Venerados no Japão, onde são conhecidos como kei-cars, e na Europa, os carros subcompactos (ou microcarros), infelizmente, não são muito aceitos no Brasil. O Ford Ka é um exemplo de como precisou crescer para se adaptar ao mercado. Ainda assim, a sua primeira geração é bem lembrada, assim como o Fiat 500, o Chery QQ, Kia Picanto e o japonês Daihatsu Cuore, do qual vamos falar neste texto. 


Com apenas 3,35 metros de comprimento (três centímetros menor que o Fiat Mobi), 1,41m de largura e 2,30m de distância entre-eixos, o Cuore (chamado de Mira no Japão) foi um dos poucos kei-cars a desembarcar no Brasil, em 1995, no auge da importação de veículos, reiniciada aqui em 1990. Ele quase foi nacional treze anos antes. Seria fabricado pela Puma em sua primeira geração, de 1980, mas o projeto não deu certo por causa das dívidas da empresa e a má-gestão dos sócios. 

Daihatsu Cuore 1980 - quase foi fabricado no Brasil pela Puma

O Cuore que chegou ao nosso país já era da quarta geração, lançada mundialmente em 1994. Tinha linhas arredondadas, ao contrário dos antecessores, e opção de duas ou quatro portas, inclusive aqui. O interior era bem simples, com revestimento das portas em plástico duro, mas bem montado, e lataria aparente. O painel tinha desenho envolvente com a parte central, mas o quadro de instrumentos era bem simples, contando apenas com o velocímetro, marcadores e luzes-espia. O espaço interno era bom para o seu tamanho minúsculo, inclusive no banco de trás, onde cabiam apenas dois adultos de 1,80m ou três crianças. Em compensação, o porta-malas só tinha 128 litros, mas os bancos podiam ser rebatidos. 


Também não era nada equipado. Não trazia ar condicionado (só ar quente), direção hidráulica e muito menos vidros elétricos. Apenas abertura interna do porta-malas, cintos de segurança laterais traseiros de três pontos, banco traseiro bipartido, brake-light, antena e alto-falante, mas não tinha sequer rádio (o que aparece na foto abaixo é de um modelo vendido no exterior). 

O coração do Cuore, ou melhor, o seu motor era um tricilíndico de 847 cm³ de cilindrada e rendia, inicialmente, apenas 44 cavalos de potência, com 6,8 kgfm de torque. Era um motor tão leve que fazia o carro pesar apenas 657 kg. O desempenho não era nada esportivo. Apenas o suficiente para fazê-lo se locomover pela cidade, embora fosse ágil para alguns motoristas. Demorava 17,6 segundos para chegar aos 100 km/h e alcançava no máximo 139 km/h. O consumo urbano era de 11,6 km/litro de gasolina e na estrada chegava a 16 km/l. A frenagem a 80 km/h era feita em 36,7 metros e o ruído a mesma velocidade era de 67,2 decibéis. Os números são da revista Quatro Rodas, mas há relatos de proprietários que conseguiram 18 km/l na cidade e 22 km/l na estrada. Por falar em proprietários, um criticou a dificuldade de achar peças. 



Aqui no Brasil, outro k-car vendido na mesma época foi o Subaru Vivio, que tinha motor de 660 cm³ e era mais barato. O Cuore custava 15.574 dólares e o Vivio, US$ 13.000. Por outro lado, o europeu Peugeot 106 XN era ainda mais caro, por US$ 17.850. Contra os carros nacionais, o Cuore ficava ainda mais em desvantagem. O Uno Mille EP, por exemplo, custava R$ 12.500 na versão completa, que trazia ar condicionado, vidros e travas elétricas, rádio toca-fitas e rodas de liga-leve, tudo que o Cuore não tinha. O dólar valia quase o mesmo que o Real na época, sendo só um pouco mais caro.

O Cuore foi vendido no Brasil até 1999. No ano anterior havia sido lançada no Japão a quinta geração, um pouquinho mais arredondada, mas com lanternas traseiras verticais, faróis mais trapezoidais e grade maior, que nunca veio para cá. Depois, o Cuore ganhou mais duas gerações, em 2002 e 2006, chamada de Charade em alguns mercados. A última foi fabricada até 2018. 



Daihatsu Cuore de quinta geração (1999-2002)
                                       

Aqui no Brasil, o Daihatsu Charade foi outro compacto, de tamanho maior e disponível nas carrocerias hatch e sedã. Também foram vendidos no país o sedã Applause, os SUVs compactos Feroza e Terios e a minivan Gran Move. Desde 2016, a marca japonesa pertence à Toyota, como uma subsidiária de baixo custo e um dos destaques do seu portfólio é o SUV compacto Raizen. 

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 

FOTOS (MERAMENTE ILUSTRATIVAS): DIVULGAÇÃO 

FONTES: 

REVISTA QUATRO RODAS

Daihatsu Cuore de sexta geração (2002-2006)


Daihatsu Cuore de sétima geração (2006-2018)