Texto originalmente publicado em 29 de julho de 2023, sem edição e atualização 

Antes de entrar na era total dos elétricos, o Brasil vai popularizando primeiro os modelos híbridos, que são aqueles com motores elétricos apoiados por motores a combustão, geralmente a gasolina. 

E temos, basicamente, em nosso mercado, três tipos de propulsão híbrida: o que carrega o motor elétrico na tomada, chamado plug-in; o que carrega o motor elétrico através do bloco a combustão e o que o propulsor a combustão é apenas apoiado pelo motor elétrico, de pequeno porte, chamado híbrido leve. 

Para exemplificar esses três sistemas, reuni três utilitários esportivos (o gênero da moda) neste comparativo: o Jeep Compass 4xe Série S, com o sistema plug-in, o Toyota RAV4 SX, com o sistema automático e o novo Kia Sportage EX Prestige, com o sistema leve, que, na verdade, nem deveria ser considerado híbrido. 

Antes de irmos para as comparações, quero esclarecer que a ideia inicial era representar a Toyota com o Corolla Cross, cumprindo a promessa de um comparativo feito no ano passado, quando o Compass 4xe foi lançado enquanto eu produzia e escrevia o duelo com o T270. Mas o Jeep híbrido chegou muito caro da Itália e o RAV4 está mais perto da sua faixa de preço de 300 mil reais. Também muito barato que o Compass é o Kia Niro, mas aí desequilibraria o comparativo e teríamos dois modelos com carregamento por motor a combustão (RAV4 e Niro) e um plug-in. Por isso, já faço outra promessa de desafiar o Niro ao Corolla Cross em outra oportunidade. 

Por ora, vamos para o comparativo com os três modelos citados no penúltimo parágrafo. 


Estilo


 
Apesar da frente estranha, com as luzes diurnas de LED em bumerangue invertido, o Kia Sportage tem o estilo mais moderno e elegante, principalmente na versão curta, que foi a que chegou ao Brasil, importada da Eslováquia. E com o tempo a gente vai se acostumando com a dianteira. 



Se a Kia ousou na frente do Sportage, a Toyota também radicalizou em toda a carroceria do RAV4, mas com linhas retas, que acabou deixando o estilo envelhecido. Por isso, quem ficou com o segundo lugar na aparência foi o Jeep Compass, o mais antigo dos três, lançado em 2016. Suas linhas arredondadas de sete anos de idade ainda são atuais e mais atraentes que o RAV4. 


Acabamento 




Se o estilo do RAV4 não agrada, ele dá o troco no acabamento superior ao dos seus dois concorrentes neste comparativo. Mas foi por pouco. Os três têm revestimento macio no painel e na parte superior das portas dianteiras. Mas o Toyota tem material sensível ao toque também nas portas traseiras, o que nos outros é de plástico duro. Assim, o RAV4 desempatou do Compass e do Sportage, que dividem o segundo lugar com suas telas destacadas, que no Kia inclui também o quadro de instrumentos em formato de tablet. 


Espaço interno




Para este comparativo eu não tenho números de espaço interno do Toyota RAV4 medidos pela revista Quatro Rodas. Para não ser injusto, fiz a avaliação visualmente, pelos vídeos do canal Mundo sobre Rodas no You Tube. Vi que a Giu Brandão ficou mais folgada no RAV4 e no Sportage e um pouco mais apertada no Compass. Desempatei na distância entre-eixos e realmente a do Toyota é maior: 2,69 m. A do Kia é 1 cm menor (2,68m), enquanto a do Jeep é de apenas 2,64 m. Não confio na distância entre as rodas para medir o habitáculo, mas aqui neste comparativo, os números bateram com o que eu vi nos vídeos. 


Porta-malas

O maior porta-malas também é do Toyota RAV4, com 580 litros, seguido pelo Sportage, com 562 litros. O Jeep Compass tem apenas 420 litros na versão híbrida. Na versão flex T270 são 476 litros. 


Motor


Chegamos ao ponto que justifica o comparativo: a análise dos motores a combustão e elétricos. O Jeep Compass tem dois elétricos, um gerador e outro principal, de 60 cavalos. O carregamento da bateria é feito na tomada. A potência do motor a gasolina (que não é flex) é de 180 cv. A potência combinada de modelos híbridos não costuma ser a soma da potência dos dois tipos de motores, mas no Compass é. E os 240 cv são os maiores entre os três. 

Toyota RAV4

E o Toyota RAV4 é o exemplo que a potência combinada não é a soma das cavalarias, pois é de apenas 220 cv, mesmo com três propulsores elétricos, que são carregados pelo bloco a gasolina 2.5 de 178 cv e rendem juntos 120 cv. Seriam 298 cv, mas não são. 

