Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação
Na China, o Chery S-18 é carro de rico. Na verdade, lá ele é vendido com o nome de M1 e com a marca Riich, uma divisão de luxo da fabricante chinesa. No Brasil, ele disputa o segmento de compactos, mas não está vendendo muito bem. Foram apenas 118 unidades em junho, menos do que em maio, quando entregou 140. Não está nem entre os 10 primeiros populares.
É uma pena, pois o S-18 tem no visual o seu maior atrativo. É difícil deixar de se encantar com a sua frente arredondada, a traseira reta e a maçaneta da porta traseira na coluna. Ele parece ser uma evolução do pequenino QQ, também da Chery. O S-18 também chegou ao mercado, em janeiro deste ano, com uma primazia: foi o primeiro veículo chinês a ser movido por um motor flex, no caso, o 1.3 ACTECO, que já está sendo usado também no monovolume Face.
O S-18 também vende menos que os irmãos, que são mais baratos. O QQ emplacou 635 unidades e o Face 138. Some-se a isso o aumento do IPI no ano passado (com a redução deste ano, o seu preço baixou), o preconceito dos brasileiros com o acabamento dos carros chineses, a divulgação mais discreta da Chery do que da conterrânea JAC e o mais grave: o entortamento do pedal do freio, detectado num teste da revista Car and Driver Brasil, que motivou uma breve retirada do mercado e um recall.
Fora essas justificativas, o Chery S-18 é bonito, barato (custa R$ 30.990) e completo, pois vem com ar condicionado, direção hidráulica, freios ABS, airbags frontais, entre outros itens e características (ou defeitos) sobre as quais vou falar mais detalhadamente nos próximos parágrafos, na Análise Ponto a Ponto, novo nome da seção Analisando.
Já mencionado na introdução, é o seu destaque. Simpático na frente, tem faróis ovais e a grade em forma de sorriso. É harmonioso no caminho para a traseira, com lanternas também ovaladas.
Acabamento
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Surpreende pela montagem sem muitas folgas e rebarbas nos plásticos. É superior ao acabamento dos irmãos menores da Chery e até ao do médio Cielo. O painel tem desenho simples, com quadro de instrumentos centralizado. O velocímetro é digital. Já o conta-giros é analógico, mas tem uma reprodução gráfica em forma de arco, como no antigo Citroën C3. As portas têm revestimento de tecido, algo raro em carros nacionais. Só não classifico o acabamento como ótimo por causa da fragilidade dos botões do ar condicionado e, principalmente, dos pedais, o que motivou o recall e a suspensão temporária da importação.
Espaço interno
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Mesmo com apenas 2,33m de distância entre-eixos e altura de 1,53m o espaço é bom, tanto para as pernas quanto para a cabeça. A largura de 1,59m, no entanto, limita a acomodação traseira a apenas dois adultos.
Porta-malas
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O bom espaço interno num carro de apenas 3,60m de comprimento saiu caro para as bagagens. O porta-malas tem apenas 160 litros, menor até que o do QQ, de 190 litros. É o ponto crítico do S18.
Motor
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O primeiro motor flex de um carro importado da China é 1.3, tem dezesseis válvulas e uma potência boa para um carro da sua cilindrada: 90 cavalos com gasolina e 91 cv com álcool. O 1.4 EVO da Fiat, que só tem 8 válvulas, rende no máximo 88 cv com álcool, mas o 1.4 EconoFlex do Chevrolet Agile chega a 102 cv. O Chery só fica atrás do 1.3 VVT do conterrâneo JAC J3, que tem 108 cavalos com gasolina, pois o Lifan 320, aquele genérico do Mini Cooper, também tem motor 1.3, que só chega a 88 cavalos com gasolina.
Desempenho
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Já na hora de andar, o S-18 perde um pouco de fôlego. Segundo a revista Quatro Rodas, ele acelera de 0 a 100 km/h em 13,5 segundos e meio, um décimo mais lento que o conterrâneo J3. Mas ele fica atrás do Uno e do Agile, que aceleram na faixa dos 12 segundos (12,6 e 12,8, respectivamente). O que pesou mesmo foi a retomada entre 80 e 120 km/h em 31 segundos. Aí o JAC foi bem superior, com 23,3 segundos. A recuperação de velocidade também foi pior que o Lifan 320 (23,7, de acordo com a revista Carro). Uno e Agile também foram superiores.
Consumo
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Bebendo álcool, o Chery ficou, naturalmente, menos econômico. Ainda mais que as revistas só o testam com o combustível vegetal. Segundo a Quatro Rodas, ele faz média 7,5 km/litro na cidade e 10,7 km/l na estrada. Ficou atrás do Uno (7,9 km/l e 11,1 km/l) e dos conterrâneos, que ainda são movidos somente a gasolina: J3 (11 e 13,8 km/l) e 320 (9,1 e 16,2 km/l, este da Carro). O S-18 só gasta menos combustível que o Chevrolet Agile (7,5 e 9,7 km/l - Quatro Rodas).
Segurança
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Entre os itens da atraente lista de série do S-18 estão os airbags frontais - para motorista e passageiro, os freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem, pré-tensionadores dos cintos de segurança dianteiros e aviso sonoro de desatamento dos mesmos, além do alarme e da trava de segurança para crianças. Mas por que ele só ficou com duas estrelas na avaliação?
