Fotos: Divulgação
Peruas, station wagons, carrinhas ou caminhonetes... seja qual for o nome, os carros de altura normal e porta-malas gigante estão praticamente em extinção no Brasil, que está preferindo mesmo os utilitários esportivos compactos. Nem as minivans estão em alta, apesar do lançamento da Chevrolet Spin.
A Palio Weekend não será renovada junto com os seus irmãos Palio e Siena. Ela dará lugar a uma SUV pequena. A Peugeot 207 SW (na verdade a 206 maquiada), idem. A nova geração do Hyundai i30 não deve ter a versão perua importada. A Jetta Variant ainda tem a carroceria da geração passada. E a Renault Mégane Grand Tour vai sair de linha.
Quem já deixou de ser fabricada, embora a Volkswagen ainda não anuncie oficialmente, foi a Parati. Por ironia do destino, a perua derivada do Gol morre justamente no seu aniversário de 30 anos.
A Parati chegou ao mercado em junho de 1982, dois anos e um mês depois do lançamento do hatch original e um ano após o Voyage. Antes cotado para o Gol, o nome Angra foi novamente cogitado na perua. Mas a Volkswagen escolheu homenagear a história colonial da cidade vizinha, no litoral sul fluminense, já que, na época, a hoje famosa Festa literária internacional de Parati (Flip) nem sonhava existir. O objetivo era substituir, de uma só vez, a Variant II e a Brasília, extintas naqueles dois últimos anos.
Aliás, a perua foi inicialmente chamada de Voyage Parati, pois tinha a frente com os faróis maiores, ladeados pelos piscas verticais, como no sedã. Só depois de alguns meses ficou com o único nome. Das duas portas para trás, ela se destacava pela longa janela inteiriça, sem qualquer coluna. O vidro traseiro, inclinado, também era amplo, embora menos que no Gol. A tampa do porta-malas tinha um baixo relevo na área que abrigava a placa. As lanternas eram verticais finas, ao contrário dos irmãos. O estilo da Parati serviu de base para a picape Saveiro, que seria lançada em outubro daquele mesmo ano.
O interior era o mesmo da família, com o painel reto, o quadro de instrumentos retangular e o controle de ventilação deslocado para perto do carona. O espaço interno também era igual ao de Gol e Voyage, por causa da distância de quase 2,36m nos três modelos, mas o seu diferencial era na capacidade do porta-malas de 530 litros, que chegava a 1.110 litros com o encosto do banco traseiro rebatido.
A Parati chegou ao mercado nas versões LS e GLS, ambas equipadas com o motor 1.5 refrigerado a água do Voyage, que rendia 78 cavalos. Com ele, ela acelerava de 0 a 100 km/h em 16,54 segundos e alcançava 143 km/h. O consumo era de 8,1 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada. A frenagem a 80 km/h era completada em 34,9 metros. Números da Quatro Rodas.
A top GLS vinha com bancos em tecido xadrez, revestimento em plástico das portas e carpete no porta-malas, que era iluminado. Como opcional, oferecia, pela primeira vez num Volkswagen nacional, as rodas de alumínio de fábrica. As de magnésio usadas na época eram do mercado paralelo de acessórios.
Logo em agosto de 82, a Parati ganhou o mesmo motor 1.6 MD270 do Passat TS, de 81 cavalos, movido somente a álcool, além de um novo câmbio de quatro marchas chamado 3+E, sendo que o E é para economia de combustível, substituído em 1984 por um de cinco velocidades. Ainda em 83 foi lançada a série especial Plus, com grade na cor do carro e o mesmo motor 1.6 e durou até 1984.
Naquele ano, a Parati começava a se destacar nas vendas e assumia a sétima posição no ranking dos carros mais vendidos. Entre as peruas assumiu a liderança do segmento, deixando para trás concorrentes como Chevrolet Marajó (derivada do Chevette), Ford Belina (do Corcel e depois do Del Rey) e Fiat Panorama (do 147), esta substituída pela Elba (a perua do Uno). Só viria a perder o posto de rainha das peruas no mercado para a Fiat Palio Weekend, no início da década passada.
A Parati teve a frente reestilizada em 1987 (faróis e grade menores e alinhados, com o pisca invadindo a lateral) e mudou o nome das versões para CL e GL. No ano seguinte ganhou um novo interior, com revestimento das portas de tecido e um painel que já era usado na versão de exportação do Voyage e da própria Parati para os Estados Unidos, ambos com o nome de Fox e Fox Wagon, respectivamente. O quadro de instrumentos era mais compacto, tinha teclas funcionais ao seu redor e as luzes de operação de LEDs coloridos. O painel já tinha aparência semelhante aos carros atuais: com as saídas de ar alinhadas no centro, assim como o próprio console. Isso na versão GL, porque o painel da CL era mais simples, sem os comandos satélites, o console mais destacado e menos espaço para deixar objetos. Em 1989 a versão GLS era relançada com motor 1.8 de 96 cavalos a álcool, interior requintado, rodas de liga-leve e bancos Recaro. Outro relançamento foi o da série especial Plus, com motor 1.6. No mesmo ano surgiu a também versão limitada Club, com faróis de neblina e grade na mesma cor do carro.