Kia Sportage

O Sportage é praticamente um modelo somente a gasolina, com 180 cavalos no motor 1.6 T-GDi, com turbo e injeção direta. Ele só tem o apoio de um motor elétrico de 48 volts que apenas melhora o desempenho e ajuda a reduzir o consumo (a segunda missão não aconteceu no teste da revista Quatro Rodas) e permitir que o carro ande com o motor a gasolina desligado em retas e descidas através do modo Velejar.  Apesar de leve, o motor elétrico também recupera a energia cinética das frenagens, tal como o RAV4 e o Compass. 


Câmbio

O melhor câmbio é o continuamente variável que simula sete marchas do RAV4, com tração integral, seguido pelo automatizado de dupla embreagem sete marchas do Sportage, que só tem tração dianteira. A transmissão do Compass é uma automática comum de seis marchas, mas a tração é nas quatro rodas. 


Desempenho


O Compass aproveita a maior potência entre os híbridos deste comparativo e é o mais rápido entre os três. Segundo a revista Quatro Rodas, acelera de 0 a 100 km/h em 7,2 segundos e retoma entre 80 e 120 km/h em 4,5 segundos. RAV4 e Sportage empatam tecnicamente no desempenho, com o Toyota sendo décimos mais ágil na aceleração, com 8,73 segundos contra 9,12 segundos do Kia, que se saiu melhor na retomada, com 6 contra 6,16 segundos. Graças a ajuda do pequeno motor elétrico. 


Consumo


Em um quesito que deveria ter peso 2, mas tem o mesmo peso dos demais porque eu gosto de equilíbrio, o Compass, recarregável na tomada, é o mais econômico, além de mais ágil. Pela Quatro Rodas, faz 19,9 km por litro na cidade e 14,4 km/l na estrada. A média ficou em 17,15 km/l. Em segundo lugar ficou o RAV4, de carregamento automático, com média de 16,3 km/l (17,3 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada). Nestes dois, verdadeiramente híbridos, o consumo na cidade é maior que na estrada, pois o motor elétrico trabalha mais, enquanto que nas rodovias, o motor a combustão é acionado com mais frequência. 


No Sportage, o motor a gasolina trabalha normalmente no ciclo urbano. Se o motor elétrico ajudou no desempenho, não fez o mesmo no consumo. Ficou em terceiro lugar, com 10,8 km/l e 12,5 km/l (média de 11,65 km/l). 


Segurança


Para classificar os melhores em segurança tive que fazer duas somatórias de pontos, com o mesmo critério da pontuação geral: três para o primeiro, dois para o segundo e um para o terceiro. Antes, comparei a frenagem da revista Quatro Rodas em duas velocidades: 80 e 120 km/h. Depois, somei o desempenho na frenagem com a quantidade de itens de segurança oferecidos, chegando à classificação na segurança. 


Compass e Sportage foram os melhores na frenagem, somando os pontos das duas velocidades. Isso porque o utilitário da Jeep foi o melhor a 80 km/h, parando em 24,6 metros. RAV4 e Sportage empatam tecnicamente em segundo lugar, com o Toyota parando em 25,2 m e o Kia em 25,5 m. Este último se destacou a 120 km/h, com 55,4 metros. Logo atrás dele vem o Compass, com 56,3 m e em terceiro o RAV4, com 58,9 m e que acabou ficando para trás. 


Mas o melhor em segurança foi o Sportage, pois o sul-coreano fabricado na Eslováquia tem isoladamente mais itens de segurança. Apesar de ter apenas seis airbags contra sete dos rivais, ele é completo em itens de segurança, tendo itens exclusivos como alerta de ocupantes no banco traseiro, alerta de tráfego cruzado, alerta de saída em segurança e assistente de pré-colisão em cruzamentos. Alerta de ponto cego, assistente de reboque e assistente de farol alto, o RAV4 também tem, mas o Compass não. O Jeep, por sua vez, tem alerta de fadiga, presente no Kia, mas ausente no Toyota. Mesmo tendo a exclusividade do reconhecimento de sinais de trânsito e estacionamento semi-autônomo, o Compass acabou ficando em terceiro lugar em equipamentos. Auto-hold, assistente de partida em rampa e assistente de pré-colisão com detector de pedestres e ciclistas os três têm. 

Finalmente, somando primeiro os pontos da frenagem e depois os pontos com os equipamentos, o Sportage é o mais seguro, seguido pelo Compass e o RAV4, em terceiro. 


Conforto

Toyota RAV4

Considerando o nível de ruído para avaliar o conforto, o mais silencioso é o RAV4, mas com os dados da extinta revista impressa Carro (hoje só na internet). A 80 km/h, a publicação da Infini Mídia registrou 59,3 decibéis e a 120 km/h em 65,8 decibéis.

Jeep Compass 4xe

Kia Sportage

Compass e Sportage empataram em segundo lugar com os números da Quatro Rodas: tecnicamente a 80 km/h, com o Jeep fazendo 61,2 dBA e o Kia com 61,4 dBA. A 120 km/h, o resultado é o mesmo: 67,5 dB.