Não foi por causa da tradicional falta do cinto de segurança de 3 pontos e do apoio de cabeça para o passageiro do meio. O maior problema foi mesmo a frenagem. Os 67,8 metros a 120 km/h só não foram piores do que o Uno (75,1 m). Dos rivais chineses, o J3 para em 59,5m e o Lifan em 65 m. Com exceção do Lifan, que é da revista Carro, todos os números são da Quatro Rodas. Ah, e sem falar do perigo do pedal do freio entortar, é claro.
Conforto
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O nível de ruído do S-18 vem da revista Carro, que detectou 63,4 decibéis a 80 km/h. É mais silencioso do que os rivais chineses na mesma velocidade e da mesma publicação da Motorpress. O JAC tem 64,7 decibéis e o Lifan, 66,4 dBA. Contra os concorrentes nacionais, que foram medidos pela Quatro Rodas, o Chery empata com o Uno e é menos ruidoso do que o Agile (64). Resultado: conforto bom, mas nada de excepcional.
Preço
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Por R$ 30.990, o S-18 tem no custo-benefício o seu segundo maior atrativo. Mantendo a comparação com os nacionais Uno e Agile (R$ 34.430) e os chineses J3 e Lifan 320, ele só é mais caro que o Uno Way 1.4 (R$ 31.870) e o Lifan. Mas o Fiat vem pelado e com ar condicionado, direção hidráulica e vidros dianteiros e trava elétricos ele ultrapassa os 35 mil. O Lifan vem tão completo quanto o S-18 e custa R$ 27.990. Em compensação o JAC J3 custa R$ 36.990. O Agile sai por R$ 34.430 na versão LT básica, que não tem ar condicionado.
Outro modelo que entra no comparativo pela primeira vez é o Peugeot 207 XR, que é mais completo, vem com ar condicionado, direção hidráulica e vidros e travas elétricos e só. Custa R$ 32.370 e é mais caro que o Chery.
Equipamentos de série***
Além dos já descritos itens de segurança como airbag para motorista e passageiro da frente, freios ABS com EBD, alarme antifurto e trava traseira para crianças, a generosa lista do S18 também traz farol com regulagem de altura, ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, travamento por controle remoto, CD player MP3 com entrada USB e rádio AM/FM captado por antena de teto e reproduzido por 4 alto-falantes, acionamento interno para abertura de tanque e de porta-malas e rodas de liga-leve, sem falar dos discretos e triviais ajuste de altura do volante e do banco do motorista em 4 posições, coluna de direção colapsável, para-choque com absorção de impacto programado, apoio de cabeça nos bancos dianteiros e traseiros, desembaçador traseiro, bancos traseiros rebatíveis, brake-light, cinzeiro na frente, luz de leitura dianteira, porta-copo dianteiro, porta-objetos abaixo da coluna de direção e imobilizador.
Mas cadê o sensor de estacionamento, faróis de neblina e computador de bordo? Não tem. Para compensar este último, o painel digital do S-18 informa o consumo instantâneo e só. Luzes de neblina somente atrás, já o sensor... tem que ser no retrovisor mesmo! Faltas que custaram duas estrelas na avaliação dos equipamentos de série.
Assistência
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A rede de concessionárias da Chery está em crescimento no Brasil, onde chegou em 2010. A marca chinesa já tem 105 concessionárias em todo o país. A confiança no nosso mercado é tanta que ela está dando cinco anos de garantia, mas somente para o S-18. Pena que o custo de manutenção ainda seja alto para um carro popular: o pacote de peças de reposição custa 2.289 reais e mais R$ 1.106 para a revisão até os 30 mil quilômetros. Preço da revista Carro Hoje do final de janeiro. Apesar da garantia e dos pontos de atendimento, o preço pesou.
Conclusão - 2,75
O primeiro carro chinês a entrar no clima do mercado brasileiro, ou seja, a adotar motor flex, tem estilo e custo-benefício bem atraentes. Acabamento, espaço interno e conforto também são bons. O próprio motor, protagonista do S-18, também. O seu ponto crítico, porém, já aparece ainda parado: o porta-malas reduzido (apenas 160 litros). Já em movimento ele começa a mostrar outros pequenos defeitos, como desempenho e consumo medianos. A frenagem é ruim, mas esta avaliação só não valeu para a segurança em geral graças aos equipamentos de série como airbags e ABS.
Além da garantia de cinco anos, do preço atraente e da farta lista de equipamentos de série (mas com algumas faltas), o Chery S-18 oferece cores variadas, algo raro no mercado brasileiro. O compacto pode ser dourado, cinza, prata, preto e ter duas tonalidades de vermelho Nobre (vinho) e Paixão (vivo).
Se você quer um carro pequeno e barato para andar na cidade, o S-18 é uma boa escolha, mas reserve um dinheiro para um eventual conserto depois. Já se você estiver formando uma família, esqueça. Não tem nem espaço para os brinquedos do seu filho. Eu não compraria por dois motivos: porta-malas, a manutenção e o medo do pedal entortar.
É! Agora entendi porque o S-18 não está vendendo bem.
Motor: Quatro cilindros, transversal, flex, 1.297 cm³, 16 válvulas
Potência: 90 cv (gasolina) e 91 cv (álcool)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 13,5 segundos (revista Quatro Rodas, com álcool)
Velocidade máxima: 150 km/h
Consumo: 7,5 km/l (cidade) e 8,4 km/litro (estrada) - Quatro Rodas, com álcool
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 3,60/1,59/1,53/2,33 m
Porta-malas: 160 litros
Tanque: 43 litros
Preço: R$ 30.990
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