A evolução da Parati sempre acompanhou a do Voyage ou a do Gol. Tanto que em 1990 toda a linha teve o motor 1.6 AP (novo nome do mesmo MD270) trocado pelo CHT de mesma cilindrada da Ford, pois era o acordo de compartilhamento da Autolatina, união entre as duas montadoras que durou entre 1987 e 1995. Com 76 cavalos, cinco a menos que o AP, o rebatizado AE (de Alta Economia) sofreu várias críticas, que só cessaram em 1993, quando voltou a equipá-los.
Antes, para a linha 91, a família ganhou uma nova grade dianteira (mais fina e levemente cromada), faróis trapezoidais e lentes dos piscas brancas e âmbar. A Parati foi a que mais mudou na traseira: a tampa diminuiu o baixo relevo, que ficou só na área da placa. Acima desta também aplicaram um friso escuro. Em 1992 todo mundo adotou catalisador no motor para diminuir a emissão de poluentes, segundo a nova regra do governo. A Parati e os irmãos ganharam uma última modificação em 1993, trocando os para-choques pretos pelos cinza.
Em 1994, o Gol foi totalmente reestilizado, ficando com quinas e o interior mais arredondados, apesar de manter a plataforma da primeira geração, inclusive a posição longitudinal do motor. O Voyage ficou de fora desta renovação. Foi trocado pelo Polo Sedan, importado da Argentina. Já a Parati mudaria no final do ano seguinte. Antes, a geração antiga ainda ganhou, em 1995, a série especial Surf, que tinha faróis de longo alcance e rodas de 14 polegadas, que acabou quando foi lançada a carroceria nova.
Na frente, a nova Parati era idêntica ao hatch: faróis ovais e grade na cor do carro. A traseira da perua era exclusiva, com lanternas ainda verticais, só que maiores e de contornos arredondados. Sua base era alinhada às pontas do para-choque que era rebaixado na área da tampa. O vidro ficou maior e menos inclinado. A traseira ficou parecida com a segunda geração da Quantum, perua maior da Volks. O pecado é que a carroceria da Parati continuou apenas com duas portas. A lateral, desta vez, ganhou uma coluna no meio do vidro.
O interior ficou com desenho mais moderno, o espaço aumentou e foram acrescentados ajuste de altura dos bancos dianteiros (mais confortáveis) e dos cintos de segurança da frente. A direção ganhou assistência hidráulica.
A injeção eletrônica finalmente chegava à linha Parati. Foram adotados os motores AP 1.6 (76cv) e AP 1.8 (91cv), ambos com o sistema monoponto, para as chamadas versões CLi e GLi. A top GLSi recebeu o 2.0 multiponto (109cv), com quatro bicos injetores para cada um dos quatro cilindros. O outro tipo só tinha um. Em 1996, no entanto, os motores mais simples também receberam o multipoint, como era mais chamado, designados por Mi, passando a render 89cv (o 1.6) e 98cv (1.8). Uma série especial daquele ano foi a Atlanta, em homenagem aos jogos olímpicos realizados na cidade norte-americana. O Gol também teve a versão.
Antes de receber as tão sonhadas portas laterais traseiras, Parati e Gol ganharam um novo motor 1.0, chamado de AT (Alta Tecnologia) e com 16 válvulas, rendendo 69 cv na versão Plus, agora permanente. Era o primeiro modelo brasileiro de quatro válvulas por cilindro com esta cilindrada e a Parati foi a primeira perua a ter um motor 1.0 desde a DKW Vemaguet de 1967. Pouco tempo depois, ela também voltaria a fazer história como a primeira perua esportiva do país, ao ganhar a versão GTI e o motor 2.0 16v, de 145 cavalos. Ela tinha os mesmos detalhes estéticos do Gol, como as rodas estreladas e o calombo no capô, para acomodar melhor o cabeçote. Finalmente, no final de 1997 apareceram a Parati e o Gol de quatro portas. A GLS ganhou opção de freios ABS e airbags frontais.
Em 1999, a segunda geração do Gol e da Parati ganhou o primeiro face-lift. A intenção foi integrá-los ao padrão estético da Volkswagen na época. Os faróis ovais e a grade na cor do carro deram lugar a um conjunto ótico trapezoidal e transparente (com duplos refletores opcionais) e a grade destacada em forma de U.
