Renovado para a briga
Por Gustavo do Carmo / Foto: Divulgação

A linha Focus chegou ao Brasil no final do ano 2000. Mesmo já importado da Argentina, nas versões hatch e sedan, ainda era caro demais. Tornou-se acessível quando ocupou definitivamente o lugar do Escort em 2003. No ano seguinte ganhou motor 1.6 Rocam e uma leve reestilização na grade, que ficou em forma de colméia, e nos faróis que tiveram as lentes e os refletores reorganizados.

Mas o Focus já era um modelo defasado. Na Europa ele havia sido totalmente reestilizado, enquanto aqui ficamos com a primeira geração. E a concorrência começou a apertar para as duas versões de carroceria. O Hatch ainda conseguia enfrentar de igual pra igual o Fiat Stilo, o VW Golf e o Chevrolet Astra. Mas a coisa ficou feia quando chegaram, no ano passado, o Vectra GT e o Nissan Tiida. Para o Sedan, a situação era pior: Honda Civic, Toyota Corolla, Chevrolet Vectra, Renault Mégane, Peugeot 307, Nissan Sentra e o Citroën C4 Pallas. Todos modernizados. Apesar de algumas qualidades técnicas até superiores às dos concorrentes, o estilo do três volumes era conservador demais. O cliente tinha a impressão de que comprava um carro 0 km e saía com um usado de dez anos atrás (as lanternas lembravam o antigo Versailles). O hatch ainda era mais ousado.

Para contornar esse problema a Ford decidiu antecipar o lançamento da segunda geração do seu modelo médio, que só estava prevista para o ano que vem. Segunda geração autêntica, tanto no Brasil quanto na Europa. Alguns veículos da imprensa estão dizendo que é a terceira, mas não é verdade. A carroceria que está chegando, ainda importada da Argentina (vem da planta de Pacheco), é aquela mesma lançada em 2004/2005 para os europeus, só que com a reestilização frontal apresentada no Salão de Frankfurt do ano passado. A frente tem o estilo Kinetic, atual filosofia de estilo da Ford. Os modelos anteriores ainda tinham o New Edge, que já era old.

Tanto o Hatch quanto o Sedã conservaram traços do modelo original. No primeiro, as lanternas permanecem na coluna, mas agora se limitam apenas a traseira (no antigo podiam ser vistas até de lado) e possuem a lente branca. A tampa do porta-malas - com capacidade para 328 litros - ganhou um spoiler próximo ao teto. A terceira janela lateral tem um desenho diferente. O comprimento aumentou de 4,15m para 4,34m. A altura, antes de 1,48m, cresceu dois centímetros e a distância entre-eixos de 2,61m, três. A largura, entretanto, estreitou-se de 1,99m para 1,84m.

Por sua vez, o Sedan peca por continuar conservador demais na traseira. Ela se modernizou, mas deixou o Versailles para lembrar o Vectra de 1997. A capacidade do porta-malas é de 526 litros, também melhorada, pois o antigo tinha 477 litros. A lateral vincada na altura da maçaneta e a frente, detalhes comuns ao hatch, salvam o estilo do carro. A dianteira agora tem faróis alongados, grade trapezoidal e, sobre ela, um friso cromado, resultando num conjunto que lembra o atual Mondeo (preterido no Brasil pelo Fusion, mas comercializado na Argentina). No pára-choque, amplas entradas de ar. As medidas do Sedan são de 4,48m de comprimento (era de 4,36m), 1,84m de largura (1,73m) e 1,50m de altura (1,48m). A distância entre-eixos de 2,64m é a mesma do hatch, mas o antigo tinha 2,49m.


O estilo sóbrio pode desatualizar o carro mais rápido, mas o novo Focus evoluiu muito em relação ao modelo antigo. O chassi é o mesmo do Volvo C30, tanto que o capô e a grade um pouco salientes em relação ao faróis lembram vagamente o hatch da marca sueca controlada pela Ford.

No interior estão as maiores qualidades do Focus: bom acabamento, conforto, espaço interno e equipamentos. O painel perdeu a ousadia do modelo antigo, mas a impressão de modernidade agora é maior. Do modelo anterior restaram apenas os difusores de ar ovais, que agora são alinhados.

