TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO

Este ano, o Gol ganhou um discretísimo face-lift, cuja mudança mais visível foi o novo painel interno. A mudança também chegou ao sedã Voyage, renascido em 2008 com a reestilização do Gol, e pode ser entendida como um presente pelos 35 anos do sedã. 


O Voyage foi lançado em 1981, nas versões de acabamento S e LS. Era o segundo modelo da nova família de compactos BX da VW. O primeiro foi o Gol, nascido no ano anterior. A perua Parati e a picape Saveiro viriam em 1982. Como no Fiat Siena em relação ao Palio, a montadora alemã também caprichou mais no sedã. Suas luzes de direção ladeavam os faróis e o motor era o 1.5 refrigerado a água do Passat. O câmbio tinha quatro marchas. No hatch elas ficavam no para-choque, deixando os faróis menores, e o propulsor era o mesmo 1.3 a ar do Fusca. O Gol esperou quatro anos para receber a novidade.


Em seu ano de estreia o Voyage foi eleito o Carro do Ano da Revista Autoesporte. Até para receber essa premiação o irmão mais velho precisou esperar (ganhou em 1990).


Em 1983 o Voyage ganhou as primeiras modificações: motor MD270 1.6 a água com mais torque (também havia o 1.6 a ar), câmbio de cinco velocidades (a quinta era uma sobremarcha econômica, o chamado 4+E), e a carroceria de quatro portas. Pena que, naqueles tempos, carros de quatro portas ainda eram vistos como táxi. Por isso o Voyage nessa configuração foi rejeitado e saiu do mercado brasileiro em três anos. Durou até bastante.


Para festejar os jogos olímpicos de 1984 foi lançado o Voyage Los Angeles (em alusão à cidade-sede), que tinha rodas esportivas, discreto aerofólio, bancos anatômicos (os famosos Recaro) e pintura azul metálica bem chamativa.



Fora do mercado brasileiro, o Voyage 4 portas continuou em produção porque, a partir de 1986, passou a ser exportado para os Estados Unidos com o nome de Fox. Para atender as exigências do mercado norte-americano (foi vendido também no Canadá) ganhou ainda brake-light, injeção eletrônica, catalisador e cinto de segurança automático. Quem o acompanhou foi a perua Parati, lançada lá com o nome de Fox Wagon.



 Pelo menos duas alterações foram disponibilizadas logo para o nosso mercado: a nova frente na linha 1987 (ligeiramente diferente, com os faróis alinhados à grade aqui e recuados lá, para mais segurança) e o novo painel (mas só no ano seguinte), mais ergonômico, pois no antigo os comandos de ventilação ficavam quase para o carona operar. A terceira luz de freio só chegou em 1990, o catalisador em 92 e a injeção eletrônica no ano seguinte. O cinto de segurança automático nunca existiu por aqui.

A versão CL tinha um painel diferente, mais simples, sem os comandos satélites na moldura do quadro de instrumentos e exclusivo do mercado brasileiro. No entanto, o desenho era mais moderno. 


No Brasil, o Voyage já tinha motor 1.8 desde 1985 e a versão GLS desde 1982. Em 1986 foi lançada a série especial GLS Super, com o motor 1.8. Em 1988 a produção foi transferida de São Bernardo do Campo para Taubaté, mas voltou para a planta original em 1990, quando, junto com os seus irmãos Gol, Parati e Saveiro, recebeu o motor AE 1600 da Ford e mais uma reestilização parcial na linha 91. Pouco antes, o mercado interno já recebera de volta o modelo quatro portas no nível GL.




Em 1992 os norte-americanos pararam de comprar o Voyage. No ano seguinte foi lançada a série especial Sport, com motor 1.8S de 105 cv, usado no Gol GTS, além de bancos RECARO e ar condicionado opcional. A carroceria tinha apenas duas portas.



  
Voyage Sport 1.8S 1993

Em 1994 ele deixou de ser fabricado no Brasil para ser importado da Argentina. Lá era chamado, primeiro, de Gacel, depois de Senda. No resto da América do Sul seu nome era Amazon. Suas vendas se encerraram de vez aqui no final de 1995 com a série especial Special. O objetivo foi abrir espaço para o Polo Classic, também fabricado lá, mas que nunca fez sucesso entre nós. O Voyage foi o único da família que não acompanhou a segunda geração do Gol.


