Texto: Gustavo do Carmo
Foto: Divulgação

Ontem, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um aumento de 30% do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados de países que não tenham acordo comercial com o Brasil. Teve direito até a censura ao presidente da Abeiva, José Luiz Gandini, que foi impedido de lhe fazer uma pergunta, sob a desculpa de que só jornalistas poderiam entrevistá-lo.. 

Carros com motor até 1.0, como o Kia Picanto (já falado aqui no Guscar) e o Chery QQ, que antes pagavam 7%, agora vão pagar 37%. Entre 1.0 e 2.0 litros, como o JAC J3, Kia Cerato e o Hyundai Veloster, o imposto sobe de 11% (carros flex) para 41% e de 13% (a gasolina) para 43%. Acima disso, como o Hyundai Sonata, o valor passará a 55% do preço final. 

Quem fabrica carros com no mínimo 65% de componentes nacionais (ou da Argentina ou do México) e investe em tecnologia no país continua pagando o IPI normal. O governo ainda exigirá que pelo menos seis de 11 componentes avaliados sejam nacionais, entre transmissão, embreagens, fabricação de motores, pintura e estampagem. As montadoras terão prazo de 60 dias para mostrar se preenchem os requisitos para se livrar do aumento do imposto. 

A medida vale até dezembro de 2012, mas o estrago deve ser grande até lá. Para os importados o preço deve subir em até 28%. A justificativa do governo do PT é fortalecer a indústria nacional e manter os empregos no setor. Mentira. A proteção é para as quatro marcas tradicionais (General Motors, Fiat, Ford e Volkswagen), que lideram o mercado, mais as francesas Renault, Peugeot e Citroën, e as japonesas Honda, Toyota, Nissan e Mitsubishi. 

As seis primeiras são especialistas em fabricar carros desatualizados em relação ao mercado externo, como Chevrolet S10, Fiat Doblò, Ford Focus, Volkswagen Golf, Renault Clio, Peugeot 207, Citroën C3. Toyota e Honda são bem atualizadas, mas além da linha pequena, cobram muito pelos seus carros. Nissan e Mitsubishi também devem em atualização. 

Outra prova contra o discurso de manter os empregos é que os carros fabricados na Argentina e no México estão incluídos na categoria dos 65%. Assim, montadoras vão continuar transferindo a produção de seus modelos mais caros para fora do país. E todas vão continuar com o seu cartel de preços altos, ganância por lucros altos e falta de modernidade. 

Cadê o incentivo para os carros elétricos? Cadê o incentivo para marcas que produzam carros em sintonia com o mercado europeu? 

A intenção do aumento do IPI foi acabar com a festa das sul-coreanas Kia e Hyundai e da chinesa JAC Motors, que estão fabricando carros melhores e mais baratos. Parece até que as montadoras caciques leram o último comparativo do Guscar, no qual o Kia Picanto esmagou o Renault Sandero e o Volkswagen Fox. 
 
Brincadeiras à parte, já estamos voltando para os tempos da inflação galopante. Já já, voltaremos também aos tempos da reserva de mercado.