O Novo Focus tem duas versões: GLX e Ghia para ambos. Os dois níveis compartilham detalhes cromados no quadro de instrumentos, no console e centro do painel, que é pintado em dois tons. Porém, o acabamento do GLX é mais escuro e o volante é totalmente preto. O Ghia tem um acabamento mais acinzentado e os mesmos quatro braços do volante são cromados, assim como as maçanetas internas.

Entre os equipamentos, airbags frontais, freios ABS com distribuição eletrônica e controle em curvas, lanterna de neblina traseira, alarme antifurto e imobilizador, retrovisores externos com piscas integrados, vidros elétricos com comando de um toque e sensor antiesmagamento, trava elétrica com travamento automático, computador de bordo, CD e MP3 player Sony com seis alto-falantes e entrada auxiliar USB e para iPod, coluna de direção ajustável em altura e profundidade e abertura elétrica da tampa do porta-malas e combustível estão disponíveis para os dois.

Também há nos dois a direção eletro-hidráulica, que pode ser regulada em três níveis de assistência pelo computador de computador de bordo no painel: Normal, Conforto e Esportivo, que é mais firme. A medida das rodas de liga-leve de 16 polegadas também é a mesma, mas cada uma tem o seu desenho. Entretanto, o ar condicionado e o ajuste de altura do banco do motorista são manuais no acabamento mais simples.

O Ghia adiciona o ar condicionado de controle digital para motorista e carona, que tem o requinte do comando de voz, como o som e o telefone celular (este graças ao Bluetooth), Ford Power - partida sem chave e através de um botão no console (outra bossa), controle do rádio e do piloto automático no volante, revestimento interno em couro, sensor de estacionamento traseiro, banco do motorista com ajuste elétrico de altura e ajuste lombar manual e maçanetas internas em alumínio. Externamente, as exclusividades do Ghia são teto solar elétrico, faróis de neblina dianteiro, retrovisores externos com espelhos aquecidos, luz de cortesia, grade frontal inferior e régua do porta-malas com acabamento cromado e o inconfundível escudo do estúdio de design italiano que há anos dá nome aos modelos luxuosos da Ford, tradicionalmente colocado na coluna do vidro traseiro.

O motor é único: Duratec 2.0 16v, movido apenas a gasolina, com 145 cavalos de potência e torque de 18,9 kgfm. O detalhe curioso modificado neste bloco é o revestimento em teflon dos pistões. Com câmbio manual, ele rende 204 km/h de velocidade máxima nas duas carrocerias, 10,4 e 10,5 segundos de aceleração de 0 a 100 km/h respectivamente no hatch e no sedã, e consumo médio de 12,8/12,9 km/litro.Toda a linha do Novo Focus também pode ser equipada com o câmbio automático de quatro marchas com opção de trocas seqüenciais. Com ele a velocidade cai para 192 km/h, o tempo de aceleração aumenta para 12,1/12,2 segundos e a distância de economia cai 11,2/11,3 km/l.

A antecipação do projeto foi a causa do Novo Focus não ter o motor 2.0 Flex, que ainda está sendo preparado e virá no ano que vem. Bicombustível, por enquanto, só no 1.6 com carroceria antiga que permanece à venda.

Além de bem equipado, o Novo Focus também se destaca pelo bom preço de R$ 58.190 pedido para o hatch e R$ 59.690 para o sedan, ambos GLX com câmbio manual. Os outros preços: Hatch GLX Automático - R$ 62.690; Sedan GLX Automático - R$ 64.190; Hatch Ghia Manual - R$ 69.890; Sedan Ghia Manual - R$ 70.390; Hatch Ghia Automático - R$ 73.390 e Sedan Ghia Automático - R$ 74.890. A garantia é de três anos.

O Focus finalmente foi atualizado no Brasil, depois de quatro anos de espera. Agora precisamos torcer para que os europeus demorem a conhecer a terceira geração. Assim, o comprador brasileiro terá um bom tempo para aproveitar o Novo Focus enquanto ele está em sintonia com o velho continente.