DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS
Motor de três cilindros não é novidade no Brasil. Os DKW-Vemag já usavam há 55 anos, mas com dois tempos de ciclo. No mercado atual, o 1.0 EA-211, o mais moderno da Volkswagen no Brasil, do Fox Bluemotion, também não foi o primeiro.
A retomada começou em 2011 com o Kia Picanto - importado da Coreia do Sul - e seu Kappa 1.0 flex, adaptado por brasileiros. No ano passado, este mesmo motor também foi estendido ao nacional Hyundai HB20, já que as coreanas são irmãs.
O relançamento do Fox Bluemotion (que antes tinha o 1.6 VHT) me motivou a compará-lo com o Picanto e o HB20. Versão "ecológica", a Bluemotion, por enquanto, é a única do Fox com este novo propulsor, que no ano que vem será usado também no compacto Up! (a Volkswagen o antecipou no Fox para testar o mercado) e em outros modelos da marca. O 1.0 EA-111 de quatro cilindros continua à venda.
Todas as três versões do Picanto têm este motor 1.0, mas a considerada será a básica, pois as duas mais caras são equipadas com o câmbio automático (que não vem ao caso agora). O HB20 também tem três versões com este motor: Comfort, Comfort Plus e Comfort Style, a ser considerada esta última.
O motor tricilíndrico, especialmente para a Volkswagen, voltou ao mercado brasileiro para vender mais economia de combustível e consequentemente, mais respeito ao meio ambiente, com menos emissão de poluentes e descarte de peças velhas (um cilindro é formado por pistão, bielas e mancais). A economia de um cilindro e a construção do bloco em alumínio reduziram o peso, gerando menos atrito interno e perda de energia.
Com a manutenção do curso (999 cm³ no Fox e 998 cm³ nos coreanos), a eliminação de um cilindro ainda aumentou o seu tamanho e também das doze válvulas (quatro por cilindro), rendendo mais potência e, ao mesmo, gasta menos combustível. Além disso, as válvulas de admissão ganharam comando variável. Esta descrição serve para os três modelos, mas só o Fox tem sistema de partida a frio, que dispensa o tanquinho de gasolina.
A sustentabilidade também é usada pela Kia e Hyundai para justificar o uso dos três cilindros, mas não é o argumento principal. Para o Picanto, prevaleceu o tamanho do carro e do seu capô. Já o HB20 aproveitou a logística da empresa.
Os três têm potência semelhante, mas o Fox conseguiu extrair mais do etanol do que os concorrentes: tem 82 contra 80 cavalos dos outros dois. O antigo quatro cilindros tem no máximo 76 cv (72 cv com gasolina). O Picanto é o que rende mais com gasolina (77 contra 75 cv do Fox e HB20). Assim, ponto para o Kia e o Volks.
O empate também foi levado para o desempenho. Segundo a revista Quatro Rodas, o Picanto acelera de 0 a 100 km/h em 14,4 segundos e o Fox, retoma entre 80 e 120 km/h em 20,2 segundos (o quatro cilindros faz em 33,9 seg). Nas provas em que os vencedores não se destacaram, o tempo foi de 24,8 segundos (retomada do Picanto) e 15,1 seg. (aceleração do Fox. o antigo fazia em 18,5 seg). O Hyundai acelera em 15,4 segundos e recupera em 24 segundos.
Já no consumo, quem mandou foi o Fox. Fez impressionantes 9,5 km/litro na cidade e 13,6 km/l na estrada (o anterior 1.0 faz 7,8 km/l e 10,3 km/l). O Picanto ficou em segundo com 9,5 e 12,8 km/litro. Já o HB20 vem em terceiro com 8,3 km/l e 11,8 km/l. Todos os carros da Quatro Rodas são abastecidos com álcool.
Já no consumo, quem mandou foi o Fox. Fez impressionantes 9,5 km/litro na cidade e 13,6 km/l na estrada (o anterior 1.0 faz 7,8 km/l e 10,3 km/l). O Picanto ficou em segundo com 9,5 e 12,8 km/litro. Já o HB20 vem em terceiro com 8,3 km/l e 11,8 km/l. Todos os carros da Quatro Rodas são abastecidos com álcool.
