizado. O Escort já tinha sido reestilizado no final de 92 e a Fiat lançaria o Tipo, importado da Itália. Na Europa, a Opel já tinha lançado o Astra em 1991. 


Em 1994, as versões mudavam de nome para GL e GLS, para padronizar com o Omega e o Vectra. O tanque aumentava para 60 litros de capacidade. Neste período, a Ipanema ganhava duas séries especiais: Sol e Flair, esta última com motor 2.0 e saídas de ar no capô.

O hatch também ganhou uma série especial: a Lite, mais despojada de equipamentos. A linha 1995 chegava com algumas modificações: um novo painel, mais arredondado, vidros elétricos nas portas em vez de no console, alarme acionado na própria fechadura (antes passava a chave pelo canto do para-brisa) e temporizador do limpador de para-brisa com "memória" de intervalo.


Em dezembro de 1994, as versões GLS e GSi saíam de linha para abrir espaço ao Astra, importado da Bélgica com motor nacional 2.0. Era para aproveitar a redução do imposto de importação de 35 para 20%, mas o imposto acabou subindo para 70% em fevereiro de 1995 e o Astra acabou ficando caro. Assim, a Chevrolet lançou o Kadett Sport, com motor 2.0 single point e detalhes do GSi como aerofólio e rodas esportivas de alumínio, saídas de ar no capô e saída dupla de escapamento. 


Em novembro de 1995, o Kadett ganhou o seu único face-lift no Brasil: para-choques foram arredondados e a grade ficou mais aberta com apenas um filete. O emblema Chevrolet voltou para a grade, ainda dentro do círculo. Na traseira lanternas fumê e uma moldura sobre a placa. Por dentro, volante de três braços do Vectra. O Sport tornou-se versão permanente e ganhou faróis de neblina no para-choque. A produção foi transferida de São José dos Campos para São Caetano do Sul. 


O motor 2.0 multiponto tornou-se padrão, mas ficou parado nos 110 cavalos, Em 1996 foi relançada a versão GLS, com grade no para-choque. Ganhou um aerofólio em 1998, quando se tornou a única versão sobrevivente do Kadett. A Ipanema deixou de ser produzida. Em setembro de 1998, o Kadett finalmente encerrava a sua história no Brasil, com 459.068 unidades fabricadas, incluindo a perua. Estava chegando a segunda geração do Astra, que foi nacionalizado. Começava outra história.


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO, COM INFORMAÇÕES DO SITE BESTCARS 
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