A ideia era fazer um grande comparativo para desafiar o Toyota Corolla Cross e o novo motor 1.3 turbo do Jeep Compass. Mas a falta de mais concorrentes acabou transformando o comparativão desejado em um duelo.
O que só reforça o que eu disse no meu editorial A Hipocrisia dos SUVs, publicado no ano passado, no qual eu disse que as montadoras que atuam no Brasil tiram de linha ou deixam de importar sedãs e hatches médios com a desculpa de investir em utilitários esportivos, mas a oferta destes tais modelos de porte médio é escassa no país.
Ah, mas e o Ford Territory, o Volkswagen Taos e o Chery Tiggo 7? Destes eu não falo porque são projetos chineses. E, mais uma vez, também repito que carro da China não tem mais vez no Guscar. Ainda em protesto contra o vírus "supostamente" criado em laboratório pelo partido comunista de lá para derrubar governos de direita em todo o mundo e que matou mais seis milhões de pessoas em todo o planeta.
Opinião política à parte, eu queria incluir o Ford Bronco, o Peugeot 3008 e o Mitsubishi Eclipse Cross. Mas os dois primeiros custam muito acima da faixa de preço do Corolla e do Compass e do Eclipse ainda não tenho dados de teste.
Então, só restaram o Jeep Compass, que eu vou comparar na versão top com motor 1.3 Turbo, chamada Série S, e o Corolla Cross, a ser analisado na nova versão esportiva GR-Sport (abreviação de Gazoo Racing), que, apesar da aparência invocada, usa o mesmo motor 2.0 Dynamic Force de injeção mista das demais versões (exceto as híbridas).
Estilo
Mesmo mudando apenas o para-choque dianteiro e a posição das luzes diurnas dos faróis, que passaram de baixo para cima, o Compass vence o Corolla Cross no estilo, pois tem linhas mais arredondadas que o rival, que adotou o conceito reto em seus últimos crossovers, como o RAV4, o Yaris Cross e até o elétrico Bz4X. Este estilo do Corolla Cross deixa o utilitário com cara de modelo dos anos 70 e, ainda por cima, tem uma grade exagerada (mas atenuada na versão Gazoo Racing) com faróis finos demais. Mas há quem goste. O Compass, por sua vez, nem parece que foi lançado em 2016, tendo, portanto, já seis anos. E pensar que a primeira geração do modelo médio da Jeep era mais feia que o Corolla Cross.
Compass 1x0
Acabamento
Além do novo motor 1.3 turbo, a mudança mais visível do Jeep Compass foi o novo estilo do painel interno, que recorreu ao já manjado conceito de bancada horizontal com tela multimídia improvisada no alto, o que muitos chamam de flutuante.
O Corolla Cross tem o mesmo estilo de painel, mas possui menos revestimento macio do que o rival. Enquanto a parte superior do painel do Compass é emborrachada, no Toyota a mesma área é em plástico duro. Detalhe que, no Corolla sedã e na versão híbrida do próprio Cross, a mesma parte tem revestimento macio, o que daria ponto para o Toyota, que tem plaquinha numerada no interior, mas que não se trata de uma série limitada. Mas o ponto vai para o Compass, porque, apesar da igualdade no habitáculo, o Jeep tem manta térmica sob a tampa do capô, ausente no Corolla.
Compass 2x0
Espaço interno
Compass e Corolla Cross têm praticamente a mesma distância entre-eixos, sendo que o Toyota é 4 milímetros maior (264 contra 263,6 cm). Apesar do Jeep aparentar ser mais espaçoso nos vídeos de avaliações, nas medições da revista Quatro Rodas, a vantagem definitiva é do crossover nipo-paulista: 99 cm contra 90 cm de espaço para as pernas no banco traseiro. Para a cabeça, a diferença é um pouco menor: 92 contra 90 cm. Já na largura, o norte-americano fabricado em Pernambuco vence por 149 a 148 cm. Vale ressaltar que ambos possuem saída de ar para o banco traseiro.
Corolla Cross 1x2
Porta-malas
Mesmo sendo trinta litros menor que o Corolla sedã (470 litros), o porta-malas do Cross, de 440 litros, consegue ser maior que o do Compass, de 410 litros. Depois do face-lift, a Stellantis mudou a metodologia de medição do porta-malas e agora diz que ele tem 476. Mas a malandragem aqui não cola e o ponto no bagageiro vai para o Corolla Cross.
