TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS


O primeiro carro nacional clonado por uma marca diferente e vendido simultaneamente com o modelo original está completando 25 anos. O Volkswagen Apollo foi a primeira experiência de um novo passo da Autolatina, holding que controlava a Volks e a Ford entre 1987 e 1995: carrocerias iguais com marcas diferentes. Antes, já compartilhavam os motores AP1800 da Volkswagen e o CHT 1.6 da Ford. A unificação das concessionárias, que aconteceu na Argentina, não foi levada adiante no Brasil. 

O modelo clonado foi o Ford Verona, versão três volumes e apenas duas portas do Escort, lançado no finalzinho de 1989. Em junho de 1990 chegou o Apollo, ironicamente batizado em homenagem ao Deus grego da beleza, nas versões GL e GLS, que se diferenciava do Verona por outros pequenos detalhes estéticos e mecânicos além do emblema Volkswagen. 

Este, aliás, ficava diretamente na grade e não no prolongamento do capô como no modelo da Ford. Havia também no Apollo um friso cinza escuro entre esta parte e a grade, que tinha aletas dessa mesma cor. Os faróis eram os mesmos. Na lateral do Volkswagen, também de duas portas e idêntica a do Verona, nada de cromados, a exemplo da frente. Frisos do para-lama e moldura das janelas eram cinza.

A traseira do Apollo tinha lanternas escurecidas (chamadas naquele tempo de fumê), mais próximas da placa, além de um pequeno aerofólio na ponta da tampa do porta-malas. A intenção era posicionar o Apollo como mais esportivo e o Verona mais clássico. Os para-choques do GLS vinham na cor do carro, com uma faixa cinza. A lateral tinha uma faixa que trazia a identificação da versão de topo. No Verona similar (o GLX) os para-choques eram totalmente cinza. No Apollo GL eram pretos. As rodas desta versão básica tinham calotas e na GLS eram de alumínio (ou liga-leve) que pareciam calotas.  



O interior tinha o mesmo refinamento do Verona, com revestimento aveludado das portas e dos bancos, embora no Apollo a espuma dos bancos fosse mais dura e o apoio de cabeça mais reto (era redondo no Verona). O painel era diferente. O sedã da Volks tinha desenho envolvendo o quadro de instrumentos e a parte central. Era parecido com o do Monza. Para quem não era nascido ou era um bebê na época, comparando com os carros de hoje, lembrava o novo Golf. O GL tinha uma tampa com o nome do carro no lugar do relógio. As duas versões do Apollo tinham instrumentos com iluminação laranja e volante do tipo canoa. Com 2,40m de distância entre-eixos, o espaço interno era limitado e o acesso ao banco traseiro ainda era dificultado pelo carro ter apenas duas portas.

Painel do Apollo

Painel do Golf Highline 2015

O Apollo GLS podia ter painel e revestimentos bege. Ele tinha equipamentos de série que eram opcionais no Verona, como ajuste lombar dos bancos dianteiros, vidros elétricos, apoios de cabeça traseiros (que não eram obrigatórios naquela época), rádio toca-fitas e aquecedor. A chave era iluminada. Ar condicionado e teto solar eram opcionais. Por isso, era mais caro que o Ford. A versão básica GL, que sequer tinha a opção do ar refrigerado, já custava em novembro de 1990 cerca de um milhão e setecentos mil cruzeiros. A GLS foi lançada em junho custando Cr$ 1,4 mi. 

Foto: Christian Castanho / Revista Quatro Rodas
Painel do Ford Verona (Reprodução You Tube)
Enquanto no Verona, a versão básica LX tinha motor 1.6, o Apollo tinha o 1.8 (AP 1800), ainda com carburador de corpo duplo, de 93 cavalos, movidos, separadamente, a gasolina e a álcool, para as duas versões. O motor era da Volkswagen e também usado no sedã original, o da Ford. A suspensão do Apollo ganhou amortecedores mais duros e o câmbio relações mais curtas. A caixa vinha do Escort XR3, enquanto o do Verona era das versões mais simples.

