TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO



O modelo que sofisticou os então chamados carros populares está completando vinte anos. Se o Uno Mille foi o primeiro 1.0 contemporâneo vendido no Brasil, o Chevrolet Corsa trouxe a tecnologia e a qualidade de acabamento que faltava ao segmento. 


O compacto nasceu na Europa em 1982, através da alemã Opel, e tinha um desenho bem quadrado. Estilo que quase foi lançado aqui, não fosse a insistência bem-sucedida do então vice-presidente da empresa, André Beer, que bateu o pé e conseguiu trazer as linhas arredondadas da segunda geração lançada no velho continente em 1993.




O Corsa chegou no mercado brasileiro em março de 1994, fabricado em São José dos Campos (SP), inicialmente na única versão Wind, com acabamento simples, mas de boa qualidade, e motor 1.0 de 50 cavalos de potência. Foi o sucessor do Chevette e o primeiro carro popular equipado com injeção eletrônica de combustível, que ainda tinha injetor de bico único. Era mais espaçoso que o antecessor, mas tinha um motor fraco. O concorrente Mille ELX, sem injeção eletrônica, tinha 56 cv. O Corsa acelerava de 0 a 100 km/h em 18,6 segundos e alcançava a velocidade máxima de 145 km/h.

Mesmo com a tecnologia cara, o novo modelo custava 7.350 URVs, a unidade monetária que foi o "protótipo" do Real, que só chegaria em julho de 1994. E o rendimento fraco do motor não impediu o aumento da procura, a demora na entrega do carro e a cobrança de ágio nas concessionárias de até 50% do valor do carro. O problema fez o próprio Beer anunciar em rede nacional o aumento da produção do carro.






Em junho foi lançado o Corsa GL com motor 1.4, mais potente (60 cv) e mais equipado, com ar condicionado opcional, vidros elétricos e o inovador display do rádio afastado do aparelho. A sua pré-estreia foi no sorteio do Faustão, nos intervalos da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, em que o Brasil ganhou o tetra. O carrinho nasceu com fama de pé-quente.



No final daquele ano apareceu, no Salão do Automóvel de São Paulo, o esportivo GSi, que tinha aerofólio, grade mais aberta, bancos anatômicos e motor 1.6 de dezesseis válvulas importado da Hungria. Da família Ecotec (uma versão mais antiga do bloco que hoje é usado no Sonic), o propulsor rendia 108 cavalos. Acelerava em menos de dez segundos e alcançava os 192 km/h. Era equipado com freios ABS de série e de opcional tinha teto solar com abertura manual por manivela.



Em 1995 a linha Corsa se tornou uma família com o lançamento da picape GL em maio, do hatch GL quatro portas em agosto (que tinha traseira e vidros traseiros diferentes e porta-malas maior - 280 contra 260 litros) e do sedã em novembro (versões GL e GLS e porta-malas de 390 litros), exclusivamente com o motor 1.6 multiponto de oito válvulas e 92 cavalos que chegaria ao resto da linha em fevereiro do ano seguinte. A picape foi lançada com o 1.6 single-point de 79 cavalos. O 1.0 também ganharia os injetores múltiplos, passando a render 60 cv. Na mesma época foi lançada a série especial do 1.0 Wind Super, com ar condicionado e direção hidráulica.

Em 1997 a linha ficou completa com a entrada do Wind 1.0 quatro portas e o surgimento da perua, fabricada na Argentina, que era um hatch de quatro portas esticado, mas com motor 1.6 16v de 102 cv (que logo chegaria ao sedã). Com exceção do hatch de quatro portas, todos os derivados do Corsa foram desenhados no Brasil.




O Tigra, um coupé esportivo também de origem Opel, foi importado da Hungria em 1998, com motor 1.6 16v. Tinha desenho totalmente diferente, mas o chassi e o painel eram do Corsa. No mesmo ano, o sedã ganhou motor 1.0 de 60 cv. Em 1999, o três volumes, a perua e o hatch ganharam um 1.0 de 16v de 68 cv, sendo opcional neste último. Enquanto os dois primeiros adotaram a versão Super, o carro-chefe trocava a versão GL pela GLS.



Ainda em 99 o Corsa ganharia uma nova frente, inspirada na do já extinto GSi, sem o friso que dividia a grade, que passou a ser em forma de colméia. Os faróis ficaram mais transparentes. A picape ganharia uma versão mais simples chamada ST e em 2000 um furgão com baú adaptado (nada a ver com o Combo europeu que lhe deu origem).



Também no último ano do século XX, o Corsa 1.0 perdia o status de popular com o lançamento do Celta, que usava a sua plataforma e nasceu com acabamento exageradamente espartano para ser o carro mais barato do Brasil. Mesmo assim, não conseguiu. Por causa disso, o novo compacto foi ganhando um pouco de requinte no painel, quatro portas e motor 1.4.



O Corsa voltaria a dar sorte para o futebol brasileiro em 2002, quando foi totalmente reestilizado em abril daquele mesmo ano. O Brasil ganharia o penta no final de junho. As linhas do hatch e do sedan foram totalmente reestilizadas e os dois cresceram. O hatch ganhou lanternas na coluna traseira. O painel também foi renovado. Os dois tinham, como opcional, o moderno câmbio AutoClutch, sem embreagem, e motores 1.0 (71 cv) e 1.8 (102 cv), este último fabricado em parceria com a Fiat sob a marca Powertrain. Do modelo antigo só ficou o sedã, rebatizado de Classic.





