Fotos: Divulgação

Texto: Gustavo do Carmo




No início dos anos 90, o Uno, sucesso tanto no Brasil quanto na Europa, já pedia um sucessor por causa do surgimento de concorrentes mais modernos, como os reestilizados Corsa e Fiesta. No Velho Continente, em 1993, a marca italiana apresentou o Punto, um hatch compacto de três e cinco portas, linhas arredondadas, com lanternas na coluna, junto aos vidros traseiros. O Punto não aposentou de vez o Uno, que durou mais dois anos por
lá.



Para o Brasil e outros países emergentes, como os demais da América Latina, África do Sul, Índia e a parte pobre da Europa (leste europeu), a Fiat reservou um projeto de construção mais simples, chamado 178, que daria origem a uma família composta, além do hatch, por um sedã, uma perua e uma picape leve. O mesmo que a Renault fez anos depois, ao preferir apostar no Logan em vez do novo Clio.



Ao contrário do Logan, o nosso país foi o escolhido para estrear a produção do Projeto 178. Como a Fiat já não usava números para batizar os seus carros, nasceu o Palio, em 1996. O carro quase se chamou Prova. Mas a homenagem à tradicional corrida camponesa de cavalos da cidade italiana de Siena (que daria nome ao sedã),
realizada desde 1656, chamada Palio (páreo, em italiano) de Siena, foi fundamental para a escolha da designação.



O Centro de Estilo da Fiat, na Itália, o I.D.E.A. venceu a disputa com a ItalDesign, de Giugiaro, para traçar as linhas do Palio, que foi apresentado em abril, na histórica cidade de Ouro Preto (MG). Vinte anos antes, a Fiat do Brasil apresentava o 147 no mesmo local e entrava no mercado nacional.



Com um desenho bem arredondado, principalmente na traseira; lanternas em formato de coração (o de verdade, não o figurado); coluna lateral limpa, sem o terceiro vidro do Uno; pára-brisa bem inclinado e capô em cunha acentuada, o Palio nasceu nove centímetros mais comprido (3,73) que o Uno, mas com a mesma distância entre-eixos. O Uno só ficou com o motor 1.0, perdendo todas as versões de cilindradas superiores, inclusive o esportivo Turbo, e mudou de nome para Mille, que continua até hoje, tendo tido a frente reestilizada cinco vezes.



O Palio chegou ao mercado em duas versões de acabamento e motor, ambas com três ou cinco portas. A top de linha 16V tinha o motor 1.6 com quatro válvulas por cilindro e 106 cavalos, primeiro importado da Itália, depois fabricado na Argentina. O EL tinha motor 1.5 de oito válvulas, o mesmo da linha Uno, mas com injeção eletrônica multipoint, rendendo 76 cavalos. Ambos vinham de série com vidros e travas elétricas, mas tinham na lista de opcionais o ar condicionado e itens inéditos na categoria como o CD-Changer, cintos de segurança com
pré-tensionador, freios ABS e airbags para motorista e passageiro. Por dentro, o painel era moderno, com bancos aconchegantes revestidos por tecidos funcionais de cores alegres e bom espaço para os passageiros de trás. O porta-malas tinha capacidade para 280 litros.



Em julho chegaram as duas versões básicas do Palio, com motor 1.0 de 61 cavalos, tornando-se o mais potente do segmento, graças a injeção eletrônica multipoint. A popular ED, com rodas do Uno S e dos primeiros Mille, só tinha duas portas (inicialmente) e o interior tão espartano que o porta-luvas não tinha tampa e na área do painel reservada para o airbag do passageiro havia um feio buraco que a Fiat vendia como porta-objetos. Já a EDX tinha a opção de quatro portas, calotas e um acabamento mais caprichado com tampa no porta-luvas e sem o buraco do painel. Em ambos, o pára-choque era preto, ao contrário das versões superiores que eram da cor do carro.


O segundo membro da família Palio chegou em março de 1997. Era a perua Palio Weekend que, assim como o Palio, começou a ser vendida com os mesmos motores 1.5 8v e 1.6 16v. As versões foram chamadas de Palio Weekend (1.5), 16V e Stile, a mais luxuosa, com motor 1.6 de 106 cavalos. Meses depois, chegou a versão Sport, com rodas cromadas, volante Momo (sem airbag), encostos de cabeça vazados, bancos esportivos e até teto solar manual como opcional.


O sobrenome já fora usado em uma versão da antecessora Elba. Mas a associação ao final de semana em inglês já tinha sido adotada no lote de exportação da perua derivada do Uno para a Europa, a Duna Weekend, repetida no médio Marea e, finalmente, no Palio. E foi a Weekend a mais bem-sucedida no mercado internacional, pois chegou, em 1998, aos países mais ricos da Europa como Itália, Alemanha, Espanha e Portugal.

