Muita coisa mudou no mercado desde o último comparativo de utilitários esportivos compactos, em 2017. O Jeep Renegade e o Honda HR-V, por exemplo, passaram por um discretíssimo face-lift, o Ford Ecosport perdeu o estepe na versão mais luxuosa e o motor 2.0 passou a ser exclusivo da nova versão top Storm e novos modelos chegaram, como o Volkswagen T-Cross, o Citroën C4 Cactus e o CAOA Chery Tiggo 5x.

Daquele confronto, eu adicionei, claro, os três primeiros modelos citados, os novos concorrentes, mas tirei o Suzuki Vitara e o chinês JAC T40. Entretanto, mantive Captur, Tracker, Hyundai Creta e Nissan Kicks.

Outra observação é a troca dos motores. Ecosport, Captur e Creta participaram, há dois anos, com um 2.0 e agora entraram com as cilindradas 1.6 e 1.5, no caso do Ford. T-Cross e C4 Cactus disputaram com os propulsores mais simples, respectivamente, o 1.0 Turbo de três cilindros e 1.6 aspirado. Isso é um dos fatores que explicam tantas mudanças na classificação.

A fonte dos dados foi o supercomparativo com 12 modelos publicado na edição da maio da revista Quatro Rodas. Só que, infelizmente, precisei tirar o Peugeot 2008 - porque, até o fechamento do texto, a marca ainda não disponibilizou corretamente no site o configurador do modelo com a nova frente - e o JAC T50, face-lift do T5, para deixar o número de participantes arredondado para dez.

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS


10º Jeep Renegade Limited 1.8 


Foto: Renegade Trailhawk 4x4


Sabe aquele ditado "Azar no jogo, sorte no amor"? É aplicável ao Jeep Renegade, que sempre fica para trás nos comparativos do Guscar (e de outros veículos também), mas é o SUV compacto mais vendido do país. Este ano ficou em último com um participante a mais.

A culpa é do velho motor 1.8 16v, que deve ser trocado, no ano que vem, por um turbo de baixa cilindrada. Não é o mais fraco (ficou em quarto em potência), mas proporcionou o pior consumo (9,6 km/l na cidade e 12 km/l na estrada) e o segundo pior desempenho (aceleração de 0 a 100 km/h em 14,4 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 10,4 segundos. Também ficou para trás na frenagem (31,7 metros a 80 km/h).

Foto: Renegade Trailhawk 4x4


Seu melhor resultado foi o segundo lugar na lista de equipamentos de série da versão Limited, top com motor 1.8 (o Renegade também motor 2.0 turbodiesel), que traz airbags para o joelho do motorista, além dos frontais, laterais e de cortina, ar condicionado digital dual zone, controles de tração e estabilidade, controle de partida em rampa, controle eletrônico anticapotamento, câmera de ré, direção elétrica, freio de estacionamento elétrico, entrada e partida sem chave, piloto automático, sensores de faróis e chuva, sistema multimídia compatível com Android e Apple, entre outros. O número de airbags é prioritário, daí a boa colocação. Outros bons resultados foram no nível de ruído (62,4 decibéis a 80 km/h) e no acabamento com material emborrachado em  todo o painel.

Foto: Renegade Trailhawk 4x4


9º Chevrolet Tracker Midnight 1.4 Turbo



Fabricado no México, o Chevrolet Tracker tem o motor mais potente (153 cv com álcool) e o melhor desempenho (aceleração de 0 a 100 km/h em 9.4 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 6,8 segundos). Mas ficou na segunda metade do ranking na maioria dos itens avaliados. Além das duas vitórias, a melhor colocação foi no câmbio automático de seis marchas, como a maioria dos seus concorrentes.


Seu porta-malas, por exemplo, é o menor da categoria, com apenas 306 litros. Apesar dos alertas de movimentação traseira e ponto cego, ele só oferece os airbags frontais. Por isso, ficou tão para trás na lista de equipamentos de série. E pontuações baixas no preço (R$ 106.290 pela versão Midnight), frenagem (29,2 metros a 80 km/h), ruído (65,1 decibéis a mesma velocidade) e espaço interno, o derrubaram do terceiro para o nono e penúltimo lugar.



8º Hyundai Creta Pulse Plus 1.6 16v




O Hyundai Creta caiu do quarto, com motor 2.0, para o oitavo lugar, agora com o 1.6. Seus melhores resultados foram o segundo lugar no porta-malas (431 litros, empatado igualmente com o Honda HR-V e tecnicamente com o Nissan Kicks, com um litro a mais) e preço (R$ 94.190 pela versão Pulse Plus com pintura metálica).