Outras medidas de economia do Fox Bluemotion foram o uso da direção eletro-hidráulica, pneus mais estreitos (os 195/55R15 foram trocados pelos 175/70R14) com menor rolagem e maior pressão de calibragem (de 29 psi na dianteira e 28 psi na traseira para 36 e 34 psi), aerofólio traseiro, grade preta praticamente selada para reduzir a aerodinâmica de 0,35 para 0,33 Cx e indicação no painel do momento ideal para troca de marchas.
A importância do motor no comparativo fez com que eu invertesse a ordem dos tópicos no texto e também desse peso maior (só para o vencedor) nestes três primeiros itens, além da segurança, preço e equipamentos de série. Assim, nos três primeiros itens, o Fox largou na frente.
Segurança e Conforto
O critério de avaliação de segurança será sempre a frenagem, mas não custa nada dizer a relação de equipamentos do gênero. Fox Bluemotion e HB20 (somente o Style) trazem airbags frontais e freios ABS com EBD de série. O Picanto só tem ABS se tiver câmbio automático (e nesta versão ainda tem airbags laterais). Em compensação, é o único que disponibiliza apoio de cabeça e cinto de segurança de 3 pontos para o meio do banco traseiro. No Fox o apoio é opcional e o HB20 não tem nenhum dos dois, nem pagando mais, embora só ele ofereça gancho de fixação ISOFIX para cadeirinhas infantis.
Agora, como o que vale (e por dois) é a frenagem, o mais seguro é o Fox, que leva 30,7 metros para parar a 80 km/h. O HB20 vem em segundo com 31,5m e o Picanto, sem ABS nos freios, passou por um vexame histórico no teste da Quatro Rodas, levando 41,9 metros.
Um efeito colateral da redução cilíndrica é o aumento do nível de ruído. Efeito que o Fox sentiu, pois comparado com o modelo básico de quatro cilindros, ficou mais barulhento com 62,2 decibéis a 80 km/h contra 60,5 dBA, que ficaria em segundo lugar neste comparativo. O vencedor foi o Picanto, com 60 dBA, seguido do HB20 com 60,8 dBA.
Se a gente for avaliar o estilo pela idade do modelo, a classificação ficaria assim: HB20 (2012) em primeiro, Picanto (2010) em segundo e Fox (2003) em terceiro. Mas o importado Kia, pouco vendido, chama mais atenção do que o nacional Hyundai, que também é atraente. No entanto, os dois são bem parecidos. Como me bateu a dúvida, declarei empate entre os dois.
Já o Fox, indiscutivelmente, ficou para trás, pois sua carroceria já tem dez anos (fará até parte do especial Eles são 10! com Ford Ecosport, Honda Fit e Citroën C3) e sem sinal de sucessão. Nesta versão "sustentável" Bluemotion, a novidade mais chamativa é a cobertura preta que sela a grade, para melhorar a aerodinâmica.
Por dentro, o Bluemotion também perdeu apliques de tecido nas portas. A parte interna dos bancos tem tecido levemente azul. Associado ao painel com pouquíssimos detalhes prateados, apesar de bem montado, o Fox ficou com aparência muito simples. Já o Picanto tem um painel bem caprichado, mas peca pela ausência de tecido nas portas. O melhor acabamento é o do Hyundai HB20, o único dos três com aplique de tecido (só a partir da versão Plus). O painel é muito bem montado com mais detalhes prateados.
Espaço interno e Porta-malas
Em espaço interno traseiro para as pernas, o Fox (com comprimento de 3,82m e entre-eixos de 2,46m) é insuperável. Apesar da maior distância entre-eixos (2,50m) dos três, o HB20 ficou em segundo. O Kia Picanto, com os seus 3,60m e 2,39m, não fez milagre e ficou para trás.
Se o HB20 ficou em segundo no espaço interno, compensou no porta-malas de 300 litros, deixando para trás o Fox com os seus 260 litros. O tamanho do Picanto novamente prejudicou a capacidade do seu porta-malas, que tem apenas 200 litros.
