TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
Um decreto assinado há 25 anos abriu caminho, não só para um grande sucesso comercial, como também, para um novo segmento e comportamento do mercado brasileiro. Estava criada a moda dos carros 1.0, que até hoje são a porta de entrada para quem pretende comprar um carro e sustentam a nossa indústria automobilística.
Em junho de 1990, o Governo reduziu a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 40 para 20 por cento para modelos com motores entre 800 e 1000 cilindradas. Logo em agosto foi lançado o Uno Mille. O nome significava mil em italiano e fazia alusão à cilindrada arredondada de 994 cc do motor, que rendia somente 48 cavalos de potência.
O Mille era uma versão literalmente espartana do Uno, privada de equipamentos essenciais como as saídas de ar nas extremidades do painel e o encosto de cabeça para os bancos dianteiros, este oferecido como opcional. Para dar um aspecto ainda mais popular, o Mille não adotou a nova grade dianteira da linha Uno 91 (na cor do carro, com faróis menores). O painel antigo também foi mantido. O pioneiro dos modelos 1.0 foi o responsável pelo crescimento da Fiat no Brasil que ultrapassou a General Motors em vendas e ficou na cola da líder Volkswagen.
O Mille era uma versão literalmente espartana do Uno, privada de equipamentos essenciais como as saídas de ar nas extremidades do painel e o encosto de cabeça para os bancos dianteiros, este oferecido como opcional. Para dar um aspecto ainda mais popular, o Mille não adotou a nova grade dianteira da linha Uno 91 (na cor do carro, com faróis menores). O painel antigo também foi mantido. O pioneiro dos modelos 1.0 foi o responsável pelo crescimento da Fiat no Brasil que ultrapassou a General Motors em vendas e ficou na cola da líder Volkswagen.
Em 1991 a linha Mille cresceu com o Brio, série limitada com carburador de corpo duplo e potência de 54 cavalos. Era um pouco mais equipado e trazia os encostos de cabeça. Outras novidades no Mille só chegaram no final de 1992, quando o motor passou a ter ignição digital mapeada e a carroceria de quatro portas. Naquela época, o Uno mil já tinha a concorrência do Chevette Júnior e do Gol 1000, ambos com a mesma cilindrada.
Mas logo no início de 1993, o Mille Eletronic mudou a plaqueta de identificação para incluir algumas colunas do Palácio da Alvorada em Brasília só para fazer protocolo com o novo presidente Itamar Franco que baixou ainda mais o IPI para os populares (incluindo os com motor 1.6, para que a Volkswagen relançasse o Fusca) para simbólico 0,1%. As cinco barras inclinadas da Fiat na grade também ficaram menores. Ainda naquele ano, o Mille ganhou, como opcional, um ar condicionado especialmente preparado para a baixa cilindrada do motor.
Em 1994, para enfrentar o Chevrolet Corsa Wind, de estilo arredondado, foi lançada uma versão luxuosa com quatro portas, a frente moderna do resto da linha, o novo painel adotado na linha 94 (que duraria até o final de vida do modelo) e equipamentos opcionais como vidros elétricos e ar condicionado. Era a chamada versão ELX, ainda com carburador. A nova frente seria estendida ao Eletronic meses depois.
A injeção eletrônica, ainda single point (um ponto injetor para os quatro cilindros) chegaria em agosto de 95 na versão EP (Extra Power), elevando a potência para 58 cavalos. Mais tarde o Eletronic também ganharia a injeção e mudaria de nome para Mille i.e., ficando como opção mais popular.
Em 1996, com a chegada do moderno Palio, saíram de cena os Unos mais potentes, incluindo o Turbo. Só restou o Mille, que passou a batizar o antigo modelo junto com o sobrenome SX. A injeção eletrônica passou a ser multiponto (cada cilindro com o seu ponto injetor), que fez a potência subir para 61 cavalos. Em 1997 ele ganhou a série especial Young e no ano seguinte passou a se chamar EX.