Porém, obteve o último lugar no estilo quadradão, no acabamento com muito plástico duro e na lista de equipamentos de série, que, embora ofereça ar condicionado digital, sistema multimídia, câmera de ré e controles de tração e estabilidade, só disponibiliza os airbags frontais e não tem um equipamento diferencial de tecnologia.



7º Ford Ecosport Titanium Plus 1.5 Run Flat



Pior foi o Ecosport, vencedor do comparativo de 2017, que caiu para o sétimo lugar, agora com o motor 1.5 tricilíndrico. É que a versão Titanium perdeu o 2.0, agora exclusivo da esportiva Storm. O Ecosport também perdeu o estepe na tampa do porta-malas, mas só na versão top. Aliás, o próprio pneu sobressalente deu lugar ao sistema run flat, um líquido que veda o furo do pneu principal, uma solução provisória até a troca por um pneu novo.

O projeto já antigo (de 2012) do Ecosport fez dele um utilitário apertado, tanto para as bagagens quanto para os passageiros. Um pneu comum iria tirar ainda mais espaço do porta-malas (356 litros, o sexto maior) e do banco traseiro (distância entre-eixos de 2,52m, a menor delas).


O Ford tem a melhor lista de equipamentos de série. Além do ar condicionado digital, sistema multimídia, controles de tração e estabilidade, entrada e partida sem chave, traz sete airbags e alerta de tráfego cruzado no ponto cego. Ele também tem o melhor custo-benefício (soma dos pontos em equipamentos e preço), pois é o quinto mais barato (R$ 102.340, com pintura perolizada).

Apesar do bom custo-benefício, o Ecosport é um dos mais caros para se manter até os 60 mil km. De acordo com a pesquisa da Quatro Rodas, o custo das revisões (de 4.598 reais) só é mais barato que o HR-V.




6º Citroën C4 Cactus Feel Pack 1.6 16v Automático




Na Europa, o C4 Cactus é um hatch compacto para o público jovem. Aqui no Brasil foi classificado como um utilitário esportivo de estilo exótico, para os mais descolados. Classificou-se em sexto, obtendo apenas o status de mais barato - R$ 89.725, com pintura metálica e sensor de estacionamento traseiro e retrovisores elétricos com tilt down, que são opcionais na versão Feel Pack, top com motor 1.6 16v. Ele também é vendido com motor 1.6 turbo THP. Fora isso, o melhor resultado do crossover franco-fluminense foi a terceira melhor frenagem (25,5 metros a 80 km/h).


O C4 Cactus obteve seu pior resultado na potência do motor 1.6 aspirado: apenas 118 cavalos. O desempenho também não foi dos melhores. Com 13 segundos na aceleração e retomada em 9,1 segundos, ficou em antepenúltimo lugar. Mesma posição do porta-malas de apenas 320 litros e do acabamento. Somando os pontos nos itens não citados, ficou empatado com o Ecosport, mas estreia em sexto lugar por ter conquistado um terceiro lugar, que o Ford não obteve neste confronto.



5º Renault Captur Intense 1.6 16v SCe CVT


O Renault Captur repetiu a colocação do comparativo de 2017 (agora com motor 1.6), se destacando no espaço para bagagens e passageiros. Seu porta-malas de 437 litros e a distância entre-eixos de 2,67m não foram superados por ninguém. Além das vitórias, o utilitário francês ficou em segundo lugar no preço (R$ 92.740 com pintura metálica na versão Intense), estilo e no câmbio CVT. Ficou junto com o Nissan Kicks, que tem a mesma caixa, e abaixo do Honda HR-V porque o japonês tem sete marchas virtuais.


É o mais lento entre os dez na retomada de velocidade (11,6 segundos) e penúltimo na aceleração (14,4 segundos), consumo (10,1 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada) e acabamento com muito plástico duro.




4º Nissan Kicks SL 1.6 16v


O Nissan Kicks foi um dos mais econômicos (dividiu a soma do consumo de 11,4 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada com o novato VW T-Cross), além de obter quatro segundos lugares (câmbio CVT de seis velocidades, porta-malas de 432 litros, acabamento e custo de revisões de até 60 mil km de R$ 2.710).


Seus piores resultados foram no motor de 114 cavalos (o mais fraco dos dez), na frenagem de 31 metros (segundo pior) e ruído de 65,1 decibéis (empatado com o Chevrolet Tracker e tecnicamente com o Hyundai Creta). Com resultados melhores que estes, talvez beliscaria a vitória.