Com uma distância entre-eixos seis centímetros maior (2,42m) que a do Palio e comprimento de 4,13m, a Weekend ficou com o estilo bem harmonioso graças ao terceiro vidro lateral e as lanternas traseiras verticais com quinas arredondadas e vincos na tampa. A capacidade de carga para 460 litros só foi possível porque os bancos traseiros ficaram no mesmo lugar do hatch e o estepe foi parar embaixo do carro, dando trabalho para ser removido.

Ainda em 1997, no mês de agosto, chegou o sedã Siena, nome da cidade onde se realiza a festa do Palio. Porém, o três volumes era fabricado na Argentina. Por causa disso, a versão básica EL tinha o motor 1.6 8v, de 82 cavalos, mas poderia ter também o tradicional 16 válvulas, de série na luxuosa HL. O Siena era mais parecido com o hatch e não tinha terceiro vidro lateral, mas sim o terceiro volume que cobria um porta-malas de 500 litros. As lanternas eram
mais arrendondadas que a da Weekend. Diziam que o Siena era o patinho feio da família, mas eu não achava.

Antes da chegada da picape Strada, em 1998, foram introduzidas algumas modificações no restante da família. Para começar, o ED ganhou uma versão de quatro portas, mas foi substituído pelo EX, que tinha novas rodas de aço com mini-calotas, enquanto o EDX ganhava direção hidráulica de série. O motor 1.5 nacional do hatch foi trocado pelo 1.6 argentino, dez cavalos a mais que o usado no Siena. Este também ganhou a versão Sport 1.6 16V, assinada pelo canal de televisão musical MTV e motor 1.0, que precisou de um câmbio de 6 marchas para tentar dar mais agilidade. Meses depois, a Palio Weekend também ganharia o mesmo recurso.

No final do ano a Strada chegou ao mercado nas versões Working 1.5, mais despojada, voltada para o trabalho; Trekking 1.6 8v 92 cv, para o lazer, e LX 1.6 16v, mais luxuosa.

O ano de 1999 foi marcado por três importantes novidades. Duas delas fazem sucesso até hoje e uma não vingou: o câmbio de embreagem automática Citymatic para o hatch 1.0. O equipamento não era caro, mas o brasileiro deve ter ficado com tanto medo de um possível defeito e o custo de manutenção que acabou rejeitando a idéia. Mas o povo não abriu mão do espaço extra atrás dos bancos da picape Strada com cabine estendida, disponível para todas as versões, mesmo que tenha sacrificado os 705 kg de capacidade de carga do modelo com cabine simples. Outro sucesso duradouro, que seria estendido a picape na segunda geração e outros carros da Fiat foi a Palio Weekend Adventure, uma versão de estilo off-road com quebra-mato no pára-choque com faróis de longo alcance integrados, suspensão elevada,
pára-choques pretos, estribos nas laterais, motor 1.6 de oito válvulas, colunas traseiras pretas e máscaras de plástico nas lanternas, lembrando aqueles protetores de relógio de pulso dos anos 80. Pena que não colocaram tração integral, que encareceria o carro. Imitando modelos importados como Audi Allroad, Volvo XC70 e Subaru Outback, a Adventure deu origem aos carros lameiros de perfumaria como Parati Crossover (depois Track and Field), Crossfox, Ford Ecosport, Peugeot 207 SW Escapade e Renault Sandero Stepway.

Ainda no penúltimo ano do século XX, o Palio ELX 1.0, com para-choques na cor do carro, substituía o EDX. A nova sigla também chegava à Weekend, mas com motor 1.6 de 92 cavalos. A perua ganhava de volta o motor 1.5 na versão EX. O Siena passava a ser fabricado no Brasil. O ELX também daria a série especial limitada 500 Anos, que marcaria a idade do Descobrimento do Brasil, em 2000. O Siena também ganharia a mesma versão, mas baseada no 6 Marchas. A picape Strada também ganharia a sua versão MTV, mais simples e com motor 1.5.

No início do ano 2000, a linha Palio finalmente ganhava o modeno motor Fire. A palavra (fogo, em inglês) é a sigla de Fully Integrated Robotized Engine, ou motor totalmente montado por robôs. A tecnologia já usada na Itália desde os tempos do Uno somente então chegava ao Brasil com 1.25 litros de capacidade cúbica (que o marketing aumentou para 1.3) e dezesseis válvulas, rendendo, no máximo, 80 cavalos, mas tendo boa potência em baixa rotação. Foi montado no ELX do Palio, Weekend e Siena. Entre os detalhes visuais estavam os apliques cromados em parte do painel e no pomo da alavanca de câmbio, além do adesivo 'FIRE 16V' no vidro traseiro.