Corolla Cross 2x2
Motor
Uma das novidades da renovação do Jeep Compass, ao lado do novo interior, o motor 1.3 turbo rende 180 cavalos com gasolina e 185 cv com álcool, além de um torque de 27,5 kgfm a 1.750 rpm. A Stellantis seguiu o exemplo da Volkswagen e colocou o torque em Newton-metro na nomenclatura do motor, chamando-o, assim, de T270, mais forte que o 1.4 TSI da marca alemã, que tem 250.
O 2.0 Dynamic Force de injeção mista (direta e indireta) do Corolla Cross só chega ao máximo de 177 cavalos com álcool (com gasolina são 169 cv). O torque também é menor e ainda vem mais tarde: 21,4 kgfm a 4.400 rpm.
Compass 3x2
Câmbio
Mesmo que o câmbio CVT do Corolla Cross não tivesse 10 marchas eu daria ponto para o crossover da Toyota, pois uma transmissão continuamente variável é mais moderna e só não é bem vista pelo público e pela imprensa porque tem manutenção cara num país habitado por Zés Lanterneiros, ignorantes que não estudam para se especializar e conhecer melhor as novas tecnologias, e Nonôs Correia, que têm mania de economizar. Assim, ambos preferem o câmbio automático convencional de seis marchas do Jeep Compass.
Corolla Cross 3x3
Desempenho
Nas duas principais provas de desempenho medidas pela revista Quatro Rodas, os dois utilitários empatam tecnicamente, com cada modelo sendo melhor por décimos em cada prova. O Compass é dois décimos mais rápido no 0 a 100 km/h que o Corolla Cross: 10,3 contra 10,5 segundos. O Toyota dá o troco na retomada de 80 a 120 km/h, fazendo 6,9 contra 7,2 segundos. Mas há um vencedor no quesito, que é o Jeep. A vitória foi decidida na velocidade máxima fornecida pelo fabricante. O Compass vai a 203 km/h contra 195 km/h do Corolla Cross.
Compass 4x3
Consumo
Já no consumo, a vitória do Corolla Cross foi mais folgada. Na cidade, ele percorre 12 quilômetros com um litro de gasolina e na estrada faz 15,4 km/litro. O Compass faz 9,3 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. Os números também são da Quatro Rodas.
Corolla Cross 4x4
Segurança
Os dois empataram na prova prática de segurança: a frenagem. A 80 km/h, o Corolla Cross é ligeiramente mais rápido ao frear, em 26,6 metros. O Compass para totalmente em 26,9 metros. Já a 120 km/h, a vantagem discreta é do Jeep: 61,3 a 61,7 metros. O Corolla Cross poderia decidir a seu favor a 60 km/h: 14,7 a 14,8 metros, mas com a diferença de apenas 10 centímetros fica declarado o empate técnico.
Além das provas de frenagem da revista Quatro Rodas, os dois também empatam na lista de equipamentos. Ambos têm em comum sete airbags, frenagem automática de emergência, sistema de manutenção em faixa, detector de ponto cego, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, piloto automático adaptativo, farol alto automático, acendimento automático dos faróis e lanternas, espelhos retrovisores externos rebatíveis e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro. Mas cada um tem um item exclusivo. O Corolla tem alerta de tráfego traseiro e o Compass reconhecimento de sinais de trânsito.
Empate
Conforto (Nível de Ruído)
Apesar de ter perdido no acabamento por não ter a manta sob o capô, o Corolla Cross dominou as provas de ruído da Quatro Rodas. Ele é mais silencioso que o Compass em três das quatro medições da revista: posição Neutra (40,5 contra 46,2 decibéis), rotação máxima (64,8 a 65.7 dBA) e 80 km/h (61,8 a 63,8 dBA). O Jeep só foi melhor a 120 km/h (67,7 a 68,9 decibéis). Se eu considerasse apenas as duas últimas provas como eu fazia, os dois terminariam empatados mais uma vez. Ok, assim como a Jeep mudou a metodologia de medição do porta-malas, eu também mudei a metodologia de comparação do ruído. Mas foi para tornar a avaliação mais justa e não prejudicar ou beneficiar alguém.
Corolla Cross 5x4
Preço
Eu descartei a participação do Ford Bronco (R$ 266.090) e do Peugeot 3008 (a partir de R$ 254.190) neste comparativo porque estão muito acima da faixa de preço, já que custam mais de 250 mil reais. Mas Compass e Corolla Cross não são tão próximos no preço, não.