Preço, Equipamentos de série e Assistência
Ecológico, econômico, potente, rápido, seguro e... caro. O Fox Bluemotion se destacou na maioria dos itens com peso dois, mas não tem um custo-benefício à altura. É o único com opção de duas portas, que custa R$ 32.590. Seria o mais barato se viesse de série com ar condicionado, som e trio elétrico. Mas só tem direção eletro-hidráulica, computador de bordo, freios ABS com EBD e airbags frontais (os dois últimos porque serão obrigatórios no ano que vem).
Com ar, trio elétrico e som, o preço sobe para R$ 38.258 com duas portas e R$ 40.031 com quatro, como os dois rivais, o suficiente para torná-lo o mais caro. Lamentável que os terceiro apoio de cabeça atrás, o banco traseiro corrediço e até ajuste da coluna de direção sejam opcionais, elevando o preço para R$ 40.826. Também são cobrados à parte os faróis de neblina e o sensor de estacionamento. Completo, o Fox Bluemotion quatro portas chega a R$ 41.977, sem pintura metálica, que adiciona mais R$ 1.036, desde que seja azul, cinza ou prata. Lógico que o Fox ficou com a pior classificação no custo-benefício. Rodas de liga-leve? Esqueça. Vai contra a consciência ecológica da Volks, que também recomenda não usar o ar condicionado. Mas aí já é demais.
Versão Comfort do HB20 |
O HB20 tem ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, som com MP3, airbags frontais e freios ABS com EBD, volante com regulagem de altura e profundidade, rodas de liga-leve, faróis de neblina e computador de bordo. Mas esses equipamentos todos só na versão top com motor 1.0, a Comfort Style, por R$ 39.395. O Comfort básico (R$ 33.295) não tem trio elétrico e o Comfort Plus (R$ 35.295) não tem retrovisores elétricos. O som é opcional em ambos (subindo o preço respectivamente para R$ 34.290 e R$ 36.290), mas freios ABS só na Style. Além disso, ainda tem a pintura metálica, que adiciona R$ 1.245 e tem as mesmas opções do Fox, que só tem preto e branco de cores sólidas. O Hyundai também tem vermelho.
O mais barato é o Kia Picanto. Na única versão com câmbio manual, que é a básica (pacote chamado J.318), custa R$ 37.900. Tem de série tudo o que o Fox não tem (e quase o que tem também): ar condicionado, direção elétrica, trio elétrico (espelhos externos com rebatimento elétrico), chave com controle remoto das portas som com CD e MP3 com comando no volante, rodas de liga-leve, e faróis de neblina. Só faltaram o computador de bordo e os benditos freios ABS, que só estão disponíveis na versão mais cara (J.370), que custa R$ 48.700 e também traz câmbio automático, teto solar e airbags laterais e de cortina. Bom de custo-benefício, mas não o melhor, título que ficou com o HB20.
Mesmo oferecendo cinco anos de garantia, Kia e Hyundai ficaram atrás do Fox, que só oferece um ano, como todas as quatro tradicionais marcas brasileiras. É que estabelecer garantia é questão de marketing, mas ter mais concessionárias é uma qualidade mais real (mas sujeita a marketing também). Assim, a Volkswagen segue insuperável (619 contra 203 da Hyundai e 166 da Kia), mas bem que poderia dar mais alguns anos de garantia, né?
Conclusão
A lista de equipamentos de série foi o único item de maior peso vencido pelo Hyundai HB20, vendido como uma nova referência de hatches compactos no Brasil e que pretendia vender mais que o Gol. Tudo bem que ele ainda tem o maior porta-malas (300 litros) e o melhor acabamento contra os seus concorrentes com motor 1.0 de três cilindros, além de dividir o desenho de carroceria mais moderno com o primo Kia Picanto, mas estes três itens têm peso normal.
Porém, o HB20 ficou para trás justamente no foco deste comparativo: o motor de três cilindros, que conseguiu ser mais fraco com gasolina do que ele próprio em outro carro. Mérito da Kia, que foi mais esperta e divulgou mais potência? Talvez, mas na pista da Quatro Rodas ficou atrás de verdade do mesmo Picanto e também do Fox Bluemotion. Não se destacou na aceleração e retomada e ainda gasta mais combustível que os rivais. Para quem queria superar o Gol ficou atrás do Fox e do Picanto neste confronto.