Felizmente, foi apenas um hiato. Em 2008, para corrigir o que muitos consideram uma grande burrice e, também, enfrentar fortes concorrentes como o Renault Logan, o Fiat Siena, o Ford Fiesta e o Chevrolet Prisma, o Voyage voltou com a verdadeira terceira geração do Gol, com plataforma do Fox e do finado Polo, na época, ainda em sintonia com o europeu.


Até as portas laterais traseiras ele era (ainda é, na verdade) igual ao Gol. Ele só muda na caída do teto, deixando a coluna traseira mais larga e na tampa do porta-malas de linhas retas limpas e com um ressalto simulando um aerofólio. As lanternas eram trapezoidais e não invadiam a área do bagageiro, que tem 480 litros.


O layout do interior era praticamente igual ao do Gol. O painel tinha saídas da ar circulares, quadro de instrumentos destacado e uma parte central conservadora. O acabamento era até um pouco simples demais. A diferença em relação ao hatch era o tom avermelhado do tecido dos bancos e revestimento das portas.


O novo Voyage chegou equipado com motores 1.0 e 1.6, ambos de oito válvulas, VHT e bicombustíveis. O 1.0 tinha 72 cavalos com gasolina e 76 cv com álcool. No 1.6, a potência variava entre 101 e 104 cv.

As versões de acabamento agora tinham nome, exceto a básica, única que tinha o motor 1.0. As demais se chamavam Trend e Comfortline. Ganhou equipamentos opcionais que o primeiro Voyage nunca teve, como freios ABS, airbags frontais e CD Player com MP3, Bluetooth e sensores de estacionamento traseiro. O ar condicionado era cobrado à parte até na versão mais cara.


No ano seguinte, outro inédito equipamento foi oferecido como opcional no Voyage: o câmbio automatizado i-Motion, que tem apenas uma embreagem. Na verdade é um manual com um circuito que aciona automaticamente a embreagem, podendo mudar as marchas sozinho. As mudanças podem ser feitas na alavanca do câmbio no console ou nas borboletas atrás do volante. Até hoje nada de dupla embreagem.


Em 2012, o Voyage e o Gol ganharam nova frente, padronizando-os com a linha Volkswagen em todo o mundo. A nova identidade visual consiste em faróis maiores com um aplique em seu interior simulando luzes de LED, e grade preta e para-choque rasgado. No caso do Voyage, a novidade chegou à traseira, que ganhou um pequeno prolongamento das lanternas na tampa do porta-malas, além de novas lentes. A altura delas também foi reduzida.


O interior mudou levemente com máscara de plástico preto brilhante no centro do painel, novos botões do ar condicionado, saídas de ar menos destacadas e gráfico do sensor de estacionamento no display do rádio.

Os motores ganharam novos coletores de admissão e o 1.0 mudou de nome para TEC (Tecnologia para Economia de Combustível). Mas ambos mantiveram as respectivas potências.


Em 2014, o nome das versões foi mudado para seguir o padrão mundial da Volkswagen. Passaram a se chamar Trendline, Comfortline e Highline, que perdeu o posto de top no ano passado para a Evidence.


Em fevereiro deste ano foi lançado o face-lift, que mudou os elementos internos dos faróis e o desenho das entradas de ar do para-choque dianteiro. O que mudou pra valer foi o painel, que trocou as saídas de ar circulares por um conjunto trapezoidal e horizontal, dividindo as partes com um friso prateado ou azul. Em relação à tecnologia foi adotado, como opcional, um sistema multimídia com espelhamento do smartphone através de aplicativos Apple Car Play e Android Auto, chamado App-Connect. O motor 1.0 passou a ser de três cilindros e doze válvulas, rendendo 75 e 82 cavalos.




Somadas as suas duas gerações o Voyage já teve mais de um milhão de unidades produzidas. Mas hoje ele volta a carecer de um novo posicionamento da Volkswagen. Se, pelo menos, coloca o motor 1.6 de 16 válvulas, se o mantém somente com o motor 1.0, se o reestiliza totalmente ou se o mata pela segunda vez.