Em agosto a plataforma do novo Corsa deu origem ao monovolume Meriva, que fez a sua estreia no Brasil e meses depois foi fabricado também na Europa pela Opel. O Meriva tinha um interessante recurso que rebatia os bancos traseiros e tornava o assoalho plano, chamado FlexSpace, mas foi abandonado logo depois por redução de custos. O mesmo corte foi feito no câmbio sem embreagem da linha Corsa.





A picape renovada passou a ser chamada de Montana em 2003 e ganhou vidro vigia na lateral e apoio de pés no exterior da caçamba. No mesmo ano toda a linha Corsa ganharia o motor Flexpower, movido a álcool e a gasolina, primeiro o 1.8 (105 cv com gasolina e 109 cv com álcool) e dois anos depois o 1.0 (77 e 79 cv).





Em 2006 o hatch e a Meriva ganharam a versão esportiva SS, que de arrojada só tinha a grade sem frisos, pois o motor era o mesmo 1.8 e ainda com quatro portas. No mesmo ano, o Celta era reestilizado na frente e atrás, além de ter ganho a sua versão sedã Prisma, ameaçando o Classic, ainda a primeira geração do Corsa Sedan. O 1.0 passava a se chamar VHC. 










Se o 1.0 era muito lento, o 1.8 era caro e gastava muito combustível. Para corrigir o problema a GM resgatou, no ano seguinte, o motor 1.4 (99-105 cv) para a linha Corsa, mas com atualização técnica, como acelerador eletrônico. A mudança foi chamada de Econo.Flex e já estava sendo usada no Celta e no Prisma. O estilo ganhou leves alterações como friso cromado na grade com emblema dourado, faróis com máscara escura e lanternas fumê no hatch. As versões foram reordenadas: Joy 1.0, Maxx e Premium 1.4. O 1.8 ficou restrito à Premium do sedã e ao SS do hatch.



Quinze anos depois do lançamento da versão popular Wind, a linha Corsa sofreu a primeira ameaça de extinção. Em 2009 foi lançado o Agile, um hatchback de linhas retas, frente desproporcional, seguindo a identidade visual da marca (barra da grade na cor do carro com gravata dourada) e uma pintura preta brilhante na lateral simulando um teto arqueado de cupê. A traseira tem lanternas exageradamente retas. O acabamento, de pior qualidade, tem ainda mais plásticos e duros. 

Na plataforma, um retrocesso: o chassi é derivado do Corsa de 1994, já que vem do Celta. Este último e o velho Classic, aliás, ganharam o motor 1.0 VHCE, com acelerador eletrônico e 78 cavalos. 



A General Motors vivia uma nova fase após quase ir à falência por causa da crise econômica nos Estados Unidos em 2008. Quase vendeu a Opel, base de praticamente todos os Chevrolet de passeio fabricados no Brasil desde o Opala. Mesmo assim, a marca se afastou dos europeus e inventou um estilo próprio, de gosto duvidoso, inspirados nos carros asiáticos. 

E assim é o Agile, que não matou o Corsa logo de cara. Posicionou-se no segmento premium, pois é maior e mais espaçoso. O Corsa, por sua vez, perdeu os motores 1.0 e 1.8 e foi ficando sufocado no mercado. Em 2011 a picape Montana "traiu" a família e se afeiçoou ao Agile, adotando a sua frente, interior e até o chassi antiquado. 



O Corsa ganhou sobrevida, só restando a versão Maxx, com motor 1.4, graças à sua qualidade, pois tem construção mais moderna que os modelos que passaram a pressioná-lo. Já o Sedan ficou ainda mais ameaçado com o lançamento do Cobalt, que é mais moderno que o Agile. A Meriva (que em 2008 ganhou um face-lift) de lugar à minivan Spin em 2012. E pensar que a minivan foi criada no Brasil e hoje é um sofisticado monovolume na Europa, parecido com o Honda Fit. 







Em 2012, o Corsa hatch e Sedan de segunda geração finalmente descansaram. Foram substituídos pelo Onix e o Prisma, apesar da adoção do nome do finado sedã do Celta e a fabricação em Gravataí (RS) sugerirem que o compacto mais recente possa ser o sucessor deste e não do Corsa. 

O fim do Corsa e da minivan Meriva gerou demissões e manifestações políticas dos operários de São José dos Campos (SP), que o fabricavam. Mesmo assim, a decisão foi mantida.





















O nome Corsa foi abandonado, mas a sua plataforma continua viva no Celta e no Classic, que mantém a mesma carroceria de 1995, derivada do hatch de 1994, reforçada por alterações de estilo na frente e traseira em 2011, inspirado na versão chinesa (até lá o Chevrolet Sail, que já foi Buick, ficou mais moderno). Ambos só foram equipados com freios ABS e airbags frontais por causa da lei decretada em 2009 que só entrou em vigor este ano.






Mais informações:


http://www.carrosnaweb.com.br/corsa.asp


http://www2.uol.com.br/bestcars/classicos/corsa-1.htm