O Kia é o mais barato, mas perdeu o melhor custo-benefício por não oferecer freios ABS na versão com câmbio manual. Ainda assim, o preço foi a única vitória isolada do Picanto com peso em dobro. Na potência do motor tricilíndrico e no desempenho, dividiu os louros da vitória com o Fox Bluemotion. Também é o mais silencioso e um dos mais modernos. Seus maiores pontos fracos são o porta-malas de apenas 200 litros e o espaço interno. A frenagem vexatória de quase 42 metros a 80 km/h e o menor número de concessionárias foram culpa da Kia. O Picanto venceria o comparativo se todos os quesitos tivessem o mesmo peso, mas o Fox Bluemotion se destacou justamente nos pontos mais importantes.
Além de se consolidar como o melhor compacto de três cilindros (enquanto não chega o Up!), o Fox Bluemotion saboreia a vitória da sustentabilidade e a virada sobre o Kia Picanto. Em 2011, eu comparei o Fox 1.0 de quatro cilindros com o pequeno coreano e o Renault Sandero e os dois levaram uma goleada humilhante (1x10. 3 vitórias para o Sandero).
Está certo que, naquela época, o critério era quem ganhava mais itens, os números eram da Carro e do Car Sale e a garantia era valorizada (mudança espontânea de opinião e não virada de mesa), mas o novo motor EA-211 corrigiu os defeitos do Fox comum (potência, desempenho e consumo) e se aproveitou do novo critério de peso maior (sugerido por um leitor anônimo) para vencer o comparativo.
A frenagem já era melhor na ocasião (embora empatada com o Picanto, testado pela Carro), mas o Fox continua barulhento, custando caro e vindo pelado. O acabamento que impressionou na reestilização de 2009 hoje já está ultrapassado e a carroceria velha, o que impediu um domínio ainda maior (a vitória foi por apenas três pontos).
Vale lembrar que a DKW-Vemag, que usava motores de três cilindros nos anos 1950 e 1960 foi comprada pela Volkswagen em 1967. O Fox Bluemotion seria uma reencarnação?
Classificação
1º VOLKSWAGEN FOX BLUEMOTION 1.0 3 cilindros - 37 Pontos
Motor: Três cilindros, transversal, flex, 999 cm³, 12 válvulas
Potência: 75 cv (gasolina) e 82 cv (álcool)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 15,1 segundos (revista Quatro Rodas, com álcool)
Velocidade máxima: 167 km/h
Consumo: 9,5 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada (Quatro Rodas, com álcool)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 3,82/1,66/1,54/2,46m
Porta-malas: 260 litros
Tanque: 50 litros
Preço: R$ 32.590 (duas portas básico) / R$ 38.258 (duas portas parcialmente equipado) / R$ 41.977 (quatro portas completo, sem pintura metálica)
Data do teste da Quatro Rodas: Julho de 2013
Motor: Três cilindros, transversal, flex, 998 cm³, 12 válvulas
Potência: 77 cv (gasolina) e 80 cv (álcool)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 14,4 segundos (revista Quatro Rodas, com álcool)
Velocidade máxima: não divulgada
Consumo: 9,5 km/l na cidade e 12,8 km/l na estrada (Quatro Rodas, com álcool)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 3,60/1,60/1,49/2,39m
Porta-malas: 200 litros
Tanque: 35 litros
Preço: R$ 37.900 (J318) / R$ 41.900 (J368 - com câmbio automático) / R$ 48.700 (J370 - com câmbio automático, freios ABS e teto solar)
Data do teste da Quatro Rodas: Outubro de 2011
3º HYUNDAI HB20 COMFORT STYLE 1.0 - 24 Pontos
Minha Escolha - Pela relação preço/equipamentos e estilo moderno
Motor: Três cilindros, transversal, flex, 998 cm³, 12 válvulas
Potência: 75 cv (gasolina) e 80 cv (álcool)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 15,4 segundos (revista Quatro Rodas, com álcool)
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo: 8,3 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada (Quatro Rodas, com álcool)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 3,90/1,68/1,47/2,50m
Porta-malas: 300 litros
Tanque: 50 litros
Preço: R$ 33.295 (Comfort básico) / R$ 35.295 (Comfort Plus) / R$ 39.395 (Comfort Style)
Data do teste da Quatro Rodas: Novembro de 2012
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