Preço

O Jeep Compass 4xe chegou da Itália custando mais de 300 mil reais, mais precisamente R$ 347.300 na versão Série S, única com motorização híbrida. A mesma versão com motor flex 1.3 T270 custa R$ 236.190. Tem três opções de cores: as sólidas preto e branco e a metálica azul, felizmente sem custo. A branca e a azul têm teto preto. 

O Toyota RAV4 Hybrid, agora vendido na versão única SX, vindo direto do Japão, também está na faixa dos 300 mil, mas custa R$ 330.390 nas cores Prata Névoa, Cinza Granito, Preto Attitude e Azul Topazio. Porém, na Branco Lunar o preço sobe para R$ 331.820. 

O Kia Sportage tem duas versões. A básica EX sai por R$ 228.990. A top é a EX Prestige, que custa R$ 269.990, considerada aqui neste comparativo. Com sobras, é o mais barato dos três. E mantém a boa diferença mesmo com os 2.800 reais cobrados pela maioria das pinturas oferecidas: as metálicas Verde Aventura, Vermelho Infra, Prata Lunar e Cinza Penta e as perolizadas Branco Luxo e Preto Pérola. Só a sólida Branco Casa não tem custo extra. O preço final é de R$ 272.790. 


Equipamentos

Kia Sportage

A vantagem do Sportage na lista de equipamentos não se restringe aos itens de segurança já citados no respectivo capítulo. Ele também é superior nos itens gerais. Na versão EX Prestige, claro, só ele tem banco do passageiro elétrico, volante com aquecimento, controle de frenagem em declive e tela de multimídia de 12,3 polegadas. Mas ele tem algumas faltas, como apenas 4 alto-falantes, seletor de terreno e espelhamento de Android e Apple com fio. Este aqui é o mais curioso porque a versão básica EX tem a conectividade sem fio. 

Toyota RAV4

A classificação geral dos equipamentos é a mesma dos itens de segurança. Portanto, o segundo lugar ficou com o RAV4, que tem faróis de neblina direcionais como único item exclusivo. Mas tem menos faltas que o Compass. Ele também peca por não ter um quadro de instrumentos totalmente eletrônico, ter tela multimídia de apenas 8 polegadas (no Compass é de 10") e não ter iluminação no porta-luvas nem partida remota do motor. 

Jeep Compass

Apesar de ser o único com reconhecimento de sinais de trânsito, estacionamento semi-automático e 8 alto-falantes, o Compass fica em terceiro na lista de equipamentos. Ele é o que mais tem faltas de equipamentos, como bancos dianteiros aquecidos e ventilados, rack de teto, assistente de manutenção em faixa que também corrige (no Jeep só avisa) e paddle shifts no volante, por exemplo, que RAV4 e Sportage têm.

Ar condicionado digital de duas zonas com saída para o banco traseiro, banco do motorista com ajustes elétricos, bancos em couro, teto solar elétrico, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, sensores de estacionamento dianteiros, câmera 360º, seletor de modo de condução e piloto automático adaptativo são os principais itens que os três oferecem.  


Assistência

Sempre considerando o número de concessionárias, a maior rede é da Toyota, com 216 postos. Em segundo vem a Jeep com 202 e bem atrás, aparece a Kia com 130. 


 Conclusão 

3º Jeep Compass 4xe Série S


O italiano Jeep Compass 4xe tem a maior potência combinada, é mais rápido e mais econômico. Mas os pontos mínimos obtidos no espaço interno, porta-malas, câmbio, preço e equipamentos são maioria e o representante dos híbridos plug-in acabou ficando em terceiro lugar, três pontos abaixo do segundo colocado...


2º Kia Sportage 1.6 T-GDi EX Prestige


... o Kia Sportage, que mesmo sendo um híbrido leve, se destacou no estilo, na segurança e no custo-benefício dos preços e equipamentos. O sul-coreano eslovaco tem o motor mais fraco, a menor rede de concessionárias e gasta mais combustível. 


1º Toyota RAV4 Hybrid 2.5 SX


O genuíno japonês Toyota RAV4 SX Hybrid venceu o comparativo na pontuação geral, formada por itens de diversas categorias. Os pontos fundamentais para a vitória vieram do conforto, do acabamento e espaço interno para passageiros e carga, além do câmbio CVT e da maior rede de concessionárias da Toyota. De pontos fracos só o estilo polêmico e a segurança. 

O vencedor usa o sistema de recarregamento automático, mas o plug-in do Jeep Compass obteve mais pontos no motor, desempenho e consumo e pode ser considerado o vencedor entre os sistemas de hibridização. Como carro, aí sim, foi o RAV4. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTAS QUATRO RODAS E CARRO (NÍVEL DE RUÍDO DO RAV4)