Dois clássicos utilitários rústicos, tipicamente fora de estrada, um norte-americano e o outro alemão, mas que só um realmente merece ser chamado de jipe, foram renovados no início do ano. Jeep Wrangler e Mercedes Classe G foram atualizados tecnicamente e tecnologicamente, mas mantiveram o estilo com os quais se consagraram.
Jeep Wrangler
Trinta e cinco anos depois do Jeep Willys deixar de ser fabricado no Brasil, o autêntico jipe evoluiu mais quatro vezes: em 1987, quando adotou o nome Wrangler, 1997, 2007 e agora em 2018 (foi apresentado ainda no ano passado, no Salão de Los Angeles).
O novo Wrangler terá duas opções de carroceria: duas e quatro portas. Ambas podem ter o teto, colunas e as portas (que são de alumínio de alta resistência e ganharam revestimento luxuoso no interior) removidos, deixando-os muito próximos aos antigos jipes CJ da Segunda Guerra Mundial e o nosso conhecido Bernardão, no caso do quatro portas. A capota de lona com abertura elétrica de um toque é opcional na carroceria de duas portas. O para-brisas pode ser dobrado, como no velho clássico. As versões serão chamadas de Sport, Sport S e Rubicon e o de quatro portas terá também a versão Sahara. Em breve haverá uma opção de meia porta.
A tração é a principal novidade mecânica do Wrangler. A caixa de transferência tem duas velocidades com tração integral permanente e uma relação reduzida de 2,72:1 disponível para a versão Sahara. Chamada de Selec-Trac, essa nova caixa de transferência é intuitiva e permite que o condutor o configure e esqueça, enquanto a força é constantemente entregue às rodas dianteiras e traseiras.
Há também o Command-Trac 4x4 e Rock-Trac, bloqueio eletrônico Tru-Lok e o Trac-Lok, um diferencial traseiro de deslizamento limitado que oferece torque e aderência extras durante situações escorregadias e de baixa tração, como a condução sobre areia, cascalho, grama molhada, lama fina, neve ou gelo.
O Wrangler tem um ângulo de ataque de 44º, de saída de 37º e de rampa de 27,8º, além de uma altura livre do solo de 27,7 centímetros, com capacidade de submersão de até 76 cm. A capacidade de reboque é de 1.587 kg. As versões Rubicom podem ter pneus de até 33 polegadas.
Serão três opções de motorização: um quatro cilindros 2.0 turbo de injeção direta com 270 cavalos de potência e 40 kgfm de torque, o V6 Pentastar 3.6 de 285 cavalos e 36 kgfm e o EcoDiesel V6 3.0 de 260 cv e 61 kgfm de torque. Todos têm sistema start-stop e câmbio automático de oito marchas, mas o Pentastar vem de série com um manual de seis velocidades. No ano que vem contará com propulsão híbrida.
A frente com as sete fendas verticais características da Jeep foi modernizada, com as entradas das pontas invadidas pelos faróis de LED e com inclinação na parte superior da grade, para melhorar a aerodinâmica. Nas lanternas os diodos emissores de luz são opcionais. E pensar que na virada da década de 80 para 90 os faróis do Wrangler eram quadrados...
Apesar da proposta aventureira (e lameira), o Wrangler tem um interior bastante luxuoso com revestimento de plástico e borracha e facilmente lavável. O desenho do painel é horizontal, mas sua montagem é bem vertical. A tela multimídia do sistema U Connect se destaca pela borda de borracha e é cercado pelas saídas de ar circulares. Dependendo da versão pode ter 5, 7 e 8,4 polegadas, sendo que as duas últimas podem ter o espelhamento com Android e Apple. Seus gráficos são de alta resolução, assim como na tela do quadro de instrumentos.
O Wrangler também é equipado com sistema de monitoramento de ponto cego, controle de cruzamento traseiro, câmera traseira ParkView com linhas dinâmicas, controle eletrônico de estabilidade (ESC) com mitigação eletrônica de rolagem e quatro air bags de série. Um off-road
Quando a Mercedes lançou o Classe ML (hoje GLE) em 1997, muitos pensaram que ele tiraria o veterano Classe G de linha. Estavam todos enganados. A marca alemã posicionou o novo modelo para as cidades e o utilitário puro para as trilhas. Sua importância é tanta que o seu nome passou a designar toda a linha de utilitários da Mercedes, como GLA, GLC, GLE e GLS, até porque G significa Geländewagen ou carro para caminhos difíceis em alemão.
Apesar da mesma proposta rústica de fora de estrada e de ser criado para ser um veículo militar, o Mercedes Classe G é bem mais recente que o Jeep Wrangler. Nasceu por sugestão do xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi, e também da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O projeto começou em 1972, mas só ficou pronto em 1979, fabricado na Áustria pela hoje Magna Steyr, então Steyr-Puch, justamente no ano em que o xá iraniano foi derrubado pelo Aiatolá Khomeini.
Este ano, o Mercedes Classe G também ganhou nova carroceria, plataforma e equipamentos tecnológicos, mas não é desmontável como o Jeep.
O estilo quadradão, com vidros planos e colunas largas, foi mantido, mas a carroceria é inteiramente nova. Por incrível que pareça, esta é apenas a segunda geração do Classe G. As modificações anteriores tinham sido apenas face-lifts. Faróis e lanternas agora são inteiramente de LEDs. A prova da mudança é o aumento das dimensões do jipe, que passou de 4,76m para 4,82m de comprimento, com a distância entre-eixos crescendo de 2,85 para 2,89m.
G500 |
Embora as capacidades de fora de estrada tenham aumentado em relação ao modelo anterior, o Classe G ainda é mais tímido que o Jeep Wrangler para enfrentar trilhas: o ângulo de ataque passou de 28 para 31 graus, o de saída de 29º para 30º, o ventral de 24 para 26º, a profundida máxima de 60 para 70 cm e a altura livre do solo de 23,5 para 24,1 cm.
Na mecânica, as novidades são o câmbio automático de 9 marchas (9G-Tronic), a tração com bloqueio de diferencial inteligente, seletor de modo de condução e a suspensão independente. O motor V8 4.0 de 421 cavalos, entretanto, foi mantido. A nomenclatura desta versão é a G500. Posteriormente chegará a versão apimentada AMG G63, com 585 cavalos extraídos deste mesmo motor, mas com a adição de um segundo turbo. O esportivo anterior tinha 5.5 litros de cilindrada e rendia 571 cv.
G63 AMG |
O novo Classe G será equipado com câmeras com visão 360 graus nos arredores do veículo e um display com informações off-road, como os ângulos de acordo com o bloqueio do diferencial ativado, além de bancos dianteiros com aquecimento, massagem e ventilação, sistema de som Burmester com 16 alto-falantes, entre outros.
Por dentro, só conforto e tecnologia. O painel agora segue o estilo do novo Classe A, com duas telas de alta definição de 12,3 polegadas (opcionais, pois as versões mais simples têm o quadro de instrumentos físico, apenas com a tela multimídia). O espaço interno também ficou maior e o acabamento, com detalhes em madeira, está longe de um jipe voltado para a lama. Afinal, o Classe G sempre foi um utilitário caro (aqui no Brasil o G63 em vias de substituição custa mais de 792 mil reais) e representa para os ricos fazendeiros e aventureiros árabes e europeus o mesmo que as picapes médio-grandes representam para os sertanejos brasileiros.
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