Em 2000, sua frente foi reestilizada pela segunda vez e surgia o Mille Smart, com volante de quatro braços e instrumentos de fundo branco. Ainda no último ano do Século XX chegaria mais um concorrente: o Chevrolet Celta. Em 2001, o Smart passou a se chamar Fire por causa do motor homônimo, que era construído inteiramente fabricado por robôs e por isso ganhou esse nome (Fully Integrated Robotized Engine). A potência, porém, caiu para 55 cavalos.
O Palio já estava há oito anos no mercado, mas o Mille estava firme e forte. Por isso, a Fiat, já líder de vendas no mercado desde 2001, desistiu de matá-lo e ainda viu razão para renovar o Uno mais uma vez. Em 2004 lançou uma nova frente de gosto duvidoso. Para corrigir a polêmica, alterou,de novo, a grade, colocando aletas no lugar da chapa cheia de furos na linha 2005. A traseira, que fora mexida pela primeira vez em 20 anos em 2004, com a placa passando para o para-choque e deixando a tampa limpa, permaneceu.
Ainda em 2005 ganhou motor bicombustível, que podia ser abastecido tanto com álcool como com gasolina. A potência voltou a subir, agora passando para 65 cv com gasolina e 66 cv com álcool. No ano seguinte, foi lançado o kit Way, com pneus de uso misto, suspensão 44 cm elevada e parachoques reforçados com muito plástico para enfrentar pisos esburacados.
Ainda em 2005 ganhou motor bicombustível, que podia ser abastecido tanto com álcool como com gasolina. A potência voltou a subir, agora passando para 65 cv com gasolina e 66 cv com álcool. No ano seguinte, foi lançado o kit Way, com pneus de uso misto, suspensão 44 cm elevada e parachoques reforçados com muito plástico para enfrentar pisos esburacados.
Em 2008, o Uno passou por mais uma alteração na grade. As aletas ficaram mais finas e, no pacote Celebration, cromadas. O atual emblema da Fiat, em vermelho, substituindo o azul, foi adotado. Com a quinta marcha do câmbio mais longa, novo óleo do motor, modificações na suspensão, pneu de baixa resistência ao rolamento e um indicador de consumo instantâneo no painel chamado econômetro, o Mille ficou cerca de 10% mais econômico e, por isso, ganhou o sobrenome Economy.
Mesmo com o lançamento da nova geração do Uno, de estilo quadrado redondo (na verdade, um novo carro que resgatou o nome do velho compacto), o velho Uno Mille sobreviveu por mais três anos. Chegou a ganhar série especial Xingu, baseada sobre a versão Way, que também foi lançada para o Novo Uno.
Mas 2014 já estava se aproximando e as montadoras, que já sabiam desde 2009, corriam contra o tempo para se adaptarem à lei que obriga a inclusão de airbags frontais e freios ABS de série. Assim, a Fiat tratou de se despedir do velho Mille (que nunca usou estes itens) com a série especial Grazie (obrigado em italiano), limitada a apenas duas mil unidades.
Visualmente tinha filetes da grade cromados, faróis com máscara escura e rodas diamantadas no exterior, além de bancos com tecido mais sofisticado, logo da silhueta do Uno e acabamento interno mais caprichado, como o revestimento das colunas internas e tampa do porta-malas. De equipamentos trazia de série ar condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos e CD Player com Bluetooth e MP3. No final de 2013, o Mille enfim se despediu do mercado.
O estilo que demorou para envelhecer, o espaço interno, o primeiro carro nacional de grande escala com motor 1.0, o baixo custo de produção e de consumo de combustível e o revestimento em tecido nas portas (acabamento que se tornou raro nos populares de hoje) garantiram ao velho Uno uma história de quase 30 anos no mercado, dando o ponto de partida para a Fiat crescer no Brasil e se tornar mais rentável do que a matriz italiana. E o Mille colaborou muito para isso.
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