3º Honda HR-V EXL 1.8 16v


Vencedor do comparativo de 2016, segundo colocado em 2017, o Honda HR-V já sente o peso da idade e terminou em terceiro lugar. Apesar de ter sido lançado em 2015, ainda é o mais estiloso dos dez, além de ter o melhor acabamento e o câmbio CVT com maior número de marchas (sete).


Por ser o mais caro para se manter (custo de revisão até 60 mil km é de 5.078 reais) e ser o segundo mais caro (R$ 111.900 pela versão EXL), foi superado pelas novidades do Chery Tiggo 5x e Volkswagen T-Cross. O motor 1.5 turbo já está chegando ao mercado na versão top Touring e pode trazer os melhores resultados de volta para o Honda HR-V nos próximos comparativos.




2º Chery Tiggo 5X TXS



A parceria com a CAOA, ex-importadora da sul-coreana Hyundai, deu uma nova vida à chinesa Chery no Brasil. O renascimento começou com o Tiggo 2, um hatchback Celer maquiado como aventureiro. Agora, o Tiggo 5X chega com qualidades para brigar no longo e disputado mercado dos SUVs compactos.

O chinês fabricado em Anápolis (GO) obteve duas vitórias, dois segundos lugares e três terceiros no comparativo e ficou em segundo lugar, perdendo apenas para o Volkswagen T-Cross porque venceu menos quesitos, já que ambos obtiveram a mesma pontuação. Seu único defeito é ser único com câmbio automatizado de duas embreagens. 

O Tiggo 5X se destacou na frenagem medida pela revista Quatro Rodas: 24,7 metros a 80 km/h, melhor até que o T-Cross, mas empatados tecnicamente. O motor 1.5 Turbo é o segundo mais potente, que garantiu também o segundo melhor desempenho (aceleração em 10,8 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 7,5 segundos), perdendo apenas para o Chevrolet Tracker. O nível de ruído de 61 decibéis a 80 km/h só ficou meio decibel atrás do T-Cross, mas ficou empatado tecnicamente.



Apesar de entregar teto solar panorâmico, ar condicionado digital e banco do motorista com regulagem elétrica na versão top TXS, além de todos os itens de conforto e segurança mais exigidos, como controles de tração e estabilidade e sistema de entrada e partida sem chave, o Tiggo ficou em terceiro lugar na lista de equipamentos de série, pois não tem airbags de joelhos. Se tivesse teria ficado, pelo menos, em segundo.

O Tiggo 5X também ficou em terceiro lugar no espaço interno e estilo, que apesar de muito parecido com o T-Cross, não é uma cópia, como os automóveis chineses de um passado bem recente.



1º Volkswagen T-Cross Comfortline 200 TSI


A Volkswagen demorou para estrear no segmento de utilitários esportivos compactos, mas venceu o comparativo logo na estreia. Parece até que estava estudando os adversários. E devia estar mesmo. Entretanto, foi uma vitória difícil. O T-Cross 200 TSI (com motor 1.0 turbo de três cilindros) empatou em pontos com o Chery Tiggo 5X e só foi declarado vencedor porque ficou em primeiro lugar quatro vezes contra apenas duas do rival chinês. 

Desses quatro primeiros lugares, somente o custo de revisão (R$ 1.989) foi conquistado sozinho. As três demais divididas. Duas (frenagem de 24,9 metros a 80 km/h e ruído de 60,5 decibéis a mesma velocidade) tecnicamente com o Tiggo 5X. O consumo de 11,8 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada ficou próximo na soma dos percursos (26,5 km/l) ao Nissan Kicks (26,7 km/l). Outros bons resultados do utilitário da Volks foram um segundo lugar no espaço interno e dois terceiros: no estilo e desempenho (aceleração em 11,3 segundos e retomada em 7,6 segundos). 

Entre os pontos fracos, sobraram para o acabamento, o motor (116 e 128 cavalos) e o status de mais caro entre os dez utilitários avaliados. Sai por R$ 118.140 na versão Comfortline, com pintura metálica e incluindo os opcionais bancos em couro, entrada e partida sem chave, sistema de navegação, teto solar panorâmico, sensores de faróis e de chuva, assistente de estacionamento e sistema de som premium da Beats. Um valor que pode impedir o seu sucesso no mercado e torná-lo o oposto do Jeep Renegade: com sorte no jogo, azar no amor.