A Nissan decidiu não trazer a nova geração do March para o Brasil. Não quis enfrentar a pesada concorrência contra Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Volkswagen Polo e Fiat Argo. Em vez disso, voltou os seus investimentos no segmento compacto para carrocerias em que se sente melhor: SUVs e sedãs. 

No primeiro caso, ainda vai lançar um SUV compacto baseado num modelo de construção mais pobre, voltado para países pouco exigentes e desvalorizados como o nosso, chamado Magnite, originalmente um projeto da Datsun, marca mais barata da Nissan que foi extinta. 

O outro já está à venda nas concessionárias brasileiras. É a segunda geração do sedã Versa, que ficou mais estiloso, com V mais destacado na frente, que lembra a do elétrico Leaf, caída mais cupê com teto falsamente flutuante (efeito criado pelo aplique preto na coluna) e lanternas traseiras horizontais com dupla ponta. Ele também ficou com interior mais sofisticado (não significa necessariamente capricho) e novos itens tecnológicos de segurança. Pena que ainda mantém a mesma plataforma V do Kicks e da geração anterior, que continua no mercado, fabricada em Resende, com o nome de V-Drive. 

O novo Versa agora chega importado do México em três versões, que abandonaram as siglas S, SV e SL em favor de uma nova nomenclatura: Sense (R$ 72.990 com câmbio manual e R$ 77.990 com câmbio automático CVT), Advance (R$ 83.490, já com câmbio CVT) e Exclusive (R$ 92.990). Todas com o fraco motor 1.6 16v de 114 cavalos. A seguir, faço a habitual análise ponto a ponto. 

Estilo 
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Continua com a caída suave do teto em direção à traseira, mas agora menos arredondada. A ascendência da base das janelas em direção à coluna traseira também está um pouco mais baixa e não se une diretamente a parte superior. Isso acabava dando um visual estranho à lateral, o que não acontece agora. Pelo contrário. Ficou bem atraente e elegante. Os faróis ficaram mais curtos, sem aquele formato irregular e a grade também encolheu, realçando o V característico da Nissan, emoldurado por uma faixa em preto brilhante, adotado no Kicks, no novo Leaf, novo Sentra, etc. Na versão de topo Exclusive, os faróis são em LED e a assinatura da luz diurna tem formato de "ticket" invertido. Embora já manjado, inclusive com duas pontas na lateral, o desenho horizontal das lanternas traseiras também tirou a ousadia das antigas verticais em forma de bumerangue.


Mesmo bonito, eu tirei uma estrela do desenho do Versa por causa do aplique preto na coluna. Ainda que seja para dar uma impressão de teto flutuante, eu continuo achando que polui o desenho bem-sucedido. 


Acabamento 
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Agora usando o mesmo painel do Kicks, com direito a quadro de instrumentos parcialmente eletrônico (só o velocímetro é físico) a partir da versão intermediária Advance, o interior evoluiu em estilo, mas deixa a desejar pelo excesso de plásticos duros e desalinhamentos na montagem. A faixa de material macio, que imita couro no painel e nas portas, é exclusiva da versão top Exclusive. Se estivesse presente em todas as versões ganharia quatro estrelas e se tivesse mais soft touch no painel e nas portas ganharia cinco.


Espaço interno 
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A geração anterior se destacava pelo amplo espaço interno. Mas perdeu um pouco nesta nova versão porque os bancos dianteiros agora têm espuma com gravidade zero, antes disponível apenas no  médio Sentra (cuja nova geração vai chegar no ano que vem), o que os deixou mais encorpados, refletindo no banco traseiro. Assim, o Versa tem 23 cm de espaço mínimo para os joelhos no banco traseiro, bem atrás dos 28 cm do Chevrolet Onix Plus e Volkswagen Virtus. Mas no espaço máximo ele empata com o Onix com 48 cm, contra os 47 cm do Virtus. Na altura, ele também empata em 90 cm com o Chevrolet, só que ambos perdem para o Volkswagen, que tem 91 cm. 


Se eu ficasse somente nessas medidas da Quatro Rodas, o Versa iria ficar com apenas três estrelas. No entanto, pela sensação de amplo espaço, eu dou mais uma. Mesmo assim, eu confio mais nas medições de espaço interno da imprensa do que na distância entre-eixos, que no Nissan aumentou em 2cm, indo para 2,62m. 


Porta-malas
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O porta-malas do Versa aumentou de 460 para 482 litros, uma boa capacidade. Mas, ainda assim, está abaixo dos 500 litros, como o Virtus, que tem 521.


Motor 
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Câmbio 
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A carroceria é nova, mas o motor continua sendo o 1.6 16v aspirado de 114 cavalos, usado no Kicks. No V-Drive rende 111 cv. A potência vale para os dois combustíveis utilizados, seja álcool ou gasolina. Com este último não fica muito atrás dos turbinados 1.0 do Onix e do Virtus, ambos com 116 cv e muito menos do Honda City 1.5, com 115 cv. E com álcool também não fica muito atrás do Chevrolet e do modelo da marca japonesa, que têm os mesmos 116 cv. A diferença só aumenta para o Hyundai HB20S, de 120 cv com os dois combustíveis, e o Virtus etílico, que é de 128 cv. O câmbio é automático CVT, com seis marchas. Ganharia cinco estrelas se tivesse opção de mudanças no volante, mas, infelizmente não tem. 


Desempenho 
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Se a diferença de potência não foi muito grande, o motor 1.6 do Versa sentiu mais no desempenho e comprova que é realmente fraco para o seu porte. Segundo a revista Quatro Rodas, acelera de 0 a 100 km/h em 11,9 segundos. O City acelera em 11,2 segundos, o Virtus em 10,8 segundos, o Onix Plus em 10,2 segundos e o HB20S em 9,6 segundos. 