O interior também mudou. O painel ficou mais sóbrio e requintado. O console central foi alinhado ao tablier. Instrumentos e rádio ganharam iluminação azul. Os bancos ficaram mais anatômicos, porém, endureceram. As versões letradas como CL, GL e GLS foram trocadas por pacotes de opcionais chamadas de Comfortline e Sportline. Só restou a GTI, que perdeu personalidade por só ter quatro portas. A Parati duas portas saiu de linha. A maior novidade mecânica só chegou no ano 2000: o motor 1.0 16v turbo, que rendia 112 cavalos. Na época, a Volkswagen quis criar o 1.0 mais potente do Brasil, mas, sem querer, a montadora alemã lançou, há pouco mais de uma década, o conceito de downsizing no país. Pena que não o aproveitou, pois em 2004, acabou com o motor. As séries especiais desta época eram a Sunset e a Evidence, ambas de 2002.
Em 2003, a Parati já tinha sofrido mais uma leve reestilização. A mudança mais intensa foi atrás. As lanternas ficaram mais retas e inclinadas na tampa do porta-malas e o vidro traseiro cresceu. A frente também mudou. A grade perdeu algumas aletas e ficou escurecida, assim como a máscara interna dos faróis. O para-choque também era novo, ganhando um friso preto na parte superior e outros dois, na cor do carro, na inferior. Na mecânica, o motor 1.0 16v passou a render 76 cavalos e o oito válvulas, 65 cv, graças ao controle eletrônico do acelerador e o comando roletado das válvulas. O 2.0 16v saiu de cena.
Naquele mesmo ano, a Parati chegou a retomar o motor 1.6 exclusivamente a álcool, aproveitando uma redução do IPI. Mas ele seria novamente abandonado quando surgiu o Total Flex, de mesma cilindrada, que pode ser abastecido com gasolina e álcool ao mesmo tempo. Rendia 97 cavalos com gasolina e mantinha os 99cv com álcool. Hoje, ele é uma regra no mercado.
O Gol foi o primeiro automóvel bicombustível. Na Parati o Total Flex foi adotado na nova versão City, que era mais simples. A perua também ganhou o relançamento da Plus, com 1.8, e a opção aventureira Crossover, criada para concorrer com a Fiat Palio Weekend, que já lhe tomara a sua liderança nas vendas do segmento. A Crossover tinha grade cromada, rodas de 15 polegadas, suspensão elevada em 2,7 cm e opção do motor 1.8 Total Flex ou 2.0 a gasolina.
O sistema bicombustível chegou às cilindradas 1.0 (65/68 cv) e 1.8 (103/106 cv) no início de 2005. Além do turbo, o motor 1.0 16 válvulas puro também saiu de linha. Motores na linha Gol, só com oito válvulas.
Em agosto daquele mesmo ano, a linha Gol ganhava mais um face-lift. Desta vez para padronizar com a integração grade/centro do para-choque de vários modelos da Volkswagen. Os faróis voltaram a ficar ovalados e a ter um único refletor. Como já existia o compacto meio-premium Fox desde 2003, o Gol foi reposicionado para baixo e se transformou em um carro simples. O sofisticado interior, de bons revestimentos e painel de plástico agradável, deu lugar a um conjunto rústico, de materiais bem duros e ásperos no painel, sem falar das portas sem revestimento de tecido. As saídas de ar se tornaram circulares e o quadro de instrumentos foi aproveitado do Fox, apertando ainda mais o velocímetro, cluster do hodômetro digital, luzes indicativas e marcadores. A Parati entrou na onda e também aderiu à chamada Geração 4 alguns meses depois.
Em julho de 2008 o Gol foi finalmente reestilizado, adotando a sua verdadeira terceira geração. Era um projeto inteiramente novo, até na plataforma, vinda do Polo, com motor transversal, pela primeira vez na sua história. O Voyage foi ressuscitado em outubro no mesmo projeto. A picape Saveiro ganhou a sua nova carroceria no ano seguinte. Já a Parati...
Com o sucesso da Spacefox, a versão meio perua, meio minivan do Fox, que tem mais espaço para passageiros do que bagagens, a Parati foi deixada à deriva. Aconteceu com ela o que fizeram com o Voyage em 1995. Pelo menos, a perua sobreviveu com a Track&Field e séries especiais como a Surf (com motores 1.6 e 1.8 Flex), a Titan (de suspensão elevada e acabamento rústico) e o pacote Trend. Já estava na linha 2013, quando seus aparelhos foram desligados. Deixa o mercado somente com o motor 1.6 Total Flex, de 101/103 cavalos, câmbio manual de cinco marchas e as versões básica e Surf, somente por encomenda. O mercado brasileiro vem desistindo das peruas e a Volkswagen vai desistindo da Parati, que morre balzaquiana, deixando viúvos emissoras de televisão, surfistas e famílias que cresceram viajando para o litoral ou para o campo com a station wagon. Seus fãs agora torcem para que ela ressuscite em um futuro próximo, como aconteceu com o sedã Voyage.
0 Comentários