No ano anterior, o Punto italiano era totalmente reestilizado, ganhando linhas retas e medidas diferenciadas para as versões de duas e quatro portas. O novo carro estreava o resgate do emblema circular da marca, usado nos anos 1920, com fundo azul brilhante e emoldurado por louros estilizados prateados e que foi a identidade visual da FIAT por oito anos.


Voltando ao ano 2000 e ao Brasil, em setembro, era apresentada a primeira alteração frontal no Palio. Desenhado agora por Giorgetto Giugiaro, os faróis pontiagudos com a grade "boca de tubarão" davam lugar a um conjunto mais conservador, com os faróis retangulares de refletores duplos e transparentes e grade dividida pelo novo logo circular. As plaquetas de identificação do carro, versões e motor passavam a ser cromadas. Por dentro, foram adotados novos revestimentos. O painel manteve a sua estrutura, mas ganhou apliques prateados (cinza nas versões mais simples) em toda a sua extensão, novos desenhos dos comandos e difusores de ar, além de novos grafismos no quadro de instrumentos. A reestilização deu ao Palio, o seu primeiro título de Carro do Ano, pela Revista Autoesporte.

Como na primeira geração, a traseira foi específica para cada modelo de carroceria. A do Palio não mudou muito. As lanternas mantiveram o mesmo formato, mas ganharam novas lentes transparentes em novas disposições. A tampa ganhava um vinco horizontal em toda a sua extensão. Era um pedido dos consumidores, que reclamavam da anterior muito saliente, pois amassava facilmente na hora de estacionar.

As lanternas da perua Weekend ficavam mais finas e não avançavam mais sobre a tampa do porta-malas que passou a ostentar a placa e ganhou um vinco semelhante ao do Palio, na altura do vidro. A licença na tampa também foi usada no sedã Siena, que ficava mais elegante. Nos dois, as lentes também passaram a ser transparentes. A Weekend Adventure demorou mais para chegar. Só apareceu em 2001, junto com a Strada, que também ganhou a sua versão "off-road". Em contrapartida, a Strada não teve praticamente nenhuma mudança na traseira, apenas na lente das lanternas.



Em 2003 o Palio chegava à sua terceira geração com a mesma plataforma e as linhas laterais. Apesar disto, a modificação foi a mais profunda de todas. Desta vez, Giugiaro deu mais personalidade à frente. Os faróis de formato irregular tinha traços que invadiam o pára-choque. No centro, uma lâmina que lembrava um ralador de legumes faz o papel da grade. Alguns modelos como a perua e a picape Adventure, além do esportivo hatch 1.8R, lançado em 2005, ganharam máscaras pretas nos faróis. Ao contrário do modelo 2001, o interior foi totalmente modificado. O painel ficou mais conservador, porém transmitindo mais sofisticação, graças aos novos equipamentos como o computador de bordo My Car Fiat e o opcional CD Player com MP3 e, principalmente, ao revestimento das portas e bancos, não apenas o melhor de todos os Palios como também de todos os carros nacionais da categoria atualmente.

A traseira mais uma vez foi específica para cada tipo de carroceria. A maior mudança foi no carro-chefe da família. O Palio trocou as lanternas de "coração" que invadiam a base do vidro por um modelo mais tradicional, vertical, que começava no pára-choque e terminava nos cantos do vidro. A tampa do porta-malas ganhou a placa, pela primeira vez no hatch. O inverso aconteceu no Siena. A traseira ficou mais lisa e as lanternas ganharam apliques. O sedã e a perua Weekend só chegaram em março. Esta teve a pior modificação. Os refletores ficaram tão grandes que a placa, a régua e a plaqueta de identificação ficaram amontoados, causando uma poluição visual. O desenho das lanternas ficou parecido com um panetone. Mais uma vez, a da Strada mudou pouco. Em todos, o logotipo itálico das letras separadas pelas barras foi abandonado para dar espaço, no centro, ao emblema redondo já usado na dianteira de todos os carros da Fiat. Na picape, ele também funciona como maçaneta.


A nova geração do Palio só não acabou de vez com a frente conservadora porque esta continuou na versão Fire, que agora ganhou o painel com console cinza descartado na nova renovação. A mesma estratégia também foi adotada no Siena.

Entre os motores, a maior novidade era o 1.3 Flex, que podia ser abastecido com gasolina e/ou álcool. No entanto, perdeu metade das válvulas, ficando apenas com oito. Estes motores bicombustíveis tinham estreado no Gol 1.6 e chegavam gradualmente ao mercado nacional. A potência variava entre 70 e 71 cavalos, na ordem. O 1.8 só passaria a ser Flex no Palio quando chegaram os demais modelos da linha. A potência neste era de 106 e 110 cv. O Fire 1.0, com gasolina apenas, ganhava mais dez cavalos.