As relações mais curtas do câmbio melhoraram o desempenho do clone da Volkswagen (velocidade de 166,1 contra 164,8 km/h, aceleração de 0 a 100 km/h em 11,89 contra 11,98 segundos e retomada de 40 a 100 km/h em 18,29 contra 23,24 segundos, a maior diferença), mas cobrou o preço no consumo (8,33 contra 9,32 km/l na cidade e 14,10 contra 15,78 km/l na estrada, vazio) e no ruído (68,5 a 68 decibéis a 100 km/h). Os números são revista Quatro Rodas, que apresentava os dados de teste forma mais precisa naquela época. 


O Apollo foi lançado para os concessionários da Volkswagen oferecerem um carro médio (entre o Santana e o Voyage) com as mesmas qualidades de conforto e acabamento do Ford Verona. A Autolatina queria, também, acabar com o "mimimi" dos revendedores da marca alemã de que os Ford estavam sendo bem vendidos com um motor seu. A Ford, por sua vez, reclamou de um clone de um carro seu ser comercializado pela então montadora líder de mercado. Assim, ela ganhou o Versailles, clone da nova geração do Santana, para substituir o Del Rey em 1991. 



Naquele mesmo ano foi lançada a série especial Apollo VIP, com rodas raiadas ao estilo da marca alemã de acessórios BBS (que o GLS da linha 91 já usava, repassando as rodas antigas para o GL, como opcionais), para-choques e base da lateral cinzas escuros, bancos anatômicos Recaro e todos os opcionais do GLS como travas e retrovisores elétricos, teto solar e ar condicionado. Tudo de série. A linha 1992 ganhou motor a álcool com mais dois cavalos na potência (passando para 95 cv) e catalisador (um filtro do escapamento que era exigência da nova lei de emissão de gases veiculares que entrou em vigor a partir daquele ano). 


Com a reestilização do Escort no final de 1992, também foi necessário renovar o Apollo. No entanto, o nome do modelo da Volkswagen foi mudado e a própria carroceria precisava ser mais exclusiva. Assim, foi lançado o sedã Logus, em 1993, com apenas duas portas, e, no ano seguinte, o fastback Pointer, com quatro (cinco para os europeus). Naquela época, com a invasão dos importados, o brasileiro já começava a pedir carros de quatro portas. 

Ford Escort 1993


Volkswagen Logus

Volkswagen Pointer

Escort 1997
Verona 1994


O Logus deixava de ser um clone do Verona, que manteve o nome, mas ficou com linhas mais conservadoras. E também não chegava a ser cópia do novo Escort. Tanto ele quanto o Pointer tinham frente e traseira diferenciados. A lembrança do Ford era visível apenas na lateral. O sucessor do Apollo tinhas as janelas do Escort duas portas e o Pointer o de quatro. O Ford com estas portas extras só seria lançado no final de 1996. Mas isso aí já é outra história. 

FICHA TÉCNICA

Motor: Quatro cilindros em linha, transversal, gasolina ou álcool, carburador de corpo duplo, 1.781 cm³, 8 válvulas
Potência: 93 cavalos (95 na linha 1992)
Torque: 16,1 kgfm a 2.800 rpm (15,5 a 3.000 rpm em 1992)
Câmbio: manual de cinco marchas
Tração: dianteira
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,89 segundos (revista Quatro Rodas, julho de 1990)
Velocidade máxima: 166,1 km/h (idem)
Consumo: 8,33 km/l na cidade e 14.10 km/l na estrada (idem)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,22/1,64/1,33/2,40m
Porta-malas: 384 litros (medição Quatro Rodas)
Tanque: 64 litros
Cotação: R$ 4.689 (GL 1990) / R$ 4.811 (GLS 1990)
R$ 5.011 (GL 1991) / R$ 5.186 (GLS 1990)
R$ 5.755 (GL 1992) / R$ 6.093 (GLS 1992)