Isso porque o Jeep Compass custa R$ 210.537 na versão Série S, a mais completa com motor 1.3 Turbo. E o modelo da Toyota, na nova versão GR-Sport (GR é a sigla de Gazoo Racing, preparadora esportiva da marca japonesa), custa R$ 188.490. É a versão mais cara com motor 2.0. Mesmo se eu considerasse a XRX Hybrid, o Corolla Cross ainda custaria menos: R$ 202.180. Mas esta versão será comparada em breve contra o recém-lançado Compass 4xe (leia-se quatro por é), que custa, por enquanto, quase R$ 350 mil.
Para deixar o Compass em igualdade de preço, eu teria que considerar a versão Limited T270, que custa R$ 188.767, mas perderia os itens semiautônomos.
Fazendo um comparativo rápido de versões mais baratas, o Compass mais barato é o Sport T270, que custa R$ 161.472, enquanto que o Corolla Cross mais acessível é o XR 2.0, por R$ 160.800. Há também as versões Longitude T270 (R$ 171.327) e XRE 2.0 (R$ 172.270).
Corolla Cross 6x4
Equipamentos
Por muito pouco, o Jeep Compass, na versão Série S, não levou o ponto no quesito segurança pelos equipamentos para esta finalidade. O quesito terminou empatado. Mas na lista geral, incluindo itens de conforto e conveniência, não teve jeito. O Jeep leva vantagem.
Ar condicionado digital, trio elétrico, banco do motorista com regulagem elétrica, câmera de ré, retrovisor interno eletrocrômico, sensor de chuva, entrada sem chave e partida por botão estão nos dois crossovers. Mas o Compass, na versão Série S, tem quadro de instrumentos totalmente eletrônico, ajuste elétrico no banco do passageiro, revestimento integral em couro, partida remota, sistema start-stop, teto solar panorâmico elétrico, carregador de celular sem fio e assistente de estacionamento, que o Corolla Cross GR-Sport não tem. As rodas de liga-leve são maiores no Jeep: 19 contra 18 polegadas.
Ambos também têm sistema multimídia, mas agora a Toyota, para não atrasar a entrega, está oferecendo um conjunto genérico, embora com opção de tela de 8, 9 ou 10 polegadas, feito por fabricantes independentes, mas com garantia de fábrica. O problema é que a interface é lenta e não tem espelhamento com Apple e Android, o que a Jeep já oferece sem fio e com 10 polegadas. A Toyota culpa a crise dos semicondutores, como se fosse só ela que tivesse sido atingida.
Compass 5x6
Assistência
Na falta de custos de manutenção continuo considerando o número de concessionárias para apontar a melhor assistência. Assim, a rede de 216 concessionárias da Toyota é maior que a da Jeep, que está em crescimento, com 202.
Corolla Cross 7x5
Conclusão
Desde que passou a fabricar seus modelos no Brasil, a Jeep participou de seis comparativos do Guscar, sendo quatro com o Renegade e dois com o Compass. Não venceu nenhum deles. E ainda ficou em último em quatro (os dois do Compass e dois com o Renegade). Nos outros dois, o SUV compacto ficou em penúltimo, superando apenas dois modelos chineses (os extintos JAC T6 e T5).
Péssimos resultados para uma marca que oferece bom acabamento, farta lista de equipamentos e estilo atraente (mas só no caso do Compass). Os velhos motores 1.8 Powertrain e 2.0 Tigershark penalizavam o desempenho, o consumo e o nível de ruído de Renegade e Compass, respectivamente.
Ambos foram substituídos pelo 1.3 Turbo nos dois modelos (no Renegade o turbodiesel também foi aposentado). Ainda não comparei o Renegade com o novo motor contra os seus concorrentes, mas o Compass enfrentou, como você acabou de ler, o Corolla Cross. E não foi desta vez que um utilitário da Jeep venceu. Perdeu para o Toyota por 7x5 num duelo equilibrado.
O Compass até que tem o estilo mais atraente que o Corolla Cross. E o novo motor turbo surtiu um pouco de efeito, dando-lhe mais potência e sendo mais rápido que o rival. A lista de equipamentos também é melhor que a do adversário. Já o acabamento a seu favor foi decidido no detalhe: a manta térmica sob a tampa do capô que o Toyota não tem. Mas os pontos positivos do Jeep pararam por aí.
Pra começar, os dois empataram na segurança. E o Corolla Cross foi melhor em sete quesitos: preço, câmbio, consumo, ruído, espaço interno, porta-malas e rede de concessionárias (assistência), impondo mais uma derrota para a Jeep e o Compass, que, mesmo custando mais caro, seria a minha escolha se eu fosse comprar um utilitário médio.
TEXTO: GUSTAVO DO CARMO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 19 DE ABRIL DE 2022
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