A disposição das versões de acabamento era: EX 1.0 (exclusiva para o hatch e que passaria a ser a única versão de duas portas do Palio), ELX 1.0 (para o hatch e o Siena), ELX 1.3 Flex (para hatch, Siena e Weekend), HLX 1.8 (com moldura da grade cromada, idem) e Adventure 1.8 (para a Weekend e a Strada). A versão off-road embutiu o quebra-mato e os faróis de milha no pára-choque dianteiro, que ficou mais robusto. O traseiro também. A picape ainda chegou com as versões Fire 1.3 (com frente e painéis antigos) e a ressuscitada Trekking, com motor 1.3 ou 1.8 Flex. A Revista Autoesporte elegeu o Palio como o Carro do Ano, pela segunda vez, graças à nova reestilização.

Em 2005, o motor 1.3 Flex teve a sua cilindrada esticada para 1.4. Com esta mudança, a potência subiu para 80/81 cavalos e a identificação do motor passou a ser feita na traseira do veículo. A Strada Fire, com o visual antigo, também ganhou a novidade. No meio do ano chegaram os motores 1.0 Flex (65 ou 66 cv de potência) para o hatch e Siena Fire. Depois, seriam adotados no EX do hatch e no Siena ELX.



Na metade daquele ano, chegou com atraso no Brasil a minivan compacta Idea, lançada na Europa em 2003, com a base do Punto e quadro de instrumentos no centro do painel. Aqui, ela foi construída sobre o chassi da Palio Weekend e com o painel do Palio, mas de design externo fiel ao modelo italiano. A Idea veio nas versões ELX 1.4 e HLX 1.8 com vidros e travas elétricas de série e com a intenção de entrar em um disputado segmento com o Chevrolet Meriva, o Honda Fit e o Ford Ecosport.

No final de 2005, foi lançado o Palio 1.8R. Era a resposta da Fiat ao Corsa SS. Ela foi buscar nos anos 80 a inspiração para o primeiro modelo de aparência esportiva do Palio. O homenageado foi o Uno 1.5R, depois 1.6R. Mas contrariando a tradição e seguindo a nova moda nacional, tinha apenas opção de quatro portas. O carro tinha faróis com máscara negra, moldura da grade cinza, rodas de liga-leve com 14 polegadas, faixas adesivas decorativas nas portas e na traseira e pedais com cobertura de alumínio. O vermelho também marcava forte presença no 1.8R, estando presente nos cintos de segurança, nas costuras dos bancos, do volante e da alavanca de câmbio e até na cobertura do motor, que foi revigorado para ganhar alguns cavalos, passando a 113 e 115, tendo estreado no Idea.

Em 2006, já como parte da linha 2007, foram lançados os kits Celebration e 30 Anos para o hatch, Siena, Weekend e linha Fire. O primeiro trazia ar, direção hidráulica, trio elétrico, saias laterais e maçanetas na cor do carro. Já o 30 Anos apresentava novos faróis, detalhes cromados no interior da grade, rodas de alumínio, novos tecidos, vidros e travas elétricos e volante com regulagem de altura.

Em pleno início de 2007, o Palio sofreu (literalmente) a sua terceira reestilização frontal e segunda de traseira, como linha 2008. Ficou mais feia que a anterior. O modelo de duas portas ganhou um novo recorte na janela lateral posterior e passou a ser uma opção para o 1.8R.
Mais uma vez, o Siena e a Weekend demoraram pra chegar. O Siena novo só chegou em novembro, com faróis de duplo refletor, grade maior e lanternas horizontais estilo Alfa Romeo. A Palio Weekend chegou em 2008 com nova silhueta das janelas laterais. As lanternas também ficaram horizontais, mas com outro desenho. A frente era a mesma do sedã. Sua versão aventureira mais light ganhou o nome de Trekking. Já a Adventure original ganhou grade cromada, faróis maiores e bloqueio eletrônico do diferencial Locker. A picape Strada chegou em agosto com as mesmas alterações.
Em 2009 o Palio finalmente padronizou a sua frente com o sedã e a perua. No mesmo ano a Strada inovou com a versão de cabine dupla, mas ainda de duas portas, nas versões Adventure e Working. No final do ano, a linha Palio ganhou o câmbio manual robotizado Dualogic.

No ano passado, a grade da versão popular Fire 1.0 do hatch e do Siena ganhou uma espécie de "bigode" cromado, mas os faróis permanecem os mesmos de 2003. A minivan Idea, integrante indireta da família Palio também ganhou nova frente e traseira. O motor E.TorQ 1.6 16v (também 1.8 para o restante da linha) foi a última novidade do Palio, que, ofuscado e sufocado pelo sucesso do Novo Uno e do Punto, completa 15 anos de vida a poucos meses de ganhar a sua verdadeira segunda geração de carroceria.