Na retomada entre 80 e 120 km/h, o Versa come mais poeira, com 10,4 segundos. O City faz o mesmo percurso em oito segundos, o Virtus em 7,5, o Onix Plus em 6,7 e o HB20S em 6,6 segundos. 


Consumo
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O consumo do Versa é muito próximo dos rivais Onix Plus e Versa, na faixa dos 12 km/l na cidade e 16 km/l na estrada. Contando os décimos, porém, ele fica atrás. Segundo a Quatro Rodas, a média do Nissan é de 12 km/l e 16,2 km/l, sendo 28,2 km/l na soma dos percursos. Mas o Volkswagen e o Chevrolet empatam com soma de 29,2 km/l, sendo o Onix duzentos metros mais econômico na cidade (12,8 km/l) e o Virtus com a mesma diferença na estrada (16,6 km/l). Só que os três perdem para o HB20S, que faz 13,6 km/l na cidade e 17,6 km/l na estrada. O City não foi incluído nesta comparação porque seus números são da extinta revista impressa Carro e abastecido com álcool. 


Frenagem
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Assim como no desempenho, o Versa ficou para trás na frenagem, parando em 27,3 metros a 80 km/h, segundo a Quatro Rodas. Virtus, Onix Plus e City param na faixa dos 25 m, sendo que o Volks ainda freia um pouco antes (24,9 m), o Chevrolet vai a 25,9 metros e o Honda foi testado pela Carro (25,6m). O HB20S é ainda melhor, se imobilizando antes dos 24 metros (23,8). Se não fosse pelos itens de segurança como seis airbags, alerta  de esquecimento de objetos no banco traseiro, o Vera iria ganhar só uma estrela. 


Ruído
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Com 63,6 decibéis a 80 km/h, o ruído do Versa está na mesma faixa de três dos quatro concorrentes citados nesta análise. Só o City é melhor, com 61 decibéis e de acordo com a Carro. 


Preço
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Na versão básica Sense, com câmbio manual (R$ 72.990), o Versa só não é mais caro que o Virtus 1.6 MSI. que sai por R$ 75.290. Já a versão mais completa Exclusive (R$ 92.990) posiciona-se exatamente no meio dos quatro principais concorrentes citados nesta análise. É mais cara que a Premier II 1.0 Turbo do Onix Plus e a Diamond Plus 1.0 T-GDI do HB20S, mas é mais barata que a EXL do Honda City e a Highline do Virtus. 


Principais concorrentes

  • Chevrolet Onix Plus - R$ 70.290 (básica) a R$ 85.490 (Premier II)
  • Hyundai HB20 S - R$ 67.990 (Vision 1.6) a R$ 82.990 (Diamond Plus 1.0 T-GDi)
  • Volkswagen Virtus Highline - R$ 75.290 (1.6 MSI) a R$ 99.490 (Highline 1.0 TSI)
  • Honda City EXL - R$ 67.800 (DX) a R$ 93.100 (EXL, ambos 1.5)

Equipamentos 
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O Versa praticamente não tem opcionais. Com exceção da básica Sense, que tem como opcionais o câmbio automático CVT, o apoio de braço frontal e o piloto automático controlado no volante, as outras duas versões têm pacote fechado de equipamentos. A Sense manual é cara porque já vem bem completa de série, trazendo ar condicionado manual, chave presencial, botão de partida, seis airbags, alerta de cinto de segurança destravado, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, sensor de estacionamento traseiro, retrovisores externos elétricos e comandos de áudio e telefone no volante. Mas tem alguns itens de versão básica como rádio AM/FM com entradas auxiliar e USB, bancos em tecido e rodas de aço com calotas de apenas 15 polegadas. A Sense com CVT sai por R$ 77.990.


A Advance adiciona acendimento automático dos faróis, banco traseiro bipartido, faróis com Follow Me Home, indicador de temperatura externa, quadro de instrumentos parcialmente eletrônico, luzes de direção nos retrovisores externos, sistema multimídia de tela de 7 polegadas sensível ao toque com Apple, Android e o aplicativo da Nissan, Bluetooth e câmera de ré, faróis de neblina, alerta de objetos no banco traseiro e rodas de liga-leve de 16 polegadas.


A top Exclusive se destaca por trazer alerta de colisão frontal com frenagem automática, alerta de tráfego cruzado traseiro, monitoramento de ponto cego, câmera 360º, GPS integrado, além de ar condicionado automático digital, bancos em couro, faróis e luzes diurnas em LED, espelho retrovisor com aquecimento, detector de objetos em movimento (ideal para evitar esquecimento de crianças e animais), antena estilo barbatana de tubarão, apoio de braço central traseiro, 2 tweeters e rodas de 17 polegadas. Se tivesse assistente de manutenção em faixa e lanternas de LED, o Versa ganharia cinco estrelas na avaliação. E ainda faltou o retrovisor interno eletrocrômico e a segunda zona no ar condicionado digital. O carregador sem fio de smartphone é vendido com acessório nas concessionárias. 


Conclusão 
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Estilo atraente, amplo espaço interno para passageiros e bagagens, câmbio moderno e bem recheado de equipamentos, inclusive tecnológicos de segurança. São os atrativos da segunda geração do Nissan Versa. Acabamento, consumo, ruído e preço são medianos. A lamentar, o motor 1.6 de apenas 114 cavalos, fraco para o seu porte, o desempenho muito atrás dos concorrentes e a frenagem razoável. Defeitos que influenciaram na média geral de sua avaliação e podem atrapalhar as novas pretensões da Nissan no segmento de sedãs compactos, que ainda são uma alternativa aos já manjados SUVs, outra categoria que a marca japonesa conhece muito bem. O jeito é apelar para os seus pontos fortes. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS